CAPÍTULO 24
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
POTIRA
SEBASTIÃO
SINHANA
JERÔNIMO
JOÃO
SEBASTIÃO
SINHANA
JERÔNIMO
JOÃO
CENA 1 - RANCHO CORAGEM - EXT. - DIA
Postada diante da velha cacimba que abastecia de água potável o rancho dos Coragem, Potira admirava a poesia da tarde que começava a morrer. De repente um ponto se moveu na estrada sinuosa percorrendo o trajeto em marcha lenta. O velho Ford dos Coragem cortava o campo, margeando o riacho sonolento. A índia sentiu as faces enrubescerem de contentamento.
POTIRA - (gritou para o velho Sebastião) Padrim! Tão chegano aí! Jerome e mãe Sinhana!
O velho, meio trôpego, alcançou a janela.
SEBASTIÃO - Louvado seja Deus! Chegaram são e salvo!
CORTA PARA:
CENA 2 - RANCHO CORAGEM - INT. - DIA.
Sinhana entrou capengando agitada, banhada de suor e com as vestes amarfanhadas. Com as costas curvadas.
SINHANA - Gentes! Graças a Deus, cheguei na minha casa!
POTIRA - (abraçando a velha, com os olhos cheios de lágrimas) A gente tava morreno de saudade!
SINHANA - (para o marido, carinhosa) E ocê, velho, tá bão?
Juntos deixaram a sala, internando-se na casa.
Ajeitando as malas no chão de barro, Jerônimo observou demoradamente a índia. Seus cabelos, de ondas negras, caíam-lhe sobre os ombros e a mecha teimosa ocultava-lhe parte do rosto. Muito justa, a calça de tergal desenhava os músculos das coxas. O rapaz era todo vida e robustez.
JERÕNIMO - E de mim, não sentiu falta, índia do inferno?
POTIRA - De você... tenho a ardência dos tapa que me deu na cara! Até hoje!
Sorrindo, Jerônimo fez menção de abraçá-la. Num salto rápido ela esquivou-se e correu para a porta.
POTIRA - Vou buscá lenha no galpão.
Desapareceu, lépida, pés descalços, antes que o rapaz pudesse detê-la. Desconcertado, Jerônimo voltou-se á procura do pai. Os velhos haviam entrado e conversavam animadamente no quarto de paredes brancas. Sinhana, pela porta entreaberta, viu o filho partir no encalço da mestiça.
SINHANA - (para o marido) Êsses dois... (T) Afinal, Bastião, a gente pode ou não pode fazê o casamento deles? Jerome tá precisando de casá. Tá ficando um home muito nervoso. É falta de assentá a cabeça. E a índia é doida por ele...
SEBASTIÃO - (piscando nervosamente) Não... não é bão mexê em casamento, por enquanto.
SINHANA - Bastião... um dia pode ser tarde!
O velho limitou-se a balançar a cabeça, em sinal de protesto.
CORTA PARA:
CENA 3 - RANCHO CORAGEM - GALPÃO - INT. - DIA
A lenha fugia-lhe dos braços, caía ao chão e a mestiça tornava a apanhá-la, numa rotina cansativa. Os últimos raios de sol traçavam riscos de luz por entre as frestas da parede de madeira. Jerônimo parou, encostado ao portal.
JERÔNIMO - Índia... vem comigo buscá o irmão.
POTIRA - Vai sozinho. Não nasceu grudado comigo! (T) Viu Ritinha? Ela tá bem?
JERÔNIMO - (sincero) Não como merecia lá.
POTIRA - Pensei que trouxesse ela, roubando do seu irmão.
JERÔNIMO - Veja lá como diz as coisa! Não tem um pingo de respeito pelos outro... Isso é coisa que se diga de um home como eu?
Irônicamente, curvando-se em saudação, Potira zombou da raiva do rapaz.
POTIRA - Desculpa, seu prefeito. Não ta mais aqui quem falô.
JERÔNIMO - Vim por bem. Cê só fala bobage!
Agastado com a atitude desrespeitosa da moça, Jerônimo virou as costas e ameaçou retirar-se. Ela o chamou amorosamente, com a voz inteiramente modificada, e uma expressão diferente no olhar. Havia ternura e desejo nos olhos negros.
POTIRA - Jerome!
Ele virou-se, encontrando olhar lânguido da moça.
POTIRA - Tá pesado... vem me ajudá.
Pedaços de madeira escapavam-lhe das mãos, enquanto os joelhos, firmados no solo, suportavam o peso do corpo. Jerônimo aproximou-se, penalizado com o esforço despendido pela mestiça. Ajoelhou-se para segurar os toros, no instante em que a índia deixou cair a lenha, de propósito, para abraçá-lo, fervorosamente.
POTIRA - Jerome! Jerome! Eu te quero tanto! Tanto!
Jerônimo forçava os braços, na tentativa de desvencilhar-se do abraço. Do rosto de Potira, colado ao dele, uma quentura gostosa irradiava-se por todo o corpo.
JERÔNIMO - Pera aí, índia...
POTIRA - (voz meiga, no ouvido do rapaz) Por que ocê é tão ruim? Por que me judia, Jerome? Não gosta nem um pouquinho de mim?
JERÔNIMO - Não quero me prendê a ninguém. Nem que não tivesse o que tem, entre nós... ocê num era mulhé pra mim.
JERÔNIMO - Não quero me prendê a ninguém. Nem que não tivesse o que tem, entre nós... ocê num era mulhé pra mim.
POTIRA - (ofendida) -Por quê?
JERÔNIMO - Não quero me amarrá. Meu caminho é um só. Ser alguém, custe o que custá. Vencê.
POTIRA - (insistiu, apertando-o mais) E mulhé atrapalha.
JERÔNIMO - Mulhé pra diversão, não. Mas, pra se amar, atrapalha. E ocê não é de brincadeira...
Dito isto, conseguiu retirar as mãos que lhe cingiam o peito, levantando-se. A índia não se deu por vencida e forçou a tecla do ciúme-provocação.
POTIRA - O douto Rodrigo me beijou! Na boca! Na boca! (percebeu o leve estremecimento que percorreu o corpo do rapaz) Ele diz que me quer bem.
JERÔNIMO - (pigarreou, tentando controlar os nervos) Vou pedi satisfação a ele. Ele tem que se definir. Se é pra casá ou... se quer se diverti.
Deixou o galpão de cara amarrada, enquanto Potira, silenciosamente, deixava que as lágrimas lhe banhassem o rosto moreno e sensual. Com as mãos em concha, cobrindo as faces, vergou o corpo até encostá-lo no chão barrento.
CENA 4 - GARIMPO - GRUNA - INT. - DIA.
Há horas João Coragem trabalhava duramente na gruna úmida e isolada. O suor escorria-lhe das faces e do peito. Ouviu, como num eco distante, a voz que o chamava.
CENA 4 - GARIMPO - GRUNA - INT. - DIA.
Há horas João Coragem trabalhava duramente na gruna úmida e isolada. O suor escorria-lhe das faces e do peito. Ouviu, como num eco distante, a voz que o chamava.
JERÔNIMO - (off) João! João!
JOÃO - Tou aqui!
Parou de cavar, lavou rapidamente as mãos e o peito e ajudou Jerônimo a penetrar na gruna.
JERÔNIMO - Cavando sozinho por desgosto ou por prazer?
JOÃO - Por desespero, mesmo. Esta noite tive um sonho com a gruna. Eu acho que tou muito perto da pedra dos meus sonhos...
JERÔNIMO - Deus te ouça... ( erguendo os olhos) ... se é que ele pode ouvi a gente de dentro deste buraco.
João voltou a cavar a terra; Jerônimo sentou-se a pouca distancia, sobre um pedaço de rocha.
JOÃO - Um bamburro ia resolvê a vida de nós todos. Até a tua... (mostrou os punhos, num entusiasmo desesperado) Por que a desgraçada da pedra não aparece? Uma pedra grande, do tamanho de um ovo de galinha! A gente tirava a barriga da miséria. Ia enfrentá o Pedro Barros de igual pra igual. Com a pedra na mão eu ia esfregá na cara dele! “Tá veno, patife? Tá veno isso? Sou mais poderoso, mais forte que toda a sua fortuna junta! A sua foi ganha á custa de roubo, de violência! A minha foi por sorte!” Ah, Jerônimo, Deus tem que ouvi a gente do fundo deste buraco! (delirava, com as mãos postas e os olhos fitando o teto escuro da escavação. Deu uns passos em direção á entrada, como um sacerdote em meditação) Tá me ouvindo, Deus? Se não tá, eu grito! Onde tá minha pedra, o meu bamburro? A minha pedra do mundo? (caiu de joelhos sobre a lama, enfiando as mãos na terra molhada. Voltou-se novamente para Jerônimo, que o observava, extasiado) É duro a gente tê que reconhecê isso. Mas dinheiro ainda resolve os problema. A gente devia de se contentá com o que tem. Se contenta... até que não esbarra com uma mulhé bandida na nossa frente...
JERÔNIMO - Mulhé bandida? (lembrou-se da filha do coronel e completou) ...mulhé bandida, mas que ocê não qué prejudicá. (pausa) Dr. Rodrigo me contô tudo...
JOÃO - Sou contra os métodos dele... assim, a gente não combina.
JERÔNIMO - Me falô, também, que podia obrigá Domingas a confessá a culpa do Juca Cipó, mas que você não deixô...
JOÃO - (aborrecido) E não deixo, mesmo. Já disse tudo o que tinha de dizer sobre isso.
JERÔNIMO - Juca é um assassino!
JOÃO - Mas ela não tem culpa disso. Douto Rodrigo pode prová a culpa dele, sem obrigá Domingas a confessá.
JERÔNIMO - (insistiu) Ele me disse... o revólver que ele entregô não é do mesmo calibre da bala que matô o “seu” Jorginho. Mas ele pode ter dado fim á arma do crime.
João parou de garimpar. Olhou demoradamente para o irmão mais realista e menos sensato.
JOÃO - Olha aqui, irmão, a gente pode te ajudá, mas não precisamo de usá esses meio. Com a nossa força de vontade... a nossa sinceridade em ajudá essa gente... isso é que soma...
JERÔNIMO - (corta) Dr. Rodrigo acha que não é o bastante. E eu tou com ele. Hoje, de noite, pros garimpeiro a gente vai desmascará a família de Barros! Até a moça, a filha dele! Vamo dizê quem ela é... e tudo o mais.
JERÔNIMO - (corta) Dr. Rodrigo acha que não é o bastante. E eu tou com ele. Hoje, de noite, pros garimpeiro a gente vai desmascará a família de Barros! Até a moça, a filha dele! Vamo dizê quem ela é... e tudo o mais.
A aflição metamorfoseava as feições do garimpeiro, alterando para pior o seu gênio normalmente calmo.
JOÃO - Eu num vô deixá ocês fazê isso! De jeito nenhum!
JERÔNIMO - Tem o crime do Juca, que só falta a prova. A gente vai obrigá Domingas a confessá.
JOÃO - Eu não admito! Eu não admito! (inteiramente descontrolado, enquanto Jerônimo se afastava apressado e nervoso) Jerônimo! Escuta! Jerônimo, meu irmão! Não é justo, não é direito! Tá me ouvino?
JOÃO - Eu não admito! Eu não admito! (inteiramente descontrolado, enquanto Jerônimo se afastava apressado e nervoso) Jerônimo! Escuta! Jerônimo, meu irmão! Não é justo, não é direito! Tá me ouvino?
A voz grave do rapaz perdia-se no deserto da região. Apenas o ruído das águas tranqüilas, batendo contra as paredes da gruna, quebrava a monotonia ambiente. O garimpeiro levantou a pá á altura da cabeça e atirou-a com violência contra o chão, fincando-a como uma cruz grosseira no solo barrento.
FIM DO CAPÍTULO 24
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
PEDRO BARROS ARMOU UMA CILADA PARA OS IRMÃOS CORAGEM NO DISCURSO DE JERÔNIMO PARA OS GARIMPEIROS, MAS, LITERALMENTE, "O TIRO SAIU PELA CULATRA" E SUA FILHA, MARIA DE LARA, FOI ATINGIDA POR UM TIRO.
DESESPÊRO, CORRE-CORRE, CULPA, REVOLTA E MUITA EMOÇÃO NAS PRÓXIMAS CENAS DE IRMÃOS CORAGEM!
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