segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 4

Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair


CAPÍTULO 4


CENA 1 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA GRANDE - ALPENDRE - INT. - DIA.

No alpendre da casa grande da fazenda, Estela e Pedro Barros conversavam. Típica construção do interior, com salas imensas, varandas largas, paredes fortemente caiadas e interiores decorados com ostentação e mau gosto. No terreiro algumas galinhas ciscavam á procura de alimento. Vários homens tentavam aquietar a indocilidade de um touro nas cercanias do curral. Maria de Lara acabava de chegar. Os pais foram ao encontro da filha.

PEDRO BARROS - Então? Gostou da cidadezinha? Muita diferença?

MARIA DE LARA - Não sei, pai. Saí daqui tão criança que nem me lembrava mais. Algumas coisas sim... algumas coisas tinham ficado na minha memória.

ESTELA - Mas a cidade não mudou nada. Aquele mesmo atraso. Aquela mesma gente inexpressiva.

MARIA DE LARA - Sim, mas a miséria do povo... Porquê há tanta miséria, pai, numa região tão rica?

PEDRO BARROS - É a gente que é preguiçosa, não quer trabalhar. Acham um diamantezinho, um olho de mosquito, vem aqui, vendem e só voltam a trabalhar depois que o dinheiro acaba.

MARIA DE LARA - Mas a maioria não é empregada no seu garimpo?

PEDRO BARROS - (titubeando, com visível aborrecimento) É preciso vigiar dia e noite pra não me roubarem. Ontem mesmo um deles engoliu uma pedra. Tivemos de lhe dar uma dose dupla de óleo de rícino e o desgraçado, ainda assim, não devolveu a pedra. Nem com purga, nem com sova. Negro danado...

A criada apareceu anunciando o almoço.

CORTA PARA:

CENA 2 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA GRANDE - SALA DE JANTAR - INT. - DIA.

Pedro Barros, Maria de Lara e Estela almoçavam.

Os gestos grosseiros de Pedro Barros impressionavam a jovem desacostumada a suas maneiras rudes. Era duro no falar, duro nas expressões. Um pai que não se ajustava ao seu modo de proceder e de ver as coisas.

MARIA DE LARA - (voltando ao tema) O povo de Coroado parece gente muito triste, mesmo vivendo num lugar onde se tem tudo para ser alegre.

ESTELA - Alegre? Aqui? Neste fim de mundo? Isto é um buraco horroroso.

PEDRO BARROS - (eriçando-se) Mas é aqui que eu ganho a vida.

ESTELA - Sim, é aqui que você enche a pança. Mas é aqui que eu enterro minha mocidade, Pedro. Você está podre de rico, mas até hoje eu ainda não vivi. Presa neste desterro sem ver o mundo.

MARIA DE LARA - Papai tem razão. Esse é o negocio dele.

ESTELA - Você diz isso porquê sempre viveu na cidade. Queria que você vivesse aqui. Como eu. Em meio a essa gente porca e ignorante.

Pedro Barros isolara-se do mundo. Nada ouvia. Devorava um frango, mãos ensebadas, tirando dos ossos a carne gorda. Restos de comida caíam-lhe pelos cantos da boca.

ESTELA - (enojando-se com a visão repelente do marido) Ô homem, vê se não se lambuza tanto! Parece um animal.

PEDRO BARROS - Comer frango sem se lambuzar, não tem graça.

Lara se incomodava com as reprimendas e reações da mãe. Via o pai, animalesco, desligado das etiquetas, inteiramente absorvido no ato de comer. A seu lado a mãe - jovem ainda nos seus quarenta anos – revoltada contra anos de maus tratos e solidão forçada.

Lourenço entrou intempestivamente. Era homem de meia-idade – bem conservado, com certo charme – de modos decididos. Sólido como a própria região do garimpo. Entrou com a naturalidade do hábito diário.

LOURENÇO - Boas tardes, coronel. (desconcertou-se um pouco com a presença de Lara) Não sabia que tinha visita.

PEDRO BARROS - (sem levantar os olhos do prato, voz embargada pelo frango gordo) É minha filha Lara. Maria de Lara. Chegou ontem do Rio. Esteve lá estudando. Voltou doutora.

ESTELA - (corrigindo) Que doutora, Pedro. Professora.

PEDRO BARROS - É a mesma coisa. (e voltando-se para a filha) Êsse é o Lourenço, meu braço-direito aqui em Coroado.

Os olhos da moça e os do recém-chegado encontraram-se durante fração de segundos. Das mãos grossas e calosas do capataz sobressaiam dedos fortes. Cabeludos. Lara fixou o brilho dos anéis. Pedras coruscantes, imensas. Lembrou-se da gente humilde das redondezas. Casas de barro, coberturas de sapé, chão de terra. Vidas miseráveis. E das palavras do pai – “...é preciso vigiar dia e noite para não me roubarem...”

LOURENÇO - (dirigindo-se ao coronel) O senhor sabe qual foi a resposta que o patife do João Coragem lhe mandou?

Pedro Barros ergueu a cabeça, atento, limpando os lábios com o dorso das mãos.

LOURENÇO - Ele e o irmão mandaram dizer que vão vender diamantes pros gringos ou pra quem quiser.

PEDRO BARROS - (com uma chispa de cólera nos olhos, levantou-se num repelão) Pois eu quero ver alguém vender diamante pros gringos. Vou pagar pra ver isso.

A ira do coronel crescia amedrontadoramente.

PEDRO BARROS - (desaparecendo pela porta) Juca! Juca Cipó! Onde se meteu esse desgraçado?

LOURENÇO - Fique descansado, coronel. Tou vigilante. Tem homem por todo canto da cidade e eles não vão ser bestas de trair a gente...

Os gritos de Pedro Barros ecoavam no interior da casa.

PEDRO BARROS - (off) “Juca! Moleque safado!”

ESTELA - (dirigindo-se ao homem, com intimidade) Porquê não tem vindo aqui? Esqueceu que eu existo?

LOURENÇO - (num balbucio) Muito trabalho. Muito trabalho.

ESTELA - (parando a poucos passos do capataz, olhos vidrados, voz adocicada) E durante todo este tempo não sentiu um pouquinho de saudade de mim? Jura?

Os berros de Pedro morriam na distancia.

PEDRO BARROS - (off) “Juca! Moleque desgraçado!”

CORTA PARA:

CENA 3 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA GRANDE - SALA - INT. - DIA.

Na sala – em silencio – Lourenço abraçava Estela. Lábios unidos na expressão do desejo. O choque de Lara foi imenso. Levou as mãos á cabeça. “Aquela dor maldita...” Atravessou a sala e num gesto de desespero, desapareceu pela mesma porta onde, minutos antes, o pai, encolerizado, saíra aos gritos de “Juca Cipó”.

Estela e Lourenço afastaram-se ante a inesperada visão da moça.

ESTELA - Lara! Maria de Lara! Minha filha!

Reinava silencio na casa grande.

CORTA PARA:

CENA 4 - COROADO - ESTAÇÃO - EXT. - DIA.

Na pequena estação de Coroado o apito do trem deu início á loucura.

HOMEM - Pessoal, lá vem o trem!

Durante todo o dia a vida da cidadezinha se transformara num esperar-que-não-tinha-fim. Os preparativos para a chegada começaram manhã cedinho. Por ordem do prefeito foi decretado feriado municipal. O velho juiz de direito, severo e resoluto, adiara seus compromissos – “casamento só amanhã” – e o delegado Falcão, terno branco, camisa aberta ao peito, palito no canto da boca, arregimentara todos os seus homens – quatro ou cinco, se tanto – para conter os excessos de alegria com a promessa de xadrez. Bebia-se como nunca em Coroado.

HOMEM - Pessoal, o trem chegou!

A um sinal do prefeito, a banda atacou, enchendo de som a pracinha. A multidão delirava.

Ritinha, Jerônimo e Sinhana aguardavam, ansiosos, no meio da multidão, olhos fixos no trem.

De repente o ranger de freios.

JERÔNIMO - Duda tá chegando, Ritinha.

O trem sustinha o ritmo. Começava a parar. Num dos degraus um jovem acenou á multidão

RITINHA - (sem se conter) Olha lá ele! É o Duda!

O povo acompanhava o coro enquanto a bandinha acelerava o ritmo do dobrado militar.

HOMEM 2 - Duda chegou! Viva o Duda!

CORTA PARA:

CENA 5 - RANCHO CORAGEM - CASA - INT. - DIA.

O velho Bastião suportava a solidão de espera. Nem mesmo a volta triunfal de seu menino pudera levantar-lhe as forças. Leve tropel, distante, dizia-lhe que alguém se aproximava do rancho humilde. O garimpeiro ajeitou os fiapos de cabelos, esticou os vincos corroídos da calça surrada e procurou conter as emoções que talvez não pudesse suportar. Não teve tempo para muito... Lourenço, Juca Cipó e dois capangas aparecerem no momento em que seus braços fracos – abriam-se para acolher o filho que regressava.

LOURENÇO - Vamos dar um susto no velho, Juca. Ele já foi moço. Assustou muita gente.

JUCA CIPÓ - Deixa comigo.

Bastião recuou, apavorado
.
JUCA CIPÓ - É mais um conselho, velho. Um aviso pro seu filho não ser besta de vender diamante pros gringos.

Juca suspendeu o revólver e o baixou violentamente sobre a cabeça encanecida do garimpeiro.

CORTA PARA:

CENA 6 - ESTRADA DE CHÃO - EXT. - NOITE.

João Coragem, em seu cavalo, retornava ao Rancho, em trote macio. A estrada serpenteava, banhada pela luz da lua. De repente o grito. O vulto que cambaleava. Da margem da estrada a moça divisou o cavaleiro. No alto, a lua lembrava um diamante colossal. Maria de Lara caiu ao chão. Os olhos de João Coragem não queriam acreditar.

JOÃO - (reconhecendo a jovem) Santo Deus! O rubim do coronel!

Rápido o rapaz saltou da montaria e suspendeu nos braços o corpo inanimado da moça.

CORTA PARA:

CENA 7 - RIACHO AO PÉ DA SERRA - EXT. - NOITE.

Próximo a um riacho que corria da serra, João Coragem percebeu alguém ás margens das águas. Reconheceu Cema, mulher de Braz Canoeiro. A jovem mulher recolhia ervas á beira do riacho numa expressão de sofrimento.

JOÃO - (gritou) Cema! Quer me ajudar aqui?

Cema ergueu os olhos. Reconheceu João Coragem, com a moça desmaiada, os cabelos dourados caindo-lhe sobre os ombros.

JOÃO - Que é que a gente faz quando uma mulher tem esse negócio que parece que tá morta, mas não tá?

CEMA - Jogá água na cara dela, seu João. (levantou-se, na mão um punhado de ervas) E eu lhe pergunto.O que é que a gente faz quando tem na garganta uma revolta, como eu?

JOÃO - Revolta, Cema, de que?

CEMA - Então...não soube o que fizeram com o meu Braz?

JOÃO - Braz! Aquele santo home? O que fizeram com ele?

CEMA - Tá morrendo, seu João! Ta morrendo!

Com um soluço a mulher do garimpeiro correu em direção á casa, distante alguns metros do local.
João voltou os olhos para a moça, deitada na margem do riacho. Os raios prateados da lua aumentavam-lhe a brancura da face. Com as mãos em concha, salpicou pingos de água fresca do riacho sobre o rosto impassível. A jovem reagiu, balançou a cabeça com gestos nervosos. João segurou-a pelos ombros. Os olhos grandes fitaram com espanto a fisionomia do rapaz.

MARIA DE LARA - Quem é você?

JOÃO - Sou João, moça. Tá em companhia de gente de bem.

MARIA DE LARA - (olhando longamente a região, parecendo desligada de tudo) O que estou fazendo aqui?

JOÃO - Eu é que pergunto. Encontrei você meio zonza, andando pela estrada. Parecia carecer de ajuda. Apeei do meu cavalo e lhe ajudei. Foi a sorte. A moça virou os olhos e caiu nos meus braços.

MARIA DE LARA - Eu caí?

JOÃO - (pareceu esquecer a pergunta) Não sei se tou enganado, mas parece que já lhe vi em outro lugar.

MARIA DE LARA - (tentando levantar-se, nervosa) Acho que está enganado. Eu não sou daqui.

JOÃO - Tá bem, eu acredito, mas você tá precisando de ajuda. Eu lhe levo até na casa do Braz Canoeiro, que é aqui perto. Depois dum cafezinho, vai se sentir mais forte.

Os dois seguiram para o casebre próximo.




FIM DO CAPÍTULO 4


NÃO PERCA, NESTA QUARTA, O 5. CAPÍTULO DE IRMÃOS CORAGEM

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 3

Roteirizado por Antonio Figueira
Colaboração de Robson Augusto
do original de Janete Clair


CAPÍTULO 3

CENA 1 – COROADO – GARIMPO DE PEDRO BARROS – EXT. – DIA

Na outra banda da cidade, os tratores desvirginavam o solo á cata de diamantes. Chapelão caído sobre os olhos, o Coronel Pedro Barros enxugava a testa com um lenço úmido de suor. O trabalho se desenvolvia com a ajuda de novas máquinas. Trabalho penoso, amenizado pela força do aço que abria sulcos na pele dura da terra. Pedro Barros dava ordens, gesticulava, gritava. Seus cabelos e barba, grisalhos, embebidos de suor. O sol queimava. Depois de alguns minutos afastou-se em direção ao rio. O garimpo faiscava. Dezenas de homens peneiravam, pés submersos, água na altura dos joelhos., á procura das gemas que não lhes pertenciam. Da fortuna que jamais lhes serviria no futuro. Braz Canoeiro era um deles.Negro,de bonita estampa, leal, bom caráter. O suor que lhe escorria das costas parecia refletir, qual espelho, o olho coruscante do sol.

Juca Cipó acabava de chegar.Desmontou e observou o bando em atividade. Seus olhos fixaram a figura em negro de Braz Canoeiro e se concentraram em seu gesto natural de limpar os lábios com o dorso da mão.

JUCA CIPÓ - Peguem esse homem!

CAPANGA - Qual homem, seu Juca?

JUCA CIPÓ - (correndo na direção do negro) - Braz Canoeiro. Ele engoliu um diamante!

O garimpo parou de estalo para assistir á cena. Vencido pelo jagunço, Braz foi lançado ao solo, de encontro ao cascalho.

BRAZ CANOEIRO - Cês tão enganado... eu não engoli nada, não.

JUCA CIPÓ - Engoliu sim. Eu vi. Vi quando ocê passô a mão na boca, nego nojento.

BRAZ CANOEIRO - Passei sim, mas não engoli nada... juro.

Braz empalideceu. Abriu a boca com as duas mãos. O Coronel Pedro Barros se aproximou do local. Severo nos seus sessenta e poucos anos.

PEDRO BARROS - Que foi que houve aí?

JUCA CIPÓ - Esse crioulo sujo, seu coroné. Engoliu um diamante.

PEDRO BARROS - Façam ele botar pra fora.

BRAZ CANOEIRO - (reagindo, amedrontado) Não é verdade, seu coroné. Eu não engoli nada. Juro por Deus, pela minha mãe.

PEDRO BARROS - Façam ele cuspir o diamante. Por cima ou por baixo. Cadê o óleo de rícino?

De um salto o jagunço chegou á cabana onde estavam guardados o material de trabalho, alimentos e remédios de uso permanente. Voltou com uma garrafa na mão.

BRAZ CANOEIRO - (gritando, enlouquecido, apavorado) Não! Eu não engoli nada. Eu não engoli...

Juca Cipó puxou do revólver, puxou com violência a cabeça do negro e encostou o cano na têmpora encarapinhada.

JUCA CIPÓ - Vamos, bebe ou morre!

Braz ingeriu todo o conteúdo. E caiu ao solo.

CORTE PARA:

CENA 2 - COROADO - CENTRO DA CIDADE - EXT. - DIA.

Na igrejinha branca, o papel de seda multicolorido, cortado em tiras, se destacava qual pintura em alto-relevo. A cidade vivia. Coroado se engalanava para receber seu filho famoso. De um lado para outro da rua estreita, a faixa se destacava – SEJA BEM-VINDO, DUDA. Pés no chão, calça de brim, rota, aqui e ali desenhada de remendos coloridos, um tabaréu palitava os cacos de dentes, debruçado no balcão sujo da bodega. Deu uma bicada, cuspindo o pardo do fumo de mistura á brancura da aguardente que queimava. Ao longe um sino tangia. Na rua um moleque pregava o “sabor da cocadinha de côco”. O bimbalhar do chocalho conduzia o jumento da água ao seu destino. No armarinho-tem-de-tudo, Dona Ana vendia rendas e peças de chita .A cidade vibrava. Coroado estava em festa.

De repente o monstrengo estremeceu a rua . João Coragem surgia num fordeco 34, caindo aos pedaços . Sinhana de vestido novo, sorridente. Jerônimo, medalhão sobre o peito, admirando as novidades e João, feliz, na direção do calhambeque.

JOÃO - (mostrando a faixa embalada pelo vento) Olha, mãe. Vou lê: SEJA BEM-VINDO, DUDA.

SINHANA - (surpresa) Como é que já souberam?

JOÃO - Todo mundo sabe. Tão preparando um festão pra quando ele chegá.

CORTE PARA

CENA 3 - COROADO - RUA - EXT. - SEQUENCIA - DIA.

A moça apareceu na esquina. Quase correndo no seu andar lépido e aprumado. Rita de Cássia era toda excitação. O vestido florido, de saia rodada, escondia formas firmes e arredondadas. Os seios saltavam a cada movimento da jovem, na tentativa de libertar-se da prisão do pano. As faces vermelhas acentuavam o rubor no esforço da pressa.

RITINHA - João.

JOÃO - Rita.

RITINHA - (contendo o entusiasmo, dirigindo-se a Sinhana) Oh, Sinhana... É verdade que ele chega mesmo amanhã?

JOÃO - (apontando a faixa, orgulhoso) Tu não ta vendo? Tem faixa na rua. Banda ensaiando. Parece até deputado em véspera de eleição.

RITINHA - Eu quase não acreditei. Faz tanto tempo...

SINHANA - Sete anos, Ritinha. Sete anos. Quando saiu daqui, tinha 16. Tá um home.

RITINHA - Será que ele ainda se lembra da gente?

SINHANA - Intão num havia de se lembrá, Ritinha? De mim, que sou mãe dele?

RITINHA - (desconcertada) Eu... espero que não tenha me esquecido, também.

Era visível a preocupação da moça. Naquele momento via o pai sair da farmácia e se aproximar do grupo.

RITINHA - (despedindo-se, apressada) Té logo, Sinhana. Té logo, João.

Enquanto Ritinha se afastava, Sinhana comentou com o filho:

SINHANA - Por quê tanto assanhamento dessa menina?

JOÃO - Não se lembra, mãe? Ela foi namorada do Duda.

SINHANA - Ah, é verdade...

CORTE PARA:

CENA 4 - COROADO - RUA - EXT. - SEQUENCIA - DIA.

O cadilaque de Pedro Barros estacionou pouco atrás do fordeco. Maria de Lara deixara a quietude da fazenda em busca do rebuliço de Coroado. Quase ninguém conhecia a filha do coronel na cidadezinha agitada dos garimpos. Desde menina, presa nos limites da fazenda, quando moça fora para o Rio e só agora retornara, professora, para a tranqüilidade das terras do coronel. Comentava-se a beleza, a bondade da filha do coronel – um oásis no clima de violência da fazenda do pai. O carro permanecia parado. No rosto da moça a doçura, a meiguice. Foi isto que mais impressionou João Coragem ao se aproximar do veículo.

JOÃO - (murmurando) Bela demais...

JERÔNIMO - Quê que ce viu aí dentro, mano?

JOÃO - (despertando do repentino enlevo) Um diamante, Jerônimo. Um rubim daqueles!

JERÔNIMO - Num é o carro de Pedro Barros?

JOÃO - (sem tirar os olhos da moça) É. Mas ela quem é?

JERÔNIMO - Sei lá, João. Vamo simbora. Isso é bamburra demais pra nós.


NÃO PERCA, NA PRÓXIMA SEGUNDA, O 4. CAPÍTULO DE IRMÃOS CORAGEM!!



quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 2

Roteirizado por Antonio Figueira
Colaboração de Robson Augusto
do original de Janete Clair


Capítulo 2


CENA 1. COROADO.GARIMPO.EXT.DIA

Peitos nus, tostados pelo sol, os garimpeiros catavam a riqueza. As peneiras rudes passando, mão-a-mão, num ritmo de máquina. O trançado fino deixando escapar fios cristalinos de água do rio, retendo o cascalho bruto, as peneiras rolavam ns dança das mãos. Peneira na água. Peneira no sol. De mão-para-mão. Barro no rio. Cascalho no sonho que não se acabava. Era a cata do diamante.

Jerônimo apareceu correndo.

JERÔNIMO - (telegrama na mão) João! Ô João!

O homem rijo susteve a peneira. Era um jovem másculo de peito largo, irmão Coragem de olhos negros, mãos calosas do trabalho duro de sol-a-sol. Fez sinal ao outro que esperasse. Era todo concentração no dançar das pedras. Jerônimo avizinhou-se, impaciente.

JERÔNIMO - Bamburrou, mano?

JOÃO - Nada. É um
chibiu, pedrinha miúda.

JERÔNIMO - Olho de mosquito...

JOÃO - Que era que tu vinha gritando, feito maluco?

JERÔNIMO - Trago notícia, Jão. Chegou telegrama do Rio. Do Duda... ele vai vir depois de amanhã.

JOÃO – (virando-se risonho) Duda? Vai vir aqui?

JERÔNIMO – Pode lê o telegrama, mano.

JOÃO - (segurando o telegrama com a mão molhada e suja de barro) É mesmo. Puxa, há quanto tempo não vejo aquele sem-vergonha. Vai ser uma alegria pros velhos...

JERÔNIMO - Tão chorando de alegria.

JOÃO - (feliz) Menino, vai sê uma festança!

Dois homens se aproximavam a cavalo. Um deles, tipo estranho, de gestos afeminados, conhecido em toda a região do garimpo. Juca Cipó. Homem de feições traiçoeiras, onde a maldade se mostrava clara. Caráter formado em anos de crime contra a gente simples do garimpo. Juca era temido. Rostos sombrios, ele e o companheiro alcançaram a margem do rio. Súbito silencio quebrou a alegria dos presentes. O próprio ar pareceu parar de repente.

JUCA CIPÓ - Tardes...

JOÃO - Tardes...

JUCA CIPÓ - Como vai o garimpo, gentes? Bamburrando muito?

JOÃO - Que o quê.... só farinhada, quando muito.

JUCA CIPÓ - Trago um recado do patrão procês. Do coroné Pedro Barros.

Todos os olhos se voltaram a um só tempo.

JOÃO - Que recado?

JUCA CIPÓ - Avisar a ocês que tem gringo na cidade. O coroné manda prevenir que quem vender diamante pra eles vai se dá mal...

Jerônimo sentiu o rosto ferver. Tentou sacar da arma que descansava na bainha. Deu um passo á frente na direção do capanga. João, pressentindo a aproximação do perigo, num gesto rápido, conteve a fúria do irmão. Juca Cipó permanecia atento, o riso sarcástico na boca feminina.

JERÔNIMO – (impetuoso) - Pois diga lá ao “seu” coronel Pedro Barros que quem vai se dar mal é ele. Nós vendemos nossas pedra pra quem quisé.

JOÃO - Calma, Jerônimo... ( e dirigindo-se a Juca Cipó) Este garimpo é nosso. “Seu” coronel Pedro Barros manda lá, no garimpo dele.

Impassível, acariciando a crina do animal, Juca observava a reação dos Coragens. Jerônimo apertou os olhos, nervosamente.

JUCA - Tá certo. Mas na hora de vendê as pedras ocês tem que vendê pra ele.

JOÃO - A gente sempre vende.

JERÔNIMO - E ele se aproveita pagando o que qué...

JOÃO - (explodindo) Até o dia que a gente quisé vendê a outro, porquê a gente é livre, Juca!

Juca irritou-se. Sorriu, irônico.

JOÃO – (chegando perto da montada) Hôme, vou até lhe dizê... Tenho encontro marcado com os gringos e vou vendê minhas pedras pra eles.

JUCA - Pois vamos vê... O recado tá dado. O resto é com ocês. Vamo.

Juca partiu a galope seguido do capanga. Os irmãos permaneceram rígidos, como que tocados por um vento de morte. Ao longe os cavalos se perdiam numa curva da estrada. O tropel cessara.

JERÔNIMO - Que vontade, Jão, de dar uma surra nesse jagunço desgraçado.

JOÃO - Calma, mano. Nada de gastá vela com mau difunto...

João estreitou o irmão num abraço e caminhou com ele até a beira do rio.

JOÃO - Anda. Vem me ajudá a catá um pouco. Esta noite sonhei que estava correndo atrás de um boi.

JERÔNIMO - Sonhar com boi é pedra grande na certa!

JOÃO - E o boi era zebu.

JERÔNIMO - Melhor ainda.

O cascalho acumulava-se á margem do rio. Macias, as águas rolavam acariciando o fundo barrento. O ritmo da peneirada voltou a alegrar os homens rudes e a confundir-se com a movimentação da natureza – o rio a correr, os pássaros a voar, o vento a embalar a copa das árvores. João lembrou-se do telegrama e da chegada do irmão.

JOÃO - Como será que tá o Duda, mano?

JERÔNIMO - Tá um home. É jogadô de futebol, de fama.

JOÃO - Vivo que ele é. Encontrou uma mina nos pés, o safado. E a gente aqui, a dá duro feito um escravo...


FIM DO 2. CAPÍTULO

NÃO PERCA O 3. CAPÍTULO DE IRMÃOS CORAGEM!!!

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 1



Roteiro de Antonio Figueira
Colaboração de Robson Augusto

Capítulo 1


LETREIRO:
RIO DE JANEIRO - 1965


CENA 1. ESTADIO DO MARACANÃ.EXT.DIA

O Maracanã estremecia. Bandeiras rubro-negras, aos milhares, agitavam-se no imenso anel do estádio. A cada finta, a cada passe, a multidão respondia com a cadencia do “olé”! Feições transtornadas, mãos que se apertavam em desespero, na solidariedade do sofrimento. Era o Flamengo na ânsia da vitória. Em todo o campo – num eco gigantesco – a voz dos locutores brotava de dezenas de milhares de transistores. O Brasil acompanhava atento a “tortura” de seu time mais querido. Frios, os ponteiros dos relógios assinalavam os instantes finais. O Flamengo insistia.

LOCUTOR - (off) ...Avança o Flamengo nos minutos derradeiros da partida. O placar permanece mudo. Só a vitória interessa á equipe da Gávea... Lá vai Gérson. Domina o couro. Ultrapassa o meio do campo. Finta um adversário. Passa por outro e estende na direita a Carlos Alberto, que entrega a Duda – a maior figura em campo... O Brasil acompanha atento a “tortura” do seu time mais querido. Frios, os ponteiros do relógio assinalam os instantes finais. O Flamengo insiste!

O repentino silêncio foi quebrado apenas pelo locutor nervoso

LOCUTOR - (off) ...Duda investe pelo miolo. Vence um adversário. Dois. Penetra na área. Atenção. Pode marcar....

De repente a loucura. O grito da multidão em uníssono.

LOCUTOR - (off) “Gooooooool! Goooooooool! Do Flamengo! Duda! Duda!

Espocavam foguetes, frenéticas as bandeiras são agitadas. No gramado, um inferno.

LOCUTOR - “Uma pirâmide humana esmaga o ídolo da Gávea... Duda chora. O juiz olha o seu cronômetro. Vai terminar a partida. Há um delírio no Maracanã, senhoras e senhores. E atenção! Terminou o jogo... Flamengo, campeão carioca de 1965!

Surdos e tamborins misturam-se aos gritos de Mengo! No gramado verde, salpicado de papéis, os rádio-repórteres investiam de microfones volantes

REPÓRTER - E agora, Duda? Depois do título e do gol histórico...

DUDA - Um só pensamento. Pedir licença ao clube para ver minha mãe. Visitar minha terra e abraçar meus irmãos, que não vejo há muitos anos. É tudo o que quero.

REPÓRTER - Senhoras e senhores, que admirável exemplo de profissional. Dono da tarde, autor do gol que deu o campeonato ao Flamengo, Duda foge de qualquer outro compromisso para voltar á sua terra, rever sua gente e sua mãezinha, numa cidade distante, no interior do país...

CORTA PARA:

LETREIRO: COROADO

CENA 2 – CASA DE SINHANA. INT. DIA.

Na casa rústica de Coroado, a velha Sinhana colocava o último prato sobre a mesa de pés maciços. Num canto da parede a imagem de São José. Cam na imagem e no ambiente todo. Sobre o baú secular – herança não se sabe de quem – algumas amostras sem valor de pedras da região. O cheiro do feijão bem temperado inundava a sala onde o garimpeiro Sebastião – pele curtida, enrugada, faces esquálidas – retirava a bota enlameada e gasta.

SINHANA - Sabe, velho,esta noite sonhei com o nosso Duda, o ingratão.

SEBASTIÃO - Se preocupa não. O menino tá mais arranjado na vida que os dois irmãos, o Jerônimo e o João.

Sinhana chegou á janela. Ao longe, na linha do horizonte, o risco das montanhas arranhava o céu. O verde das árvores tingia de alegria a solidão ambiente. A velha porteira, corroída pelo tempo, fechava os sonhos de liberdade do gado tristonho, a ruminar. Ao longe, um manto de poeira levantava-se da estrada de barro batido. Num galope cadenciado, um cavaleiro se aproximava.

SINHANA - (sotaque carregado) “Jerome” vem aí.


CENA 3 – CASA DE SINHANA. EXT. DIA.

Era um jovem de traços belos, cabeleira revolta, gestos agressivos e expressão sofrida. O cavalo estacou retido pela pressão das rédeas, o suor do animal se confundindo com o suor do homem. Fôra longa a esticada de Coroado ao rancho humilde e pobre.

CENA 4 – CASA DE SINHANA. INT.DIA

Ligeiro o jovem saltou da sela, atou o laço num tronco de árvore e dirigiu-se á casa, agitado.

JERÔNIMO - Mãe! Mãe!

SINHANA - Que e isso, Jerome! Que escarcéu é esse? Será que achou rubim?

JERÔNIMO - Não. Mãe. Tava no garimpo, não. Vim da cidade, correndo pra lhe mostrá esse telegrama que seu Zequinha, do correio, me deu. É do Duda, mãe!

Sinhana estremeceu.

SINHANA - (misto de emoção e apreensão) Duda? Que é que diz, meu filho? Má nova?

JERÔNIMO (alegre) - Que ele chega depois de amanhã!

A noticia fora forte demais. Sinhana escorou o corpo pesado de encontro á porta de madeira, com lágrimas a estourarem de seus olhos, O pensamento voltou aos dias de outros tempos. Ao filho ausente. Nascido ali. Na natureza agreste da região. Dali partira para a cidade grande. Aprendera a arte do futebol – “tão diferente das lutas do garimpo” – e hoje, famoso – “tava nos jornais e na boca de toda gente”.

JERÔNIMO (repete) - Chega depois de amanhã, mãe. Parece mentira...

SINHANA - Tu leu direito, filho? É verdade mesmo?

JERÔNIMO - Então. Mãe, eu não sei lê? Olha: (lê em voz alta) “Chego trem de quinta-feira. Duda”.

Sinhana pensava nos anos de ausência do filho. Nunca escrevera uma linha, nunca mandara notícia... e as lágrimas deslizaram incontidas pela face da velha mãe.

Jerônimo se aproximou. Com rudeza levantou as pontas do avental e enxugou as lágrimas da mãe.


SEBASTIÃO - Deixa isso pra lá, velha. Sei porquê ta chorando, mas cada um tem seu jeito de sê.

SINHANA - (voltando-se para o marido) Se alegra, Bastião. Seu filho Duda vai chegar.

SEBASTIÃO - Ouvi tudo, mulher. Tou alegre. Você sabe que tou. (dirigindo-se ao filho) Seu irmão já sabe?

JERÔNIMO - João? Inda não.

SEBASTIÃO - Então corre, vai dizê pra ele. Tá no garimpo.

FIM DO CAPÍTULO

NÃO PERCA, NA PRÓXIMA QUARTA, O 2. CAPÍTULO DE IRMÃOS CORAGEM!!!




Autoria: Janete Clair
Direção: Daniel Filho, Milton Gonçalves e Reynaldo Boury
Período de Exibição: 08/06/1970 - 12/06/1971
Horário: 20h
Nº de capítulos: 328


ELENCO

João - Tarcisio Meira
Eduardo (Duda) - Claudio Marzo
Jerônimo - Claudio Cavalcanti
Lara, Diana, Márcia - Gloria Menezes
Ritinha - Regina Duarte
Lídia - Sonia Braga
Sinhana - Zilka Salaberry
Potira - Lucia Alves
Rodrigo - Jose Augusto Branco
Indaiá - Jurema Penna
Braz - Milton Gonçalves
Cema - Suzana Faini
Alberto - Michel Robin
Branca - Neuza Amaral
Lourenço, Bianchini - Hemilcio Fróes
Antonio - Ivan Borges
Pedro Barros - Gilberto Martinho
Estela - Glauce Rocha
Dalva - Mirian Pires
Domingas - Ana Ariel
Juca Cipó - Emiliano Queiróz
Lázaro - Dary Reis
Falcão - Carlos Eduardo Dolabella
Maciel - Enio Santos
Padre Bento - Macedo Neto
Gentil Palhares - Arthur Costa Filho
Manuela - Lourdinha Bittencourt
Paula - Mirian Pérsia
Hernani - Paulo Araújo
Fausto Paiva - Telmo de Avelar
Tula - Yara Amaral
M.Laport - José Steinberg
Gastão - Otoniel Serra
Dr. Rafael - Renato Master
Nita - Ana Maria Lage
Beato - Atila Almeida
Margarida - Leda Lúcia
Deolinda - Monah Delacy
Siqueira - Felipe Wagner


UMA TELENOVELA DA REDE GLOBO DE TELEVISÃO

FICHA TÉCNICA

Diretor: Daniel Filho, depois Milton Gonçalves
Coordenador de Produção: Ivan Borges
Assistentes de produção: Milton Cupello, Gerson Pereira
Diretor de TV: Reinaldo Boury
Câmeras: Paulo Neto, Marco Bagno, Milton Valinho
Sonoplastia: Antonio Faya
Contra-regras: Robson Nascimento, Dulcival Neves
Cenografia: Mario Monteiro, Manoel Ribeiro
Iluminador: Silvio Carneiro
Figurinos: Carlos Sorensen
Áudio: Edson Wanderley
Produção Musical: Nelson Motta
Composições de Antonio Adolfo
Chico Buarque de Hollanda
Denise Emmer
Dori Caymmi
Fred Falcão
Luiz Carlos Sá
Nelson Motta
Nonato Buzar
Paulinho Tapajós
Tibério Gaspar
Tim Maia

Adaptação do texto para romance: MANOEL TAVARES


Trama/ Personagens:
- No interior de Goiás, na fictícia cidade de Coroado, os moradores sobrevivem da principal atividade econômica na região, o garimpo de ouro. Na cidade, vive a família Coragem: a mãe Sinhana (Zilka Sallaberry) e os seus três filhos, João (Tarcísio Meira), Jerônimo (Cláudio Cavalcanti) e Duda (Cláudio Marzo).

- O coronel Pedro Barros (Gilberto Martinho) é latifundiário e um dos homens mais poderosos de Coroado. Ele quer controlar o comércio de diamantes na região, mas os irmãos Coragem não aceitam a sua autoridade.

- Um dos principais conflitos da trama aparece quando o garimpeiro João encontra um valioso diamante , que é roubado pelos capangas de Pedro Barros. Ao longo da história, João e Jerônimo lutam de formas distintas para reaver o diamante. João enfrenta os inimigos através da força, enquanto Jerônimo entra a para política no partido de oposição.

- A tímida Lara (Glória Menezes), filha de Pedro Barros, vive um drama psicológico ignorado pelo pai. Ela apresenta outras duas personalidades com características bem diferentes: a sensual e extravagante Diana e a equilibrada Márcia. João Coragem se apaixona pela filha do coronel. O garimpeiro se sente confuso e, ao mesmo tempo, seduzido diante das três personalidades de Lara. A atriz Glória Menezes criou um trejeito que se transformou num código para o público identificar quando a personalidade de Diana assumia a de Lara.

- Jerônimo é apaixonado pela índia Potira (Lúcia Alves), sua irmã de criação. Para escapar da paixão que acredita ser incestuosa, ele se envolve com a filha de um político local, Lídia Siqueira (Sônia Braga).

- O terceiro irmão Coragem, o jogador de futebol Duda, gosta da filha do médico da cidade, Ritinha (Regina Duarte), mas a deixa para vir morar no Rio de Janeiro. Na cidade grande, ele se torna um craque do Flamengo e se envolve com Paula (Myriam Pérsia). Tempos depois, ele volta para Coroado, e o conflito amoroso se agrava, quando descobre que Ritinha estava grávida dele.

- Outro personagem de destaque na trama é Juca Cipó (Emiliano Queiroz). Ele ganha espaço na história e se torna um dos pontos altos da novela. Portador de uma deficiência mental, ele violenta Cema (Suzana Faini). Grávida, Cema passa a viver um grande conflito com o marido Brás (Milton Gonçalves), porque ele começa a duvidar se é o pai da criança. Brás não aceitaria um filho branco porque o veria como fruto de Juca Cipó. O diretor Daniel Filho lembra que os telespectadores torciam para que o filho da sofrida Cema nascesse mulato, e ela fizesse as pazes com o marido.

- Em 1970, o Brasil conquistava o tricampeonato mundial de futebol na Copa do Mundo do México, enquanto a novela narrava a ascendente carreira de Duda como jogador do Flamengo. Uma das cenas mais marcantes é a do jogador no clássico entre Fluminense e Flamengo disputado no Maracanã. Uma seqüência de imagens mostra o estádio lotado de torcedores em um domingo de clássico. A referência ao esporte nacional na novela ligava a história a um dos assuntos em destaque na época.

- Janete Clair misturava ficção e realidade também no plano da política. A novela fazia uma analogia à situação de arbítrio vigente no país e o poder desmedido do coronel na pequena Coroado. No Brasil governado pelo general Médici, o Estado perseguia os partidos de esquerda e permitia a tortura dos presos políticos nos porões dos órgãos de repressão. O personagem de Pedro Barros ditava a lei, corrompendo a polícia, comprando votos e oprimindo a população em Irmãos Coragem.

- Em Irmãos Coragem foram criadas várias tramas paralelas. Esse formato permitiu à Janete Clair uma maior liberdade para modificar a narrativa em função da pressão da censura ou da trajetória de um personagem que não agradasse ao público.
- Janete Clair escreveu a novela sem o auxílio de qualquer outro autor ao longo de mais de um ano. A autora disse ter se inspirado no romance Os Irmãos Karamazov, de Fiodor Dostoiévski, para dar vida aos irmãos Coragem. Baseou-se no livro As Três Faces de Eva, de Corbett H. Thigpen e Hervey M. Checkley, para compor a tripla personalidade de Lara. E para construir o papel de Sinhana, recorreu à peça Mãe Coragem, de Bertolt Brecht.


Produção:
- A abertura da novela foi desenvolvida por Mauro Borja Lopes, o Borjalo.
- A fictícia Coroado foi a primeira cidade cenográfica da TV Globo. O cenógrafo Mário Monteiro foi o responsável pela construção do cenário numa área de 5.000 m2, na Barra da Tijuca. A cidade tinha oito ruas, praças, prefeitura, delegacia, igreja, pensão, farmácia, bares e mercearia. Esse foi o maior empreendimento cenográfico da televisão brasileira realizado até então.
- Para gravar na fictícia Coroado, a produção da novela enfrentou vários problemas. Era comum, por exemplo, os atores e produtores se depararem com animais, como cobras e jacarés. Com as chuvas, a área ficava completamente inundada, o que atrapalhava o cronograma das gravações. Muitas vezes, o elenco teve que virar a noite trabalhando para não atrasar a história.
- As cenas de garimpo eram gravadas, em grande parte, na serra de Teresópolis, no Rio de Janeiro.

Curiosidades:
- Para criar o personagem Duda, o famoso craque do Flamengo, e mostrar as angústias de um rapaz do interior que se transforma em ídolo do futebol, Janete Clair contou com a assessoria do jornalista e comentarista esportivo João Saldanha.
- Para compor a tripla personalidade da personagem Lara, Janete Clair teve a assistência do neurocirurgião Pedro Sampaio.
- Os diretores utilizaram uma linguagem cinematográfica para narrar a história e buscavam inspiração nos filmes de bangue-bangue.
- Durante uma enchente no Rio de Janeiro, um helicóptero fotografou a cidade fictícia de Coroado. A imagem foi publicada na primeira página do jornal carioca O Dia, com o título: “O Rio está inundado”. O cenário parecia tão real que confundiu os repórteres.
- Irmãos Coragem deu mais audiência do que a final da Copa de 1970, entre Brasil e Itália. O jogo foi apresentado num domingo e, no dia seguinte, a audiência da novela foi maior.
- A novela marcou a estréia de Sônia Braga na TV Globo e reuniu as duas duplas mais famosas da emissora na época: Tarcísio Meira e Glória Menezes, Cláudio Marzo e Regina Duarte. Os dois últimos saíram antes do final das gravações para estrelar a novela que viria em seguida no horário das 19h, Minha Doce Namorada.
- Irmãos Coragem reuniu o maior elenco em telenovelas até então. Foi também uma das mais longas novelas da TV Globo, durando praticamente um ano.
- Ao abordar temas como futebol, a novela – que pertencia a um universo tipicamente feminino – conquistou também o público masculino.
- A novela foi reapresentada em duas ocasiões, em forma compactada: no Festival dos 15 Anos da Rede Globo, em janeiro de 1980, e no Festival dos 25 Anos, em maio de 1990.
- Em 1995, nas comemorações dos 30 anos da emissora, Dias Gomes e Marcílio Moraes fizeram um remake adaptado para o horário das 18h. Nessa versão, Marcos Palmeira, Marcos Winter e Ilya São Paulo viveram os irmãos Coragem. A personagem Lara foi interpretada por Letícia Sabatella.

Trilha Sonora:
- A música de abertura, Irmãos Coragem, interpretada por Jair Rodrigues, foi encomendada a Nonato Buzar e Paulinho Tapajós. A letra era tão forte que só foi utilizada no capítulo 12, quando o personagem de Tarcísio Meira, João Coragem, encontra o diamante. Antes disso, usava-se apenas a melodia em arranjo instrumental.
- Outro destaque da trilha sonora foi Menina, de Paulinho Nogueira. O ator Cláudio Cavalcanti conta que gravou a música a pedido da autora Janete Clair, e a composição foi tema do casal índia Potira e Jerônimo.

domingo, 23 de janeiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CHAMADA



DUDA

O terceiro irmão, Duda, deixa a cidade de Coroado para fazer fama como jogador de futebol na cidade grande. Depois, de volta á cidade reencontra-se com Ritinha, que sempre foi apaixonada pelo jovem. Acabam por se envolver, e a tensão entre eles cresce quando a moça engravida e os pais do jovem obrigam-no a casar com ela. A volta á cidade grande e a rápida ascensão do craque levam-no a se ligar à exuberante Paula e deixar para trás seu verdadeiro amor.

Conheça este e muitos outros personagens desta emocionante novela, a partir do dia 24/01!


ESTRÉIA, NESTA SEGUNDA, A GRANDE NOVELA DE JANETE CLAIR!
NÃO PERCA!

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CHAMADA





JOÃO


João e a filha do coronel, Lara, vivem uma intensa paixão. A moça tem múltipla personalidade. A tímida e recatada Lara se alterna com a sensual Diana e com Márcia, uma mulher equilibrada. Isso acaba por confundir João, que se sente atraído pelas três. O ódio de Pedro Barros pelos irmãos cresce quando ele descobre a relação entre sua filha e João, que decide pegar em armas na luta contra a autoridade do coronel.





ESTRÉIA, NESTA SEGUNDA, DIA 24/01, AGORA PARA VOCÊ LER E CONHECER TODOS OS DETALHES DA GRANDE NOVELA DE JANETE CLAIR!

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

DICA PARA SER UM BOM ROTEIRISTA BY AGUINALDO SILVA


Você tá mesmo a fim de aprender a escrever roteiro, ô Zé Ruela? Então não perca tempo com mariquices. Nada de ficar conformado com “Vale Tudo”, “Senhora do Destino” ou “O Clone”, vá mamar direto no peito da vaca, de onde sai o leite quente… E o leite quente agora é Boardwalk Empire, o seriado americano que tem roteiros melhores que quaisquer – eu disse QUAISQUER – dos filmes que tenham estreado nos últimos cinco anos, incluindo os que ganharam os óscares.
Desde Os Sopranos que não se via nada parecido; e a essa altura estou tentado a dizer que este seriado, graças aos dedinhos mágicos de Martin Scorcese, e da turma trazida de Os Sopranos, é um passo adiante deste: é uma lição, minuto a minuto, cena a cena, take a take, da arte de produzir, dirigir e, principalmente, de escrever roteiros. Por favor, baixe o episódio 07, que está na internet pra quem quiser ver no computador, inclusive legendado em português. Veja, reveja, triveja… E, caraças, aprenda!

Preste atenção, principalmente na personagem à “fantasma da ópera”, o mascarado vivido por Jack Huston (na foto acima). Este ator faz parte de uma dinastia hollywoodiana: é bisneto de Walter, neto de John e filho de Angélica Huston. Beba, como se fosse um néctar dos deuses, cada diálogo das cenas em que ele aparece… Mas não perca de vista nem por um momento sequer a personagem principal, vivida por Steve Buscemi… E prepare-se para um dos finais mais surpreendentes e impactantes da história dos seriados.
Sim, encare essa tarefa como se fosse um dever de casa que este seu professor velho e cansado lhe passou… E depois escreva aqui o que achou. E se você disser que não achou lá essas coisas, então se conforme com a sorte: desista de ser roteirista e vá se candidatar a um emprego público.
Mas se você acha que seu negócio é televisão, então, além de ver, dissecar e analisar Boarwalk Empire, ilustre-se!
Taí a dica quem entende do assunto. Não perca tempo e mãos à obra!

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

CHAMADA

BIBI E OTAVIO, DOIS PILANTRAS QUE VIVEM DANDO O GOLPES NA PRAÇA QUERENDO DAR 'O PULO DO GATO' E SUBIR NA VIDA. EMBORA TRAMBIQUEIRA, BIBI É UMA PESSOA BOA QUE COMPENSA SUAS TRAPAÇAS RECOLHENDO CRIANÇAS DAS RUAS E AJUDANDO VELHINHOS DE UM ASILO.
MAL SABE ELA QUE É MILIONÁRIA, A ÚNICA HERDEIRA DA FORTUNA DO PODEROSO ROMEU ANTUNES VILLASBOAS...

VEM AÍ...



INSPIRADA NA OBRA DE SILVIO DE ABREU.

AGUARDE.

domingo, 2 de janeiro de 2011

ARTIGO: Autores comentam de onde tiram inspiração para suas novelas

Não existem regras para se escrever novelas e minisséries para a TV. Como em qualquer trabalho artístico, a inspiração vem de referências diversas. Enquanto alguns autores escrevem baseados em experiências pessoais ou lembranças de infância - como Benedito Ruy Barbosa, criado no interior paulistano e sempre afeito a temas rurais. Enquanto isso, outros mergulham de cabeça no mundo contemporâneo. É o caso de Glória Perez, por exemplo, que já abordou clonagem, barriga de aluguel e até namoro virtual, enquanto mal se ouvia falar em internet no Brasil. Há também os que já mudaram radicalmente de linha de pensamento. Aguinaldo Silva, que esboçou sucessos com efeitos de realismo fantástico, como as novelas Fera FeridaA Indomada e Pedra Sobre Pedra, entre outras, atualmente tem deixado de lado o recurso para se aprofundar em críticas aos políticos e dramas humanos. Principalmente contando histórias de mulheres guerreiras, como será o caso da protagonista interpretada por Lilia Cabral em Fina Estampa, novela das oito do autor que entra no ar em 2011. 
"Antes eu colocava gente voando, caindo num buraco e surgindo no Japão. De uns tempos para cá, mostro mulheres nordestinas guerreiras, como a Maria do Carmo deSenhora do Destino", exemplificou. 
Outros autores, no entanto, costumam ser fiéis às suas fontes de inspiração, como Silvio de Abreu. O autor paulistano sempre retratou o cotidiano da cidade de São Paulo em suas histórias. Em Passione, Silvio também traz uma de suas marcas registradas desde Guerra dos Sexos, exibida em 1983 - e que voltará ao ar em um remake que será produzido pela Globo em 2012. 

"Trouxe o pastelão e a comédia escrachada para a TV. Ninguém imaginaria Paulo Autran, Fernanda Montenegro, Tarcísio Meira e Glória Menezes fazendo aquilo", divertiu-se Silvio, que também costuma colocar assassinatos e criar o suspense do "quem matou?" em suas tramas, como em Passione e em A Próxima Vítima. "Também virou uma marca minha. Em A Próxima Vítima era complicadíssimo matar um personagem por mês e mudar a história", lembrou. 

Outro cenário que também ambienta com placidez o horário das oito é o das novelas de Manoel Carlos. Sempre embalado pelo charme do Leblon, bairro sofisticado da Zona Sul carioca, o autor se inspira em cada personagem de seu cotidiano na região para conduzir a ficção, que também costuma mesclar com abordagens de merchandising social, como doenças graves e superação de tragédias familiares. 

"Os maiores dramas se diluem com o céu azul de um dia lindo no Rio. Mostro o Leblon porque vivo nele, conheço seus personagens e por ser um lugar que repercute em todo o Brasil, que é referência", argumentou Maneco. 
Igualmente apaixonado pelo Rio, Antônio Calmon volta e meia insere não só a cidade em suas tramas, mas o estilo de vida carioca. Principalmente os amantes do surfe, retratados em tramas como Três Irmãs, Armação Ilimitadae Corpo Dourado, entre outras.

 "Sou morador de Ipanema, tenho paixão por esse astral", assume. Em contrapartida, o autor também se inspira num lado mais sombrio com sua paixão por vampiros, que conduziu as novelas Vamp e O Beijo do Vampiro. "Mas não sou mórbido e nem frequento cemitérios. Gosto de dar momentos de fantasia para o público", ressaltou. 
A fantasia também se mescla com a modernidade, as inovações tecnológicas e as tradições nas tramas de Glória Perez. A autora, que sempre antecipou ou debateu assuntos polêmicos em suas produções, como clonagem em O Clone e barriga de aluguel na novela homônima, tem se interessado cada vez mais em retratar as mais diversas culturas, como em Caminho das Índias. Entremeada a esses temas, a autora também insere fartas doses de merchandising social em seus trabalhos, como doação de órgãos e abordagem de doenças, como esquizofrenia e dependência química.



 "Me orgulho de ter inovado ao criar o merchandising social em novelas. Também gosto de mostrar o valor que outros povos dão ao passado. Na Índia e no Marrocos (onde gravou O Clone), eles não rompem com as tradições", observou. 


Outro que adora um pastelão e uma apelação sexual graduada é o também paulistano Carlos Lombardi, que foi colaborador de Silvio de Abreu e Cassiano Gabus Mendes.
Uma característica fundamental nas suas tramas é o enredo cheio de ação, humor, diálogos rápidos e sarcásticos, se aproximando muito da linguagem cinematográfica e das histórias em quadrinhos, receita que seguiu em Bebê a Bordo (1988), outro grande sucesso.


Quase visceral 


Os temas históricos são a paixão de alguns autores, dentre eles, Maria Adelaide Amaral e Benedito Ruy Barbosa. Assinando o bem-sucedido remake de Ti-Ti-Ti, um dos maiores prazeres da portuguesa Maria Adelaide é escrever sobre grandes sagas e folhetins históricos, que são melhor retratados em minisséries, como JK, A Casa das Sete Mulheres e Um Só Coração.



 "Não penso em contribuir para a cultura nacional. Acho que esse não é o principal objetivo da teledramaturgia. Só penso como essas histórias ficariam interessantes nesse formato para a TV. Gosto de transformar figuras históricas em personagens", explicou a autora. 

Para Benedito, todas as suas tramas trazem lembranças pessoais e mostram personagens com características de tipos bem brasileiros. Descendente de parentes que lidavam com o plantio do café e a criação de gado, o autor paulista passou anos para escrever suas mais diversas obras fazendo pesquisas sobre os tipos a serem retratados em tramas como Pantanal,Renascer, O Rei do Gado, Cabocla e Terra Nostra, entre outros. 



"Rodei três mil quilômetros pelo sertão baiano para fazer Renascer, que levei 10 anos para construir. Já Pantanal, 'ruminei' por sete anos e Terra Nostra vem de lembranças da minha infância", exemplificou o escritor. 



Instantâneas 
# Gilberto Braga, que volta ao ar em janeiro com Insensato Coração, próxima novela das nove da Globo, usa muito glamour em grande parte de suas novelas. Normalmente elas retratam o bairro de Copacabana, na Zona Sul do Rio, para mostrar o passado áureo ou algum personagem decadente.

# Manoel Carlos também se inspira em autores que usam as mulheres como personagens principais de suas obras, caso de Honoré de Balzac e Marcel Proust. "A mulher é a matriz de tudo", observou Maneco. 
# Apesar de apaixonado pelo Rio, Antônio Calmon nasceu em Manaus. O autor também se inspira no universo adolescente para compor suas tramas que atraem o público juvenil. 
# Benedito Ruy Barbosa explica que passou quase 30 anos pensando em como retratar a história da minissérie Mad Maria na teledramaturgia. A trama foi exibida em 2005, na Globo.