segunda-feira, 29 de agosto de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 87



classificação



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 87

CENA 1 - CASA ABANDONADA - QUARTO - INT. - NOITE.

O corpo do paciente foi colocado na superfície dura da mesa, acolchoada com trapos e lençóis arranjados por Cema. João não escondia sua preocupação.


JOÃO - Acha que dá tempo, doutor?

MÉDICO - Talvez. É melhor agir e não fazer perguntas. A moça com o material...

Cema trouxe a panela com água fervente. Jogou na peça o material cirúrgico.

MÉDICO - (ordenou) Fechem a porta! Veja se temos querosene suficiente para não faltar luz na hora. (pela janela João avistou as estrelas piscando no céu) Vamos arriscar assim mesmo. Ilumine o mais que puder. Vou confiar na sorte e na boa vontade de Deus.

Enquanto João e Cema rezavam, o médico, indiferente, aplicou a injeção na veia do doente. O bisturi traçou um risco vermelho na carne de Alberto. João cerrou os olhos e trincou os dentes. A operação começara.

CORTA PARA:

CENA 2 - CASA ABANDONADA - QUARTO - INT. - NOITE.

Enxugando o suor que lhe escorria do rosto, o médico aplicava a última injeção no braço de Alberto. A intervenção chegara ao fim e, para o êxito, muito colaborara a juventude do paciente. Doutor Nilo engoliu, com avidez, o café quentinho e forte que Cema lhe trouxera da cozinha.


JOÃO - Como tá ele? Parô a sanguera?

MÉDICO - Acho que conseguimos estancar. Foi um trabalho difícil... mas creio que conseguimos salvar o rapaz, com a graça de Deus!

JOÃO - (sorrindo largo) ... e com a graça de Nosso Senhô Jesus Cristo e São João, meu protetô...

MÉDICO - Deus guiou a minha mão. Não há outra explicação. Este rapaz estava muito mal, quase não havia chance de escapar. (fatigado, olhou mais uma vez o jovem que dormia sob efeito de anestésicos. Segurou-lhe o pulso. Verificou as batidas. Tudo em ordem. Perguntou, voltando-se para o chefe do bando) Afinal... o que é que o filho de Dona Branca estava fazendo aqui, com vocês?

JOÃO - Ele... ele veio até aqui... pra me matá, doutô! Só pra me matá!

O médico levantou os olhos, espantado.

CORTA PARA:

CENA 3 - CASA DO RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.

SINHANA - Tu rompeu?

Sinhana fez a pergunta, entregando ao filho um bilhete de Pedro Barros.

JERÔNIMO - Acabei com tudo. Foi melhor assim. Tava sendo uma tortura pensá em me casá com ela.

SINHANA - Te trouxero isso (mostrou o papel) da casa de Pedro Barros.

JERÔNIMO - (leu com expressão séria. Rugas profundas riscavam-lhe a testa) É... e´um chamado... ele me convida pra almoçar hoje na casa dele. Diz que tem visita de fora... gente importante que quer me conhecer.

SINHANA - E tu vai?

JERÔNIMO - Veja o banho pra mim, mãe. (a velha continuava a fitá-lo aguardando a resposta) Tenho que ir, né, mãe?

SINHANA - Quase nem acredito. Tou só te dando tempo pra vê se tua acorda tua consciencia. Tu deve de tá sendo levado por alguma coisa ruim, que te dominô o pensamento. Mas vai se livrá disso. Tou rezano muito pra Nossa Senhora da Cabeça te clareá as idéia.

CORTA PARA:

CENA 4 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - EXT. - DIA.

Alguma coisa soprava ao filho de Sinhana que o coronel tramava outra das suas. Mesmo assim ele, com um misto de receio e de cuidado, compareceu á casa-grande. Distante, ainda, ouviu o ritmo trepidante que partia da residencia. Já perto, pôde avistar a movimentação.

CENA 5 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - INT. - DIA.

Jerônimo parou á porta. Juca dançava desengonçadamente com uma bela mulher. Morena, de ancas bem torneadas e seios pequenos e firmes, Lídia Siqueira. Juca cochichou qualquer coisa junto ao ouvido da moça. Fingindo seriedade ela sorriu por trás dos ombros do jagunço. E deparou com o jovem parado, indeciso, á entrada da casa. Pedro Barros se aproximou, amistosamente. Pegou Jerônimo pela mão. Bateu com os pés no chão e, alteando a voz, chamou os visitantes ao centro da sala.

PEDRO BARROS - Meus amigos (falou solene) este é o novo prefeito de Coroado. Jerônimo Coragem! (e voltando-se para Jerônimo) Doutô Siqueira, deputado! Veio visitá nossa cidade.

SIQUEIRA - (apertou com energia a mão do garimpeiro) Ah, mas que prazer! Eu não podia imaginar que o prefeito fosse tão jovem... (abraçou o rapaz).

PEDRO BARROS - (completou a apresentação, fixando o olhar no pseudo-amigo) O Doutô Osvaldo Siqueira é deputado federal, eleito por nossa zona, a zona do diamante.

Afastada do grupo, Lídia admirava a beleza rude do jovem prefeito de Coroado, seus cabelos longos e negros, o jeito másculo, a vestimenta exótica, detendo-se especialmente nos olhos, profundos e cheios de mistério. Lidia esqueceu-se de que havia outros na festa do coronel e se assustou quando Juca Cipó a segurou pelo braço.

JUCA CIPÓ - Uai, moça. Tá esqueceno de mim? Gente maluca a da cidade! Deus Nosso Senhô me guarde!

CORTA PARA:

CENA 6 - COROADO - ESTAÇÃO - EXT. - DIA.

Eram 4 e meia e o trem acabara de chegar. Sem atrasar um minuto. O chefe da estação tangeu o pequeno sino e se encamihou para a locomotiva resfolegante.

Maciel vistoriou o interior do comboio. Lá estava Ritinha acenando risonha.

DR. MACIEL - Mas é você! Você mesma, minha filha?

RITINHA - Claro que sou, papai! (disse a moça, atirando-se nos braços do pai) Puxa vida! Não precisa ficar tão espantado assim, só porque não avisei!

DR. MACIEL - Você é esperta, mas eu sou mais (disse, mais feliz do que nunca) Devia ter avisado. Eu teria preparado uma recepção para você e minha netinha. (lembrou-se) Uai, cadê ela?

Gabriela, carinha vermelha e olhos castanhos, vivos, chorava abundantemente nos braços da babá. Maciel queria, mas não via jeito de segurar a netinha no colo.

DR. MACIEL - O que foi que você veio fazer aqui de repente?

RITINHA - Vim pra posse do meu cunhado. É hoje, não é?

DR. MACIEL - (mudou de expressão) Veio... com aquele patife do seu marido?

RITINHA - Não, pai! Vim sozinha... com Gabriela.

DR. MACIEL - E o Duda?

RITINHA - Eu sei lá onde é que anda o Duda? Ele agora voltou a treinar e está muito preocupado com a volta dele ao campo. Nem lembra que tem família... (havia um quê que mágoa nas palavras da moça).

DR. MACIEL - Não há de ser nada, minha filha. Estou nadando em dinheiro. Vou até abrir uma farmácia. Você fica comigo.

CORTA PARA:

CENA 7 - CASA ABANDONADA - QUARTO - INT. - DIA.

Dr. Nilo retirava os pontos da operação com uma pinça. Trabalhava com cuidado.

DR. NILO - Está doendo, rapaz?

ALBERTO - Quase nada, doutor.

DR. NILO - Estive com sua mãe. Ela está ansiosa para você voltar e eu prometi a ela que o levaria hoje comigo. Expliquei que ia retirar os pontos e que você já estava em condições de suportar a viagem.

JOÃO - E qual é a dúvida?

DR. NILO - Dependendo de você... eu levo ele hoje. Mas... eu acredito que você não vá prendê-lo por muito tempo, não?

JOÃO - Eu... num tenho direito de detê ele por mais tempo. Afinal, se salvei a vida dele, não foi foi pra fazê dele meu prisioneiro. Eu acho que deve de segui o seu destino... até mesmo sem lembrá que eu existo. (não se impressionou com o olhar vidrado do filho de Lourenço D’Ávila, que ouvia atento as palavras do homem a quem tentara matar) Fiz o que fiz só pra lhe prová que eu não matei o pai dele, mas se tivesse matado, tava cheio de razão. Razão que não lhe disse e não lhe digo nunca. Porque se eu fosse um sujeito à toa, como você pensa, rapaz, eu tinha contado tudo o que passei por causa dele. Portanto, eu repito: tu é livre pra segui o seu destino... deste momento em diante. Pode até saí com o doutô...

João ia retirar-se, emocionado. A voz de Alberto fê-lo voltar à cabeceira da cama.

ALBERTO - João! Eu acredito em você... como nunca acreditei em ninguém!

Os olhos do garimpeiro, surpresos, buscaram auxílio nos olhos do médico. João não acreditava no que ouvia. O filho do homem a quem detestava e que estava ali para matá-lo, bandeava-se para o seu lado.

ALBERTO - Compreendo até tua causa, tua revolta. Não estou inteiramente de acordo com ela... há muitos erros... mas, eu sei, ninguém pode ser perfeito. De tudo o que vi na minha vida, de muita gente que conheço, você é o único sujeito que eu sou capaz de seguir até a morte sem discutir.

Estendeu a mão para o másculo garimpeiro. João Coragem adiantou-se e sorriu satisfeito. Apertou, entre as suas, as mãos do filho de Lourenço.

FIM DO CAPÍTULO 87
Lourenço (Hemílcio Fróes)

e no próximo capítulo...

*** Tem início a crimônia de posse do novo prefeito de Coroado, mas, para decepção de Duda, que viera a Coroado para homenagear o irmão, Jerônimo mostra-se apático e submisso a Pedro Barros.

*** Duda e Ritinha reencontram-se.

*** Lídia fica interessada em Jerônimo e se insinua para o rapaz.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 88 DE

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 86




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Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 86

CENA 1 - MARGEM DE UM RIACHO - EXT. - DIA.

Durante semanas Alberto D’Ávila ruminou a ânsia da vingança, dia e noite, correndo terras, cruzando rios, vencendo léguas ao lombo do cavalo. João e Lázaro, João e Braz, nunca João só, a permitir-lhe a oportunidade do punhal nas costas. A chance apareceu á margem de um riacho. O garimpeiro havia tirado a camisa e lavava o peito atlético, inteiramente voltado para o que fazia. Alberto aproximou-se por trás, pé ante pé. Movimentos medidos e cronometrados. No instante derradeiro, ajudado por um sexto sentido, João percebeu o leve arrastar da sandália, virando o corpo no exato momento em que o punhal descrevia uma elipse para penetrar-lhe fundo, entre as costelas. Movimentando-se para o lado, numa ginga arisca, ao mesmo tempo em que erguia o braço para amparar o punho do rapazola. João esquivou-se à facada fatal. Não viu dificuldade em dominar o adolescente, desacostumado ás lutas do garimpo. Retirou-lhe o punhal numa rápida torção, utilizando os dedos á guisa de alicate. Com um grito de dor, Alberto foi ao chão. O punhal escapulindo-lhe das mãos. João levantou-se enraivecido.


JOÃO - Podia te castigá, não podia?

ALBERTO - E por que não castiga? Por que não me mata como matou meu pai?

JOÃO - Então... tu é mesmo o filho daquele patife do Lourenço D’Ávila?!

Lázaro veio correndo e com ele alguns homens que se achavam nas imediações.

LÁZARO - O que foi, João? Tá precisando de ajuda?

JOÃO - Sabe quem é esse aí? (perguntou, apontando para o rapazola, cansado e arfante. Os homens fitaram-no com interêsse. Alberto ficou mais pálido) É o filho do Lourenço! Imagina só!

LÁZARO - (sorriu, irônico, afagando a ponta do punhal) Eu bem que desconfiava!

JOÃO - (ajeitou o cabelo que lhe caía abundante sobre os olhos e explicou o ataque) Tava aqui... pra me matá. Quase que me pega a traição. Veio, na certa, se vingá. Acreditô também que eu matei o safado do pai dele.

LÁZARO - A gente dá um jeito nele, João. E vai fazê companhia ao paizinho dele, ladrão, lá no inferno. Um bom lugá pros dois...

JOÃO - (procurava amedrontar o adolescente) Que é que tu acha que ele merece, Lázaro?

LÁZARO - Deixa comigo. Eu cuido dele. A gente dá uma lição nesse pafife...

JOÃO - (puxando o rapaz das mãos criminosas do foragido) Eu vou dá uma lição do meu modo. É só tê cuidado pra vê se ele esconde alguma arma. E... deixa ele aí. É meu prisioneiro. Cês vigiam bem ele. O resto é cá comigo.

Lázaro espumou.

CORTA PARA:

CENA 2 - CASA ABANDONADA - QUARTO - INT. - DIA.

JOÃO - Como tá ele?

João concentrou-se nas expressões de dor do filho de Lourenço. Olhos vidrados, movimentos nervosos, mãos pressionando o baixo ventre. Alberto gemia dolorosamente, como fizera a noite inteira.

LÁZARO - (fitou com desprezo o rapazola) Olha pra isto! Tá fingindo que tem dor, o sem-vergonha!

Cema ajoelhou-se ao lado da cama e observou detidamente as contrações faciais do jovem. Voltou-se apreensiva.

CEMA - Mas ele tá com dor, gente! E muita!

LÁZARO - Deixa o infeliz morrê! Num merece outra coisa!

João Coragem não tomou conhecimento da decisão criminosa. Ordenou a Clemente que fosse a Morrinhos. Uma vez lá adquiriria remédios e, se possível, traria um médico ao esconderijo das montanhas. Clemente partiu a todo galope.

JOÃO - Se tu num tivesse aí, com essa dor de barriga, pra morrê... eu ia te dizê quem foi teu adorado pai. Mas eu num digo. (sentou á beira da cama) Num digo, também, porque tu é filho e, reconheço, tem que respeitá a memória dele, mesmo que ele tenha sido um bandido. Amor de pai e filho, pra mim, é sagrado! Respeito muito. E te digo: até entendo a tua revolta. Pra teu confôrto só te digo uma coisa: eu num matei teu pai... mas faria isso se tivesse encontrado ele. Acredite ou não, eu num matei ele...

CORTA PARA:

CENA 3 - COROADO - IGREJA - INT. - DIA.

Silencio e contrição. Padre Bento lia a Bíblia, meditando nas passagens históricas da vida de Cristo. Passadas ruidosas chamaram a atenção do sacerdote. Barros entrava, seguido por Juca Cipó.

JUCA CIPÓ - Bença, padre!

PADRE BENTO - Que surpresa!

PEDRO BARROS - (fingia respeito) Eu soube que o senhor... tem aí uma carta de João pra minha filha...

PADRE BENTO - De fato... eu tenho!

PEDRO BARROS - Pois eu vim buscá ela. Entrego pra Lara. Me dê a carta!

O sacerdote tirou os óculos e colocou-os sobre a página aberta da Bíblia. Estava calmo.

PADRE BENTO - Não vou dar. Tenho que entregar nas mãos de Lara.

PEDRO BARROS - Sou pai dela. Não tem confiança em mim?

PADRE BENTO - Fica zangado se eu lhe disser que não?

Padre Bento estava sendo franco. Barros não suportava a franqueza.

PEDRO BARROS - Ora... mas isto é... uma ofensa!! Está querendo brigar comigo, padre?

JUCA CIPÓ - (deu um passo á frente, ameaçador) Dá a carta pro meu patrãozinho. A gente entrega prela. Ninguém vai deixá de entregá.

PADRE BENTO - Sinto muito, mas não posso! (tornando a colocar os óculos, segurou a Bíblia) Com licença. Estou ocupado, lendo coisa muito importante.

PEDRO BARROS - É a sua última palavra?

Padre Bento fez que sim, com leve oscilação da cabeça, sem olhar o interlocutor.

A troca de olhares foi instantânea entre Juca e o Coronel Pedro Barros. Este, sem se despedir do reverendo, deu-lhe as costas e saiu. Juca puxou o revólver do coldre bordado e com violência desfechou um golpe na nuca do sacerdote. Padre Bento caiu sem um ai! Com a cabeça baixa, sem fitar o assassino, o coronel retornou á sacristia.

PEDRO BARROS - (fingia-se aborrecido) Por que fez isto?

JUCA CIPÓ - Ele num queria dá a carta pro meu patrãozinho! (frio, acariciava a cabeça do Padre Bento) Tadinho! Deus que me perdoe, por caridade! Pobrezinho! Que gente ruim!

Num instante o coronel vasculhou a sacristia, revolvendo papéis e remexendo gavetas. Á medida que o tempo passava, Barros enervava-se mais. Nada da carta! Padre Bento gemeu e moveu-se levemente. Juca aplicou-lhe nova coronhada. O baque surdo da arma na cabeça do sacerdote chocou o próprio coronel.

PEDRO BARROS - Acaba com isso, num precisa bater nele. O espertalhão deve de tê escondido a carta num lugá bem seguro. Vamos embora, Juca. Num dianta!

JUCA CIPÓ - Vai o senhor, patrãozinho. Vou botá um pouco de sal nos galo dele.

PEDRO BARROS - (expulsou Juca da sacristia, aos empurrões) Nada disso. Vamos, antes que chegue alguém!

JUCA CIPÓ - (protestava) Mas... e ele? Os galo! Tadinho! Quem cuida dele? Ah, que judiação, deixá o pobre do home nesse estado!

Juca livrou-se das mãos do coronel e, num movimento imprevisível, beijou respeitosamente a fronte do sacerdote, benzendo-se com gestos largos. Barros balançou a cabeça de um lado para outro.

CORTA PARA:

CENA 4 - CASA ABANDONADA - QUARTO - INT. - DIA.


JOÃO - O que é que ele tem?

O médico tinha acabado de examinar Alberto D’Ávila. O estetoscópio pendurado ao pescoço, retirava do braço do doente o aparelho de pressão. A fisionomia sombria revelava a gravidade do diagnóstico. O rapaz gemia.

MÉDICO - Uma crise de apendicite. Tem que ser operado já, com urgencia. Creio que não há tempo dele ser removido para Morrinhos.

JOÃO - O senhor não pode operá-lo aqui?

MÉDICO - Poder, posso. Mas... não aqui. Não há a menor condição.

João Coragem estimulava o médico, diante da evidente situação de vida ou morte do filho de Lourenço.

JOÃO - Faca afiada a gente tem. O resto, Lázaro pode dá um pulo na cidade e pegá, na farmácia... Lázaro vai num pulo. Corre mais no cavalo do que esses avião aí, moderno.

MÉDICO - De fato. A remoção pode custar a vida do rapaz... Não há tempo. Bem... já que a gente tem de fazer alguma coisa, manda o homem buscar o seguinte...

Escrevendo rápido, o médico fez uma lista do que precisava. E Lázaro partiu confundindo-se com o pó que levantava da estrada.

FIM DO CAPÍTULO 86
Ritinha e a filha Gabriela

e no próximo capítulo...

*** Jerônimo rompe o noivado com Margarida.

*** Na Fazenda de Pedro Barros, Jerônimo conhece o Deputado Siqueira e sua filha Lídia. *** Ritinha retorna a Coroado e é recebida pelo pai na estação, com a filha Gabriela nos braços.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 87 DE






quarta-feira, 24 de agosto de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 85




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Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 85


CENA 1 - COROADO - IGREJA - EXT. - DIA.

Padre Bento abriu o portão da igreja, enquanto o sino chamava os fiéis para o ofício matinal. Trôpego, trocando as pernas, o ébrio entrou e estacou nos umbrais do templo. O sacerdote meteu a mão no bolso da batina e retirou um papel retangular. Entregou ao médico.


PADRE BENTO - Leia. É um telegrama para você. Acho que é da sua filha.

DR. MACIEL - Heim? Mi... minha fi... filha? Telegra... ma?

PADRE BENTO - Está aqui. Veja.

O sacerdote abriu o telegrama e o colocou diante dos olhos semicerrados do médico. Maciel não conseguia enxergar as letras. Tudo confuso, embaralhado. Padre Bento percebeu a impossibilidade do velho identificar, sequer, a procedência.

PADRE BENTO - (colocou os óculos e leu) Tá aqui, doutor: “Gabriela nasceu Maternidade São Félix”.

DR. MACIEL - (perguntou, cômicamente) Gabriela? Mas, quem é Gabriela?

PADRE BENTO - Assinado, Ritinha...

DR. MACIEL - Bah! (fez o velho, batendo com a mão no espaço) Eu não sei quem é Gabriela.

PADRE BENTO - É sua neta, doutor. Ela nasceu!

DR. MACIEL - Minha neta? Eu não... tenho... neta!

PADRE BENTO - A filha de Ritinha...

DR. MACIEL - (finalmente atinou) Hem? A filha de Ritinha? Filha de minha filha? Minha neta? Minha netinha? Gabriela. Ela se chama Gabriela? Mas... isso é verdade? Gabriela! (dava saltos diante da igrejinha de Coroado, ante os olhares de desaprovação das beatas que entravam, vestidas de negro, para a missa da manhã) Viva Gabriela! Gabriela nasceu, gente! Gabriela nasceu! (o telegrama suspenso no ar, tremulava á brisa matutina. O velho médico correu pelas estradas barrentas da cidade, trombeteando a boa nova) Gente! Eu sou avô! Ela é Gabriela!

Padre Bento sorria, mãos postas, ao ver a espontânea e irresistível reação do médico de Coroado. A voz sùbitamente clara e forte de Maciel penetrava nos mais diversos ambientes do lugar – botecos, armarinhos, associações – onde houvesse porta ou janela aberta, a voz do ébrio violava o silencio, contando ao mundo a sua alegria:

DR. MACIEL - Povo de Coroado, eu já sou avô! Gabriela nasceu!

O estardalhaço chamou a atenção do delegado. Falcão correu á porta, rodando no indicador o revólver de cano curto. Riu, ao ver a figura cômica do médico.

DELEGADO FALCÃO - Deu a louca no Dr. Maciel! Acho que nasceu a filha da Ritinha. O homem tomou um pileque homérico! Nossa Senhora!

CORTA PARA:

CENA 2 - MORRINHOS - EXT. - DIA.

Atormentado pelo desejo de vingar a morte do pai, Alberto planejou um meio de chegar até o bando de João Coragem. Só havia um: mediante contato com aqueles com quem o foragido mantinha negócios de diamante. Por fim, depois de semanas de tentativas, agora Alberto D’Ávila compartilhava das atividades do bando de foras-da-lei. João acabara de fazer um bom negócio, esporeou o alazão e comandou a partida.

JOÃO - Vamo andando! Vamo, Alberto! Tamo na hora!

Os olhos do rapaz fitaram um rosto de mulher diante da casa de farinha do povoado. A poucas léguas de Coroado. A reação da mulher não passou despercebida aos olhos sagazes do garimpeiro. Como se trespassado por uma corrente elétrica, o filho de Lourenço ficou paralisado. Mal olhou o vulto da mãe. Lázaro reteve o trote do cavalo.

LÁZARO - Posso fazê um convite pra madame? Será que num queria acompanhá a gente, numa aventura?

Alberto retezou os músculos. Fingiu não ouvir o convite infame dirigido á mãe. João esperou a reação de Branca D’Ávila. A mulher fuzilou o marginal com os olhos.

JOÃO - Lázaro... a dona não é de brinquedo. É a mulhé do Lourenço D’Ávila. Aquele que dizem que eu matei!

CLEMENTE - O ladrão do diamante?

BRANCA - Respeitem meu marido! (ordenou, com voz dramática. Estava se acostumando àquele papel permanente. De viúva de um homem leal, honrado).

JOÃO - (voltou a falar, desta vez áspero, ferino) Olha, dona! Prefiro respeitá um assassino do que um ladrão sem-vergonha e ordinário, como era seu marido!

BRANCA - Meu marido está morto! (gritou, quase acreditando em si mesma).

JOÃO - A morte não limpa o passado dele, dona! A morte não devolveu o meu diamante!

BRANCA - (explodiu) Onde está sua dignidade, João?

JOÃO - Tá na minha pedra, que roubaro, na minha família, que destruíro, na minha revolta, na traição que me fizero, dona! Mas... à senhora, eu respeito. E é por isso que não peço agora conta do meu diamante. Um dia eu venho lhe procurá e vamo ter uma conversinha a respeito disso. Eu num tenho pressa, dona... (moveu o braço direito, num chamamento geral) Vamo simbora, minha gente! Vai na frente, Clemente, vê se o caminho ta livre...

CORTA PARA:

CENA 3 - COROADO - PREFEITURA - SALA DE RECEPÇÕES - INT. - NOITE.

A música encobria a conversa dos grupos que se formavam no interior da sala de recepções da prefeitura de Coroado. Os convidados chegavam aos punhados. Gente dali e das povoações próximas, quase todas ligadas ao desenvolvimento comercial da cidade maior. A festa era iniciativa do coronel, anfitrião acatado. Domingas fazia as apresentações, enquanto, mais afastado e de péssimo humor, Jerônimo esperava impaciente o fim que não vinha nunca. Barros aproximou-se e convidou-o para uma conversa em particular.


PEDRO BARROS - Eu lhe chamei, pra lhe lembrar que a gente tem um acordo.

JERÔNIMO - Não era preciso lembrar.

PEDRO BARROS - Não vou fazer nenhuma imposição impossível. Apenas o necessário. Você sabe que no momento que eu quiser, acabo com seu futuro e com o futuro de sua amante. (Jerônimo estremeceu) A noite na gruna até hoje não é do conhecimento de ninguém, mas eu e meus homens, a gente sabe de tudo. E só vamos abrir o bico se você não cumprir o trato. Tamo falado?

JERÔNIMO - Eu já sei. O senhor vai me obrigar a perseguir meu irmão. O senhor quer que eu mande matar ele.

PEDRO BARROS - Esta é uma parte do trato (afirmou, impiedoso) Eu disse que havia mais coisa.

JERÔNIMO - Pois bem, diga!

PEDRO BARROS - Apenas uma a mais... pra mim, muito importante (soltou uma densa baforada de fumaça) Quero que o Falcão continue no cargo dele.

JERÔNIMO - Eu tenho direito de nomear outro delegado...

PEDRO BARROS - Mas... não vai nomear ninguém. É isto que eu exijo. Que você continue dando todo apoio a ele. Porque é homem de minha confiança. E juntos... eu, você e ele, a gente pode fazer muita coisa em benefício da lei de Coroado... (Jerônimo ameaçou dizer qualquer coisa. Barros interveio) Prefiro que não diga nada. A sua resposta tem que sê uma só. Você não pode ir contra a minha vontade. Tenho você na minha mão. Eu te dou a chance de, hoje, neste jantar, você dizer a todos os presentes que tem muito gosto que Falcão continue no cargo... (bateu de leve no ombro do jovem) Você é um rapaz inteligente, Jerônimo.

JERÔNIMO - O senhor ta querendo que eu venda a minha alma!

PEDRO BARROS - A trôco da honra da esposa do seu melhor amigo. Acho que vale a pena. (acenou com a cabeça) Vamos jantar.

CORTA PARA:

CENA 4 - COROADO - PREFEITURA - SALA DE RECEPÇÕES - INT. - NOITE.

Os convidados falavam alto e o vozerio aumentava a dor de cabeça de Jerônimo. As têmporas latejavam-lhe, a dor irradiando-se para a nuca, com reflexos terrìvelmente desagradáveis por sobre a vista esquerda. Parecia que uma pedra de toneladas esmagava-lhe, aos poucos, as laterais do crânio. Pedro Barros bebera em demasia e o demonstrava claramente. Na mesa, de um lado, Falcão, Lara e o coronel. Do outro, Jerônimo, Margarida e Deolinda. Os convidados espalhavam-se nos demais lugares. Barros levantou-se, pigarreou e pediu a palavra.

PEDRO BARROS - Gente... tou satisfeito pra burro... de ocês ta tudo aqui, reunido comigo, hoje. É um jantar de con... confra... ternização. Diacho, tou até falando bonito! –(os convivas riram, ruidosamente) Aqui, o meu amigo Jerônimo Coragem. (pegou e apertou o ombro do rapaz, que se levantara diante dele) Ele resolveu ficar do meu lado... isso é bom. É muito bom. Ele compreendeu que pra dar impulso á nossa querida Coroado... tem que ser aliado meu, o verdadeiro dono desta cidade. Eu construí ela! (na exaltação, Pedro Barros derrubou um copo de vinho, manchando o linho branco da toalha) Eu mandei levantar a primeira casa dela! (caiu sentado sobre a cadeira, visìvelmente embriagado. Riu, algo desconcertado) Diacho, tou ,meio zonzo! (levantou-se de novo e reiniciou a arengação) Como... aquele tal de... como é que se chama, Dalva, aquele cara que ocê falou que era o dono de Roma? Ah, Nero! É. Esse tal de Nero é dos meu. Ele era o dono de Roma. Eu sou o dono de Coroado. O Nero daqui!

JUCA CIPÓ - (berrou, do fundo da sala) Falou bunito, meu patrãozinho! Meu patrãozinho é o Nero de Coroado!

DALVA - (repreendeu) Pedro, você está tonto, não fala bobagem...

PEDRO BARROS - Bobagem, por quê? Eu sou ou não sou o dono de Coroado, minha gente? E, como Nero, eu toco fogo na cidade, se, algum dia, alguém quisé me tomá ela! O que é direito, tem que ser de direito. Eu sou o Nero de Coroado! (bateu com a mão grosseira contra o peito. O ruído surdo foi ouvido em toda a extensão da sala) Tudo isso eu tou dizendo... é porque aqui, meu novo amigo e aliado, tem uma coisa pra dizer procês, a respeito do delegado Falcão. (voltou-se para Jerônimo) Fala aí, rapazinho, a hora é tua!

Jerônimo preferiu sentar-se. As pernas não lhe davam muita confiança. Sentia raiva e nervosismo.

JERÔNIMO - Eu acho que o seu coronel quer que eu diga que... que... ele me pediu... pro Falcão... continuar no cargo.

PEDRO BARROS - (levantou-se numa explosão de cólera) Eu não pedi, coisa nenhuma! Eu num peço nunca! Eu exijo!

JERÔNIMO - (concordou, humilhado) Isso mesmo. O senhor exigiu.

PEDRO BARROS - E você, mocinho, não pode negar nenhum pedido meu.

JERÔNIMO - Dá licença...

Barros cortou-lhe a palavra, envaidecido com a supremacia que conquistara. Jerônimo estava na sua mão. Como um pião sem forças.

PEDRO BARROS - Diz... diz aí... por que você não pode negar um pedido meu! Diz... Jerônimo Coragem! Valentão! Por que você é obrigado a manter Falcão no cargo! Diz... se você é mesmo macho... como todo mundo fala!

A situação tornara-se crítica para o prefeito eleito. Moral zero. Prestígio zero. Jerônimo sentia-se perdido. Maldizia a noite diabólica da gruna e as tentações endemoniadas da mestiça. Sempre uma mulher em todos os mais graves problemas do homem. O rosto em brasa, feições contraídas pela vergonha e pelo ódio, o garimpeiro deixou-se cair de encontro á cadeira, sentindo em cima de si os olhares atônitos, estupefatos de quantos ali estavam para assistir á grande vitória do Coronel Pedro Barros. A vitória da prepotencia sobre a honestidade. De Barros contra os Coragem.

FIM DO CAPÍTULO 85
João e Lázaro


NÃO PERCA O CAPÍTULO 86 DE


segunda-feira, 22 de agosto de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 84



classificação



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 84

CENA 1 - GARIMPO - GRUNA - INT. - DIA.

Não havia saída. A água minava por terras e rochas, e começava a empoçar-se e a penetrar, perigosamente, no interior da gruna. A qualquer instante o resto podia ruir. Jerônimo escavava á procura de áreas menos compactas onde pudesse trabalhar com as mãos, afastando a parede de detritos que obstruiam a entrada. Mais ao fundo, Potira encolhia-se, trêmula de frio e emoção. Depois de alguns minutos o jovem voltou, sombrio.

JERÔNIMO - Tamo perdidos. A gente vai morrer mesmo aqui dentro.

POTIRA - É mesmo sem esperança?

JERÔNIMO - Sem esperança. Ninguém vai adivinhar que a gente tá aqui. Logo, logo, a água do rio vai subir e tomar conta da gruna. Só isso tá sustentando (apontou a viga no teto) Num vai aguentar mais que algumas horas. O rio vem por cima de nós.

POTIRA - Se num vier o rio... a gente morre sem ar!

JERÔNIMO - É. É isso. Se não vem a água, a gente morre sem ar.

POTIRA - Se a gente vai morrê... por que, então... a gente num morre junto? (sugeriu, estendendo os braços morenos na direção do homem a quem amava).

Jerônimo deu alguns passos, lentos, encaminhando-se para o seu lado. Ajoelhou-se e tomou as mãos da jovem entre as suas.

JERÔNIMO - Morrê!

POTIRA - Já que a gente num se amô na vida, Deus deu o direito de se amá na morte! (puxou-o para mais perto) Vem! Agora sou tua, toda. A morte uniu nós dois. E eu bendigo ela... que fez tu voltá pra mim... e a gente é um do outro... um no coração do outro. (Jerônimo debruçou-se, por inteiro, sobre o corpo da mulher. Respirações ofegantes, os lábios procuravam-se, enquanto as mãos descobriam regiões desconhecidas. Potira balbuciava) Um no pensamento do outro... sem nada, nem a natureza pra impedi... que eu seja tua... e tu seja meu... pra sempre... pra sempre... pro resto da vida... e além da morte.

Enquanto os corpos se uniam, o vento soprava em fúria e as águas desabavam sobre a terra, encharcando-a. O temporal assumia aspecto aterrador. Por um momento os olhos de Jerônimo fitaram a viga no teto. As horas tinham passado como num filme e com a cabeça apoiada no colo da mulher, ele apercebia-se da situação. Potira alisava-se o cabelo, ainda úmido.

POTIRA - Que horas deve de sê, agora?

JERÔNIMO - Num tenho a menor idéia.

Ela levantou os olhos para o teto, num movimento gracioso. Havia satisfação no olhar da mestiça.

POTIRA - A viga tá guentando.

JERÔNIMO - Não vai aguentar muito mais!

POTIRA - (beijando os lábios do amante) Se a gente saí daqui... o que vai acontecê?

JERÔNIMO - Não pensei nisso... da gente sair. Juro que eu só pensei na morte. Mas... acontece que eu não quero morrer!

De um instante para outro, Jerônimo estava de pé, nervoso, ajeitando as vestes. Cruzou os poucos metros que o distanciavam da entrada da gruna. Tornou a fazer uma tentativa de remover os destroços.

JERÔNIMO - Eu quero viver! (bradou inquieto) Droga! Por que não vem alguém pra tirar a gente daqui? Abram essa joça! (gritou enlouquecido, batendo com os punhos cerrados nas paredes rochosas) Abram esta joça! (Potira observava-lhe as reações com um misto de medo e pena).

As horas passavam. Sentado com a cabeça apoiada nos joelhos, Jerônimo cismava. Sentia fome e sêde e sabia que a companheira também sofria. De repente, um ruído fraco chegou aos ouvidos de ambos. O rapaz encostou o rosto aos escombros. Alguém cavava, cèleremente, do lado de fora. Ele levantou as mãos, agitado, e voltou-se para a mulher.

JERÔNIMO - Tá ouvindo?

POTIRA - Tão cavando!

JERÔNIMO - É... tão cavando! Já sabem que a gente tá aqui! Grita... e pergunta alguma coisa! (ordenou, apertando o braço da mestiça) Grita!

POTIRA - Tão me ouvindo? (a voz saía-lhe fraca. Tornou a gritar) Tão me ouvindo? Responde! Tão me ouvindo?

Como se proveniente do fundo do inferno, a voz de Pedro Barros colheu os ouvidos atentos do casal.

PEDRO BARROS - Calma! Tou ouvindo, sim! Tenha calma! Vamos tirar ocê daí!

CORTA PARA:

CENA 2 - GARIMPO - GRUNA - INT. - DIA.

Os minutos voavam e os ruídos a cada instante se tornavam mais fortes. A terra começava a mover-se no interior da gruna. Potira tentou abraçar o amante. Jerônimo, num gesto rude, afastou os braços que começavam a envolver-lhe o pescoço.

POTIRA - Jeromo... o que foi?

JERÔNIMO - Há uma esperança... esperança da vida.

POTIRA - A gente vai sai daqui... vamo vivê. Jeromo! Vamo vivê, agora... os dois... sozinhos! Os dois... com o amor que a gente descobriu hoje. Agora... você me conhece toda... a gente é um do outro!

JERÔNIMO - (reagiu movido pela realidade) Acho que... ocê se enganou, Potira. A gente num pode viver roubando, viver traindo, viver destruindo... E eu nem sei como é que vou olhar pra minha cara num espelho! (desvencilhou-se grosseiramente da mulher, que tornava a procurar abraçá-lo) A gente sai daqui... cada um vai pro seu lado... pior do que antes! Mais afastado... do que antes! (a consciencia vergastava-o moralmente).

POTIRA - (súplice) Tu não me quer?

JERÔNIMO - Não... eu não quero. Tu vai voltar pro teu marido e ficar calada. Vai esquecer... isso... que aconteceu aqui. Faz de conta que o tempo parou e voltou a andar.

A voz do coronel cortou o diálogo como uma lâmina.

PEDRO BARROS - Potira! Tu tá me ouvindo?

JERÔNIMO - Responde!

POTIRA - Por que não responde tu?

JERÔNIMO - Porque ninguém precisa saber que eu tou aqui!

PEDRO BARROS - (insistia) Tá me ouvindo?

POTIRA - Tou! Tou ouvindo!

PEDRO BARROS - (fingia desconhecer a presença do rapaz) Tá sozinha?

POTIRA - Tou! Tou sozinha!

PEDRO BARROS - Já estamos perto. Paciencia!

A mestiça, trincando os dentes de raiva, voltou-se para o rapaz, que passeava nervoso no interior da gruta.

POTIRA - Pode se esconder. Eu não vou te comprometê.

JERÔNIMO - (vociferou, raivoso, contrariado pela insensatez da outra) É você, a tua honra, que eu quero salvar, não a mim!

Jerônimo parou por alguns segundos.

POTIRA - Eu te entendo... Covarde! Covarde!

A claridade do dia investia como um sopro de vida enchendo de luz o ambiente fúnebre da caverna em ponto pequeno. Jerônimo escapuliu por entre as rochas, escondendo-se numa reentrância ao fundo. Potira subiu, molemente, escorada ás rochas laterais, até alcançar o braço forte de um dos capangas do coronel. Pedro Barros recebeu-a com um sorriso velado. Ganhara um trunfo valioso para as partidas futuras. Com um olhar arredio devassou o fundo da gruta, negro e silencioso. Não lhe interessava outra atitude.

CORTA PARA:

CENA 3 - GARIMPO - GRUNA - EXT. - DIA.

Em meio á lama e ao barro escorregadio, Rodrigo abraçava a esposa, em desespero. O longo abraço era como que a certeza de que tudo não passara de um pesadelo. Rodrigo queria obter a confirmação, apertando a esposa entre os braços. Pedro Barros quebrou o silencio.


PEDRO BARROS - Bem, minha gente, graças a Deus, tudo acabou bem... mas a moça deu um susto muito grande...

JUCA CIPÓ - Não fosse eu... e tava tudo perdido!

Barros agarrou o filho pelo pescoço, carinhosamente.

PEDRO BARROS - Foi Juca que te salvou, moça.

RODRIGO - (apertou a mão do jagunço) Eu lhe agradeço... muito, Juca. Espero retribuir, um dia. Você tem em mim um grande amigo, deste momento em diante.

Enquanto os homens do coronel, Chico, Oto, Raimundo, recolhiam o material de trabalho – pás, picaretas, enxadas, etc. – Juca arriscava uma olhada no interior da gruna.

PEDRO BARROS - (chamou-o, àsperamente) Vamos, Juca. O homem tem razão pra se esconder. Se meteu num buraco... Vamos ver se ele consegue sair.

CORTA PARA:

CENA 4 - SÃO PAULO - APARTAMENTO DE DUDA - SALA - INT. - DIA.

Roberto Carlos enchia de ritmo a sala moderna do apartamento de Duda. O LP girava e giravam as cabeças em compasso cadenciado, acompanhando o balanço da música jovem. Damião entregou-lhe um telegrama. Duda abriu, aflito. E num salto atlético, seguido de um grito alegre, anunciou aos presentes:

DUDA - Vou ler: “Criança nasceu maternidade São Félix pt Ritinha passando bem pt Felicitações Silvia Almeida”. A criança nasceu! Meu filho nasceu! Uááááááá!

PAULA - (sem erguer os olhos, interrogou, com desprezo) Filho... ou filha?

DUDA - Não disse... Dona Silvia não disse. Só diz criança... criança nasceu.

DAMIÃO - Parabéns, papai!

DUDA - (tomou um gole de bebida e solicitou um favor do amigo) Dami... me providencia uma passagem de avião. Vou ver Ritinha na maternidade.

DAMIÃO - Vai ver, Duda? Mas... se ela não quiser te receber? Sabe o quanto ela está zangada com você!

Eduardo levantou-se e girou em torno do sofá, passando as pernas por cima do encosto.

DUDA - Mesmo assim eu vou. Ela pode não querer me ver, mas eu tenho o direito de ver a criança. Eu sou o pai, não sou? Anda (deu um tapinha nas costas do amigo) vai ver uma passagem pra amanhã, bem cedo.

PAULA - (emergiu do silencio em que mergulhara) Ainda bem que teu filho fez um milagre. Você voltou a ser gente. Que se emociona, que se alegra, que sente.

DUDA - (batia palmas de contentamento) Pôxa! Pôxa vida... meu filho nasceu!


FIM DO CAPÍTULO 84
Sinhana e João

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** DR. MACIEL RECEBE A NOTÍCIA DE QUE A NETA, GABRIELA, NASCEU.

*** PEDRO BARROS COMEÇA A CHANTAGEAR JERÔNIMO E EXIGIR QUE FAÇA TODAS AS SUAS VONTADES, OU VAI DESTRUIR A HONRA DE POTIRA!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 85 DE






IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO ESPECIAL - 83 E 84



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Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 83

CENA 1 - MORRINHOS - HOTEL CENTRAL - QUARTO DE FALCÃO - INT. - NOITE.

Por um breve instante o aço brilhou á luz mortiça do quarto do hotel. O pé do garimpeiro esmagava o peito do delegado, caído ao solo, submisso e trêmulo. João curvou-se no gesto estremo de espetar o punhal na garganta do inimigo. O braço ia descer, impiedoso, mas em fração de segundo, ficou retido no ar, como se parado por estranha força sobrenatural. Ele voltou a cabeça assustado, para encarar um rosto conhecido.


PADRE BENTO - Está maluco, João?

Padre Bento segurava firme o punho ameaçador, impedindo a descida fatal. A mão do foragido tremia.

JOÃO - (implorou, ofegante) Me solta, padre! Esse bandido tem que morrê!

PADRE BENTO - (autoritário) Se você nunca matou ninguém, não perca sua alma agora. Entregue-se e defenda-se!

JOÃO - Vou embora, padre... não lhe perdôo por isso. Eu vou... mas danado com Deus que botô o senhô no meu caminho!

Afrouxando a pressão do pé, João libertou o corpo de Falcão e, num átimo, desapareceu pela porta do quarto.

CENA 2 - HOTEL CENTRAL - PORTARIA - INT. - NOITE.

João avançou estreito corredor do hotel, ladeado por uma parede pintada de rosa e por dezenas de quartos enfileirados, de portas azuis. Lara assistia, incrédula, à descida alucinada do marido. Os olhos de ambos se encontraram á entrada do estabelecimento.

MARIA DE LARA - João! O que está acontecendo?

JOÃO - Você... você e esse delegado... tem cuidado! Eu dou cabo, também, de você!

DELEGADO FALCÃO - (gritava, do interior, esbaforido) Agarrem ele! Não deixem ele sair!

João olhou com raiva a mulher e saiu apressado pela rua empoeirada que confluenciava com a estrada principal de Morrinhos. Ao alto, num pequeno outeiro, as luzes da matriz contilavam ofuscando o brilho das estrelas. Lara encostou-se, aflita, ao corrimão da escada. Padre Bento aproximou-se, a passos lentos.

PADRE BENTO - Não se assuste, Lara, já passou. Ele tentou matar o delegado. Ouvi tiros... me levantei assustado, a tempo de evitar o crime. João estava se preparando para matá-lo. E o teria feito se eu não tivesse segurado a mão dele!

MARIA DE LARA - (não entendia) Por que... por que João está tão fora de si?

PADRE BENTO - (ficou indeciso, mas não podia mentir) Um homem... na situação dele, já não tem controle de suas próprias emoções. Soube que você estava aqui... chegou... viu o delegado... bem... sei lá o que pensou!

MARIA DE LARA - Isto é absurdo... eu não tenho culpa se o delegado veio...

PADRE BENTO - Eu sei que você não tem. Mas, é preciso que entenda. João não está em condições de destinguir o bem do mal. No seu modo de ver, só reconhece o mal. (segurou as mãos da moça) Você terá oportunidade de se defender, minha filha. Tenha fé em Deus.

O delegado voltava, cansado, guardando a arma no coldre, depois de procurar o garimpeiro nas imediações do hotel.

DELEGADO FALCÃO - É, padre, agora o negócio ficou mais sério. Já não tenho dúvida. Um de nós tem que dar sumiço deste mundo. Aqui... não há lugar para nós dois.

CORTA PARA:

CENA 3 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - INT. - DIA.

Pedro Barros acendeu o charuto, calmamente, após o almoço. Desde a madrugada, uma forte chuva lavava toda a região castigada durante meses por uma estiagem desalentadora. E os céus continuavam despejando torrentes de água sobre a terra ressequida do sertão.

Falcão aproximou-se da janela, ao ouvir o barulho surdo de um veículo e, logo após, a pancada seca da porta que se fechava. Fez sinal ao coronel, alertando-o. Algum importuno, pensou Barros, que se ajeitou no sofá largo. Sem maiores preâmbulos, Rodrigo foi direto ao assunto, com Indaiá aflita, a seu lado.

RODRIGO - Vim pedir seu auxílio, delegado, para encontrar minha mulher.

DELEGADO FALCÃO - Que foi que houve com Potira?

INDAIÁ - Desapareceu!

RODRIGO - Calma. Não é nada disso. Estávamos acampados longe daqui... pros lados do garimpo dos Coragem. Depois (apontou para o céu) começou a chover, a princípio sem intensidade, a seguir o toró se formou e caiu uma carga de amedrontar. Potira saiu em busca de abrigo... Já a procuramos em todos os lugares possíveis pelas redondezas e não vimos a menor pista. A tarde vai cair daqui a pouco; virá a noite e ela está desaparecida, seguramente, há umas 5 horas. Já estou começando a ficar preocupado.

PEDRO BARROS - (lançou a semente da desconfiança) Jerônimo Coragem deve saber onde ela anda.

RODRIGO - (esclareceu, ignorando a instigação) Jerônimo tava comigo e ajudou a procurar.

INDAIÁ - (com os cabelos molhados e a face pálida) Ele voltou pra ver se acha ela...

RODRIGO - (voltou a solicitar, humilde) O senhor pode me ajudar, delegado?

Falcão olhou de esguelha para o velho chefe.

DELEGADO FALCÃO - (com ares dramáticos) Bem... com muito prazer... vou mandar uns homens procurar Potira... eu mesmo vou comandar eles...

PEDRO BARROS - Se precisar do meu auxílio...

Pedro Barros despejou uma fumaça azulada e densa que subiu ao teto e se desfez como as esperanças dos seus inimigos.

CORTA PARA:

CENA 4 - GARIMPO DOS CORAGEM - GRUNA - INT. - DIA.

Depois da luz prateada do relâmpago, os trovões pipocavam, rachando a cobertura dos céus com a violencia dos estrondos. A água voltava a cair caudalosa das cataratas de São Pedro. Dentro da gruna o eco dos ribombos misturava-se aos suspiros medrosos da mestiça. Potira, encolhida a um canto, abrigava-se da chuva e do vento. Recordava das palavras de jerônimo, tempos atrás: “Mulhé num entra em gruna! Nem padre, porque usa saia!” Um clarão mais forte iluminou as paredes úmidas da gruta. A moça levantou-se assustada. Reconhecera o vulto silhuetado pelo relâmpago.

POTIRA - Jeromo!

O jovem prefeito tinha as feições endurecidas e as vestes totalmente encharcadas. A água escorria dos cabelos, colados á testa e ao rosto, dando-lhe o aspecto de um náufrago atirado á praia.

JERÔNIMO - (falou, enérgico) Sabia que ia... te encontrar aqui!

Encararam-se, frente a frente. O foco da lanterna de pilha iluminava o rosto sensual da índia.

POTIRA - E eu... sabia que tu vinha me buscá!

JERÔNIMO - (correu a mão pela roupa ensopada) Se sabia, tanto melhor. Vamos simbora daqui!

POTIRA - (recusou-se) Não vou. Quero ficá!

JERÔNIMO - Teu marido tá feito louco te esperando (apelou) Anda. Vem. Eu te levo. (a chuva se intensificara e o temporal alcançava o auge) Tá querendo encrencar mais a minha vida?

POTIRA - A minha vida não é a tua. Pode dá o fora se tem medo de se comprometê.

JERÔNIMO - Não é isso, índia (falou, procurando acalmá-la) é que esta gruna tá pondo em perigo a minha vida e a sua. Depois que meu irmão achou o diamante e se escondeu da polícia, ela foi condenada. Vai desabar a qualquer momento!

POTIRA - Eu fico. Tu num é obrigado a morrê comigo. Pode ir embora.

JERÔNIMO - Acha que eu vou fazer isso com ocê?

POTIRA - Era melhor, num era? Acabava a tentação de tua vida... acabava tudo... tudo quanto era problema.

JERÔNIMO - (fitou-a com piedade) Índia... tu gosta tanto assim... de mim?

Ela não respondeu, apenas se voltou e encarou o rapaz, com olhos semicerrados de desejo. Um raio desenhou um risco sinuoso nos céus e derrubou o galho secular da árvore frondosa que servia de tenda aos garimpeiros, nos dias de calor escaldante. O vento assobiava nas frondes do arvoredo, numa sinfonia amedrontadora. As águas penetravam assustadoramente pela boca da gruna. De repente as vigas dançaram na base e, após alguns segundos de inclinação, ruíram, trazendo ao solo toneladas de terra. O ruído ensurdeceu os ouvidos do casal. Toda a entrada da gruna transformara-se numa parede compacta de terra negra e rochas despedaçadas. Agora, o silencio era total, o ar menos renovado e a escuridão atenuada apenas pelo foco da lanterna elétrica. A morte parecia certa.

CORTA PARA:

CENA 5 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - SALA - INT. - DIA.

Juca Cipó entrou atropelando tudo. Móveis e gente.


JUCA CIPÓ - Eu vi! Eu vi!

PEDRO BARROS - (ergueu-se, impulsionado pelo interesse) Viu o quê?

JUCA CIPÓ - Os dois tão lá! Na gruna. Desabô. Eu vi! Ninguém mais pode entrá. Os dois vão morrê!

PEDRO BARROS - (com energia) Deixa de conversa fiada, moleque! Conta logo a história!

JUCA CIPÓ - Depois da discussão das duas moça, Potira saiu correndo, enquanto Margarida chamava ela: “Vorta, doida! Vorta!” Ela nem deu trela. Correu pra gruna. Queria morrê. Ela sabia que a gruna tava condenada. Eu fiquei só esperando ela saí. Mas num saía nunca, a disgramada. Dispois de um tempão vi que Jeromo se aproximava da gruna... e entrô também. (o coronel remexia-se, impaciente) Ele entrô e os dois ficaro lá. Num demorô... e a entrada da gruna... se fechô. Desabô uma porção de troço... caiu, caiu, caiu! E os dois ficaro preso lá dentro!

A mente do coronel trabalhava em ritmo de computador á procura de um motivo, de uma oportunidade que o levasse a recomandar as engrenagens, agora, muito mais nas mãos dos inimigos. Ali estava a chance sonhada.

PEDRO BARROS - Ninguém mais precisa sabê disso... a não ser nós três! Vem comigo, Juca. Você, Mingas, fecha o bico.

FIM DO CAPÍTULO 83

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** JERÔNIMO E POTIRA, ACREDITANDO QUE VÃO MORRER, AMAM-SE NO INTERIOR DA GRUTA.


*** NASCE O FILHO DE DUDA E RITINHA!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 84 DE





quarta-feira, 17 de agosto de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 82



classificação



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 82

CENA 1 - MORRINHOS - CASA DE BRANCA - SALA - INT. - NOITE.

A sala cobria-se de escuridão, mas Branca percebeu que havia alguém dentro da casa.


BRANCA - Meu filho, já cheguei.

Apertou o botão e a luz alegrou o ambiente. Seus olhos fixaram-se num paletó de linho, branco, pendurado no encôsto de uma cadeira. Reconheceu-o de imediato. Aflita, trancou a porta da frente.

BRANCA - (chamou em voz baixa) Lourenço, você está aí?

O marido apareceu, vindo dos fundos da casa. Branca atirou-se em seus braços, sequiosa.

BRANCA - Você veio, bandido! Você veio! Eu te esperei tanto! Tanto! (beijou ardentemente os lábios do esposo).

LOURENÇO - (convencido) Sabia que você estava louquinha de saudade...

BRANCA - Você não merece... você não merece nem a saudade, nem a minha aflição!

LOURENÇO - Se não merecesse, você já tinha me delatado, como prometeu...

BRANCA - E aquela carta... e Estela?

LOURENÇO - Eu sei lá de Estela! (empurrou a mulher, com ambas as mãos, e virou-se de costas. A lembrança de Estela nunca lhe trazia calma).

BRANCA - Mas... você voltou ao clube para saber notícias dela. Confesse!

LOURENÇO - Não confesso nada. Se vai me atentar a paciencia, eu dou o fora de novo.

Branca o abraçou por trás, com meiguice.

BRANCA - Não (cochichou no ouvido do marido) você não faz isso. Agora, você não me larga mais. Estamos muito comprometidos. Nós dois, num crime, num caso muito sério...

O verdadeiro caráter da mulher revelava-se claramente. Pouco lhe importavam os problemas morais e sociais do jovem garimpeiro, foragido por um crime que não cometera. O “cadáver” ali estava, vivinho da silva.

LOURENÇO - Você não deu com a língua nos dentes, não?

BRANCA - Acha que ia ter coragem? Depois de ter te esperado tanto... ia pôr tudo a perder... pelo meu ciúme?

Ela forçou o corpo do homem e virou-se de frente. Uma luz diferente brilhava no fundo dos seus olhos, enquanto as unhas se enterravam na carne macia do pescoço de Lourenço.

LOURENÇO - Fez tudo como eu mandei?

BRANCA - E não fiz, bem? Não denunciei João? Não fiz direitinho, tudo como você mandou?

LOURENÇO - (pegou do bule sobre a mesa e derramou café na xícara azul) Eles foram na tua conversa?

BRANCA - Que papel você me obrigou a fazer!

LOURENÇO - Mas deu certo. Tudo que eu planejei, deu certo!

BRANCA - Mas você tem se arriscado. Aqui é que não devia ter vindo.

LOURENÇO - (lembrou-se do filho) Alberto, onde está?

BRANCA - Está aqui! Veio me fazer companhia e se ele te encontra, o que é que a gente vai dizer?

LOURENÇO - (interrogou, apreensivo) Você não contou a verdade pra ele, não?

BRANCA - Acha que um rapaz da idade dele vai entender essas coisas? E eu ia ter coragem de meter nosso filho nessa embrulhada que você arrumou?

O ex-capataz ergueu a mulher pela cintura, feliz da vida. Rodopiou com ela pela sala. Sorria.

LOURENÇO - Vale a pena, mulher! Tu vai ver só o tamanhão do diamante! Tu vai ficar rica, mulher!

CORTA PARA:

CENA 2 - MORRINHOS - CASA DE BRANCA - SALA - INT. - NOITE.

O par voltou a considerar a realidade. Como revelar ao filho a verdade sobre os acontecimentos? Alberto acreditava o pai morto e sepultado.


BRANCA - Pois é. Ele largou os estudos pra vir cá, me ajudar.

LOURENÇO - Manda ele de volta. Tem que se formar pra doutor. Logo, logo, eu vendo o diamante e a gente fica rico. Sustento estudo dele até na Europa, se quiser.

BRANCA - Você se esquece de uma coisa: ele pensa que o pai morreu assassinado. E não sei como lhe dizer que o pai está vivo e que teve que passar por morto, por causa do diamante que roubou...

LOURENÇO - Aos poucos a gente faz ele conhecer essa verdade.

BRANCA - Conheço nosso filho. Ele não vai aceitar essa verdade. Tem outra idéia, outro pensamento.

LOURENÇO - Que é que você quer que eu faça?

BRANCA - Nada. Mas ele vai ser o nosso maior problema, nosso maior obstáculo.

LOURENÇO - Maior obstáculo, uma pinóia (explodiu) Se ele não aceita, paciencia, eu cuido da minha vida, ele da vida dele, ora!

Branca tornou a abraçar e beijar o marido, envolvendo-o num clima de desejo. Passou as mãos de leve por sobre a cabeça dele.

BRANCA - Agora, você tem que desaparecer daqui, depressa. Padre Bento e Lara estão em Morrinhos. Vieram para a procissão de Nossa Senhora do Rosário. Por incrível coincidência, Alberto os conheceu e os convidou para virem se hospedar em nossa casa.

LOURENÇO - (fez uma careta de raiva) Diacho! Alberto é do contra!

BRANCA - (insistiu, alisando o rosto do marido) Vai... tem cuidado... não apareça. Fica em Belo Horizonte. Me deixa tua direção. Eu te procuro. Não venda já o diamante.

CORTA PARA:

CENA 3 - CASA ABANDONADA - SALA - INT. - DIA.

João acabara de almoçar, quando Braz entrou, intempestivamente.

BRAZ CANOEIRO - Tem novidade procê!

JOÃO - Então desembucha, home!

BRAZ CANOEIRO - Fiquei sabeno que vai tê a festa de Nossa Senhora do Rosário, em Morrinhos. Vai saí uma procissão de Coroado. Tem um monte de gente acompanhando.

JOÃO - E daí?

BRAZ CANOEIRO - E dai que... sabe quem vai acompanhá a procissão, com Padre Bento? Dona Lara!

JOÃO - (sério) A gente tá brigado, Braz.

BRAZ CANOEIRO - Eu sei. Tou te contano porque... quem sabe ocê pode querê ir a Morrinhos pra vê tua mulhé...

JOÃO - Melhor não mexê nisso agora.

BRAZ CANOEIRO - Eu acho que tu devia ir, Jão. Dona Lara merecia outro tratamento. Um amor como o de ocês num pode acabá assim... Ocês tem de conversá...

JOÃO - (animou-se) Tá bom. Tá decidido! Vou a Morrinhos, arriscando meu pescoço, mas vou!

BRAZ - Assim que se fala! Só toma cuidado. Me dissero que o Falcão vai também!

JOÃO - Melhor ainda! Tenho umas contas a ajustar com esse canalha. Não vou perdê essa oportunidade!

CORTA PARA:

CENA 2 - MORRINHOS - HOTEL CENTRAL - INT. - NOITE.

A festa de Nossa Senhora do Rosário levou a Morrinhos grande parte da população católica de Coroado e da extensa região que se alargava entre as montanhas e o planalto goiano. Região rica, banhada pelos rios e muito procurada pela fartura de caça e pesca.

João hospedou-se no Hotel Central. Acabara de chegar ao quarto, quando ouviu um barulho no corredor e entreabriu a porta. Para sua surprêsa, reconheceu Falcão, que acabara de entrar no quarto ao lado do seu. Fechou a porta, sem fazer ruído, e encostou-se à parede.

JOÃO - (para si) É hoje, Falcão, que vamos acertá nossas conta!

CORTA PARA:

CENA 3 - MORRINHOS - HOTEL CENTRAL - QUARTO DE FALCÃO - INT. - NOITE.

João fumava tranquilamente no quarto do delegado de Coroado, quando a porta se abriu e uma mão procurou o comutador. A luz não se fez.

DELEGADO FALCÃO - (irritado) Ora, essa...

JOÃO - Fique onde está e levante as mãos... Não se mova. Não dê um passo. Jogue sua arma. Tenho a mira certinha no seu coração.

Falcão descarregou o revólver contra o quarto escuro, desesperado, sem atinar contra quem ou contra o quê.

DELEGADO FALCÃO - É você, João Coragem? Não adianta se esconder. Eu sei que você está aqui e vou acabar com tua raça. Apareça, covarde. Apareça, se é homem!

JOÃO - Estou aqui, Falcão!

O garimpeiro apareceu por detrás do guarda-roupa de jacarandá. As balas haviam perfurado móveis e paredes, mas João permanecia incólume. E com a arma cheia de balas. Falcão premiu o gatilho. Duas, tres vezes. O estalido anunciou que a arma estava descarregada.

A voz do garimpeiro encheu o ambiente.

JOÃO - Não adianta, Falcão. Você gastou todas as balas, atirando nos fantasmas. Que tipo de delegado é você? Sem habilidade. Medroso.

João avançou de arma em punho. Puxou o inimigo para dentro do quarto.

DELEGADO FALCÃO - Que é que você veio fazer aqui?

JOÃO - Vim só lhe dar uma lição. Fazer você engolir tudo quanto é infâmia que anda espalhando da minha mulher...

DELEGADO FALCÃO - Não sou eu que espalho (negou, acovardado) Você devia fazer o mesmo com o sujeito com quem ela se divertiu uma noite. O tal que tirou a arma dela, lembra-se? Foi daí que começou a fama de sua mulher.

JOÃO - Vou te calar a boca de uma vez! (deu uma volta em torno do corpo trêmulo do delegado). Nunca mais tu vai inventá coisa... nunca mais vai caluniá mulhé nenhuma!

DELEGADO FALCÃO - Isso é uma covardia. Meu revólver está sem balas!

JOÃO - Pra você eu não preciso de revólver, Falcão. (guardou a arma no coldre e desferiu violento soco no queixo do delegado. Falcão caiu ao solo, tonto. Tentou levantar-se e o garimpeiro tornou a apanhá-lo com um gancho de esquerda. Puxou um punhal e espetou-o sob o queixo do adversário) Nunca matei ninguém, apesar de ser acusado de um crime. Nunca matei. Mas vou acabar com a tua vida porque tu não presta e num merece continuá vivendo.

DELEGADO FALCÃO - (estrebuchou, implorando, quase em lágrimas) Não... João... espera!

JOÃO - Se sabe rezá, reza, porque tu vai morrê.

O delegado gritou, a voz saindo-lhe fina como a de um soprano. O punhal arrancava as primeiras gotas de sangue do fantoche de Pedro Barros...

FIM DO CAPÍTULO 83
Sinhana e o Delegado Falcão


E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** CHOVE TORRENCIALMENTE EM COROADO. POTIRA DESAPARECEU E RODRIGO PEDE AJUDA AO DELEGADO PARA ENCONTRAR SUA MULHER.

*** JERÔNIMO ENCONTRA A ÍNDIA NA GRUNA, QUE CORRE RISCO DE DESABAMENTO. POTIRA DIZ AO AMADO QUE QUER MORRER COM ELE.

*** JUCA CIPÓ CONTA A PEDRO BARROS QUE VIU POTIRA E JERÔNIMO NA GRUNA, E QUE OS DOIS VÃO MORRER SOTERRADOS!


NÃO PERCA O CAPÍTULO 83 DE



segunda-feira, 15 de agosto de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 81



classificação



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 81


CENA 1 - ASSOCIAÇÃO DOS GARIMPEIROS - INT. - DIA.

O relógio colonial da Associação marcava 10 para as 5. Jerônimo andava nervosamente pelo salão, vez por outra chegando á janela para observar o movimento na rua. A cidade paralisara-se com a ameaça de luta. O comércio cerrava as portas e os vendedores ambulantes procuraram refúgio nos recantos dos edifícios.


JERÔNIMO - Padre, já pediu advogado para dar garantias a meu irmão?

PADRE BENTO - Já. Já mandei avisar o Dr. Mario. Mas, acho que você fez mal em querer forçar o João a se entregar.

JERÔNIMO - Eu forcei? Eu não forcei, nada!

RODRIGO - (saiu em defesa do amigo) Jerônimo tinha que tomar uma atitude. Afinal de contas, ele, agora, tem responsabilidade e precisa estar do lado da lei, padre!

PADRE BENTO - De acôrdo! De acôrdo! Mas... vão por mim... há qualquer coisa errada hoje. Sinto no ar.

De repente o grito ecoou, parecendo encher o espaço vazio de Coroado. Quebrando o silencio que tomara conta da cidade.

HOMEM - (off) Prederam Joãããããõ!

Todos correram até a porta.

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - PRAÇA - EXT. - DIA.

As portas se abriram como se um interruptor mágico comandasse tudo á distancia. Os sinos repicaram na igreja. Desconfiadas, as pessoas se agrupavam, aos poucos, no centro da pracinha. O homem alcançou, arfante, a sede da Associação.

HOMEM - Prenderam João!

Mais atrás, João Coragem seguia na frente de três homens a pé, as mãos amarradas com uma corda. Sinhana tentou abraçar o filho. Rodrigo interceptou seus movimentos, forçando-a a permanecer longe. A luta não terminara e Rodrigo sabia disso. João passou por eles e sorriu, descuidado. Não parecia dar importância á prisão.

CENA 3 - COROADO - DELEGACIA - INT. - DIA.

Falcão empurrou-o brutalmente para o interior da delegacia. Olhou para o coronel, triunfante. Barros soltou uma baforada do charuto, lembrando uma locomotiva resfolegante.

PEDRO BARROS - Então, João! Você cumpriu a palavra, hem? Se atrasou 5 minutos...

JOÃO - É... me atrasei... entrou um espinho no meu pé.

DELEGADO FALCÃO - Você pediu uma recepção, não pediu?

JOÃO - Pedi e agradeço a que fizero. Ouvi os sino, tocano alegre. Fiquei satisfeito. (virou-se para o delegado) Braz tá bão? Já melhorou dos ferimento? Será que pode andá a cavalo?

DELEGADO FALCÃO - Podê, ele pode, mas eu sinto muito dizer a você que, nem você, nem ele, vão ver seus cavalos por muito tempo.

João estava bem humorado, parecendo feliz com a prisão. Rodrigo tinha razão, “a encrenca ainda não acabara...”

JOÃO - Cumo é? Não vai pagá presses coitado que me agarraro o prêmio oferecido?

PEDRO BARROS - Ah, vou! Tenho até um cheque já prontinho! (retirou um cheque do bolso e entregou a um dos homens) Você reparte aí entre os três!

DELEGADO FALCÃO - Então você pensou que pudesse chegar aqui e retirar o Braz da cadeia, João! Pensou que todo mundo aqui era trouxa!

JOÃO - Pensei, não! Todo mundo é mesmo trouxa e eu vou tirá o Braz da cadeia! (Barros franziu a testa; Falcão respirou fundo, quando João falou) Tou aqui pra isso, uai!

DELEGADO FALCÃO - No duro?

JOÃO - No duro! (mostrou as mãos para os homens que o prenderam) Chega de tapeação. Retira essa corda que tá me apertano, home.

A um só tempo os estranhos apontaram as armas para os guardas e o delegado. Com movimentos rápidos um deles desamarrou a corda que envolvia os punhos do garimpeiro.

JOÃO - Muito cuidado (avisou) Não quero machucá ninguém. Se todo mundo fica quieto, a gente num faz nada.

Os companheiros desarmaram os policiais, ante os olhos arregalados do delegado.

DELEGADO FALCÃO - Desgraçado!

JOÃO - (ordenou) Se alguém der um pio, atirem!

Um dos homens chegava com Braz Canoeiro, livre.

JOÃO - (saudou) Olá, amigo!

BRAZ CANOEIRO - Brigado, Jão.

JOÃO - (com energia, ordenou ao grupo) Todo mundo pra dentro da cadeia. Vamo!

DELEGADO FALCÃO - Cambada de assassino!

PEDRO BARROS - (esbravejou) Bandoleiros!

JOÃO - Um tom mais alto e eu atiro!

A porta da cela rangeu nos gonzos e a fechadura encaixou os dentes no espaço de ferro. João atirou a chave no fundo do quintal.

CENA 4 - COROADO - DELEGACIA - EXT. - DIA.

Os curiosos que se aproximaram da delegacia empalideceram ao ver João, Braz e os três homens partirem a cavalo, num trote macio, pelas ruas agitadas de Coroado. Falcão e Barros gritavam, de dentro do xadrez.


PEDRO BARROS - (off) Palermas! Idiotas! Tirem a gente daqui!

CENA 5 - DELEGACIA - INT. - DIA.

Os soldados, que chegavam atraídos pelo alvoroço, entraram correndo pela delegacia. Falcão apontou o local onde João havia jogado a chave das celas. O rosto de Pedro Barros tornara-se uma máscara de cêra. O ódio corroía-lhe as entranhas. Mais uma vez fôra derrotado pela astúcia e valentia do seu mais ferrenho inimigo. A humilhação, desta vez, alcançara o máximo. O coronel nem podia falar.

CORTA PARA:

CENA 6 - CASA ABANDONADA - INT. - NOITE.

BRAZ CANOEIRO - (comentava, abraçando a esposa) Pois foi um Deus-nos-acuda! Deixamo todo mundo meio doido, em Coroado, sem trocá um tiro!

CEMA - Conta como foi, Braz!

João relatou os detalhes da ação e o plano que cuidadosamente elaborara durante parte da noite. A coisa dera certo e ali estava Braz, no grupo. Os garimpeiros foragidos davam milho aos cavalos extenuados. João correra a tomar banho.

CORTA PARA:

CENA 7 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - ESCRITÓRIO - INT. - DIA.

Pedro Barros telefonara cedinho para o banco da capital.

PEDRO BARROS - Prendam um bandido que vai aparecer aí com um cheque de 10 milhões. É um ladrão. Um assaltante. Tomem nota do número: 0... 23... 647. É. Espero, sim.

CORTA PARA:

CENA 8 - CASA ABANDONADA - SALA - INT. - DIA.

João Coragem desmontou e atirou a sacola sobre uma cadeira. A viagem durante a noite esgotara suas forças, mas valera a pena.


JOÃO - Tão aí. Dez pacote do Pedro Barros, pra gente.

LÁZARO - Como foi que tu se arranjô?

JOÃO - Uai... cheguei na capital cedinho, nem tinha aberto o banco. Tava tudo fechado... Num deu tempo do coronel avisá pelo telefone.

CLEMENTE - Viajou a noite toda!

JOÃO - Daí... quando o banco abriu, fui o primeiro sujeito a entrá e recebê o dinheiro. Sem nenhum problema. Se Pedro Barros avisô, era tarde...

CORTA PARA:

CENA 9 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - ESCRITÓRIO - INT. - DIA.

...e era tarde mesmo. O gerente, depois de examinar os pagamentos processados até aquela hora, informou o resultado. O cheque já fôra descontado.

PEDRO BARROS - Alô! Como? Mas... será possível? Quando foi isso? Agora, há pouco? Vê se encontra o sujeito pela redondeza. Isto não pode acontecer. Eu mando processá esse banco que paga meus cheques pra qualquer pessoa!

CORTA PARA: CENA 10 - CASA ABANDONADA - SALA - INT. - DIA.

BRAZ CANOEIRO - (roendo um osso com tutano) Nesta altura, Falcão e Pedro Barros tão tudo indo pro hospício!

CENA 11 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - EXT. - DIA.

Pedro Barros reuniu os seus asseclas.

PEDRO BARROS - Presta atenção. Agora a gente tem que parti pra luta contra João. Luta feia. Ele vai continuá querendo me desafiar, levando os homens pra vender os diamantes fora daqui. Se isto continua, estou desmoralizado. Vocês tem que evitar isso! Entendido?

CORTA PARA: CENA 12 - CASA ABANDONADA - EXT. - DIA.

João tramava com seus amigos.


JOÃO - A gente agora tem que protegê esses home. Ajudá eles, furá a cerca... fazê eles deixá a cidade.

BRAZ CANOEIRO - Entendido, João. Pode deixá!

FIM DO CAPÍTULO 81

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** LOURENÇO E BRANCA FAZEM PLANOS PARA O FUTURO, COM A VENDA DO DIAMANTE DE JOÃO.

*** JOÃO PREPARA UMA CILADA PARA FALCÃO E DIZ QUE VAI MATAR UM HOMEM PELA PRIMEIRA VEZ NA VIDA, ESPETANDO-LHE UM PUNHAL NO QUEIXO.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 82 DE