segunda-feira, 8 de agosto de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO ESPECIAL - 76 E 77



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Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 76

CENA 1 - CASA ABANDONADA - EXT. - DIA.


João regressava da longa caminhada pelas regiões inóspitas do sertão. Os homens, suados, procuravam o frescor da água da cacimba. O garimpeiro saltou lépido da montaria e com movimentos hábeis aliviou o alazão do aperto desagradável dos arreios e sela. Ajudou Lázaro a carregar o saco de mantimentos.


JOÃO - (gritou da porta) Lara! A gente chegou!

Encheu uma velha bacia com a água fresquinha e preparou-se para lavar o rosto e o peito desnudo.

JOÃO - (tornou a chamar a esposa) Lara! Trouxemos comida! Muita! (para si) O que é que há com Lara?

CENA 2 - CASA ABANDONADA - SALA - INT. - DIA.

Subiu a escada, saltando os degraus, dois a dois. Lara não estava no quarto. Nem nos outros compartimentos. Voltou correndo. Viu Lázaro que guardava os mantimentos.

JOÃO – Ela num tá lá em cima...

LÁZARO - Vê se tá tomando banho no rio...

CENA 3 - MARGEM DO RIO - EXT. - DIA.

O garimpeiro partiu célere para a margem, com o pensamento na correnteza, muito forte naquele trecho. A voz de Lázaro interrompeu sua arremetida.

LÁZARO - Ei, João! Um bilhete! João! (balançava o papel sobre a cabeça) Tava dentro do teu livro!

João Coragem abriu o bilhete, fechado em quatro. A letra era dela. E, como se a voz da esposa o envolvesse por inteiro, começou a ler.

MARIA DE LARA - (off) “João, me perdoe. Parto com todo meu sofrimento. Tenha cuidado com você. Talvez, se se entregar á justiça por sua vontade, voltemos a nos encontrar de novo. Só há uma alternativa. Esta vida... é difícil para mim. Entregue-se para ser julgado... é só o que lhe peço. Esta decisão tem que partir de você. Eu não tenho direito de mudar o seu destino. Adeus. Sua, para sempre... Lara”.

CENA 4 - CASA ABANDONADA - SALA - INT. - DIA.

João olhou o bilhete, perplexo. Não acreditava no que acabra de ler. As mãos trêmulas amassarma o papel, enquanto lágrimas indesejáveis teimavam em rolar de seus olhos. Mudo e afogueado, encaminhou-se para os lados da janela. Ao longe o sol se deitava rubro, colérico. Tenso, João voltou-lhe as costas. Em alguma parte da estrada empoeirada e barrenta, a mulher se encontrava. Acovardada. Diana não faria aquilo, pensou. E pediu a Deus que afastasse de si os pensamentos que começavam a embaralhar-se em sua mente. As palavras de Lara ressoavam-lhe no cérebro. “Entregue-se por sua vontade”. Iniciou um riso fraco, que aos poucos avolumou-se, transformando-se numa gargalhada louca, irônica. Os homens espantaram-se. João gargalhava doidamente. Desenfreadamente, confundindo o seu desvario com o nervosismo contagiante que tomara conta de todos os companheiros. Agora, todos gargalhavam, numa loucura generalizada e incontrolável.

CORTA PARA:

CENA 5 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - QUARTO DE JUCA CIPÓ - INT. - DIA.

Pedro Barros admirava, incrédulo, a cena que se abria sobre seus olhos. Juca Cipó atirado sobre a cama, chorando alto, enquanto Domingas lhe lavava o rosto, inchado e coberto de hematomas. O sangue fluia do nariz e do canto da boca. O coronel parou ao pé do leito.

PEDRO BARROS - Não chora! Você não é homem?

JUCA CIPÓ - (gemia dolorosamente) Me batero! Me agarraro e me tocaro a mão! Tou todo doído, meu patrão! Minhas costa, minha cabeça, tudo!

Pedro Barros voltou-se e encarou o jagunço-vigia, homem atarracado, de cabelos louros e feições repelentes. A crueldade retratada na boca de lábios finos.

PEDRO BARROS - Quem foi que achou ele, Oto?

OTO - Fôro seus home mesmo. Vinham voltano do galpão de compra do diamante. Foram me chamá pra dizê que Juca tava ferido. Aí a gente trouxe logo ele pra cá.

PEDRO BARROS - Tu viu quem foi, Juca?

JUCA CIPÓ - Como é que eu podia vê? Me atacaro pelas costa. Só num me mataro porque os home vinha vindo. Num vi. Virei os olhos com as pancada e fiquei tontinho. Arrasado, meu patrão.

OTO - Só num mataro ele porque os home vinha chegano. O sujeito fugiu...

PEDRO BARROS - (insistiu, mas desconfiado) E ninguém chegou a ver o sujeito?

OTO - Não, patrão, ninguém viu! Mas só pode ser do bando do João. A gente sabe que ele anda por aí... e que ficô valentão... tirando onda de vingadô...

Pedro Barros descarregou a ira contida, ao ouvir as desculpas baratas dos asseclas, homens calejados, acostumados ao crime, veteranos nas emboscadas e nas lutas do garimpo. Levantou os punhos com as mãos fechadas. A face rubra, olhos em brasa.

PEDRO BARROS - Seus... seu covardes! Vocês tão com medo de João Coragem? Vá chamar esses pamonhas! Vou dar uma lição de home neles! Quero vê aqui quem é que vai corrê de João Coragem! (apontou para fora) Reúna todo mundo no galpão!

Oto saiu ás pressas, lívido com o andar atravessado dos homens baixos.

JUCA CIPÓ - (grunhia) Me batero! Nunca apanhei na minha vida!

PEDRO BARROS - (decidiu-se pela ironia) O home é forte, valentão! Juca Cipó ou Juca Chorão? (olhou sério para Domingas) Você tá fazendo dele um moleirão, Mingas! Noutros tempos ele reagia; agora apanha e chora. Virô mulhé!

O coronel cuspiu com asco e deixou o quarto, aborrecido. A mulher procurou aquietar o filho.

DOMINGAS - Chora não. É melhor isso do que vivê cheio de pecado.

JUCA CIPÓ - (chorou mais alto) Melhó apanhá? É? Num é não!

DOMINGAS - Por que tá chorando tanto?

JUCA CIPÓ - (revelou toda a verdade) Conta pra ninguém, não, véia! Eu sei quem me bateu. Num foi o João Coragem, não. Foi... o Braz Canoeiro!

DOMINGAS - E por que tu não qué que ninguém saiba?

JUCA CIPO - Tenho vergonha!

CORTA PARA:

CENA 6 - CASA DO RANCHO CORAGEM - QUARTO DE JERÔNIMO - INT. - DIA.

RODRIGO - Eu creio... que não há nada que eu não saiba.

Rodrigo trazia as feições carregadas de um homem devorado pela tensão nervosa. Piscava seguidamente. Sabia que a conversa entre homens que amavam a mesma mulher, quase sempre redundava em sérios desentendimentos. Jerônimo recebeu-o, com frieza, ao mesmo tempo em que justificava sua atitude leal. Enfim, Rodrigo era o marido. O senhor da mulher a quem dera o nome.

JERÔNIMO - Talvez você saiba errado. Quero fazê com você um jogo limpo. Um jogo honesto. Quero me abrir com você, mais como meu amigo... do que como ... o marido da mulher de quem eu gosto.

Rodrigo fez força para conter-se diante da revelação do jovem. Nunca, antes, ouvira Jerônimo referir-se assim à mestiça.

RODRIGO - Você confessa?

JERÔNIMO - Acha que posso negar?

RODRIGO - Não... não se envergonha?

JERÔNIMO - Não, porque nem eu, nem ela, a gente num fez nada de errado, nem de pecado...

O promotor ameaçou retirar-se. Jerônimo deteve-o pelo braço. Segurou-o firme, com mão de aço.

JERÔNIMO - Quero tirá a má impressão que tem de nós. Má impressão de traição, que nem eu, nem ela, cometeu. Pode tá certo.

RODRIGO - Não quero acusar ninguém (disse, com absoluto controle dos nervos. Não se sentia em sua voz o descontrole interior. A mágoa que o consumia) Estou revoltado comigo mesmo, porque fui ingênuo. Não perdôo minha ignorancia, minha boa-fé.

JERÔNIMO - Não há nada que você pudesse ter percebido... nada de criminoso. Pelo menos... não se pode chamar de criminoso... um sentimento.

RODRIGO - E esse sentimento... existe há muito tempo?

JERÔNIMO - Eu acho mesmo que... desde que se entendeu por moça... ou desde criança, sei lá... a gente cresceu junto... vi ela criança... menina... moça.

RODRIGO - E por que esconderam? Por que não disseram? Isto não é uma traição?

JERÔNIMO - Eu sempre escondi... até de mim. Quis me convencer uma vez que gostava de outra.

RODRIGO - Qual a razão?

JERÔNIMO - Pai... pai tinha receio... de uma união entre a gente.

RODRIGO - Por que?

JERÔNIMO - A gente nunca soube... ao certo. Chegamos, mesmo a ter desconfiança de razão mais séria. Mãe até pensava que Potira fosse filha dele. Mas ele jurou, um dia, que a razão não era essa. Quando ele fez o juramento... era tarde. Você tinha aparecido, e você é o meu melhor amigo. Aí eu pensei mais em você do que em mim... e não quis estragar a sua felicidade. É essa toda a história...

Rodrigo, cabisbaixo, puxou um trago mais forte e a seguir, esmagou a guimba contra a palma da mão.

CORTA PARA:

CENA 7 - COROADO - CASA DE RODRIGO - QUARTO - INT. - DIA.

Potira fixava um ponto qualquer da laje branca do quarto, absorta em pensamentos trágicos. Os olhos negros e grandes pareciam vidrados e só se moveram com a entrada inesperada de Indaiá.

INDAIÁ - Tome isto que é bom. (ofereceu á mestiça uma chávena de chá, fumegante. Procurou assunto, para tirar a jovem do estado de letargia em que se encontrava desde o encontro com Jerônimo) Aquele colar que te dei. Cadê ele?

POTIRA - (sem mover o braço) Na gaveta. Ali.

INDAIÁ - Acho que chegô o momento de ocê sabê a verdadeira história dele (disse, abrindo a gaveta e retirando o adorno) Duas contas são duas balas... mataro seu pai. Ele era um home branco, bom home. Tinha o nome de Rui Silveira. (Potira interessou-se pela conversa da índia e virou lentamente a cabeça em sua direção) Mandei retirar as bala do corpo dele. Mandei dourar pra fazê este colar pra um dia te oferecê.

Potira apertou as balas de encontro ao peito.

POTIRA - Como sabe de tudo isso?

INDAIÁ - Eu sei. Estava lá, no momento em que ele foi assassinado. Era dali mesmo. De Goiás. Tinha deixado o lugá por uns tempo... mas tinha voltado.

POTIRA - (levantou-se e segurou as mãos da índia) Conhecia meu pai?

INDAIÁ - Conhecia... muito. Você estava... com um ano... quando ele morreu.

POTIRA - (com os olhos embaçados e a voz trêmula) Quem matô?

Indaiá refletiu, antes de revelar um segredo mantido por muitos e muitos anos. Talvez não fosse ainda o momento de contar a verdade. De reavivar um fato que o próprio tempo se encarregara de atirar no esquecimento. A índia pesou os prós e contras e se decidiu pela verdade. Doesse a quem doesse.

INDAIÁ - Quem matô teu pai... foi o pai de Jerônimo! Era um home forte, bravo, esperto, ativo. A doença foi que arriou ele. Antes, não era assim...

Potira quase não ouvira as derradeiras palavras da mulher. A revolta apoderou-se dela por inteiro. Num átimo estava de pé, agarrando a outra com as mãos firmes e surpreendetemente fortes.

POTIRA - Tá quereno me colocá contra meu padrinho! Não adianta, viu? Tá pensano que vou deixá de gostá de Jeromo, por causa da sua mentira. (os gritos podiam ser ouvidos do lado de fora da casa) Não vou, não, tá me entendeno? Não deixo de gostá dele, nem que ocê invente a maior mentira do mundo!

INDAIÁ - (com as mãos postas e os olhos fitando o teto) Deus sabe que eu disse a verdade!

POTIRA - Se é verdade... por que ele não cumpriu pena? Ele deixou Goiás e me trouxe para cá, pequena.

INDAIÁ - (sofria) Ele não cumpriu pena, porque uma mulhé pegô cinco anos pelo crime que ele cometeu.

FIM DO CAPÍTULO 76





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Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 77

CENA 1 - COROADO - PRAÇA - EXT. - NOITE.

Os casais conversavam isolados, perdidos na escuridão da praça. Aqui e ali um poste jogava luz sobre um banco, clareando um pedaço de grama convidativa e fresca. O cricrilar dos grilos nas moitas de capim dava um toque rústico e lírico á pracinha, adornada de flores e árvores frondosas. Sentado a um canto, meio escondido entre arbustos, Jerônimo admirava a figurinha meiga que há meia hora falava com ele. Era uma jovem morena, de olhos entre negros e castanhos, cabelos escorridos sobre os ombros e um corpo esculpido por mãos de mestre.


JERÔNIMO - Você acha que existe alguém que se pode conformar em fazer um casamento só de amizade?

MARGARIDA - Depende...

JERÔNIMO - Você... por acaso... se conforma?

MARGARIDA - (pensou por alguns segundos, olhando fundo os olhos do interlocutor) Eu? Já ando também desiludida de casamento. Tou passando da idade... Você sabe como é em cidade do interior. Se a gente não casa até os 17 ou 18 anos, acaba ficando para titia. E vida de solteirona não é coisa que se deseje pra mulher nenhuma...

JERÔNIMO - (segurando entre as suas, as mãos delicadas da moça) Mas... se lhe aparecer alguém que lhe ofereça só amizade, respeito, mais nada... você topa?

MARGARIDA - Topo, uai... (fixou os olhos do rapaz e fez a indagação que a atormentava desde o inicio) Eu não sou a mulher que você escolheu pra esposa, não é?

JERÔNIMO - (premiu mais forte as pequeninas mãos que retinha entre as suas) É. É você mesmo, Margarida. Quero casar com você.

A luz embaçado do poste iluminava dois corpos muito juntos, muito distantes...

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - PRAÇA - EXT. - NOITE.

De repente o atropêlo, o pipocar de armas e o tropel avassalador de cavalos. Num átimo a praça se encheu de agitação. Gente a correr espavorida, buscando a proteção dos bancos e do coreto que sobressaía no centro da praça de Coroado. Cêrca de uma dúzia de homens, com João Coragem á frente, invadiu a porta da Associação dos Garimpeiros. O líder do bando deu ordens rápidas e enérgicas. Metade se dirigiu para a delegacia. Braz acompanhou João e adentrou a entidade presidida por Jerônimo.

CORTA PARA:

CENA 3 - ASSOCIAÇÃO DOS GARIMPEIROS - INT. - NOITE.

Espadaúdo e com a barba de vários dias , a enegrecer-lhe o rosto corado, João parou no centro do salão. Avistou o inimigo.

JOÃO - Pedro Barros!

O coronel adiantou-se, sem demonstrar receio. Juca Cipó entrincheirou-se por detrás de uma pilastra.

PEDRO BARROS - Que significa isso, João?

JOÃO - Uai... vim recebê um prêmio que ocê andô oferecendo pra quem me trouxesse na tua festa!

Alguns capangas tentaram reagir, mas os homens de João Coragem estavam dispostos a tudo. Barros aquietou os jagunços.

PEDRO BARROS - Francisco, espera. A gente tá conversando.

JOÃO - (com um sorriso irônico) Eu tou aqui. Vim recebê o prêmio pessoalmente.

Os presentes encolheram-se, ìntimamente, certos de que Pedro Barros e João Coragem abririam fogo a qualquer instante. Os mais temerosos saíam pelas laterais em busca da escuridão da noite.

JOÃO - (estendeu a mão, galhofeiramente) Passa pra cá os cobre!

PEDRO BARROS - Mas... eu ofereci o prêmio a quem trouxesse você morto!

JOÃO - (desmentiu) Vivo ou morto. Mostra aí o cartaz prêle, Braz Canoeiro. (Braz abriu um rôlo de papel e escancarou-o á frente do inimigo) Taí. Num é mentira, não. Vivo ou morto! E eu tou precisano desse dinheiro! Me entrega a gaita ou quem vai morrê é ocê!

Num movimento ágil, João enterrou o cano do revólver na barriga de Pedro Barros. Espalhados pelo salão, os capangas de João Coragem, atentos, faziam mira sobre os jagunços do coronel. O clima estava tenso como nunca.

CORTA PARA:

CENA 4 - COROADO - ASSOCIAÇÃO DOS GARIMPEIROS - INT. - NOITE.

JOÃO - (ordenou) Tira a arma dos valentão!

Incontinenti, os companheiros arrancavam facas e revólveres, atirando-os pelas janelas. Pedro Barros, apoplético, retirou mansamente maços de dinheiro do bolso interno do paletó. Entregou-os ao jovem corpulento que continuava com a arma imprensada contra sua barriga. Calmamente, João guardou os maços. Dando um passo atrás, dirigiu-se aos homens que ainda permaneciam no interior da Associação.

JOÃO - Todo mundo tá de prova como foi um negócio honesto! Ele ofereceu o prêmio pela minha presença na festa! Eu vim recebê o prêmio... pessoalmente!

Os garimpeiros riram, num côro nervoso.

LÁZARO - (gritou de um ponto distante) Mostra que é home, João!

JOÃO - (levantou os dois braços, pedindo silencio) Agora, só mais um aviso, Pedro. Isto aqui... é o começo, viu? O começo do fim de tua prosa. Vou te jogá na miséria. Olha aí, minha gente. Eu faço juramento, vou jogá o coronel, dono de Coroado, na miséria total. Só vou tê descanso quando ele estendê a mão pra mim, me pedindo esmola! Vocês tudo aí, são testemunha!

PEDRO BARROS - (num rasgo de ousadia) Eu quero ver qual de nós dois vai estender primeiro a mão!

JOÃO - Tá aí. Faço uma aposta! (propôs, retirando-se sem dar as costas para o grupo) Vocês também pode fazê. Dou um ano pra derrubá ele! Quem qué apostá em mim, aposta! Quem qué apostá nele, pode apostá! Pode continuá com a festa, gente. Me desculpe se não fico. Eu não sei dançar... (arisco, escapuliu, porta a fora).

CORTA PARA: CENA 5 - COROADO - DELEGACIA - INT. - NOITE.

PEDRO BARROS - Até agora você não me disse onde estava na hora do assalto!

Pedro Barros exigia satisfações ao delegado, verberando a ausência do policial, que acarretara, além do mais, a morte do cabo Elias, fuzilado por Lázaro. Falcão procurava desculpar-se.

DELEGADO FALCÃO - A culpada de tudo foi sua filha. Eu estava no carro dela. Furou um pneu e fui obrigado a trocá-lo, na estrada. Em lugar dela me ajudar, se divertia com a cena. Ria á beça da minha aflição. Eu estava doido pra chegar á cidade, preocupado justamente com João.

PEDRO BARROS - Você tem que tomar uma atitude. Tem que mandar buscar reforço pra proteger mais sua cadeia. Não se pode ficar aqui á mercê de um ataque de João.

DELEGADO FALCÃO - Uai! Cadê os seus homens? (gracejou, ofendido) O senhor não contava tanta prosa? Que fazia e acontecia? Por que eles não impediram o João de levar o seu dinheiro e fazer o que fez? Uma cena de vandalismo perfeito!

PEDRO BARROS - Ele me fez uma ameaça muito grave e eu agora vou me proteger melhor, se não posso contar com você.

Dr, Maciel surgiu, vindo da sala contígua, com um pano a enxugar as mãos. Falou consternado.

DR. MACIEL - Morreu... A bala atingiu o coração.

DELEGADO FALCÃO - É de amargar! Como é que pode ter acontecido isto?

Pedro Barros não podia externar a satisfação que sentia. A situação de João Coragem complicava-se a cada instante e a morte do Cabo Elias vinha juntar-se ás muitas culpas atribuídas ao garimpeiro, agora marginalizado pela sociedade. Barros virou o rosto para sorrir ao destino, furtando-se aos olhares sarcásticos do policial e do médico alcoólatra.

CORTA PARA:

CENA 6 - CASA DO RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - NOITE.

Enquanto o bando se dirigia para o esconderijo, João se deixou ficar, por alguns instantes, no seio da família. Abraçava a mãe, emocionado.

SINHANA - João caçado pela polícia... um prêmio pela cabeça de João! Esse João de que tanto falam... por aí... de quem todo mundo tem tanto medo... será você, meu filho?

JOÃO - (sorriu, soltando o corpanzil da velha) Sabe que é, mãe. Pensei que a senhora tava mais conformada. Fecha bem as porta, tem gente pra burro atrás de mim (avisou, indo até a janela para descortinar o trecho da estrada visível á luz da lua).

SINHANA - Como foi que tu veio para cá?

JOÃO - Me desgarrei dos home... Disse: cês vão na frente, eu vou dá um abraço na velha.

SINHANA - (receosa) E se vierem te pegá aqui, João?

JOÃO - Quem é que vai pensá que eu vim pra cá, mãe?

SINHANA - Com todo risco, foi bom que tu veio. Tava morreno de saudade de ocê. Senta aí que vou fazê um café dos que ocê gosta. Deixa a luz apagada, né?

Sinhana soprou o candeeiro e entrou na cozinha. João levantou-se e tornou a acender o lampião.

JOÃO - Mãe, vou deixá a luz acesa. Pra despistá. Se alguém passá por aqui, vai pensá: “João num pode tá ali. A luz tá acesa! Se tivesse, eles iam deixá a casa no escuro...”

FIM DO CAPÍTULO 77
Indaiá, Hernani e João


NÃO PERCA O CAPÍTULO 78 DE




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