quarta-feira, 19 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 122




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Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 122

ÚLTIMO CAPÍTULO


CENA 1 - RIO DE JANEIRO - CASA DE SAÚDE - QUARTO DE LARA - INT. - DIA.

Cema cuidava do menino quando o casal entrou no quarto. Ela, rindo do cansaço do marido.


MARIA DE LARA - João, nem parece que veio do campo. Se cansou só numa corrida!

CEMA - (tapando a boca com a mão) Virge Mãe, como a senhora tá diferente!

MARIA DE LARA - Cema... por que a cerimônia? Você nunca me chamou de senhora!

CEMA - Hã...

Lara viu a criança e beijou-a com ternura.

MARIA DE LARA - Puxa vida! Como ele cresceu desde a última vez que o vi! Nossa Mãe, João! É a tua cara, amor. Nunca vi coisa assim. Parece cópia do teu rosto. E tem até as sobrancelhas cerradas... Você tem certeza de que é o meu Antonio?

JOÃO - Tenho, uai! A gente ia trocá ele?

MARIA DE LARA - Eu falo porque está enorme! Como Sinhana cuidou bem dele, meu Deus do Céu! Que coisa de louco! Agora nós vamos ficar juntos para sempre, sempre! Ah, Dalva! Arrumou as malas, tia? Já tenho alta, João. Estava só esperando você chegar. Mas... por que Sinhana não veio com você?

CEMA - (respondeu, desavisada) Sinhana, uai... a Sinhana ficô, coitada. Pra missa de sétimo dia daqueles dois...

MARIA DE LARA - Missa de quem? (perguntou, com expressão de surpresa) Quem morreu?

CEMA - Uai...

JOÃO - Ela num sabe?

DALVA - Não (respondeu, meio desconsolada) Recebi um telefonema de Gentil contando tudo, mas achei melhor não dizer a ela.

MARIA DE LARA - (intrigada com o mistério) O quê?

CEMA - Foi o Jeromo, mais a Potira... A polícia e os home que queria roubá o diamante... mataro os dois.

Lara procurou um banco para sentar-se. Suas pernas tremiam ante a notícia trágica.

MARIA DE LARA - Ah, João, eu não sabia. Se soubesse... meu Deus, não estaria tão contente. (abrigou-se nos braços do marido) Você me perdoa, amor?

JOÃO - Não. Pelo amor de Deus, eu não quero que nada disso, nada desse mundo, estraga a sua alegria. Você já passou o diabo... e não vai agora se impressioná com uma coisa... que... afinal de contas...

MARIA DE LARA - Amor... amor... não fique assim... escute.

JOÃO - Não diz nada, bem. É mais melhó. A gente tem que continuá a vivê a vida, num tem?

MARIA DE LARA - Claro. E vamos continuar juntos... haja o que houver.

JOÃO - Não é possível que ainda vá acontecê mais coisa... É preciso que tu saiba. A gente vai começá a vida lá de baixo. Tenho dívida pra pagá... e a vida vai sê dura. Num tenho conforto pra te dá.

MARIA DE LARA - Eu não estou pedindo conforto, João. Só te peço amor. E acho que disso nós somos milionários.

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - PENSÃO DO GENTIL PALHARES - EXT. - ENTARDECER.

Os dois encontraram-se na porta da pensão do Gentil. Iam cabisbaixos, remoendo o mesmo drama.


LÍDIA - (não usava luto) Quando você vai embora?

RODRIGO - (muito pálido) Hoje mesmo.

LÍDIA - Aproveito a condução. Vou com você.

RODRIGO - (encarou-a fixamente) Acho que vamo-nos consolar mùtuamente. Estamos precisando muito um do outro...

Os dois seguiram na direção da estação ferroviária.

CENA 3 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - GARIMPO - EXT. - DIA.

Pedro Barros sentara-se à beira do rio, onde outrora houvera vida. Extração da riqueza. Gente. Hoje tudo se resumia à saudade. Ou apenas à lembrança, já que a saudade era sentimento muito cristão para o velho e vingativo coronel dos diamantes...


Lara e João avistaram-no de longe. A moça fez sinal para o marido. Convinha que apenas ela aparecesse diante do pai.

MARIA DE LARA - Papai!

PEDRO BARROS - (levantou a cabeça e sorriu, sem graça) Uai, você taí?

MARIA DE LARA - Voltei curada, pai.

PEDRO BARROS - Bom pra ocê, filha.

MARIA DE LARA - Eu vim buscar o senhor. João quer ajudá-lo.

Ainda havia resquícios de orgulho e maldade no velho chefe.

PEDRO BARROS - E você pensa que vou aceitar favor do João Coragem?

MARIA DE LARA - Não há mais razão para ódios, papai...

PEDRO BARROS - Eu é que sei! Eu é que sei! Eu quero que ele vai pros quintos dos infernos! Ninguém tem que se incomodar comigo. Fui abandonado por todo mundo. Humilhado. Desprezado. Só quem tinha valor era meu dinheiro. Pois eu vou fazê todo mundo pagá caro o que fizero...

MARIA DE LARA - (afagou os cabelos do pai) Deixa disso, pai.

PEDRO BARROS - Vai embora com teu marido! Eu quero ficar sozinho e em paz! Tou aqui e tou maquinando um jeito de me vingar de todo mundo! Anda, vai com ele e me deixa cuidar da minha vida!

Lara afastou-se ante a irredutibilidade do velho coronel. De longe, ela e o marido observavam o homem resmungar, falando consigo mesmo. Louco. Inteiramente louco.

PEDRO BARROS - Todo mundo me paga... eu me vingo de todo mundo de uma só vez... eu me vingo!

Escurecia e Pedro Barros, uma figura indistinta, perdia-se por entre as árvores da estrada, caminhando na direção da floresta. Mais ao lado a casa branca, onde Lara e Diana tinham-se confundido na luta de personalidades.

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - ALMOXARIFADO - EXT. - NOITE.


Já era noite. Escurecera. Barros arrombou a porta do almoxarifado e retornou com um latão de gasolina. Espalhou o líquido pelas paredes de madeira, embebendo chão e móveis da casa arruinada. Dela o fogo propagou-se. Em poucos minutos devorava a pequena cidade de Coroado. Por entre as chamas o rosto barbudo do coronel, rindo loucamente. Uma visão diferente de Nero. Um Nero caboclo. Coroado já não existia. Bares, armazéns, a igreja, as árvores da praça. Coroado transformara-se em fogo e cinzas, num ato de destruição. Um homem a criara; o mesmo homem a destruía. As labaredas podiam ser vistas a léguas de distancia. A cidade deixara de existir.

CORTA PARA:

CENA 3 - ALDEIA DE JOÃO - CHOUPANA - SALA - INT. - NOITE.

Alberto chegou apressado da cidade e nem mesmo parou para cumprimentar os presentes.


ALBERTO - (deu a notícia sem poder falar. Afobado) Desculpe, gente... mas tem notícia da cidade. É urgente. Pedro Barros ficou louco. Tocou fogo em toda Coroado. A cidade está se incendiando.

JOÃO - (benzendo-se) Virge Mãe! Vamo lá ver se a gente salva alguma coisa...

Os homens desapareceram, aflitos, munidos de cordas e instrumentos de ferro.

CORTA PARA:

CENA 4 - COROADO - CENTRO - EXT. - NOITE.

A praça regurgitava de gente. Gentil explicava o que sabia. Perdera tudo. Ele e todos os que habitavam, negociavam, viviam na cidadezinha que fôra próspera...

GENTIL PALHARES - Felizmente não houve vítimas... Vimos o fogo a tempo... e tivemos tempo de desocupar todas as casas...

JOÃO - Minha aldeia abriga todo mundo!

MARIA DE LARA - (aflita) E meu pai?

DOMINGAS - Depois de tocá fogo aqui... (chorando, relatava os acontecimentos) voltô pra casa que era dele... e ficou lá... até o fim.

Domingas se afastou, desolada. Uma voz fê-la voltar-se, incontinenti.

DR. MACIEL - Você não está só!

A mulher abraçou-se ao médico, ao homem que ainda lhe poderia dar um pouco de conforto, uma velhice talvez menos sofredora. Juca apareceu, negro de cinza, os lábios avermelhados, o rosto caricatural.

JUCA CIPÓ - Cadê meu patrãozinho? Cadê?

DR. MACIEL - (procurou ajudá-lo, com bondade) A gente vai procurar... eu ajudo vocês. Agora estamos todos juntos... Finalmente juntos...

CORTA PARA:

CENA 5 - COROADO - PRAÇA - EXT. - AAMANHECER.

Braz Canoeiro olhava o céu, infinitamente azul. Da igrejinha branca apenas a imagem de Cristo sobrevivera ao incêndio. E a torre e o sino. O sino do chamamento a Deus.

BRAZ CANOEIRO - E agora, Padre?

PADRE BENTO - É... está tudo acabado. Agora... é levantar os olhos para Deus e rezar. Que Ele tenha piedade de nós.

Um pouco afastado, João Coragem remexia os escombros do templo. Sua fisionomia parecia irradiar estranha luminosidade. Subiu as escadarias da torre, a passos lentos, e puxou o sino. A pancada ecoou por todo o vale. Olhos voltaram-se para o estranho sineiro da igrejinha.

PADRE BENTO - O sino da igreja!

BRAZ CANOEIRO - Que adianta o sino, agora?

João badalou com mais força, sorrindo. Nos olhos a chama de um otimismo inesperado. Homens e mulheres voltaram-se para ele. Viram o rapaz no alto da torrezinha chamuscada.

JOÃO - (gritou) O sino da igreja, minha gente! Tá aqui o sino! Que chamô a gente tantas vez pra missa! Pros batizado! Pros casamento! Lembra, Padre? Quanta gente o senhô casô, quanta batizô! E o sino taqui, são e salvo!

PADRE BENTO - (com pessimismo) De que vale um sino, sem igreja, João? É preferível uma igreja sem sino...

JOÃO - Mas... por alguma coisa a gente tem que começá. Uns começam pelos tijolo... a gente começa pelo sino. Começa por cima. Vamo, minha gente! Que cara de desânimo é essa? Coroado num desapareceu de todo! (abriu os braços e mostrou os rios, os campos, as montanhas) Veja aqui! Ficô o sino e a imagem de Cristo! O sino pra chamá vocês pra refazê tudo direitinho como era antes! A imagem pra abençoá esta cidade, antes amaldiçoada! (falava em tom místico, como se profetizasse uma nova era para o povo da região) Muito melhó! Muito melhó, porque agora não vamo tê mais luta! Nem exploração! Agora o que restô de tudo foi uma lição de amor e de paz! Paz e amor que ficou no nosso coração e que nós vamo semeá por aí tudo! (os cabelos negros caíam-lhe por sobre os olhos) Vamo, minha gente!

Os primeiros movimentos entusiasmaram o rapaz. Os escombros começavam a ser removidos. As pessoas surgiam de todos os cantos. Um formigueiro. Pás, picaretas, enxadas... Coroado renasceria das cinzas.

JOÃO - Isso, minha gente! Vamo trabalhá! E num vamo deixá pra amanhã, vamo começá agora mesmo! O senhô vai tê sua igreja de novo, Padre! E nós vamo tê de novo as nossa casa e uma Coroado mais bonita do que nunca!

Lara ria e chorava, num misto de tristeza e alegria. Sinhana ajoelhava-se nas escadas sujas de água e cinza. Padre Bento ajoelhou-se, também, contrito, diante da imagem do Criador.

PADRE BENTO - Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

João desceu aos saltos e bateu, risonho, nas costas do sacerdote.

JOÃO - Isso num é hora de rezá, Padre! É hora de trabalhá! Vamo! Deus vai ajudá a gente!

A terra. O sol. A gente.

Coroado renasceria das cinzas da destruição.


- FIM -

terça-feira, 18 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 121




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Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 121
penúltimo capítulo


CENA 1 - MATAGAL - EXT. - NOITE.

JOÃO - Que foi isso?

À luz dos archotes, João Coragem saltou lépido da sela e debruçou-se sobre os corpos.

DELEGADO CASTRO - Eu fiz tudo para evitar...

JOÃO - (a voz saiu-lhe grave, engasgada) Jeromo... índia. Por quê, gente? Por quê fizero isso com eles?

DELEGADO CASTRO - João... eu ofereci a vida em troca da prisão deles...

JOÃO - Ofereceu... mas não cumpriu a palavra.

DELEGADO CASTRO - Ia cumprir... mas parece que estes homens vieram atrás do diamante que estava com ele... e era o diamante o que visavam. Não fui eu que o matei... foram os homens... pela ambição.

O garimpeiro ergueu os olhos, fitando um a um os soldados do ex-delegado. O contingente policial de reforço afastava-se lentamente.

DELEGADO CASTRO - Um deles atirou na moça... isso estragou tudo. Teu irmão perdeu a cabeça...

JOÃO - Some daqui... o senhô também!

DELEGADO CASTRO - João... eu tentei... acredite em mim.

JOÃO - Já entendi tudo. Saia!

O delegado levantou-se e deixou o local, lento. Um dos homens aproximou-se de João Coragem, que tinha a cabeça baixa e os olhos cheios de lágrimas. Com uma das mãos alisava os cabelos negros da mestiça, com a outra, o rosto do irmão.

HOMEM - Eu vi... assisti a tudo... a polícia teve culpa. Mas não tinha toda... se não fosse os home que atiraro na Potira. Disso eu tenho prova. Não foi o delegado. Foi um dos home que queria o diamante.

JOÃO - (sem desligar os olhos dos corpos inanimados) Eles queria o diamante...

HOMEM - O diamante foi a perdição!

JOÃO - Mais uma vez o diamante foi a perdição... Mais uma vez. Mas... não foi só o diamante! Foi a maldade! Não foi só o diamante! Foi a falta de humanidade! A falta de amor! A falta de bondade! No entanto... esses dois... tinha tanto amor pra dá... tanto amor!

O garimpeiro ajoelhou-se com as mãos postas e os olhos perdidos no infinito.

Braz Canoeiro aproximou-se do amigo.

BRAZ - João...

JOÃO - Num diz nada, Braz. Ninguém diz nada. É melhó. Ninguém diz... eu sei o que faço... eu sei, Braz!

Os lábios tremiam-lhe e os olhos embaçavam-se, inundados de lágrimas. Os homens foram chegando, um a um. Homens rudes da aldeia de João Coragem. João retirou o diamante da bolsinha de couro, presa no interior da calça do irmão.

JOÃO - (mostrou-o aos companheiros) Tá aqui, gente! Tá aqui ele... quem quisé ficá rico que me acompanhe! Me acompanhe!

Como um desvairado, João Coragem embrenhou-se por entre os homens, enquanto Braz ordenava que o ajudassem a levar os corpos para Coroado.

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - RUAS - EXT. - DIA.

A cidade parou para assistir à passagem do rapaz, seguido por uma multidão de velho,s jovens, negros e brancos.

JOÃO - (entrou na praça, gritando) Venha todo mundo! Todo mundo que qué ficá rico depressa! Eu vou distribuí diamante! Vou distribuí riqueza! Meu irmão e a índia morrero! Cês num qué festejá? Vem! Vem festejá com o diamante do João Coragem! Todo aquele que condenô eles, vem festejá! A intolerância, a incompreensão! Vem festejá, gente! Vem festejá!

Desceu do cavalo e chamou as pessoas, completamente fora de si. O Padre Bento tentou aproximar-se do amigo. A multidão impediu-o. Todos queria ver a loucura de João Coragem. O garimpeiro colocou o diamante sobre uma pedra no centro da praça, pegou uma espingarda e, com tiros certeiros, partiu a pedra em vários pedaços. Como uma leva de famintos sobre pratos de comida, os seguidores e curiosos atiraram-se sobre os pedaços de carbono que refletiam a vida e a morte!

CORTA PARA:

CENA 3 - COROADO - RUAS - EXT. - DIA.

A cidade parou para assistir à chegada dos corpos, trazidos pelos homens de Braz Canoeiro. Envoltos em panos brancos, os corpos vinham suspensos por cavalos. Como restos de uma batalha.


Sinhana tentou conter o grito, mas não pôde. Na escadaria da igreja, aos seus pés, os corpos dos dois filhos – ele, o legítimo; ela, a de criação – ali estavam, sem vida. A velha debruçou-se sobre o casal ensangüentado. As lágrimas a se confundir com o sangue. Diamante sobre veludo vermelho.

CORTA PARA:

CENA 4 - RIO DE JANEIRO - CASA DE SAÚDE - QUARTO DE LARA - INT. - DIA.

JOÃO - Vem, Cema!

O rapaz, triste, entrou no quarto branco da casa de saúde. Dalva arrumava as malas quando a porta se abriu.

DALVA - João!

CEMA - (com o menino no colo) Ai, João, tou inté tonta!

DALVA - Meu Deus, que felicidade!

CEMA - Tou tonta daquele avião, Virge Mãe!

JOÃO - Ela veio pra cuidá do Antonio. A mãe... a mãe ficô lá, pra missa.

DALVA - Eu soube, João...

JOÃO - (mudou de assunto) Cadê minha mulhé?

DALVA - No jardim. Vá ao encontro dela.

JOÃO - Como é que ela tá?

DALVA - Você verá com seus próprios olhos. Está totalmente recuperada. Sua personalidade definida.

JOÃO - E... qual... das três?

DALVA - Vá, João! (tocou no braço do rapaz, impelindo-o) Não faça perguntas.

CORTA PARA:

CENA 5 - RIO DE JANEIRO - CASA DE SAÚDE - JARDIM - EXT. - DIA.

Os pássaros brincavam no cimo das árvores e a moça admirava-os, embevecida. João divisou-a de costas e aproximou-se, amedrontado. O riso cristalino da jovem chegou-lhe aos ouvidos. Lembrando o de Diana. A moça brincava com um pássaro, atirando-lhe migalhas de pão. O médico chegou por trás, assustando o rapaz.


MÉDICO - Olha, você vai ter uma surpresa.

JOÃO - (balbuciou) Diana! (a moça não se moveu; ele se animou mais e insistiu) Márcia! (nada. A jovem permanecia estática. Tentou mais uma vez) Lara!

A jovem voltou-se. Um sorriso a iluminar-lhe os lábios. Atirou-se aos braços do marido, abraçando-o amorosamente.

JOÃO - Quando te vi de longe... tive tanto medo!

MARIA DE LARA - Medo de quê, amor?

JOÃO - Sei lá... de que tu não tivesse se curado... ou se tava curada... em outra.

MARIA DE LARA - Nunca me senti tão bem... tão realizada... tão feliz. Só me faltava você mesmo... e o nosso filho.

JOÃO - Ele taí

MARIA DE LARA - Você trouxe?

JOÃO - Uai... num fui buscá ele? Você num pediu?

MARIA DE LARA - Quando pedi não estava tão consciente das coisas. Agora estou, João. E me sinto bem porque me recordo de tudo o que aconteceu. Sem o menor sofrimento, sem a menor mágoa.

JOÃO - Se lembra de tudo... tudo?

MARIA DE LARA - Tudo, João! É até espantoso! Como as coisas mudam de aspecto. Tudo dependendo do seu estado de espírito. O bom é a gente se sentir assim. De alma limpa. Como eu me sinto agora com relação a todas as coisas que me aconteceram. O importante é a gente se sentir com vontade de viver. E isso, em mim, parece que veio em dose dupla. (riu) Acho que fizeram um transplante de otimismo dentro do meu cérebro...

JOÃO - É que você tá curada, bem.

MARIA DE LARA - (levantou-se do banco e puxou o marido pela mão) Venha... onde está nosso filho?

FIM DO CAPÍTULO 121


e nesta quarta, não perca o último capítulo de


segunda-feira, 17 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 120




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Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 120


CENA 1 - ALDEIA - CHOUPANA - INT. - DIA.

Jerônimo penetrou alegre na sala de barro – chão, paredes, o próprio ar parecia tresandar a barro.
Potira aguardava-o, sentada num tamborete. O enjôo da gravidez começava a torturá-la.

JERÔNIMO - Índia, se alegra! João encontrou a solução pra nós!

POTIRA - Fala, bem, nunca te vi tão animado! Tá até corado, virge!

JERÔNIMO - (mostrou-lhe o diamante) Olha só pra isto!

POTIRA - O que é?

JERÔNIMO - O diamante de João! Ele me deu. Vai ajudar a gente a dar sumiço daqui. A gente vai tentar sair do país e vender ele fora daqui. Nós estamos ricos, bem! Só João é capaz de um ato desses.

POTIRA - Virge mãe! É bão demais!

CORTA PARA:

CENA 2 - MATA ADENTRO - EXT. - NOITE.

A fuga, infelizmente, para os três, não fora perfeita e os homens do delegado vasculhavam o mato, à procura deles como cães atrás de gatos.


DELEGADO CASTRO - Não podem estar longe. Eles desapareceram por aqui. Procurem por todo buraco que existe. Têm de estar por aqui!

Havia algo mais importante para os soldados. Não tanto o fugitivo da lei. E sim o diamante que sabiam encontrar-se com ele.

DELEGADO CASTRO - (ordenou) Aquele que vir os fugitivos, grite!

CORTA PARA:

CENA 2 - MATA ADENTRO - MOITA - EXT. - NOITE.

O grupo enfurnara-se numa moita mais densa, ajudado pela noite sem lua.
Lázaro comentou, em voz baixa, ao perceber o ruído proveniente da queixada do animal que pastava.

LÁZARO - Esse desgraçado vai dedurar a gente.

POTIRA - Temo que rezá preles não descobri esse lugá!

JERÔNIMO - Reza, índia, reza porque aquele maldito animal tá ali pra delatar.

As primeiras vozes chegavam aos ouvidos dos fugitivos e o barulho conhecido das armas, das botinas a pisar na terra. A escuridão dominava tudo. Trevas. Apenas trevas.

LÁZARO - São eles! Tamo perdido!

JERÔNIMO - (com o olhar fixo na jovem companheira, que sofria) Vamo abri fogo!

LÁZARO - Não! (ponderou, mais acostumado às lutas e às fugas) Espera! Tenho uma idéia! Eu vou pegá o animal. Monto ele e sumo, pra despistá os desgraçado.

JERÔNIMO - Não, Lázaro! (previa o perigo da empreitada) Tu não vai fazer isso! Eles te matam! Garanto que você não consegue dar um passo!

LÁZARO - Sou rápido, Jerônimo. Só pra levá eles pra outro lugá. (levantou-se e pulou uma ribanceira. Num salto ágil alcançou o lombo do animal) Adeus, companheiro!

CORTA PARA: CENA 3 - MATAGAL - EXT. - NOITE.

DELEGADO CASTRO - Pare! Pare!

O cavalo transpunha bom trecho da região, com um vulto debruçado sobre o pescoço negro. Jerônimo ouviu distintamente o pipocar das armas.

O delegado tornou a gritar, procurando coordenar os movimentos dos soldados.

DELEGADO CASTRO - Cuidado! Eles estão por aqui!

CORTA PARA:

CENA 4 - MATA ADENTRO - MOITA - EXT. - NOITE.

Jerônimo cochichava ao ouvido da mulher, estendido contra o solo.

JERÔNIMO - Lázaro... eles... acertaram nele!

POTIRA - Talvez não, Jeromo.

JERÔNIMO - Mataram... eu vi! (levantou-se de um salto, desvairado) Seus... desgraçados! (premiu o gatilho e atirou, a esmo) Vem pegá a gente! Vem pegar se são homens! Vem seus miseráveis!

Alucinado, o rapaz continuou atirando para todos os lados, iluminando a noite com o clarão avermelhado da arma. Os estampidos enchiam o silencio da mataria. Ouviu por entre o barulho a voz grave do delegado:

DELEGADO CASTRO - Jerônimo Coragem... te dou um minuto pra sair desse buraco! Se você não sai... eu vou atirar pra valer!

JERÔNIMO - Atira! Vem! Vem que você também leva chumbo! Delegado do diabo!

DELEGADO CASTRO - Você está se suicidando, Jerônimo!

JERÔNIMO - Tou esperando o primeiro safado que tiver coragem de se aproximar daqui!

DELEGADO CASTRO - O tempo está passando, Jerônimo!

JERÔNIMO - Eu não tenho mais tempo (replicou, já com a voz alterada) Não tenho mais nada! Vocês me tiraram tudo... o direito de tudo... Mas não me entrego!

POTIRA - (gemeu) Vai sê a morte, Jeromo!

JERÔNIMO - Vai ser a morte pra mim e pra eles!

DELEGADO CASTRO - (a voz do delegado parecia estar a poucos metros. Ou seria ilusão?) Entregue-se, Jerônimo!

JERÔNIMO - Mataram meu companheiro. Não deram nem o direito dele se defender. Vão fazer o mesmo com a gente, índia!

Gérson de Castro ouvira as palavras atemorizadas de Potira e advertiu com sinceridade.

DELEGADO CASTRO - Eu te dou minha palavra de que respeito tua vida Jerônimo. Joga tuas armas!

POTIRA - (gritou) A gente se entrega, delegado!

JERÔNIMO - Cala a boca, índia!

POTIRA - (objetou com sensatez) Eu não quero morrê, Jeromo. Eu quero vivê com você, com nosso filho... A gente tem direito!

A mestiça tentou levantar-se. Jerônimo impediu-a com a mão firme. Possante.

JERÔNIMO - Não faz isso, índia!

POTIRA - É melhor pra gente, Jeromo!

DELEGADO CASTRO - (gritou, resmungão) Tempo esgotado, Jerônimo. O que você resolve?

A mestiça levantou-se aproveitando-se de um descuido do amante.

POTIRA - Eu vou me entregá! Jeromo... se entrega também.

JERÔNIMO - Eles te matam, índia!

POTIRA - (gritou, comunicando-se com o policial) Me dá sua palavra, delegado?

DELEGADO CASTRO - Venha, Potira. Te dou minha palavra.

Com um gesto enfurecido ela se libertou do rapaz e correu para a clareira.

JERÔNIMO - Maluca!

Um dos homens do delegado fez pontaria. O tiro ecoou na mataria. Gerson de Castro pulou, esbofeteando o soldado.

DELEGADO CASTRO - Seu louco! Dei minha palavra!

A índia levou a mão ao peito e caiu nas proximidades do esconderijo. Uma mancha vermelha tingiu-lhe a blusa, enquanto, no chão, uma poça rubra aumentava a cada segundo. Jerônimo puxou-a para o interior do mato. Enlouquecido.

JERÔNIMO - Índia! Índia! Índia, o que foi isso? Mataram ela! A índia tá morta! (levantou o corpo da mulher nos braços e rugiu para os soldados à sua frente) A índia tá morta... a índia morreu! Mata a mim também, desgraçados. Assassinos! Me mata também! Bandidos! Mataram a minha índia! Me mata também!

O rapaz atirava a esmo na escuridão da noite.

DELEGADO CASTRO - (advertiu-o) Pare de atirar, Jerônimo! Pare!

O rapaz perdera o juízo. Inteiramente desvairado.

JERÔNIMO - Mata a mim também! Mata a mim também!

Uma chuva de balas atingiu-o mortalmente. Num último esforço Jerônimo Coragem olhou a face pálida da mulher a quem amava. As forças fugiam-lhe. Seus joelhos se vergaram. Mas o corpo inanimado da mestiça permanecia seguro. Os tiros haviam cessado. Apenas o silencio e o resfolegar do homem que morria. Jerônimo encostou os lábios na pele morena da mulher e caiu por terra, sobre o seu corpo.

FIM DO CAPÍTULO 120



A morte de Jerônimo e Potira

não perca o penúltimo capítulo de


domingo, 16 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 119





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Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 119

CENA 1 - COROADO - PRAÇA - EXT. - DIA.

João Coragem prometeu e procurou cumprir. Voltou a Coroado em busca do filho. Lara precisava vê-lo, pensava.
E Domingas benzeu-se ao deparar com o rapaz na pracinha da cidade.

DOMINGAS - João! Você tá de volta, de novo?

JOÃO - Tarde, Mingas! Tô, sim.

DOMINGAS - E como tá passando tua mulhé?

JOÃO - Tá mais melhor de boa, com a graça de Deus...

Padre Bento se aproximou, divisando o garimpeiro, de longe. A batina esvoaçava ao vento da manhã.

PADRE BENTO - Olá, João...

JOÃO - Oi, Padre Bento... como tão as coisa por aqui?

DOMINGAS - (fez a pergunta, para surpresa do rapaz) É verdade, padre, que chega hoje o reforço policial que o Delegado Gérson de Castro pediu?

DOMINGAS - É, estão esperando que os guardas cheguem a qualquer momento...

JOÃO - Reforço policial, por quê? Que tá acontecendo por aqui?

DOMINGAS - É por causa do seu irmão, João.

JOÃO - Jeromo?

PADRE BENTO - É. Jerônimo. Até ontem o delegado conseguiu manter em segredo, mas hoje já se tornou público. Uma pequena parte dos homens já está aí...

JOÃO - (não entendia a razão do reforço policial) Mas, como, padre? Por quê?

PADRE BENTO - O delegado quer tirar Jerônimo e Lázaro da aldeia, à força.

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - DELEGACIA - INT. - DIA.


Efetivamente, o movimento na cidade era desusado. A cada momento novos policiais e viaturas cortavam as ruelas de Coroado. João encaminhou-se para a sede policial.


JOÃO - Por Deus Nosso Senhô Jesus Cristo que não tô entendendo nada do que tá acontecendo aqui (falou, dirigindo-se ao delegado) Parece que a cidade tá em pé-de-guerra.

DELEGADO CASTRO - E está!

PADRE BENTO - (repreendeu, com um rosário na mão) Não fale assim, delegado!

DELEGADO CASTRO - João, eu fiz tudo para evitar que as coisas chegassem a esse ponto. Mas agora estou disposto a levar isto até o fim...

JOÃO - Isto, o quê... delegado?

DELEGADO CASTRO - A prisão do seu irmão e do companheiro dele...

JOÃO - O senhô tá exagerano! Meu irmão num é esse criminoso perigoso que precisa de tanto aparato policial pra pegá ele, não.

DELEGADO CASTRO - Manuel Boiadeiro morreu... e foi seu irmão quem matou!

JOÃO - Tem certeza?

DELEGADO CASTRO - A lei tem o dever de puni-lo.

JOÃO - Tá certo (ponderou, balançando a cabeça com tristeza) Mas meu irmão disse que atirô no home pra se defendê... senão, quem morria era ele...

DELEGADO CASTRO - Nesse caso, seu irmão que se entregue, com Lázaro. A justiça irá julgá-lo. Vou entrar na aldeia dele com todos os meus homens, dentro de 24 horas. É o prazo que dou a ele pra se entregar. Você tome nota, João. São (olhou para o relógio de pulso) são três horas. Se até amanhã, a esta hora, ele não estiver aqui, na praça, com Lázaro, por livre vontade... eu invado a aldeia. E não me responsabilizo pelo que possa acontecer.

Um frio percorreu a espinha do rapaz. Lembrou-se da sua anterior situação. Idêntica à de seu irmão.

JOÃO - Delegado, sou um home de paz. Mas também sou home pra aceitá um desafio desse e levá até as últimas conseqüências...

DELEGADO CASTRO - Espero a resposta até amanhã, às 3 horas. Não tenho mais nada a dizer, João.

A raiva avermelhou o pescoço do garimpeiro e suas mãos crispadas pareciam querer amassar a pesada mesa de madeira-de-lei. Padre Bento, percebendo as reações do amigo, convidou-o a deixar o recinto. João aquiesceu.

CORTA PARA:


CENA 3 - ALDEIA - EXT. - DIA.


Os dois revólveres na cinta davam ao filho de Sinhana o aspecto de um bandoleiro. Na cinta a fileira de balas e, espetado na sela, por entre dobras de couro, um punhal comprido e
afiado. João Coragem mais parecia uma réplica melhorada de Lampião.

Jerônimo, a quem Lázaro informara que a estrada estava coalhada de macacos tomara conhecimento da aproximação de um desconhecido.

LÁZARO - (logo após lhe informou) É teu irmão, João Coragem.

JERÔNIMO - Vou falá com João!

O encontro se deu à entrada da aldeia.

JOÃO - Ia à tua procura, irmão (confidenciou, abraçando-o) Já pensei no teu caso, não faço outra coisa desde que cheguei, e acho que encontrei uma solução...

JERÔNIMO - Eu também encontrei uma... Vamos ver se as nossas idéias combinam.

JOÃO - Qual é a tua, irmão?

JERÔNIMO - Eu vou me mandá por esse mundo a fora... Vou sair da aldeia, de qualquer jeito... driblando os policiais... e vou tentar uma nova fuga. Mas me entregar, esta não... não me entrego, de jeito nenhum!

SINHANA - (que acabara de chegar) João tem solução mais boa!

JOÃO - A minha quase vem de encontro à tua, mano. Eu vou te ajudá a fugi!

LÁZARO - Era o que eu pensava. Ficá pra topá briga com a polícia é que a gente não pode.

JOÃO - (pousando a mão na coronha do revólver) Se a tua decisão fosse essa, eu topava!

JERÔNIMO - Não. Não tenho o direito (ponderou, segurando o braço do irmão) Fala, João!

JOÃO - Pensei em te ajudá a fugi daqui. Com uma fortuna na mão. Te dava muito dinheiro. Pra tu cuidá do teu destino fora daqui. Numa terra distante onde tu pudesse vivê em paz, como home de bem, que tu é. Sabe... eu passei a mesma infelicidade que tu tá passando agora e sei o que é isso, mano. É uma droga de porcaria de se sofrê...

Sem dizer palavra, João entregou o diamante ao irmão.

JERÔNIMO - Mas... o que significa isso, irmão?

JOÃO - Eu te dou meu diamante. Te dou pra tu te arrumá, ajeitá tua vida pro futuro. Te dou pra tu resolvê teus problema. Eu te ponho fora da aldeia, livre da polícia. Tu se manda pelo mundo... te dou ainda algum dinheiro pra consegui escapá pro estrangeiro... (virou-se para Sinhana) Cadê o dinheiro, mãe?

SINHANA - (aproximou-se) Tá aqui. Tem o bastante pra tu ir pra bem distante, filho.

JOÃO - Não aceito negativa, mano.

Jerônimo tentou retrucar, mas o olhar grave do outro o impdiu de reagir.

JERÔNIMO - Gente... cês tão vendo isso... João tá me entregando toda a fortuna dele! Toda a felicidade dele! (a emoção transtornava-o e grossas lágrimas caíam-lhe face abaixo. Mostrou a pedra a Lázaro, também, visìvelmente descontrolado ante a cena de desprendimento do amigo) Tu tá vendo, companheiro?

LÁZARO - Isso é coisa de não se vê na terra!

João voltou a intervir. Ameno. Consolador.

JOÃO - Guarda contigo (apertou a pedra na concha da mão de Jerônimo) Bem junto do teu corpo!

Jerônimo sorria de felicidade, abraçando o irmão, o olhar se perdendo nos olhos da mãe e dos companheiros espalhados pelas imediações.

JERÔNIMO - Agora, sim. Agora eu vou em frente!

LÁZARO - Como é que a gente escapa da aldeia?

JOÃO - Tenho idéia. Dr. Maciel vai agora falá com o delegado.

O médico arquitetou o plano.

DR. MACIEL - Vou agora e aviso ele que você vai se entregar. Pra isso ele deve retirar o aparato policial de todas as estradas.

JOÃO - Vou dar a minha palavra.

JERÔNIMO - (protestou) Mas tu vai faltar com ela...

JOÃO - Uma vez na vida a gente pode faltá, mano. E se faço isso é por uma causa muito justa. Pra salvar a vida do meu irmão.

Jerônimo voltou a abraçá-lo, emocionado.

JERÔNIMO - Eu tou contente pra burro, gente!

Sinhana chorava a um canto.

JOÃO - Chora, não, velha!

Jerônimo abraçou-a e beijou-lhe a fronte.

JERÔNIMO - Eu vou pro estrangeiro... vendo a pedra... e depois mando buscá todo mundo. Pode ser que um dia eu resolva voltar... pra me defender...

SINHANA - (começava a enervar-se) Vai, gente. Não perde tempo!

FIM DO CAPÍTULO 119

Jerônimo e Lídia
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

O TRÁGICO DESTINO DE JERÔNIMO E POTIRA!

NÃO PERCA AS EMOÇÕES FINAIS DE


último capítulo nesta quarta-feira!

sábado, 15 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 118




classificação



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 118

CENA 1 - RIO DE JANEIRO - CASA DE SAÚDE - QUARTO DE LARA - INT. - DIA.

João forçava as recordações, lembrando fatos da vida de Lara. A moça ouvia, pensava, buscava retirar do fundo da mente os registros do passado. João voltara com uma carta na mão.


JOÃO - Tenho uma surpresa procê. Chegou o correio de Coroado. Tem retrato do nosso filho, de tudo quanto é jeito! Veja se isso te ajuda a se lembrá das pessoa. Esta é Cema... com o nosso menino.

MARIA DE LARA - (pegou a foto, trêmula de ansiedade) Cema... quem é Cema?

JOÃO - (mostrou outra foto) Este é Braz, meu braço-direito... amigo do peito. Esta é minha mãe.

MARIA DE LARA - Sinhana... mãe Sinhana.

JOÃO - (alegrou-se mais) Da mãe tu te lembrô. Olha, agora, meu irmão e a Potira... O Dr. Maciel... pai da Ritinha, te lembra?

Maria de Lara fez que sim com a cabeça, onde a gaze fazia as vezes do cabelo claro que antes lhe emoldurava o rosto belo e meigo.

MARIA DE LARA - Deste eu me lembro... eu tive o filho... e foi ele quem me ajudou.

JOÃO - Isso mesmo... o Dr. Maciel foi quem fez o teu parto.

MARIA DE LARA - Me lembro, sim... O menino tá grande?

JOÃO - Um garotão!

MARIA DE LARA - Queria tanto vê-lo!

JOÃO - Quando você pudé voltá comigo... você vê.

MARIA DE LARA - Vá buscar nosso filho para eu vê-lo, João. Não agüento esperar tanto tempo. É uma necessidade que eu tenho de ter meu filho perto de mim. Sinto que isto vai me ajudar muito a me recuperar mais depressa.

JOÃO - (pensou um pouco, em silencio, pesando os prós e os contras) Você qué mesmo, bem?

MARIA DE LARA - É tudo o que eu quero.

JOÃO - Tá bão. Eu vou buscá ele procê. Dona Dalva fica aí até eu voltá... com nosso filho.

Num movimento impulsivo, Lara acariciou o rosto, de barbas negras, do esposo.

MARIA DE LARA - Desculpe-me, se não me recordo de tudo que se relaciona com você... Mas mesmo que eu não me lembrasse nunca do passado... eu creio que não seria nada difícil amar você de novo.

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - PENSÃO DO GENTIL PALHARES - QUARTO DE RODRIGO - INT. - DIA.


Pedro Barros penetrou na pensão do Gentil e se dirigiu para o quarto onde Rodrigo o aguardava há horas.


PEDRO BARROS - Você... seu patife... você tem o atrevimento de vir me fazer um desafio destes?

RODRIGO - Esperei muito tempo, coronel. Guardei isto (mostrou uma corda gasta pelo tempo) E tinha apenas 14 anos. Chegou o meu dia, coronel... e eu tenho a certeza de que, se o senhor aceitar a minha sugestão, vai chegar o dia também de muita gente!

PEDRO BARROS - Seu desavergonhado!

RODRIGO - Gente que, como meu pai, também foi vítima da sua maldade. Não foi só um, nem dois... foram muitos. Agora é que o senhor se faz de bonzinho, de sofredor. Mas eu lhe digo. O senhor está pagando, coronel!

PEDRO BARROS - (bradou, com ódio) Miserável!

RODRIGO - Ah, eu é que sou miserável?

Barros agarrou na corda pardacenta, e tentou atirá-la de encontro ao rosto do rapaz.

PEDRO BARROS - Olha... se eu estou perdido financeiramente, você está moralmente! Eu não queria estar no seu lugar... levando nas costas a cruz que você tá levando. Eu tenho chance de recuperar minha fortuna... enquanto você nunca mais vai recuperar a sua mulher. Perdeu ela para sempre. E você sabe disso.

RODRIGO - Quer fazer uma aposta, coronel? (propôs, com o dedo a centímetros do nariz de Pedro Barros) De como o senhor não vai recuperar sua fortuna... e de como eu vou ficar com a minha mulher?

PEDRO BARROS - Combinado, miserável! Aquele que perder faz uso disto (apontou para a corda, no chão).

RODRIGO - (arrematou, visìvelmente fora de si) Combinado, coronel de araque!

CORTA PARA:

CENA 3 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - QUARTO DE FALCÃO - INT. - DIA.


Deixando o quarto da pensão, Barros se encaminhou para a sua ex-casa. E durante o demorado percurso, pensava nas decisões do destino. No homem que fôra e no homem que era.


Entrou no quarto, assustando Falcão.

FALCÃO - Que é isto? Quem chamou o senhor aqui?

PEDRO BARROS - Reza pra Deus perdoar os teus pecados, porque agora eu vou te mandar pro inferno...

O coronel sacou da arma que trazia escondida na cintura e apontou-a para o inimigo.

FALCÃO - (levantou-se com cuidado) Deixa de bobagem, coronel. O senhor não é doido de fazer uma coisa desta...

PEDRO BARROS - (friamente encarou o ex-aliado) Quero de volta os meus direitos. O dinheiro das minhas pedras que você roubou! Quero meu garimpo! Quero a minha posição de antes, o respeito de antes, o domínio de antes... tudo o que você me tirou!

FALCÃO - Calma... (falou com ambas as mãos espalmadas e os braços esticados) a gente conversa, coronel... a gente conversa, mas não faz nenhuma bobagem!

PEDRO BARROS - Quero tudo isso, agora, patife! Se você não pode me dar, eu te mando pro outro mundo!

FALCÃO - (agia com cuidado, movimentando-se na frente de Pedro Barros) Coronel, escute... a gente se entende... eu ia mesmo mandar chamar o senhor... Escute, coronel... mas tenha calma.

Um movimento nas costas do coronel, e este virou-se repentinamente. O Delegado Castro e dois guardas estavam na sala.

FALCÃO - Coronel... isto é covardia... o senhor espera um pouco e eu lhe dou a sua parte... é só o senhor me dar o tempo de eu ir pegar os papéis...

PEDRO BARROS - Eu quero agora!

Falcão abaixou-se e Barros premiu o gatilho da arma. A voz do delegado intercalou-se ao diálogo dos dois inimigos.

DELEGADO CASTRO - O que é isso?

PEDRO BARROS - Vou matar esse miserável!

DELEGADO CASTRO - Parece que eu cheguei na hora H, Falcão (disse, desarmando o coronel).

FALCÃO - E eu lhe agradeço.

Dando alguns passos à frente, coberto pelos olhares vigilantes dos soldados, o delegado adiantou-se até Falcão.

DELEGADO CASTRO - Você não tem nada que agradecer. Quem tem que agradecer é a lei. Porque se o Coronel Pedro Barros tivesse acertado, eu não poderia cumprir esta ordem que chegou hoje.

FALCÃO - (aborrecido) Que é isto?

DELEGADO CASTRO - Você... foi demitido da polícia... e esta... é uma ordem de prisão.

O delegado abriu um papel à frente da ex-autoridade.

FALCÃO - Pra mim? (perguntou, batendo no peito) Pra mim? Mas...

DELEGADO CASTRO - Não adianta resistir, Falcão. Você está preso!

CORTA PARA:

CENA 4 - COROADO - DELEGACIA - INT. - DIA.


O delegado foi o primeiro a ingressar na sede da polícia de Coroado, se assim pudesse ser chamado o pequeno e retangular edifício, com xadrezes infectos e instalações desconfortáveis. Logo após seguiam o ex-delegado Falcão e os guardas que integravam o grupo de soldados encarregados da missão.

DELEGADO CASTRO - (ironizou a situação) Pode matar as saudades, Falcão... Passe para a outra sala.

CENA 5 - COROADO - DELEGACIA - CELA - INT. - DIA.

Juca estava deitado na cela mais próxima da entrada, a menos escura e mais fria, segundo os que conheciam os rigores da prisão da cidade. O diabólico capanga ergueu-se do leito.


JUCA CIPÓ - Que foi? Que foi?

O delegado fez um sinal e o carcereiro abriu a cela contígua.

DELEGADO CASTRO - É provisório, Falcão. Brevemente você será removido para a capital.

JUCA CIPÓ - Falcão tá preso? (perguntou, com um risinho sarcástico. Os cabelos encaracolados e a roupa suja e amarfanhada).

DELEGADO CASTRO - Eu disse que nesta cadeia não havia lugar para tanta gente, não disse?

JUCA CIPÓ - (berrou, histérico, dando pulinhos simiescos dentro do xadrez) Viva! Falcão tá preso! Falcão tá preso! Viva!

FALCÃO - (gritou, enervado, devido ao barulho provocado pela alegria do imbecil) Quer fazer este desgraçado calar a boca?

JUCA CIPÓ - Viva! Viva!

FALCÃO - Cala a boca!

JUCA CIPÓ - Viva! Viva! Falcão tá preso!

FIM DO CAPÍTULO 118


NÃO PERCA O CAPÍTULO 119 DE

E NA PRÓXIMA QUARTA, O ÚLTIMO CAPÍTULO!!!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 117






classificação



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 117

CENA 1 - RIO DE JANEIRO - CASA DE SAÚDE - QUARTO DE LARA - INT. - DIA.

Finalmente, tudo ficara acertado. Maria de Lara tentaria viver, sobrepujar Diana ou se submeter à personalidade bondosa, é certo, mas diferente de Márcia. Rafael conseguiu, a custo, convencer os homens e, no quarto branco da casa de saúde, a moça começava a seguir para a vida ou para a morte...


Logo, pela manhã, os médicos se reuniram junto ao leito da paciente. Com a cabeça inteiramente raspada, Lara dormia, dopada pelas injeções e comprimidos ministrados no pré-operatório. Estava insconsciente, quando as enfermeiras a colocaram na maca e partiram molemente em direção à sala de operações.

João entrou impaciente. Viu Dalva, que enxugava os olhos. A face vermelha. Os lábios ressequidos.

DALVA - Entre.

JOÃO - Como é que ela tá?

DALVA - Dopada. Deram-lhe várias injeções.

JOÃO - Já vai se operá?

DALVA - Uma operação no cérebro, é coisa muito séria. O neurocirurgião vai, primeiramente, fazer uma intervenção exploratória. Se tudo der certo...

JOÃO - Olha... manda cuidá bem dela. É uma vida muito preciosa que tá aí. É a mãe do meu filho... é a mulhé da minha vida...

CORTA PARA:

CENA 2 - RIO DE JANEIRO - CASA DE SAÚDE - QUARTO DE LARA - INT. - DIA.


JOÃO - Terminô, com a graça de Deus!

João Coragem olhou, automàticamente, para o relógio. Haviam transcorrido várias horas. O suor cobria o rosto do garimpeiro e suas mãos nervosas dilaceravam o resto do lenço que ainda se notava por entre os dedos. A enfermeira acabara de chegar.

DALVA - (correu pressurosa) Como foi tudo?

ENFERMEIRA - Tudo bem, parece. Sem acidentes.

DALVA - Podemos rezar e agradecer a Deus (disse, dirigindo-se a João) Estamos livres desse pesadelo.


ENFERMEIRA - Olha, ainda não! Deixem para agradecer a Deus depois que tudo passar...

JOÃO - ... isso num foi tudo, moça?

ENFERMEIRA - Não foi, João. Acho que o pior está pra vir. Não pensem que sou do contra, mas já vi cada reação depois de uma operação, de meter medo...

JOÃO - Puxa, moça! Assim você não anima ninguém...

ENFERMEIRA - Só estou avisando. Fiquem preparados.

O médico, Dr. Bernardo, especialista em cirurgia do cérebro, acabava de entrar no quarto. Logo atrás a maca deslizava com o corpo de Maria de Lara.

JOÃO - (tornou a perguntar, ainda agitado) Correu tudo bem, né, doutor?

DR. BERNARDO - Melhor não podia ser.

DALVA - É verdade que o pior está pra vir?

DR. BERNARDO - (meneou a cabeça, pensativo) É uma operação muito delicada e levará tempo até que possamos ter um resultado positivo.

JOÃO - Mas dissero... que ela vai ficá curada!

DR. BERNARDO - E por acaso estou afirmando o contrário?

JOÃO - O senhô disse que leva tempo...

DR. BERNARDO - E confirmo. Não espero que, ao recuperar os sentidos, ela seja uma nova mulher. Não se levantará do leito no dia seguinte, como numa operação comum. Vamos agora para uma fase muito trabalhosa. Será a readaptação à vida normal. Um período de aprendizado. De reconhecimento da vida, das coisas habituais. Ela iniciará a vida como se tivesse nascido hoje. (colocou as mãos nos ombros do rapaz) Volte amanhã, João. Não adianta você ficar aqui, agora. Ela não tomará conhecimento da presença de ninguém. Confie em mim. Tudo está correndo bem.

JOÃO - Mas... eu pensei que, quando ela acordasse, a gente ficasse sabeno quem ela é!

DR. BERNARDO - Não. Não será assim, João.

João deixava o quarto e já se preparava para entrar no elevador, ante os olhares curiosos das enfermeiras.

DALVA - (dirigiu-se ao Dr. Bernardo) Coitado do João! Eu sei o que mais o apavora. Sei que ele está pensando que pode ser Diana a sua verdadeira personalidade ao reviver...

O médico não respondeu. Era de fato uma possibilidade. Restava esperar e ter fé em Deus.

CORTA PARA:


CENA 2 - RIO DE JANEIRO - RUAS - EXT. - DIA.


O garimpeiro vagou pela cidade grande, desalentado. Tudo tão diferente de sua pequena Coroado. De suas terras banhadas de sol. Do rio a correr suave. Da gruna escura e úmida. De sua vida. De sua gente. Viu a arquitetura majestosa do templo de Deus. Tão em desacôrdo com a simplicidade da igrejinha de Padre Bento. Automàticamente, as pernas o impeliram para a escadaria da igreja. Ao alto as figuras de Isaías e Daniel de um e outro lados.


CENA 3 - RIO DE JANEIRO - IGREJA - INT. - DIA.


João penetrou no templo, contrito. Pé ante pé aproximou-se do altar. Cristo abria-lhe os braços do alto da cruz. O rapaz ajoelhou-se ante a imagem do Salvador. E falou em voz grave, como se conversasse com o Filho de Deus.


JOÃO - Meu Deus do Céu, Nosso Senhô, Nosso Pai... tou eu aqui, de novo, na frente do Senhô, ajoelhado e fraco... e venho pedi perdão se ainda tenho algum pecado nas costa que tenho de pagá. Meu Pai, não me castiga mais! Acho que já fui castigado demais. Tou aqui e tou lhe pedindo mais humildade do que ainda tenho. Tou aqui e lhe prometo num pensá em mim. Na partilha do meu diamante. Se fui levado pela vaidade... se pensei mais em mim do que no sofrimento dos outro, me perdoa... mas o dinheiro do diamante vai sê pra beneficiá os outro, não a mim. Prometo, meu Pai, desde esse momento, usá a fortuna desse diamante pra uma causa justa e nobre. Prometo usá ele pra minorá sofrimento e dor. É tudo o que eu posso lhe prometê. Eu só quero, em troca, meu Pai, que o Senhô faz aquele diabo da Diana sumi da vida da minha mulhé. Eu quero que ela seja a mesma... mas não Diana. Se isso acontecê, eu juro, vou me sinti muito castigado. Acho que num mereço mais, meu Pai. Amém.

O rapaz baixou a cabeça e fez o sinal-da-cruz, com todo o respeito.

CORTA PARA:

CENA 4 - RIO DE JANEIRO - CASA DE SAÚDE - QUARTO DE LARA - INT. - DIA.

O dia nascera belo. Sol azul no infinito, uma leve brisa a acariciar o verde das matas. O rebuliço da cidade ao começar da manhã indicava um dia de atividades para a gente que procurava ganhar a vida, em troca do sacrifício, do trabalho, do suor. João, cedinho, batera à porta do quarto 321. Lara ali estava. Ela. Ou?


JOÃO - Como tá ela?

DALVA - Já voltou... isto é... passou o efeito da anestesia.

O rapaz aproximou-se da esposa, amedrontado. Ela o fitou, inerte. Os olhos vidrados.

JOÃO - Oi...

DALVA - Você vai presenciar sua primeira reação após a operação.

JOÃO - Olá, bem (falou, baixinho).

A mulher fixou o olhar no rapaz e em seguida procurou o rosto da tia. Dalva aproximou-se, angustiada.

DALVA - Este... é João!

MARIA DE LARA - (a voz lhe surgiu, rouca) João!

JOÃO - Ela não sabe quem eu sou?

DALVA - Espere, João (disse, segurando a mão forte que repousava na borda da cama) Meu bem... olhe bem para ele... veja se o reconhece.

MARIA DE LARA - Não... não sei (respondeu, procurando reter a fisionomia que tinha à sua frente).

DALVA - E eu? Você sabe quem eu sou?

MARIA DE LARA - Também não...

DALVA - E... sabe quem é?

MARIA DE LARA - (aflita) Não sei... não sei quem sou.

JOÃO - (nervoso) Mas... o que é isso?

DALVA - (conciliadora) Calma, João! Também estou assustada e já mandei chamar o Dr. Bernardo.

MARIA DE LARA - (implorava, chorosa) Me ajudem... me digam... falem alguma coisa de mim... eu não sei de nada. Quem sou eu?

DALVA - (sentou-se à beira da cama e segurou as mãos da moça) Você é Lara, minha filha! Aquele é João, seu marido. Você é casada com ele... eu sou Dalva, sua tia.

MARIA DE LARA - (balbuciou, repetindo) Eu sou Lara... Lara... Dalva... João.

A porta se abriu e o Dr. Bernardo entrou, apressado, com o estetoscópio a balouçar no pescoço. João o levou para um canto, agressivo.

JOÃO - Que foi que fizero com minha mulhé? (perguntou, tenso, em voz baixa) Cês estragaro tudo! Pioraro tudo! Ela tá pió! Nem sabe quem é! Num me conhece!

DR. BERNARDO - (procurou acalmar o rapaz) Eu disse que você tinha que ficar preparado... Tudo o que você disser, agora, será prejudicial a ela. (e convidou) Vamos sair daqui. Eu me recuso a dar qualquer explicação a você, neste momento.

JOÃO - O senhô se recusa porque sua operação foi um fracasso. E o senhô sabe disso.

DR. BERNARDO - (usou de energia) Saia deste quarto, João Coragem. Você vai piorar muito as coisas.

JOÃO - Eu num saio. E vou levá o caso dela pra justiça. Cês tem que operá minha mulhé de novo e botá nela a memória que cês tiraro!

DR. BERNARDO - (já impaciente) Você está dizendo um amontoado de sandices...

JOÃO - (voltou para a mulher, deitada na cama de ferro) Eu... eu vou te tirá daqui. Sou teu marido e vou te tirá daqui. Você espera. Eu num me demoro.

Com gestos grosseiros o rapaz voltou-lhe as costas, deixando o quarto. Imediatamente o médico dirigiu-se a Dalva.

DR. BERNARDO - Este João Coragem é bem atrasado!

DALVA - É um homem rústico... Mas muito bom. Se o senhor conversar com ele, João entenderá.

DR. BERNARDO - Não creio que possa convencer um homem neste estado.

Com fisionomia grave, o médico afastou-se pelo corredor.

CORTA PARA:


CENA 5 - RIO DE JANEIRO - CASA DE SAÚDE - QUARTO DE LARA - INT. - DIA.


Um, dois, três... oito dias.
O quarto arejado, com vista para as montanhas, não dava impressão de recanto hospitalar. João permanecia horas ao lado da mulher. E nesse dia deu-lhe uma revista para ler. A porta girou e o operador entrou, para sua visita costumeira.

DR. BERNARDO - (segurou carinhosamente as mãos da paciente) Boas... Então... como estão as reações?

JOÃO - A mesma coisa (replicou, com ar tristonho. Cabisbaixo) Tamo aqui há uma semana, dizendo as coisas pra ela e ela num lembra de nada.

DR. BERNARDO - É assim mesmo, João.

Os dois se levantaram e andaram até o lado oposto à cama de Lara, próximo à janela que dava vista para os fundos da casa de saúde. Ao fundo as casas líricas de uma vila.

JOÃO - Faz 8 dias, doutor, e o senhô disse que em 3 dias ela ia se lembrá de alguma coisa. Confessa que tá tudo perdido, Doutor Bernardo!

Balançando a caneta entre o indicador e o médio, o cirurgião argumentou, procurando incutir na mente do jovem rústico as verdades da medicina.

DR. BERNARDO - Cada organismo reage de uma forma. A medicina não é matemática, meu caro... Entenda. Há leis rígidas nas ciências precisas. Na medicina tudo se passa de forma diferente.

JOÃO - Eu já entendi, doutor. E já sei o que vou fazê.

DR. BERNARDO - Eu já decidi também (falou, como advertência) Quando você estiver neste quarto, eu evitarei entrar...

JOÃO - (ameaçou) Isso não vai resolvê a sua situação!

Aborrecido com a irredutibilidade do rapaz, o Dr. Bernardo deixou o quarto, sem sequer cumprimentá-lo. João aproximou-se de Lara, que continuava folheando a revista, alheia a tudo. Ela parou e fitou-o demoradamente.

joão - Que foi?

Ela apontou para uma foto na revista. Um bebê robusto, sorridente, na imagem em cores. João olhou apreensivo.

MARIA DE LARA - (ante o olhar atônito do marido) Meu filho... meu filho... este é meu filho!

JOÃO - Fala, bem...!

MARIA DE LARA - Não é ele... não é Antonio? Antonio não é meu filho?

JOÃO - (dando um murro no ar, gritou, ferindo os ouvidos da moça) Puxa... você se lembrô do nosso filho!

MARIA DE LARA - (insistiu) Não é Antonio?

JOÃO - É. É Antonio! Só que num é esse da revista... mas a gente tem um menino... e se você tá se lembrando dele... é sinal de que tá ficando curada.

MARIA DE LARA - Eu lembro, sim! Eu me lembro de quando tive meu filho... veja se não parece com esta criança... (mostrou, com o dedo sobre a foto, a figura do menino).

JOÃO - Parece, mas num é ele, bem! (com as mãos unidas e os olhos cerrados, rezou) Virge Mãe do Céu, graças! E eu que já tava duvidano. Dona Dalva tem de sabê disso, o doutô também. Fica aí... eu vou avisá... vou chamá todo mundo!

Saiu atordoado porta a fora. Lara ouvia-lhe a voz forte.

JOÃO - (off) Enfermeira! Enfermeira! Chama o doutô!

Voltou correndo.

MARIA DE LARA - (sorriu e sugeriu-lhe) Aperta a campainha...

Correspondendo à alegria da esposa, João premiu o pequeno botão branco.

JOÃO - (falou-lhe, feliz) Agora, sim... já começo a tê fé de novo... a acreditá de novo.

MARIA DE LARA - (pediu) Fale de Antonio.

JOÃO - Olha, é um meninão! É a minha cara, só tu vendo! Quando nasceu, parecia um pouco com ocê... mas cada vez que cresce, mais tá ficano a minha cara!

Um barulho na porta e Dalva entrou apressada, acompanhada pela enfermeira Beatriz.

DALVA - Você estava gritando no corredor!

JOÃO - Olha, gente (falou, levantando-se com um sorriso de felicidade a iluminar-lhe os olhos), tou arrependido de tudo aquilo que falei dos médico e da operação dela. Ela... já começô a se lembrá das coisa...

ENFERMEIRA - Já não era sem tempo.

DALVA - Que ótimo! E do que foi que ela se recordou em primeiro lugar?

MARIA DE LARA - (mostrou, radiante, a revista) Olhei para esta criança... e repentinamente me veio à memória a lembrança de meu filho!

ENFERMEIRA - O Dr. Bernardo precisa saber disso.

DALVA - Então, agora tudo vai correr bem (disse, abraçando a sobrinha).

MARIA DE LARA - (voltou a falar, como se assistisse a um filme em reprise) Imagine o que foi que me veio à mente... veja se isto aconteceu... recordo você numa prisão... (olhou para o marido) eu levei o menino para você ver. É a única cena que eu vejo bem clara... a sua emoção ao se encontrar com seu filho. Isto aconteceu?

JOÃO - Aconteceu... aconteceu (respondeu, com os olhos em lágrimas. Sorria, feliz).

MARIA DE LARA - (prosseguiu, cerrando fracamente os olhos) Mais embaralhado ainda... no fundo da minha mente... eu vejo a cena em que ele nasceu.

FIM DO CAPÍTULO 117
NÃO PERCA O CAPÍTULO 118 DE

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 116






classificação



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 116

CENA 1 - CHOUPANA - SALA - INT. - DIA.

Manuel, o homem que fizera um depoimento falso, incriminando João Coragem quando do julgamento do garimpeiro, fôra procurar Jerônimo para lhe propor um negócio. Reconhecido pelo rapaz, surgira uma discussão entre eles e logo a briga se tornaria mais séria. Agora, Manuel gemia, ferido na virilha por uma bala. Era uma ferida feia, numa região perigosa. O sangue jorrava aos borbotões.

MANUEL - Não aguento... não aguento! Dói muito!

LÁZARO - (berrou) Vê aí uma bebida forte, prêle aguentá...

JERÔNIMO - Leva ele daqui. Não quero vê a cara desse homem (advertiu, sem olhar para o outro, que se esvaía em sangue) Eu trato da minha vida. Leva ele daqui.

MANUEL - (clamava, gemendo) Me... bota... em riba de um... cavalo... eu sei aonde devo ir.

LÁZARO - (ameaçador) Veja lá o que vai fazê, Maneco!

Os dois homens deixaram a sala. Manuel apoiado nos ombros fortes do jagunço.

POTIRA - Por minha causa tu tá passando tudo isso, Jeromo!

JERÔNIMO - Por tua causa, nada. Só que num quero ser salteador de estrada. Acho que ainda não cheguei nesse ponto.

POTIRA - Deus é grande! (exclamou, olhando para o céu) A gente ainda vai vivê bem...

Os cascos do cavalo, deixando a galope o terreiro do esconderijo, estalaram na terra dura. Jerônimo olhou por entre duas ripas de madeira da parede. Manuel, encolhido como um jóquei, na reta final, deixava o casebre com um destino que só ele conhecia.

JERÔNIMO - Criminoso eu num sou. Nunca matei ninguém. Nem a Lídia eu queria ferir. Graças a Deus ela não morreu...

Potira alisou-lhe a fronte e os cabelos empapados de suor.

POTIRA - Vamos sonhá, amô... ninguém pode roubá da gente esse direito.

JERÔNIMO - Num lugar onde a gente num é perseguido...

POTIRA - Será que existe?

JERÔNIMO - Existe... existe!

LÁZARO - Eu só quis ajudá... pros dois podê sumi pra longe... Por isso trouxe o cara sem reconhecê ele... (completou, tirando o chapéu da cabeça).

CORTA PARA:

CENA 2 - CHOUPANA - SALA - INT. - DIA.

Durante horas Rodrigo vasculhou a região, mas, graças à informação de um e de outro alcançou o casebre, à tardinha. O sol ainda estava aceso na cumeeira dos céus.
A surpresa da índia foi imensa.

POTIRA - Como me achou aqui?

RODRIGO - Não foi muito difícil... Vamos conversar.

O ex-promotor foi até a janela e fechou-a. Sentou-se num banco de madeira.

POTIRA - Que é que vai fazê?

RODRIGO - Só vim pra te buscar.

POTIRA - Me buscar? Como... me buscar?

RODRIGO - Estou te dando uma chance de você deixar aquele patife! (tinha os olhos marejados. Era todo bondade).

POTIRA - Se explica!

RODRIGO - Não digo que vou viver com você... que vou te perdoar... mas, se te levar daqui, vai ser pra cuidar de sua regeneração. Estou dusposto a tudo... até a pôr uma pedra em cima de tudo o que você passou e olhar pelo seu futuro. Pode ser que mais tarde... eu consiga esquecer... e, quem sabe?

POTIRA - Você fala como se fosse dono de minha vida!

RODRIGO - Estou te estendendo a mão, índia! Quero te salvar!

POTIRA - Mas eu não estou te pedindo! Não tou perdida pra necessitá de salvação!

RODRIGO - Está! Está, sim! (falou, com a voz alterada. Sentia a insensatez da esposa) Você não tem futuro, não tem nada, junto com Jerônimo. Os dias dele estão contados. Está muito complicado com a justiça. E o que vai ser de você, sua idiota?

POTIRA - Não interessa. Se a policia pegar ele, eu espero ele sair da cadeia...

RODRIGO - Vai esperar... 10... 15 anos!

POTIRA - Espero, espero até uma vida inteira!

RODRIGO - Eu te quero tanto... que até já perdi a minha dignidade!

CORTA PARA:

CENA 3 - CHOUPANA - QUARTO - INT. - NOITE.

Potira estava deitada, com o pensamento perdido nos acontecimentos de sua vida quando Jerônimo regressou. A noite ia alta e a chama da vela iluminava as paredes do barracão. Lázaro acompanhava o amigo.

POTIRA - Que foi?

JERÔNIMO - Vamos se mandá daqui! Anda, rápido!

Num salto a mestiça estava de pé.

LÁZARO - Não perde tempo. Pega o que pudé!

JERÔNIMO - Tão atrás de nós!

POTIRA - (com as mãos apertando o peito) Mas o que foi que vocês fizero?

JERÔNIMO - A polícia desta cidade foi avisada!

Os três deixaram o casebre envolvidos pelo silencio e pelo negrume da noite sertaneja.

CORTA PARA:

CENA 4 - COROADO - CASA DE REUNIÃO - INT. - NOITE.

Sinhana, sempre Sinhana. A mãe valente. Decidida. A mãe Coragem, na acepção do termo. Naquela noite, com o filho a conversar com os seus homens de confiança, a velha, com o diamante guardado nas vestes interiores, sofreu o atentado. Gritou, como reação final, ainda tonta, quando as mãos do bandido procuravam, nervosamente, a pedra.

SINHANA - João! João!

O assaltante desapareceu por entre o matagal escuro. O garimpeiro correu, acompanhado de Braz, Alberto e o médico Maciel.

JOÃO - Mãe!

SINHANA - Tou tonta... tonta!

DR. MACIEL - Que foi, Sinhana?

SINHANA - Me atacaro. Me sentaro um troço na cabeça!

DR. MACIEL - Virge! Um galo enorme!

SINHANA - Ah, mas eu sou dura, viu?

JOÃO - Tentaro tirá o diamante?

SINHANA - Tá aqui, filho! O disgramado num teve tempo!

A velha segurou a enorme pedra, protegida por um saco de couro marrom. Braz e Alberto partiram na direção do matagal, para uma busca nas imediações.

SINHANA - Num deu pra vê a cara... mas era um baita dum home.

CENA 5 - COROADO - CASA DE REUNIÃO - INT. - NOITE.

Na sala da casa de reunião, João pediu ao médico:


JOÃO - Vê logo esse ferimento na cabeça dela, doutor!

Maciel começava a fazer o curativo.

DR. MACIEL - É coisa de nada... Acho que ela não deve ficar com essa responsabilidade... O melhor é você fazer logo negócio com essa pedra. Você se livra de uma preocupação muito grande. (Sinhana gemia, quando o médico apertava um pouco mais a região atingida) É muito perigoso, João!

JOÃO - O senhor tem razão. Mas, antes disso, vou pegá o safado que tá aqui, junto da minha gente, trabalhando pros meus inimigo...

BRAZ - Não achamo ninguém.

ALBERTO - Nem vivalma!!

Sinhana zangou-se com a incredulidade que as palavras do negro provocaram nos presentes.

SINHANA - Oh, gente, então sou doida? Vejam o galo na minha cabeça! Isso daí é imaginação? (deu um tapa forte nas mãos do médico) Pára com isso!

DR. MACIEL - Tenho que dar um ponto, Sinhana!

CORTA PARA:

CENA 6 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE- SALA - INT. - DIA.

A admiração do Dr. Rafael não tinha limites. Parecia-lhe inadmissível que o ex-delegado estivesse dominando a vontade do velho “dono” de Coroado, influindo, inclusive, na vida de sua filha. O médico buscara o apoio de Pedro Barros, seu consentimento para internar e operar Lara, mas Falcão dera o contra. E justificara: “Nada de operação, eu prefiro Diana viva!” O coronel aceitara a decisão, pois para ele, tudo o que fosse contra João Coragem lhe servia, plenamente. O telefone tilintou e o coronel atendeu.

PEDRO BARROS - Alô!

JOÃO - (reconheceu de imediato a voz arrogante) Afinal, seu coronel, o que é que o senhô tá querendo que eu faça? Já não fiz tudo o que o senhô queria? Por que não diz onde tá minha mulhé? Como esperá? Esperá o quê? Olha, eu cansei. Sabe o que vou fazer, agora? (esperou alguns segundos pela resposta do velho) Vou saí daqui, da pensão do Gentil, onde tou, e vou na delegacia, dá parte dessa tramóia.

PEDRO BARROS - (vociferou, do outro lado da linha) Eu te aconselho a não meter a polícia nisso! Bem sabe que não sou só eu que tou metido na história. Falcão, também. Principalmente ele! E ele faz ameaça. A vida da minha filha corre perigo e se a gente avisar a polícia...

Barros desligou e virou-se para Dalva, que ouvia atentamente o diálogo.

DALVA - Que foi que você resolveu com João?

PEDRO BARROS - Custou... mas ele me deu o dia de hoje. Quer ir à polícia, mas eu o convenci. Se até amanhã não tiver notícia, eu dou o direito dele fazer o que quiser... Resta esperar que Falcão apareça aqui, hoje. Aí, eu vou chegar às vias de fato com ele. Ou ele me diz onde tá minha filha... ou morre, o desgraçado!

DALVA - Um homem que tem feito o que ele faz, só matando! (aprovou, com um gesto de ira) Só matando!
FIM DO CAPÍTULO 116

NÃO PERCA O CAPÍTULO 117 DE