segunda-feira, 17 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 120




classificação



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 120


CENA 1 - ALDEIA - CHOUPANA - INT. - DIA.

Jerônimo penetrou alegre na sala de barro – chão, paredes, o próprio ar parecia tresandar a barro.
Potira aguardava-o, sentada num tamborete. O enjôo da gravidez começava a torturá-la.

JERÔNIMO - Índia, se alegra! João encontrou a solução pra nós!

POTIRA - Fala, bem, nunca te vi tão animado! Tá até corado, virge!

JERÔNIMO - (mostrou-lhe o diamante) Olha só pra isto!

POTIRA - O que é?

JERÔNIMO - O diamante de João! Ele me deu. Vai ajudar a gente a dar sumiço daqui. A gente vai tentar sair do país e vender ele fora daqui. Nós estamos ricos, bem! Só João é capaz de um ato desses.

POTIRA - Virge mãe! É bão demais!

CORTA PARA:

CENA 2 - MATA ADENTRO - EXT. - NOITE.

A fuga, infelizmente, para os três, não fora perfeita e os homens do delegado vasculhavam o mato, à procura deles como cães atrás de gatos.


DELEGADO CASTRO - Não podem estar longe. Eles desapareceram por aqui. Procurem por todo buraco que existe. Têm de estar por aqui!

Havia algo mais importante para os soldados. Não tanto o fugitivo da lei. E sim o diamante que sabiam encontrar-se com ele.

DELEGADO CASTRO - (ordenou) Aquele que vir os fugitivos, grite!

CORTA PARA:

CENA 2 - MATA ADENTRO - MOITA - EXT. - NOITE.

O grupo enfurnara-se numa moita mais densa, ajudado pela noite sem lua.
Lázaro comentou, em voz baixa, ao perceber o ruído proveniente da queixada do animal que pastava.

LÁZARO - Esse desgraçado vai dedurar a gente.

POTIRA - Temo que rezá preles não descobri esse lugá!

JERÔNIMO - Reza, índia, reza porque aquele maldito animal tá ali pra delatar.

As primeiras vozes chegavam aos ouvidos dos fugitivos e o barulho conhecido das armas, das botinas a pisar na terra. A escuridão dominava tudo. Trevas. Apenas trevas.

LÁZARO - São eles! Tamo perdido!

JERÔNIMO - (com o olhar fixo na jovem companheira, que sofria) Vamo abri fogo!

LÁZARO - Não! (ponderou, mais acostumado às lutas e às fugas) Espera! Tenho uma idéia! Eu vou pegá o animal. Monto ele e sumo, pra despistá os desgraçado.

JERÔNIMO - Não, Lázaro! (previa o perigo da empreitada) Tu não vai fazer isso! Eles te matam! Garanto que você não consegue dar um passo!

LÁZARO - Sou rápido, Jerônimo. Só pra levá eles pra outro lugá. (levantou-se e pulou uma ribanceira. Num salto ágil alcançou o lombo do animal) Adeus, companheiro!

CORTA PARA: CENA 3 - MATAGAL - EXT. - NOITE.

DELEGADO CASTRO - Pare! Pare!

O cavalo transpunha bom trecho da região, com um vulto debruçado sobre o pescoço negro. Jerônimo ouviu distintamente o pipocar das armas.

O delegado tornou a gritar, procurando coordenar os movimentos dos soldados.

DELEGADO CASTRO - Cuidado! Eles estão por aqui!

CORTA PARA:

CENA 4 - MATA ADENTRO - MOITA - EXT. - NOITE.

Jerônimo cochichava ao ouvido da mulher, estendido contra o solo.

JERÔNIMO - Lázaro... eles... acertaram nele!

POTIRA - Talvez não, Jeromo.

JERÔNIMO - Mataram... eu vi! (levantou-se de um salto, desvairado) Seus... desgraçados! (premiu o gatilho e atirou, a esmo) Vem pegá a gente! Vem pegar se são homens! Vem seus miseráveis!

Alucinado, o rapaz continuou atirando para todos os lados, iluminando a noite com o clarão avermelhado da arma. Os estampidos enchiam o silencio da mataria. Ouviu por entre o barulho a voz grave do delegado:

DELEGADO CASTRO - Jerônimo Coragem... te dou um minuto pra sair desse buraco! Se você não sai... eu vou atirar pra valer!

JERÔNIMO - Atira! Vem! Vem que você também leva chumbo! Delegado do diabo!

DELEGADO CASTRO - Você está se suicidando, Jerônimo!

JERÔNIMO - Tou esperando o primeiro safado que tiver coragem de se aproximar daqui!

DELEGADO CASTRO - O tempo está passando, Jerônimo!

JERÔNIMO - Eu não tenho mais tempo (replicou, já com a voz alterada) Não tenho mais nada! Vocês me tiraram tudo... o direito de tudo... Mas não me entrego!

POTIRA - (gemeu) Vai sê a morte, Jeromo!

JERÔNIMO - Vai ser a morte pra mim e pra eles!

DELEGADO CASTRO - (a voz do delegado parecia estar a poucos metros. Ou seria ilusão?) Entregue-se, Jerônimo!

JERÔNIMO - Mataram meu companheiro. Não deram nem o direito dele se defender. Vão fazer o mesmo com a gente, índia!

Gérson de Castro ouvira as palavras atemorizadas de Potira e advertiu com sinceridade.

DELEGADO CASTRO - Eu te dou minha palavra de que respeito tua vida Jerônimo. Joga tuas armas!

POTIRA - (gritou) A gente se entrega, delegado!

JERÔNIMO - Cala a boca, índia!

POTIRA - (objetou com sensatez) Eu não quero morrê, Jeromo. Eu quero vivê com você, com nosso filho... A gente tem direito!

A mestiça tentou levantar-se. Jerônimo impediu-a com a mão firme. Possante.

JERÔNIMO - Não faz isso, índia!

POTIRA - É melhor pra gente, Jeromo!

DELEGADO CASTRO - (gritou, resmungão) Tempo esgotado, Jerônimo. O que você resolve?

A mestiça levantou-se aproveitando-se de um descuido do amante.

POTIRA - Eu vou me entregá! Jeromo... se entrega também.

JERÔNIMO - Eles te matam, índia!

POTIRA - (gritou, comunicando-se com o policial) Me dá sua palavra, delegado?

DELEGADO CASTRO - Venha, Potira. Te dou minha palavra.

Com um gesto enfurecido ela se libertou do rapaz e correu para a clareira.

JERÔNIMO - Maluca!

Um dos homens do delegado fez pontaria. O tiro ecoou na mataria. Gerson de Castro pulou, esbofeteando o soldado.

DELEGADO CASTRO - Seu louco! Dei minha palavra!

A índia levou a mão ao peito e caiu nas proximidades do esconderijo. Uma mancha vermelha tingiu-lhe a blusa, enquanto, no chão, uma poça rubra aumentava a cada segundo. Jerônimo puxou-a para o interior do mato. Enlouquecido.

JERÔNIMO - Índia! Índia! Índia, o que foi isso? Mataram ela! A índia tá morta! (levantou o corpo da mulher nos braços e rugiu para os soldados à sua frente) A índia tá morta... a índia morreu! Mata a mim também, desgraçados. Assassinos! Me mata também! Bandidos! Mataram a minha índia! Me mata também!

O rapaz atirava a esmo na escuridão da noite.

DELEGADO CASTRO - (advertiu-o) Pare de atirar, Jerônimo! Pare!

O rapaz perdera o juízo. Inteiramente desvairado.

JERÔNIMO - Mata a mim também! Mata a mim também!

Uma chuva de balas atingiu-o mortalmente. Num último esforço Jerônimo Coragem olhou a face pálida da mulher a quem amava. As forças fugiam-lhe. Seus joelhos se vergaram. Mas o corpo inanimado da mestiça permanecia seguro. Os tiros haviam cessado. Apenas o silencio e o resfolegar do homem que morria. Jerônimo encostou os lábios na pele morena da mulher e caiu por terra, sobre o seu corpo.

FIM DO CAPÍTULO 120



A morte de Jerônimo e Potira

não perca o penúltimo capítulo de


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