quarta-feira, 5 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 110




classificação



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 110


CENA 1 - CASA DO RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.

Na cesta algumas frutas maduras, exalando um aroma apetitoso. Nas mãos flores colhidas no percurso. Ritinha chegou à casa dos Coragem, depois de uma longa caminhada pela estrada barrenta que ligava o rancho á cidade de Coroado.


RITINHA - Sinhana! Sinhana! Tou aqui. Mandou me chamar?

Silencio. Uma porta rangeu, de repente, assustando a moça e a voz de alguém muito conhecido despertou-lhe a atenção.

DUDA - Fui eu que mandei te chamar.

A cesta foi ao chão, por causa do nervosismo da jovem.

RITINHA - Eduardo! O que você tá fazendo aqui?

DUDA - O quê? (perguntou, dando largos passos na direção da mulher) O quê? Vim te buscar, sua trouxa!

Ritinha atirou-se nos braços do marido, com os olhos cheios de lágrimas. Não havia palavras. Só a linguagem dos beijos, dos carinhos, poderia expressar o que ia na alma dos dois. Separaram-se depois de longos minutos.

RITINHA - Por quê? Por quê tá me xingando, benzinho? Tá zangado comigo?

DUDA - Você não merece... não merece todo o meu sacrifício. Claro que tou zangado! Isso é coisa que se faça?

RITINHA - Mas... o quê? (aflita) Que foi que eu fiz?

DUDA - Pensa que eu não sei? Quatro! Quatro admiradores!

RITINHA - Nossa Mãe! Quem te contou uma coisa dessas?

DUDA - Uma carta de amigos, avisando das coisas todas que tão acontecendo aqui com você!

Um leve sorriso abriu por segundos os lábios da mulher.

RITINHA - Virgem mãe! Eduardo, é mentira!

DUDA - (segurou-a firme, pelo pulso. Quase a machucando) Vamos lá... uma carta de amor do tal de Alberto D’Ávila. Você pode negar?

RITINHA - (baixando a cabeça, encabulada) Bem... essa eu não nego.

DUDA - Convite pra passear dum tal vereador Jacinto! Nega?

RITINHA - Também não...

DUDA - Uma paquerada de um tal de promotor novo. Um Doutor Luís! Você confirma?

Ela fez que sim com a cabeça e um muxôxo de confirmação.

RITINHA - Aham!

DUDA - E por último... o sem-vergonha do Hernani! Que montou um cinema aqui em Coroado, só pra ficar perto de você. Você pode negar isso?

RITINHA - Hum, hum...

DUDA - Pois então! (fuzilava de ciúme) O que foi que você virou? Conquistadora?

Ritinha resolveu retrucar à altura, apesar de estar levando na brincadeira a reação amoroso do marido.

RITINHA - Meu querido, eu não tenho culpa. Tou separada de você, abandonada! Afinal de contas, não sou nenhuma bruxa... todo mundo diz que sou uma gracinha... que culpa eu tenho?

DUDA - Uma gracinha... uma gracinha! (com raiva) Mas não é pro bico de qualquer sujeito, não!

RITINHA - Claro, meu amorzinho. Eu não dei confiança pra ninguém. Como é que podia dar, se meu pensamento tava com você? O tempo todo.

DUDA - Sei não... essa gente toda dando em cima de você... não é só pelo seu palminho de cara, não!

RITINHA - Tá bom! Muito bom, mesmo! Você veio aqui, em vez de sê pra me proteger, veio pra brigar comigo! Pois não devia ter vindo, ora! Eu não te chamei, chamei?

DUDA - Não chamou, mas vou te levar! Nem que seja amarrada. O médico não queria me deixar sair do hospital. Tive que ameaçar fugir de novo. Aí ele me deu um dia de licença.

RITINHA - Como tá tua perna?

DUDA - Vai indo... tou em tratamento rigoroso... já me sinto melhor. Tava era abandonado... (puxou a esposa para seu colo, abraçando-a apaixonadamente).

Ritinha encostou a cabeça no ombro do marido, alisando-lhe o rosto barbado.

RITINHA - Agora eu cuido de você, amorzinho. Nenhum de nós vai mais ficar abandonado.

DUDA - Vamos já... tenho uma coisa a te dizer... em particular.

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - CASA DE DEOLINDA - SALA - INT. - DIA.


DEOLINDA - (parecia uma fera, diante da realidade) Ele não vem, padre!

PADRE BENTO - Vem, vem! Falcão foi buscá-lo à força!

DEOLINDA - (tremia de impaciencia e raiva) Era só o que faltava! Justamente minha filha... ter que casar na polícia!

PADRE BENTO - Não será assim, Dona Deolinda. Para não dar essa impressão sugiro que vamos todos para a igreja, onde será realizado o casamento...

DEOLINDA - Mesmo assim, é um casamento obrigado... e a culpada é ela!

Deolinda levantou, bruscamente, o rosto de Margarida, até àquele instante, cabisbaixa e inerte.

DEOLINDA - (recriminativa) Não se envergonha de nos obrigar a passar por esta situação?

Padre Bento interveio, enérgico, como bom pastor de almas. Via na atitude da mãe um começo de infelicidade para a vida que se descortinava para a filha.

PADRE BENTO - Deixe a moça, Dona Deolinda! Não complique mais a situação!

DEOLINDA - Ver ninho de coruja... é no que dá! Essas moças de hoje! Ainda bem que meu Jorginho não está aqui. Ele morreria de novo, de vergonha!

CORTA PARA:

CENA 3 - COROADO - IGREJA - INT. - DIA.

PEDRO BARROS - Juca!

A voz firme e grossa de Pedro Barros varreu a igrejinha de Coroado, como o dobre do sino. O moleque levantou-se, assustado, tentando escapulir pela porta aberta. O coronel agarrou-o pelo fundo das calças.


JUCA CIPÓ - (tentou correr) Ai!

PEDRO BARROS - Vamos simbora, larga de manha, safado!

JUCA CIPÓ - Num vou! Num vou! Me larga!

PEDRO BARROS - Eu quero que case, ora! E vai casá...

JUCA CIPÓ - Num quero casá! (esbravejava, lunático) Com Margarida, num quero! Num fui eu! Num fui eu! Tou jurando, num fui eu!

Pedro Barros fechou as mãos e aplicou alguns cascudos, com força, na cabeça do filho. Juca berrava como um garoto. Margarida esperava-o, com um véu claro a cobrir-lhe o rosto meigo. O juiz conferiu a documentação, enquanto o sacerdote preparava tudo para o ato sagrado. Pedro Barros, sempre com o filho preso pelos fundilhos das calças, aproximou-se do altar.

PEDRO BARROS - Tá ele aqui, Padre! Filho meu não faz papel sujo com moça!

DEOLINDA - (pôs as mãos nos quadris, em atitude insolente) Que papel, hem, Juca? Que papelão!

JUCA CIPÓ - Papel é o dela, não o meu!

PADRE BENTO - Psiu! Silencio! Respeitem a casa de Deus! (advertiu, já com as vestes sacramentais) Meus filhos, é preciso viver em paz. Com tranquilidade, com Deus e com nossas próprias consciências.

Pedro Barros cortou a palavra do sacerdote, sem a mínima atenção.

PEDRO BARROS - Nada de sermão, padre! Casa logo, antes que o noivo fuja de novo!

O juiz pôs a mão sobre a boca, evitando rir das advertencias do coronel e da cara emburrada do jagunço.

PADRE BENTO - É preciso que os noivos se dêem as mãos, que se reconciliem. Deus quer assim!

O coronel deu um tapa com força no ombro do filho.

PEDRO BARROS - Dá a mão pra tua noiva, Juca!

JUCA CIPÓ - (batendo com o pé no chão, respondeu) Num dou!

O coronel insistiu, já com outra atitude, os olhos pareciam jatos de fogo.

PEDRO BARROS - Dá, Juca. Acaba logo com isso! Tenho coisa mais importante a fazer. Pelo amor de Deus! (tornou a aplicar cascudos violentos na cabeça do filho) Dá, desgraçado!

Juca estendeu a mão para Margarida, de olhos baixos e vermelha como crista de galo.

PEDRO BARROS - (ordenou, cofiando a barba grisalha) Começa logo essa geringonça!

Padre Bento virou-se para a imagem no altar, abriu os braços e iniciou o casamento religioso.

PADRE BENTO - Senhor, meu Deus...

Ao fundo, observando com olhar irônico a solenidade, Hernani isolava-se de todos. Havia um quê de mistério no leve sorriso que lhe entreabria os lábios.

PADRE BENTO - (prosseguia) Juca de Almeida Barros... é de sua livre e espontânea vontade que deseja se casar com Margarida Vieira?

Não houve resposta. Um arrepio percorreu a assistência. Barros cutucou com o cotovelo as costelas do jagunço.

JUCA CIPÓ - Que remédio, né?

PADRE BENTO - Margarida Vieira, é de sua livre e espontânea vontade que deseja se casar com Juca de Almeida Barros?

MARGARIDA - É, sim, senhor!

Benzendo as alianças, Padre Bento ajudou os recém-casados a colocá-las nos dedos.

JUCA CIPÓ - (disse baixinho, ao ouvido da mulher) Tu me paga!

Estava findo o casamento.

CORTA PARA:


CENA 4 - COROADO - DELEGACIA - SALA DE VISITAS - INT. - DIA.

Sinhana correra à delegacia para dar as novidades ao filho.

SINHANA - Não passa de hoje. Vim só te avisá!

Um riso de felicidade alegrou a face do garimpeiro.

JOÃO - Puxa vida! Meu filho tá pra nascê. Logo hoje... quando vai sê decidido meu destino!

SINHANA - Deus faz as coisa certa, meu filho!

JOÃO - Moleque levado! Tá é aflito pra sabê o destino do pai! E ela, como tá?

SINHANA - Sentida de num tá presente, hoje...

JOÃO - Bobage... (repentinamente entristecido. A lembraça da esposa, distante, afastada, necessitada de sua presença, deixava-o irritado) Primeiro nosso filho, uai!

SINHANA - E tu... tá animado?

JOÃO - Sei lá, mãe. Tou é louco pra me ver livre daqui. Reza, mãe. Pede pra Deus, pras coisa terminá bem.

CORTA PARA:

CENA 5 - COROADO - DELEGACIA - EXT. - DIA.


Falcão dava ordens rigorosas aos soldados que se agrupavam na porta da delegacia.


DELEGADO FALCÃO - Todo mundo de ôlho. Vigilância redobrada. O negócio hoje vai esquentar com o julgamento de João Coragem. Vocês me apertem o cêrco. Todo mundo conhece os homens dele. Não deixem nenhum daqueles cabras entrá. Eles estão doidos e são capazes de tudo...

FIM DO CAPÍTULO 110


NÃO PERCA O CAPÍTULO 111 DE


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