quarta-feira, 12 de outubro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 116






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Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 116

CENA 1 - CHOUPANA - SALA - INT. - DIA.

Manuel, o homem que fizera um depoimento falso, incriminando João Coragem quando do julgamento do garimpeiro, fôra procurar Jerônimo para lhe propor um negócio. Reconhecido pelo rapaz, surgira uma discussão entre eles e logo a briga se tornaria mais séria. Agora, Manuel gemia, ferido na virilha por uma bala. Era uma ferida feia, numa região perigosa. O sangue jorrava aos borbotões.

MANUEL - Não aguento... não aguento! Dói muito!

LÁZARO - (berrou) Vê aí uma bebida forte, prêle aguentá...

JERÔNIMO - Leva ele daqui. Não quero vê a cara desse homem (advertiu, sem olhar para o outro, que se esvaía em sangue) Eu trato da minha vida. Leva ele daqui.

MANUEL - (clamava, gemendo) Me... bota... em riba de um... cavalo... eu sei aonde devo ir.

LÁZARO - (ameaçador) Veja lá o que vai fazê, Maneco!

Os dois homens deixaram a sala. Manuel apoiado nos ombros fortes do jagunço.

POTIRA - Por minha causa tu tá passando tudo isso, Jeromo!

JERÔNIMO - Por tua causa, nada. Só que num quero ser salteador de estrada. Acho que ainda não cheguei nesse ponto.

POTIRA - Deus é grande! (exclamou, olhando para o céu) A gente ainda vai vivê bem...

Os cascos do cavalo, deixando a galope o terreiro do esconderijo, estalaram na terra dura. Jerônimo olhou por entre duas ripas de madeira da parede. Manuel, encolhido como um jóquei, na reta final, deixava o casebre com um destino que só ele conhecia.

JERÔNIMO - Criminoso eu num sou. Nunca matei ninguém. Nem a Lídia eu queria ferir. Graças a Deus ela não morreu...

Potira alisou-lhe a fronte e os cabelos empapados de suor.

POTIRA - Vamos sonhá, amô... ninguém pode roubá da gente esse direito.

JERÔNIMO - Num lugar onde a gente num é perseguido...

POTIRA - Será que existe?

JERÔNIMO - Existe... existe!

LÁZARO - Eu só quis ajudá... pros dois podê sumi pra longe... Por isso trouxe o cara sem reconhecê ele... (completou, tirando o chapéu da cabeça).

CORTA PARA:

CENA 2 - CHOUPANA - SALA - INT. - DIA.

Durante horas Rodrigo vasculhou a região, mas, graças à informação de um e de outro alcançou o casebre, à tardinha. O sol ainda estava aceso na cumeeira dos céus.
A surpresa da índia foi imensa.

POTIRA - Como me achou aqui?

RODRIGO - Não foi muito difícil... Vamos conversar.

O ex-promotor foi até a janela e fechou-a. Sentou-se num banco de madeira.

POTIRA - Que é que vai fazê?

RODRIGO - Só vim pra te buscar.

POTIRA - Me buscar? Como... me buscar?

RODRIGO - Estou te dando uma chance de você deixar aquele patife! (tinha os olhos marejados. Era todo bondade).

POTIRA - Se explica!

RODRIGO - Não digo que vou viver com você... que vou te perdoar... mas, se te levar daqui, vai ser pra cuidar de sua regeneração. Estou dusposto a tudo... até a pôr uma pedra em cima de tudo o que você passou e olhar pelo seu futuro. Pode ser que mais tarde... eu consiga esquecer... e, quem sabe?

POTIRA - Você fala como se fosse dono de minha vida!

RODRIGO - Estou te estendendo a mão, índia! Quero te salvar!

POTIRA - Mas eu não estou te pedindo! Não tou perdida pra necessitá de salvação!

RODRIGO - Está! Está, sim! (falou, com a voz alterada. Sentia a insensatez da esposa) Você não tem futuro, não tem nada, junto com Jerônimo. Os dias dele estão contados. Está muito complicado com a justiça. E o que vai ser de você, sua idiota?

POTIRA - Não interessa. Se a policia pegar ele, eu espero ele sair da cadeia...

RODRIGO - Vai esperar... 10... 15 anos!

POTIRA - Espero, espero até uma vida inteira!

RODRIGO - Eu te quero tanto... que até já perdi a minha dignidade!

CORTA PARA:

CENA 3 - CHOUPANA - QUARTO - INT. - NOITE.

Potira estava deitada, com o pensamento perdido nos acontecimentos de sua vida quando Jerônimo regressou. A noite ia alta e a chama da vela iluminava as paredes do barracão. Lázaro acompanhava o amigo.

POTIRA - Que foi?

JERÔNIMO - Vamos se mandá daqui! Anda, rápido!

Num salto a mestiça estava de pé.

LÁZARO - Não perde tempo. Pega o que pudé!

JERÔNIMO - Tão atrás de nós!

POTIRA - (com as mãos apertando o peito) Mas o que foi que vocês fizero?

JERÔNIMO - A polícia desta cidade foi avisada!

Os três deixaram o casebre envolvidos pelo silencio e pelo negrume da noite sertaneja.

CORTA PARA:

CENA 4 - COROADO - CASA DE REUNIÃO - INT. - NOITE.

Sinhana, sempre Sinhana. A mãe valente. Decidida. A mãe Coragem, na acepção do termo. Naquela noite, com o filho a conversar com os seus homens de confiança, a velha, com o diamante guardado nas vestes interiores, sofreu o atentado. Gritou, como reação final, ainda tonta, quando as mãos do bandido procuravam, nervosamente, a pedra.

SINHANA - João! João!

O assaltante desapareceu por entre o matagal escuro. O garimpeiro correu, acompanhado de Braz, Alberto e o médico Maciel.

JOÃO - Mãe!

SINHANA - Tou tonta... tonta!

DR. MACIEL - Que foi, Sinhana?

SINHANA - Me atacaro. Me sentaro um troço na cabeça!

DR. MACIEL - Virge! Um galo enorme!

SINHANA - Ah, mas eu sou dura, viu?

JOÃO - Tentaro tirá o diamante?

SINHANA - Tá aqui, filho! O disgramado num teve tempo!

A velha segurou a enorme pedra, protegida por um saco de couro marrom. Braz e Alberto partiram na direção do matagal, para uma busca nas imediações.

SINHANA - Num deu pra vê a cara... mas era um baita dum home.

CENA 5 - COROADO - CASA DE REUNIÃO - INT. - NOITE.

Na sala da casa de reunião, João pediu ao médico:


JOÃO - Vê logo esse ferimento na cabeça dela, doutor!

Maciel começava a fazer o curativo.

DR. MACIEL - É coisa de nada... Acho que ela não deve ficar com essa responsabilidade... O melhor é você fazer logo negócio com essa pedra. Você se livra de uma preocupação muito grande. (Sinhana gemia, quando o médico apertava um pouco mais a região atingida) É muito perigoso, João!

JOÃO - O senhor tem razão. Mas, antes disso, vou pegá o safado que tá aqui, junto da minha gente, trabalhando pros meus inimigo...

BRAZ - Não achamo ninguém.

ALBERTO - Nem vivalma!!

Sinhana zangou-se com a incredulidade que as palavras do negro provocaram nos presentes.

SINHANA - Oh, gente, então sou doida? Vejam o galo na minha cabeça! Isso daí é imaginação? (deu um tapa forte nas mãos do médico) Pára com isso!

DR. MACIEL - Tenho que dar um ponto, Sinhana!

CORTA PARA:

CENA 6 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE- SALA - INT. - DIA.

A admiração do Dr. Rafael não tinha limites. Parecia-lhe inadmissível que o ex-delegado estivesse dominando a vontade do velho “dono” de Coroado, influindo, inclusive, na vida de sua filha. O médico buscara o apoio de Pedro Barros, seu consentimento para internar e operar Lara, mas Falcão dera o contra. E justificara: “Nada de operação, eu prefiro Diana viva!” O coronel aceitara a decisão, pois para ele, tudo o que fosse contra João Coragem lhe servia, plenamente. O telefone tilintou e o coronel atendeu.

PEDRO BARROS - Alô!

JOÃO - (reconheceu de imediato a voz arrogante) Afinal, seu coronel, o que é que o senhô tá querendo que eu faça? Já não fiz tudo o que o senhô queria? Por que não diz onde tá minha mulhé? Como esperá? Esperá o quê? Olha, eu cansei. Sabe o que vou fazer, agora? (esperou alguns segundos pela resposta do velho) Vou saí daqui, da pensão do Gentil, onde tou, e vou na delegacia, dá parte dessa tramóia.

PEDRO BARROS - (vociferou, do outro lado da linha) Eu te aconselho a não meter a polícia nisso! Bem sabe que não sou só eu que tou metido na história. Falcão, também. Principalmente ele! E ele faz ameaça. A vida da minha filha corre perigo e se a gente avisar a polícia...

Barros desligou e virou-se para Dalva, que ouvia atentamente o diálogo.

DALVA - Que foi que você resolveu com João?

PEDRO BARROS - Custou... mas ele me deu o dia de hoje. Quer ir à polícia, mas eu o convenci. Se até amanhã não tiver notícia, eu dou o direito dele fazer o que quiser... Resta esperar que Falcão apareça aqui, hoje. Aí, eu vou chegar às vias de fato com ele. Ou ele me diz onde tá minha filha... ou morre, o desgraçado!

DALVA - Um homem que tem feito o que ele faz, só matando! (aprovou, com um gesto de ira) Só matando!
FIM DO CAPÍTULO 116

NÃO PERCA O CAPÍTULO 117 DE



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