quarta-feira, 30 de março de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 23



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 23

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DUDA
RITINHA
MÉDICO
SINHANA
JERÕNIMO
JUCA CIPÓ
JOÃO
PEDRO BARROS
DELEGADO FALCÃO


CENA 1 - RIO DE JANEIRO - APARTAMENTO DE DUDA - INT. - DIA.

DUDA - Ela está mal, doutor?

Guardando o aparelho de pressão na maleta, o médico sorriu, dando um tapinha nas costas do rapaz.

MÉDICO - Absolutamente... tudo isto é natural no estado dela.

DUDA - Estado! Que estado?

Ritinha escondia o rosto, envergonhada.

MÉDICO - Há quanto tempo estão casados?

DUDA - Um mês e pouco, né, Ritinha?

Por entre a proteção dos travesseiros, Ritinha fez que sim com a cabeça.

MÉDICO - Pois é... Ela deve estar grávida.

DUDA - (atônito) Gra... grávida!

MÉDICO - Parabéns! O bom é assim. Deixar vir os filhos logo no início de casados. (Levantando-se, avisou Ritinha) Qualquer coisa, pode me telefonar. (E para Duda) Dentro de alguns dias ela deverá ir ao meu consultório para iniciarmos os exames pré-natais.

CENA 2 - APARTAMENTO DE DUDA - INT. - DIA.

Jerônimo fechou a porta. Sinhana acabara de chegar, esbaforida, pelas sucessivas aventuras no vaivém do elevador.

SINHANA - Diabo! Sê obrigada a entrá naquela joça! Quase que eu perco o ar, lá dentro!

Jerônimo suspirou, tranqüilizado com o regresso da mãe. Vivera instantes de preocupação ante a ausência de Sinhana. Ninguém sabia dizer onde fôra a velha, nem o porquê de tanta demora.

JERÔNIMO - Por onde andou, mãe?

Ignorando a pergunta do filho, Sinhana dirigiu-se a Duda, que se sentara sobre o tapete de feltro.

SINHANA - Olha aí, filho. Fui desmascarar aquela tipa que dizia que ia sê mãe de um filho teu...

DUDA - (ergueu-se como se movido a jato) Qual foi a bobagem que a senhora andou fazendo?

SINHANA - (recriminando-o) Bobagem! Bobagem! Bôbo é você! Pois eu fui lá e fiquei sabendo que ela tá te enganando!

DUDA - O quê? A senhora obrigou ela a dizer isso?

SINHANA - Obriguei, nada. A empregada dela pensou que eu era mãe de uma moça que ia dá uma criança... pra ela te enganá, seu bobalhão! E me deu todo... como é mesmo? Ah... o “serviço”!

DUDA - (absolutamente incrédulo) A senhora está brincando!

JERÔNIMO - Mãe não é disso! Acredita nas palavras dela e não se arrepende, irmão! E vamo acabá logo com essa conversa que tá na hora da gente picá a mula...

Incontinenti, abriu a porta do quarto da cunhada.

JERÔNIMO - Ritinha, tá na hora. Vem ou não vem?

Agarrado á mãe, Eduardo procurava confirmação.

DUDA - Mãe, essa história é pra valer? A senhora descobriu isso mesmo? Não é engano seu?

SINHANA - Engano... engano ia sê o seu, bôbo. Precisa abri os olho com essa mulhé sabida, filho. (Afagou, carinhosamente, a cabeça do rapaz).

Ritinha apareceu com a maleta na mão, vestido simples, de chita, em padrão florido.

RITINHA - Estou pronta. A gente pode ir.

Duda correu a abraçá-la. Instintivamente, a moça recuou, procurando a proteção de Jerônimo.

CENA 3 - APARTAMENTO DE DUDA - QUARTO - INT. - DIA.

Fôra tudo repentino. E a própria Sinhana optou pela reconsideração. Ritinha acabou ficando, para alegria do marido. E agora, meio desajeitado, mas ansioso para mostrar suas aptidões domésticas, Duda levava uma xícara de chá á esposa deitada.

DUDA - Olha, fui eu que fiz. Mãe me ensinou. Não sei se acertei a fazer o chá pra você... (Sentou-se á beira da cama com a xícara na mão).

RITINHA - (ressentida) Obrigada. Não quero dar trabalho.

Duda colocou a xícara na mesinha de cabeceira e pegou na mão da esposa.

DUDA - Vou te arranjar uma empregada. Estou ganhando uma nota, Rita. Ontem, enchi meus bolsos de grana. Fiz 3 gols! Mandei brasa! Você tem que esnobar como esposa do grande Duda!

RITINHA - (revoltada) É... eu compreendo. Você tem mania de grandeza. Por isso tem duas mulheres. É o grande Duda. Tem direito a isso.

DUDA - Não fala bobagem. Não te disse que agora as coisas vão ser diferentes? A sujeita me tapeou. E ninguém ilude o Duda, não! Ah, essa não!

Ritinha, menos enfurecida, aceitou o diálogo.

RITINHA - Afinal... ficou mesmo provado que ela estava mentindo?

DUDA - Peguei Hernani no pulo. O safado deu mil desculpas... “é, eu estava contra, mas sabe... ela é minha irmã, etc., etc.”. (Mudando de tom) Hernani é boa praça, não quero mal a ele. E toma conta dos meus negócios direitinho. A irmã dele... não quero ouvir mais o nome dela.

Passara a raiva e Ritinha era toda ternura.

RITINHA - Jura, Eduardo?

DUDA - É preciso, amor?

CENA 4 - COROADO - FAZENDA DE PEDRO BARROS - SALA - INT. - DIA.

Pedro Barros acabara de ser informado que dois homens desejam falar-lhe.

PEDRO BARROS - Quem são?

JUCA CIPÓ - O promotor e João Coragem.

O coronel levantou-se de um salto e Juca Cipó automáticamente levou a mão á cintura quando João Coragem e o promotor entraram.

JOÃO - Me dá sua arma, Juca!

JUCA CIPÓ - Espera lá... dá minha arma... por quê? Qual é sua autoridade aí nesse caso, João Corage?

RODRIGO - (severo) Eu sou a autoridade!

JUCA CIPÓ - É não!

RODRIGO - (controlou-se) Será que tenho que explicar tudo de novo?

Juca não se deu por vencido e, atrevidamente, tornou a fustigar o promotor.

JUCA CIPÓ - Autoridade que eu conheço é só o seu douto delegado. E esse ficô satisfeito com as pergunta que me fez. (Voltou-se para Pedro Barros que ouvia calado) Não é mesmo, meu patrão?

O coronel, num gesto rápido, contrariou a convicção do jagunço.

PEDRO BARROS - Não, Juca... infelizmente... temos de reconhecer a autoridade do seu doutor promotor. (Visivelmente irritado, voltou-se para Rodrigo) Mas, eu lhe digo, o senhor não precisava vir até minha casa. E veio muito mal acompanhado. Me admira como há certa gente... que tem valentia de voltar na minha casa, depois de daqui ter sido expulso!

Virou as costas para os rapazes.

JOÃO - Eu vim não foi pra mostrá valentia, não. Vim pra ajudá o seu douto a cumprir o dever.

PEDRO BARROS - (gesticulou, ordenando irritado) Juca, entrega logo essa arma preles. Acaba com essa história.

JUCA CIPÓ - -Mas... meu patrão... isso é um desaforo!

PEDRO BARROS - (categórico) Prova logo sua inocência, homem. E deixa de coisa!

A contragosto, Juca atirou os revólveres sobre a mesa, voltando as costas ao promotor.

RODRIGO - Vou mandar examinar.

Com o dedo em riste, Pedro Barros apontou a porta da rua. Grossas veias sobressaíam de suas frontes.

PEDRO BARROS - Já chega! Aquela é a saída. Façam o favor...

CENA 5 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - SALA - INT. - DIA.

Com um sorriso zombeteiro, Juca Cipó aproximou-se do patrão, alisando a coronha de um revólver. Ao longe, pela vidraça da janela, via os cavalos afastarem-se em galope cadenciado.
A poeira subindo desenhava no ar cogumelos barrentos.

JUCA CIPÓ - (sorria) Patrão... esta é a minha arma verdadeira.

Barros fitou a pistola grosseira.

PEDRO BARROS - É bom não ficar dizendo isso aí pelos cantos. Devia ter dado fim a ela.

JUCA CIPÓ - (apertando o revólver contra o peito, em atitude de ternura) Que nada! É a minha arma do coração...

Falcão entrou sem avisar, deparando com a cena inusitada. Deu alguns passos para o interior da sala.

PEDRO BARROS - Entre, delegado.

DELEGADO FALCÃO - Boa tarde! (depois de curta pausa, comentou) Encontrei aí fora o João Coragem.

PEDRO BARROS - É. O sem-vergonha se atreveu a voltar a esta casa.

DELEGADO FALCÃO - Que foi que ele veio fazer?

PEDRO BARROS - Veio com o promotor... Bobageira!

DELEGADO FALCÃO - Estão propalando pelos quatro cantos da cidade que vão desmascarar a todos nós.

Juca Cipó, com risinhos histéricos, insistiu no contrário, batendo com o pé no chão.

JUCA CIPÓ - Vai, não! Prova contra nós é que eles não tem. Só a língua, a infâmia.

DELEGADO FALCÃO - Estou sinceramente preocupado. Temos que nos calçar bem, numa defesa convincente. Caso contrário... não vai ser sopa enrolar o promotor.


FIM DO CAPÍTULO 23



E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

- TENTANDO DESPERTAR OS CIÚMES DE JERÔNIMO, POTIRA SE INSINUA E DIZ QUE O PROMOTOR A BEIJOU NA BOCA.

- JERÔNIMO E RODRIGO DECIDEM DESMASCARAR A FAMÍLIA DE PEDRO BARROS.

- JOÃO E JERÕNIMO DUSCUTEM.


NÃO PERCA O CAPÍTULO 24 DE IRMÃOS CORAGEM!!!


segunda-feira, 28 de março de 2011


IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 22

Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 22

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
RODRIGO CÉSAR
POTIRA
JOÃO
JERÔNIMO
RITINHA
SINHANA
DUDA
PAULA
VIRGÍNIA


CENA 1 - RANCHO CORAGEM - INT. - DIA.

Potira preparava o almoço. Panela fumegando sobre o grande fogão de ferro. Rodrigo Cesar entrou, sem bater á porta. Há muito vinha desejando ter a oportunidade de falar sozinho á índia. Vislumbrava ali, naquele momento, a grande ocasião. Aproximou-se, pé ante pé. De repente, Potira estava em seus braços. Abraçara-a apertadamente, por trás.

RODRIGO - Não se assuste...

A índia reagiu, valentemente.

POTIRA - Me deixa...

RODRIGO - Desculpe... mas... estou louco por você.

Procurou os lábios da moça com terrível ânsia. Potira aceitou o beijo do promotor. Nem ouviram as passadas fortes do irmão mais velho. João viu toda a cena.

JOÃO - Que é que há, seu doutô? Vamo com calma...

Potira correu a esconder-se, envergonhada.

JOÃO - Essa índia não é de brincadeira, seu doutô.

RODRIGO - Por favor, João, não leve a mal...

JOÃO - Essa índia é fogo, seu doutô Rodrigo. Ninguém brinca com ela sem saí queimado...

RODRIGO - Eu sei. Não pretendo brincar... mas foi irresistível, João..

João viu a foto, imensa, caída no chão.

JOÃO - Que foto é essa?

Rodrigo aproveitou para mudar de assunto.

RODRIGO - Eu trouxe... para você ver, João, a importância da arma que nós temos na mão.

O grandalhão admirou o retrato em ponto grande, ele e Lara, no beijo da choupana. Não cansava de admirar a foto. Rodrigo achou que era hora de intervir.

RODRIGO - Você me entendeu bem? Viu a arma que nós temos nas mãos?

João ainda estava alheio, admirando a foto.

JOÃO - Agora... me diga... como é que pode... como é que acontece uma coisa assim na vida de um homem? Se eu contasse pra alguém... tudo o que aconteceu comigo e com a filha do Coronel Barros... iam dizer que eu tava louco. Eu também penso que andei tendo sonho ruim... que aquilo tudo num foi verdade, que é invenção da minha cabeça. Mas... tá aqui. Tá aqui a prova de que num inventei, nem sonhei!

RODRIGO - Eu nunca duvidei da sua palavra, João.

JOÃO - Agora... o que há com essa moça é que eu não sei. Por que ela finge , daquele jeito, que é duas pessoas? E como é que pode fingir tão bem?

Rodrigo apanhou um copo e deu outro a João. Serviram-se de uma dose de cachaça.

RODRIGO - Eu explico, João. É uma aventureira... seu único objetivo é se divertir... veio da cidade, com todos os defeitos das moças livres. Chegando aqui, teve que vestir uma capa de santa. Está me entendendo, João? Num lugar pequeno, Lara tinha de ser outra, bem diferente. Como filha de Pedro Barros ela não podia se divertir com um garimpeiro... mas como uma moça qualquer, nada impedia. Daí, então, usou do recurso de se fazer passar por outra. Ela está enganando você, João. Como acredito que engana o pai e toda a família.

CENA 2 - RIO DE JANEIRO - APARTAMENTO DE DUDA - INT. - DIA.

Ritinha e Sinhana ouviam a transmissão do jogo através do rádio. Torciam desesperadamente, a cada lance de Duda. Jerônimo voltou da sala com um telegrama na mão.

JERÔNIMO - É do Doutor Rodrigo. Tenho que voltá imediatamente.

SINHANA - A gente vai amanhã cedo.

RITINHA - Tão depressa? Vou ficar sozinha de novo...

SINHANA - Reza aquela oração de chamá marido que eu te ensinei. Ele não guenta. Vem correndo pro teu lado. Esteja onde estiver...

Ritinha sorriu, triste. No rádio, o locutor comentava: “Faltam 3 minutos para terminar a partida. O Flamengo vence por 3 a 1, três gols de Duda. E o Flamengo vai novamente ao ataque. Paulo Henrique...”

JERÔNIMO - (orgulhoso) Duda é um craque, mãe.

SINHANA - E eu sei lá o que é isso. Era melhor que ele estivesse aqui, do lado da mulher dele. Quando é que ele volta?

RITINHA - Nem sempre ele volta. Há mais de um mês a gente tá casado. É sempre isso. Depois do jogo... quase sempre ele não volta para casa.

CORTA PARA:

CENA 3 - APARTAMENTO DE PAULA - INT. - NOITE.


No apartamento de Paula, Duda deitado, com a cabeça em seu colo, conversava sobre o jogo. De repente, a campainha soou na sala. Paula levantou-se e se encaminhou para a porta. Abriu-a. Apareceram Ritinha e Jerônimo.


PAULA - Ai, meu Deus, chegou o cangaço.

DUDA - (off) Quem está aí, Paula?

Duda não vira a entrada do irmão e da esposa. Olhos fechados, chamou a amante.

DUDA - Paula... venha coçar os meus pés.

A voz macia de Ritinha tirou-o da semi-inconsciência em que se encontrava.

RITINHA - É a especialidade dela, Duda?

O jovem jogador, com os olhos esbugalhados, olhou os recém-chegados.

JERÔNIMO - Nem a presença da velha te faz voltá pra casa. Cê ta mesmo perdido, mano. Inteiramente perdido. Nem merece o sobrenome honrado da família. De Coragem cê não tem nada. É um Eduardo Covarde...

CENA 4 - RIO DE JANEIRO - INTERIOR DO TAXI - EXT. - DIA.

Sinhana deu o endereço ao motorista e recostou-se no banco traseiro do taxi. Coordenava as idéias e os termos da conversa, enquanto velozmente o veículo cruzava as ruas movimentadas da zona sul. Pagou a corrida e, desajeitada, encaminhou-se para a entrada do prédio.


CORTA PARA:

CENA 5 - HALL E ELEVADOR DO APARTAMENTO DE PAULA - INT. - DIA.


Sinhana entrou no hall do edifício, de paredes espelhadas e farta decoração vegetal, tomou coragem e premiu o botão do elevador.

CENA 6 - APARTAMENTO DE PAULA - CORREDOR - INT. - DIA.

Segundos depois achava-se diante da porta do apartamento. Conferiu o número. Era aquele mesmo. Gorda e com ares de interiorana, a figura de Sinhana despertou a curiosidade da criada. Tentava identificar a mulher que estava á sua frente.

SINHANA - (sem maiores rodeios) Ela tá em casa?

CRIADA - Tá no banho. A quem anuncio?

Empurrando a porta semicerrada, a velha penetrou no apartamento.

CENA 7 - APARTAMENTO DE PAULA - SALA. - INT. - DIA.

SINHANA - Precisa anunciá nada. Eu espero ela terminá o banho. (ante o espanto da empregada, sentou-se cômodamente no sofá).

CRIADA - Minha senhora, Dona Paula vai demorar!

SINHANA - Não faz mal. Não tenho pressa.

A voz de Paula chegou-lhe aos ouvidos, vinda do fundo do apartamento.

PAULA - (off) Quem é, Virgínia?

Os olhos da criada voltaram-se incontinenti para a mulher estranha que, com total naturalidade, admirava a confortável residência.

CRIADA - É... uma mulher... que não quer dizer o nome!

PAULA - (of) Pergunte se é a mãe da moça que vai ter criança.

A empregada fez a pergunta sugerida por Paula. Com um muxoxo Sinhana virou o rosto fugindo á resposta.

CRIADA - Ela não quer dizer, Dona Paula.

PAULA - (off) Diga a ela que eu já vou.

Sinhana percebeu os olhares insistentes de Virgínia e a tentativa de aproximação que a mulata, simulando trabalho, fazia para dar continuidade á conversa. Decidiu facilitar as coisas e com um sorriso encorajou a jovem.

CRIADA - (parou diante da velha, amparada á vassoura) A gente sabe porque a senhora não quer dizer. Pode confiar em mim que eu conheço o segredo de Dona Paula. Sou liga assim com ela... Olha, foi um custo a gente achar uma pessoa nas condições da sua filha.

SINHANA - (fechando a carranca) Que condição, mulhé?

CRIADA - ... esperando filho pra daqui a sete meses. (Baixando a voz, em tom de confidência) A moça quer mesmo dar a criança logo depois que nascer? (fez uma pausa de alguns segundos esperando a resposta).

Sinhana permanecia muda.

CRIADA - Eu digo isto porque Dona Paula precisa de uma criança pra nascer no tempo certo... no mês que devia nascer o filho dela... isto é... se ela estivesse mesmo esperando criança.

Tudo se esclaracia rapidamente e a velha percebia com clareza o jogo sujo da amante do filho. Mostrou-se interessada.

SINHANA - Como disse?

Virgínia vibrou com o interesse despertado na senhora.

CRIADA - Pois então! (aproximou-se mais de Sinhana e, quase num sussurro, fez a revelação) Dona Paula não está esperando criança coisa nenhuma! Seu Hernani não lhe disse?

SINHANA - Ah... então... ela não tá esperando não?

CRIADA - Não acabei de lhe dizer, dona?

SINHANA - E pra que a... mentira?

CRIADA - (diminuiu ainda mais o volume da voz) Pra amarrar o jogador de futebol.
O Duda! Nunca ouviu falar no Duda?

SINHANA - (irônica) Já! Muito!

CRIADA - Pensei que seu Hernani tinha dado o serviço direitinho á senhora. Olha... o negócio tem que ficar em segredo... mas não vamos exagerar, não é? A senhora pode saber.

Com uma toalhinha á guisa de turbante e outra de banho a envolver-lhe o corpo ainda molhado, Paula surgiu na sala. Virgínia apontou para a velha.

CRIADA - Está aí a mulher!

Paula vinha agitada.

PAULA - Prontinho, gente! Desculpem a demora! (E dirigindo-se a Sinhana) Muito prazer. Então a senhora é a mãe da moça... (Não chegou a concluir a frase. De pé, reconhecera a mulher que se encontrava em sua casa).

PAULA - A mãe do Duda!

Virgínia desapareceu pela porta da cozinha.

PAULA - (procurou controlar-se) A que... devo a honra da visita?

SINHANA - Eu vim pra lhe desmascará. Tinha uma coisa que me dizia, aqui dentro – “essa mulhé ta mentindo...”

Paula sorria, sem graça, as pernas tremendo.

PAULA - Como? Não estou entendendo o que a senhora diz. Eu menti? Menti... em quê?

SINHANA - Acho que não precisa dá explicação. A senhora mesmo se desmascarô.

Sinhana deu alguns passos em direção á saída. A jovem tentou interceptá-la.

PAULA - Minha senhora! A senhora me condena por amar o seu filho?

SINHANA - Não é por gostá dele que a senhora mentiu.

PAULA - Quem lhe garante?

SINHANA - A sua cara, dona! (abriu a porta com energia).

PAULA - (revoltada) Minha vingança e´que, nem a senhora nem a esposinha arranjada de última hora vão conseguir afastá-lo de mim. (quase suplicante, procurou saber o que, desde o primeiro instante, tanto temia) – Vai dizer tudo a ele?

SINHANA - (sem piedade na voz) Agora mesmo!

PAULA - Pensa que vai adiantar alguma coisa?

SINHANA - Vai... se ele não for trôxa! Seu desespêro, dona, é o medo de não tê quem lhe pague as conta! Mas, quer sabê de uma coisa? Cria vergonha e vai trabalhá. Pega um cabo de enxada ou mesmo uma vassoura, dona!

PAULA - Ai, que ódio! Que ódio! Que ódio!

Sapateava, histéricamente, enquanto Sinhana descia ao térreo.

CORTA PARA:

CENA 8 - RIO DE JANEIRO - RUA. - EXT. - DIA.

SINHANA - (para si) Quero vê a cara do Duda quando eu contá quem é essa mulhé!

Com o coração alegre e renovadas esperanças, a mãe Coragem fez sinal com o braço estendido e o taxi parou, rangendo os freios.


FIM DO CAPÍTULO 22



E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

JERÔNIMO E SINHANA RETORNAM A COROADO.
A DÚVIDA DE RITINHA SE VOLTA PARA SUA TERRA OU FICA COM O MARIDO.
RITINHA DESCOBRE QUE ESTÁ GRÁVIDA!
O PROMOTOR RODRIGO, NA COMPANHIA DE JOÃO CORAGEM, VAI Á FAZENDA DE PEDRO BARROS E EXIGE QUE JUCA CIPÓ ENTREGUE SUA ARMA PARA SER PERICIADA. CONSEGUIRÃO SEU INTENTO?



NÃO PERCA O CAPÍTULO 23 DE IRMÃOS CORAGEM!!!


quinta-feira, 24 de março de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 21



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 21

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

FAUSTO PAIVA
DUDA
PEDRO BARROS
MACIEL
MARIA DE LARA
DELEGADO FALCÃO
ESTELA
PADRE BENTO
DALVA
JOÃO


CENA 1 - RIO DE JANEIRO - SEDE DO FLAMENGO - CONCENTRAÇÃO - NOITE.

As luzes estavam todas apagadas. Silencio no dormitório da concentração do Flamengo. Duda entrou, pé ante pé. Olhou, de longe, sua cama. “Parece que está como eu deixei”. – pensou o rapaz. Retirou os sapatos para amortecer o ruído das pisadas. Era todo medo. Todo apreensão. Chegou até a cama. Sentou-se á borda e puxou a colcha, para deitar-se. O susto fê-lo levantar-se, de um salto. Alguém estava deitado no seu lugar.


FAUSTO PAIVA - (vermelho de raiva) Foi dar um passeio, Duda?

Duda sentiu-se diminuir. Abaixou a cabeça, humilde. Fausto expelia a ira concentrada há várias horas, repetindo quase as mesmas palavras que Duda dissera a Ritinha, minutos atrás.

FAUSTO PAIVA - Você só faz besteira, bobagem! Besteira em cima de besteira! Parece um... débil mental! Nunca vi coisa igual! Não dá uma dentro, seu idiota!

Duda aceitava as ofensas, sem dizer palavra.

DUDA - Sim... Sim, senhor, seu Fausto.

FAUSTO PAIVA - Jogador irresponsável. Assim você não vai a lugar nenhum, está me ouvindo?

DUDA - Estou... estou sim, senhor, seu Fausto.

Nas outras camas as cabeças se levantavam para ver e ouvir o ataque do “Seu Fausto”.

FAUSTO PAIVA - Um jogador consciente não pode se perturbar. A gente está se preparando para um jogo importante. Se perdermos, este campeonato estará em perigo. Esses probleminhas com a mulherzinha vão se refletir na sua atuação durante a partida.

DUDA - (reagiu, brandamente) Eu fui buscar minha mãe.

Fausto não aceitou a justificativa.

FAUSTO PAIVA - Cale a boca. Estou falando e aqui quem fala sou eu! Se continuar assim te afasto da equipe e mando a diretoria te multar em 60 por cento do seu salário. Está ouvindo bem?

DUDA - Isto não vai se repetir, seu Fausto.

FAUSTO PAIVA - Estou avisando!

Fausto retirou-se, enfurecido, enquanto Duda deitava-se e cobria-se, chocado com o desenrolar dos acontecimentos. O craque, humilhado, viu as horas avançarem. Era madrugada quando conseguiu fechar os olhos...

CENA 2 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA- GRANDE - SAL - INT. - NOITE.

Na casa de Pedro Barros, Maria de Lara , de verdade, bela e meiga, descia as escadas para falar com o pai. O coronel reduziu o som da vitrola, quando viu a filha. Correu a abraçá-la.

Olhou para os presentes: Maciel, Falcão e Estela.

PEDRO BARROS - Gente, tenho uma coisa pra dizer proceis.(olhou para a filha, com orgulho. Alisou-lhe a fronte) Minha filha aqui... é meu orgulho... graças a Deus, tá mais melhor.

MARIA DE LARA - Melhor, pai.

PEDRO BARROS - Pois é. Melhor. (chamou o Delegado Falcão) Vem cá, Falcão, se aproxime...

O Delegado se aproximou, desajeitado, palito a dançar no canto da boca.

PEDRO BARROS - Minha filha... eu acabo de fazer um trato com o Seu Delegado Falcão. Acabo de dá sua mão em casamento prêle.

CENA 3 - COROADO - IGREJA - INT. - DIA.

Maria de Lara não desistia da idéia. Tinha de saber minúcias dos acontecimentos ocorridos naquele dia. Ninguém melhor que o padre Bento para lhe fornecer os esclarecimentos
desejados. Voltou á Igreja de Coroado. Ela e a tia Dalva.

PADRE BENTO - Minhas filhas... que Deus as abençoe.

MARIA DE LARA - Padre, eu queria saber como e por que eu estava naquele dia em companhia do Senhor João Coragem...

O jovem Coragem – sem que ninguém soubesse – encontrava-se escondido por trás de uma coluna. Ouvia, atento, as indagações da mulher a quem amava.

PADRE BENTO - Acho melhor falarmos sobre isso em outra ocasião.

MARIA DE LARA - Papai já lhe contou a novidade?

PADRE BENTO - Sobre o que?

DALVA - As loucuras do meu cunhado. Para que o delegado Falcão o ajude em determinada coisa, prometeu-lhe a mão de Lara em casamento.

João sentiu a terra fugir sob seus pés.

PADRE BENTO - Em casamento?

MARIA DE LARA - É, em casamento. Papai quer que eu me case com o Senhor Diogo Falcão.

João estava fora de si. Saiu detrás da coluna, horrorizado com a notícia.

JOÃO - Ela não pode... não pode se casar com ninguém!

Padre Bento o detém, com as mãos viradas para cima.

PADRE BENTO - Pare, João!

Maria de Lara estremeceu ao ouvir a voz de João.

MARIA DE LARA - Esperava uma oportunidade de encontrá-lo, Senhor João.

JOÃO - Pra que? Pra me agradecer?

MARIA DE LARA - Não.

JOÃO - Pra me gratificar? Eu não quero sua esmola.

DALVA - (com franqueza) Acho ótima a oportunidade de encontrá-lo. Eu quero lhe pedir um favor. Não queremos ofendê-lo. Não. Absolutamente. Mas é preciso que se coloque no seu devido lugar. Esta é uma advertência, seu João. De uma vez por todas... deixe minha sobrinha em paz!

Dalva, - autoritária e cheia de preconceitos – puxando pelo braço da sobrinha, retirou-se de dentro da igreja. Saíram apressadas, sem levantar os olhos para o rude garimpeiro.

JOÃO - O senhor está do lado de quem, padre?

PADRE BENTO - João, estou com você, meu filho.

JOÃO - Não, o senhor não tá comigo. Senão... não me tinha obrigado a fazê aquele maldito juramento. O senhor tá do lado de Pedro Barros, do lado de Falcão.

Padre Bento colocou a mão sobre os ombros do rapaz. Com gesto suave e amigo.

PADRE BENTO - João, este é um caso grave, particular, entre você e esta moça. Ninguém tem de saber de coisa nenhuma, nem mesmo a tia dela, ouviu?

JOÃO - Mas agora eu tou entendendo bem. Agora eu vejo as coisa, padre. O senhor tá contra mim. Pra ela se casá com o Falcão.

Deu as costas ao sacerdote, dirigindo-se para a porta de saída.

CORTA PARA:

CENA 4 - COROADO - IGREJA - EXT. - DIA.

Lara e Dalva aguardavam, o chofer no lado de fora do carro de Pedro Barros. O padre se aproximou do automóvel.

MARIA DE LARA - O que é que o Senhor João tem? Parece fora de si.

PADRE BENTO - Está mesmo fora de si...

MARIA DE LARA - Coitado. Afinal... tenho pena dele. Muita pena. Parece ser um bom rapaz.

FIM DO CAPÍTULO 21



E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

* JOÃO SURPREENDE O PROMOTOR RODRIGO CÉSAR BEIJANDO A ÍNDIA POTIRA.

* JERÔNIMO E RITINHA VÃO AO APARTAMENTO DE PAULA E A FLAGRAM NA MAIOR INTIMIDADE COM DUDA.

* SINHANA, ANTES DE VOLTAR A COROADO, RESOLVE AGIR PARA DESMASCARAR A AMANTE DE DUDA E EXPULSÁ-LA DA VIDA DO FILHO.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 22 DE IRMÃOS CORAGEM!!!









terça-feira, 22 de março de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 20



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 20

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

POTIRA
SINHANA
JOÃO
JERÕNIMO
FAUSTO PAIVA
DUDA
RITINHA
NECO
DALVA
MARIA DE LARA
CARMEN
HERNANI




CENA 1 - RANCHO CORAGEM - INT. - DIA.

No rancho da família Coragem, Potira contava o que vira a Sinhana e Jerônimo.

POTIRA - (falava nervosamente) ... aí, mãe Sinhana... ela se abaixou... gritando... Jão tava segurando ela, forte! Ele largou de susto. Ela chorou, chorou... depois se levantou, ergueu a cabeça... e já parecia outra mulher!

SINHANA - (benzendo-se) -Parece coisa feita!

POTIRA - Parecia mesmo.

JERÔNIMO - (sorrindo) Então a gente tinha razão. A gente tinha razão. Ela disse que era filha de Pedro Barros?

POTIRA - Sim. Disse pra nós ouvir, bem claro...

Sinhana investiu contra o filho do meio.

SINHANA - Cê tá alegre com a disgraça do seu irmão?

João ouviu aquelas palavras quando entrava na sala.

JOÃO - De que é que está falando?

A velha Sinhana resolveu dizer a verdade.

SINHANA - Filho, Potira disse...

JOÃO - Potira fala demais. Eu proíbo oceis de espalhá isso que foi dito aqui. Proíbo e exijo que respeitem ela...

JERÔNIMO - Isso é o que a gente vai vê .

Já a noite começava a virar a madrugada. A aragem fria penetrava suave pela porta aberta. Sinhana benzeu-se diante do pequeno altar. Orava. Potira acendia as velas dos santos – pensava em Jerônimo. João olhava a escuridão dos céus. Negros como os seus olhos e como o futuro que o aguardava.

CENA 2 - SEDE DO FLAMENGO - CONCENTRAÇÃO - INT. - E APTO. DE DUDA - INT. - DIA.

O telefone tilintou na espaçosa sala de descanso. Os jogadores esperaram a chamada. Fausto Paiva atendeu.


FAUSTO PAIVA - Duda... telefone para você. Acho que é a tua mulher de novo. Parece que ela não compreendeu que não deve te encher na concentração.

Duda levantou-se e pôs o fone ao ouvido.

DUDA - Alô! Que é, Ritinha? Não te disse que não deve me amolar a paciência aqui, na concentração? Pra que me desobedeceu?

RITINHA - Chegou um telegrama, Eduardo. De Jerônimo. Eles saíram ontem de Coroado. Vão chegar hoje ás oito horas da noite...

DUDA - O quê? Jerônimo vem aí?

RITINHA - Vem, com sua mãe.

DUDA - (quase deixou o aparelho cair) Com mãe? Mas que é que aqueles dois vêm fazer no Rio? O quê? Alô! Tá me ouvindo, Ritinha? Que é que meu irmão e mãe vêm fazer aqui?

Rita de Cássia respondeu baixinho, num tom quase inaudível, como se receasse que o marido ouvisse.

RITINHA - Eu... chamei, Eduardo.

O rapaz não ouvira nada.

DUDA - Fala mais alto!

RITINHA - (repetiu, elevando o volume da voz) Fui eu... que chamei, Eduardo.

DUDA - Não estou ouvindo.

RITINHA - Eu chamei. Ouviu... benzinho. Eu chamei...

DUDA - Você é uma tonta! Uma imbecil! Onde se viu, imbecil, está me ouvindo? Imbecil!

Ritinha desligou. Com cuidado. Choramingava, quando colocou o fone no gancho.

CENA 3 - SEDE DO FLAMENGO - CONCENTRAÇÃO - INT. - DIA.

Aflito, Duda conversava com Neco.

DUDA - Em suma, minha família vai chegar dentro de algumas horas.

NECO - E qual o problema?

DUDA - Aí está o problema: nem minha mãe nem Jerônimo conhecem o Rio de Janeiro. Quem os levará até o apartamento? Rita? Ela não conhece nem um metro além da nossa residencia.

NECO - Que situação... e agora?

DUDA - Agora... só existe uma saída!

CORTA PARA:

CENA 4 - SEDE DO FLAMENGO - CONCENTRAÇÃO - INT. - NOITE.

Era noite. Todo o elenco do primeiro time e os regra-três se achavam diante do televisor. Chico Anísio fazia das suas no vídeo iluminado. Fausto Paiva olhou a turma. Sim. Faltava um.


FAUSTO PAIVA - Cadê o Duda?

NECO - (justificando) Ainda está ressonando...

FAUSTO PAIVA - Não foi jantar... só está querendo dormir... que negócio e êsse? Está de pileque? Alguém andou infringindo as regras?

NECO - Não, senhor. Ele está... meio gripado...

FAUSTO PAIVA - Eu vou ver.

CORTA PARA:

CENA 5 - CONCENTRAÇÃO - DORMITÓRIO - INT. - NOITE.

As camas forradas de branco davam um aspecto hospitalar ao grande salão-dormitório. Fausto abriu a porta. Numa das camas, próximo á janela central, havia alguém dormindo. Coberto da cabeça aos pés. Fausto aproximou-se.

FAUSTO PAIVA - Que é que há, Duda? Não está se sentindo bem? Vamos ver isso, rapaz...

Neco surgiu na claridade da porta. Fausto Paiva insistiu.

FAUSTO PAIVA - Ei, Duda, acorda pra cuspir! Vamos lá ver que soneira é essa...

Neco ainda tentou explicar, mas era tarde. O severo treinador acabara de suspender a colcha. Sobre a cama, apenas alguns travesseiros habilmente arranjados. De Duda nem a sombra. Fausto virou fera.

FAUSTO PAIVA - Onde está ele? Onde está aquele irresponsável?

CENA 6 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - QUARTO DE LARA - INT. NOITE.

Maria de Lara tomava o chá caseiro, recomendado pelo Dr. Maciel. Conversava com a tia.


MARIA DE LARA - Por que mentiu ao doutor?

DALVA - Eu menti?

MARIA DE LARA - Escondeu que, quando eu voltei a mim, estava em companhia de João Coragem. O Padre Bento também omitiu isso, por quê?

DALVA - Porque... o padre foi prudente. A gente desta cidade malda muito as coisas. Podiam não entender que você desfaleceu e o senhor João a encontrou... como da primeira vez.

MARIA DE LARA - Por que é sempre ele que me encontra?

DALVA - Não sei... deve ser coincidência...

Lara tomou um gole do chá, engasgando-se com repentino soluço. A xícara balançava em suas mãos. Dalva correu a ajudá-la.

DALVA - Lara! Lara! O que é isso?

MARIA DE LARA - A senhora não me engana. O que está se passando não é normal. Eu não me sinto bem. Perco a noção do tempo, facilmente. Quando volto a mim, estou em companhia de um homem que me é completamente estranho e indiferente. E ele me diz coisas absurdas que me fazem perceber que existe alguma coisa séria entre nós dois. E a senhora me afirma que nada disto é importante?

A moça levantou-se e caminhou até o guarda-roupa. Escolheu um vestido verde, sem decote, saia rodada. Desceu para falar com Pedro Barros. O coronel a esperava ansiosamente, ao lado do Dr. Maciel e do Delegado Falcão. A casa grande era toda alegria.

CENA 7 - RIO DE JANEIRO - PRÉDIO DO APTO. DE DUDA - ESCADARIA - INT. - NOITE.

Sinhana subia as escadas resfolegante, botando a alma pela boca... Duda e Jerônimo sorriam, apesar do sacrifício da velha.

SINHANA - Ai! Mais fácil é subir os morros de Coroado!

DUDA - Também... precisa ter vontade, mãe, pra subir três andares... tendo o elevador.

SINHANA - Prefiro agüentar a escada. Não entro naquele negócio todo fechado, não.

JERÔNIMO - Bobagem, mãe. A gente tem de se acostumá com o modernismo. Tamo ou não tamo no Rio de Janeiro?

SINHANA - Ô cidade doida! Tou até tonta. Um dia inteiro de viage. Chego aqui, parece que as coisas estão de pernas pro ar.

JERÔNIMO - E Ritinha?

DUDA - Ela tá esperando a gente lá em cima.

SINHANA - Por que ela não foi com cê esperá a gente?

DUDA - Porque... eu tive que fugir de onde estava pra poder esperar voces.

Sinhana e Jerônimo olharam-se.

SINHANA - Fugir?

JERÔNIMO - A gente não sabia que cê tava preso! Que foi que cê fez, mano?

DUDA - Não é nada disso. Não falei em prisão.

SINHANA - Diz que fugiu...

DUDA - Da concentração, gente. É outra coisa. Depois explico. Vamos indo logo que eu tenho que voltar imediatamente.

CENA 8 - APARTAMENTO DE DUDA - SALA - INT. - NOITE.

O barulho ensurdecedor da alta-fidelidade tomou de impacto o ambiente, quando a porta do apartamento se abriu. Sinhana e Duda pararam petrificados na soleira. No ritmo mais quente, as jovens dançavam, agarradas aos rapazes, enquanto, mais além, outras e outros bebericavam uísque, cuba-libre e bebidas fortes. Duda atravessou a sala á procura de Ritinha.

CENA 9 - APARTAMENTO DE DUDA - QUARTO - INT. - NOITE.

Duda encontrou a esposa no quarto, deitada, pronta para dormir.

DUDA - (recriminando-a) Você só faz bobagem! Besteira em cima de besteira! Parece... uma debilóide. Não dá uma dentro. Desde que chegou aqui, só dessas, de idiota!

RITINHA - Não mandei dar esta festa.

DUDA - Hernani disse que você deixou.

RITINHA - Eu não deixei nada. Não mando na minha casa. Quem manda é ele e a Paula. Com certeza foi ela quem inventou esta porcaria. Para colocar você contra mim. Ela estava aqui... veio buscar a geladeira e me disse que é pra guardar o leite... do bebê de vocês.

DUDA - Bem, eu não tenho culpa disso, tenho?

RITINHA - Não. Quem é que tem, então? Eu?

DUDA - Eu já te disse...

RITINHA - (corta) Você não disse coisa nenhuma... Já conheço de cor e salteado a sua história. Olha, Eduardo, eu estou farta. Farta, ouviu bem?

A porta do quarto se abriu. Jerônimo e Sinhana entraram.

JERÔNIMO - A gente não tem onde ficar... Cada vez tá chegando mais gente...

Ritinha procurou amparo nos braços da velha amiga.

RITINHA - Ainda bem que vocês vieram.

JERÔNIMO - (para Duda) Irmão... isso vai demorá pra acabá?

DUDA - Eu... eu não sei, pergunte a ela.

RITINHA - (aos gritos) Não tenho nada com isso! Pergunte á noiva dele. Que vai dar um bebê a ele!

DUDA - (perdeu as estribeiras) Sabe o que mais, sua boba, eu não te agüento! Não te agüento!

Virou as costas e deixou o quarto, em demanda da rua.

RITINHA - Jerônimo, bem que você avisou. Este é outro mundo. Não é para nós, Jerônimo. Eu vou embora com vocês. Eu não agüento mais.

O jovem abraçou carinhosamente a cunhada. Sinhana estava aborrecida com o barulho e a agitação da festa. Ninguém ouvia ninguém. Ensurdecedor. A alta-fidelidade no último ponto.

SINHANA - Quem não agüenta sou eu. Espera aí que já dou um jeito nesse negócio, á minha maneira.

CENA 10 - APARTAMENTO DE DUDA - SALA - INT. - NOITE.

Sinhana dirigiu-se á sala e correu ao aparelho de som, desligando-o. Todos os olhos se voltaram para ela.


SINHANA - Olha aí. Acabô a bagunça, minha gente. Acabô. Vamos embora, cada um pras suas casa, que já é hora de dormi. Vamos indo, minha gente. Vamos embora.

CARMEN - Quem é a grossa?

SINHANA - Sou aquela que, se fosse tua mãe, te dava ensinamento. Como não sou, com a graça de Deus, não tenho obrigação de te aturar. Olha aí, a porta da rua. Olha aí. Tá bem aberta (escancarou a porta) Vamo dando o fora, todo mundo pra rua.

Os pares saíram reclamando, mas deixaram o apartamento. Sinhana ainda gritou, quando os últimos se afastavam, rumo ao elevador:

SINHANA - Isto aqui é casa de família, tão me ouvindo? Família. (e falando para o filho e a nora) Comigo é assim. Você tem que aprendê, minha filha...

RITINHA - Puxa vida, que saudades que eu estava de vocês! ( abraçando Sinhana) Olha, o banheiro é ali, eu sei que vocês querem tomar banho e depois vamos á janta. Preparei um guisadinho bacana pra vocês comerem.

Jerônimo observava os copos, pratos, cinzas de cigarro. Aquela balbúrdia de fim de festa. Ritinha o abraçou. O rapaz desvencilhou-se dela quase com brutalidade.

RITINHA - Jerônimo...

JERÔNIMO - Cê não tem modos de mulher casada.

RITINHA - É que o Duda não tem me dado vida de casada.

JERÔNIMO - Que é que ele anda fazendo?

RITINHA - Já ouviu falar num negócio chamado jogo de futebol? Concentração? Treinos? Viagens? Obrigações de um jogador de futebol? Olhe aqui... Duda fica comigo dois dias por semana, quando muito... sendo que um deles... ele dedica á sua... ex-noiva.

JERÔNIMO - Pois é. Agora num tem mais jeito, Ritinha. Cê não pode voltá atrás. Desgraçô com a minha vida e com a sua.

RITINHA - Veio de tão longe... só pra me dizer isso, é? Nem precisava. Pra me dizer que meu casamento foi um fracasso? Eu já sabia. Desde que pus os pés neste Rio de Janeiro.

Ritinha começava a choramingar.

JERÔNIMO - Não vai chorar agora, vai?

RITINHA - Tá com muita prosa só porque vai ter um cargo de presidente da Associação dos Garimpeiros.

Jerônimo sorriu com a ingenuidade da moça. Resolveu acabar com a discussão.

JERÔNIMO - Como é, não se come nesta terra?

Sinhana gritou do banheiro.

SINHANA - (off) Ei, Ritinha, o aquecedô tá pegando fogo!

Os dois olharam-se recíprocamente e abriram a boca numa gargalhada imensa. No banheiro, a velha passava mal.

FIM DO CAPÍTULO 20


E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...


* DUDA, AO RETORNAR AO FLAMENGO, TERÁ DE ENFRENTAR A FÚRIA DO TÉCNICO FAUSTO PAIVA, QUE DESCOBRIU SUA FUGA PARA IR AO ENCONTRO DA MÃE E DO IRMÃO, QUE ACABARAM DE CHEGAR AO RIO DE JANEIRO.

* EM COROADO, PEDRO BARROS COMUNICA Á FILHA, MARIA DE LARA, QUE DEU SUA MÃO EM CASAMENTO AO DELEGADO FALCÃO.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 21 DE IRMÃOS CORAGEM!!!

quinta-feira, 17 de março de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 19

Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 19

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

ESTELA
DALVA
PEDRO BARROS
JOÃO
MARIA DE LARA
PADRE BENTO

CENA 1 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - QUARTO DE LARA - INT. - DIA.

Dalva jogara-se sobre a cama de Lara, enquanto Estela exigia uma explicação.

ESTELA - Desde quando isso acontece?

DALVA - Certa vez, no Rio, ela se aborreceu com Artur, que a repreendeu severamente por ter arranjado um namorado. Logo após, queixou-se de violenta dor de cabeça. Inexplicavelmente, desapareceu de casa, durante dois dias. Não sabemos até hoje o que foi que lhe aconteceu. Nós a procuramos desesperadamente por toda a cidade.

ESTELA - Onde a encontraram?

DALVA - Ela voltou... sozinha – atordoada... Quando eu me lembro! Estava muito abatida... cansada, e não se recordava de nada que lhe havia acontecido. Para ela... não havia noção de tempo... me entende?

ESTELA - Sim.

DALVA - Dois dias, não se passaram na vida dela. Disse que despertou num local completamente estranho... de manhã, num bar aonde nunca tinha ido. Tomou um táxi e mandou tocar para casa. No entanto, estava vestida de forma diferente... ela não conhecia aquelas roupas. Nós a levamos ao hospital.

ESTELA - E os médicos, o que disseram?

DALVA - Deram o fato como um ataque de amnésia.

ESTELA - As crises voltaram?

DALVA - Não... não tão fortes... Apenas, ás vezes, uma forte dor de cabeça. Nunca mais tive sossego e, quando me telefonou daqui, revelando que voltara a sentir o mesmo mal-estar, fiquei assustada. E, realmente... aqui... tudo voltou.

ESTELA - (preocupada) E o que aconteceu durante essas crises?

DALVA - Não sei! Não tenho certeza!

ESTELA - Será que durante as crises... ela faz coisas... enfim, ela se transforma?

DALVA - Não, não Eu quero acreditar que não! Isto não pode acontecer com a minha Lara! ( chorava desesperadamente) Eu não a imagino capaz de fazer certas coisas.

ESTELA - (dissimulava o nervosismo) Não se trata do que ela é capaz de fazer.

DALVA - Como não, Estela? Eu prefiro morrer... a saber que Lara... se transforma numa mulher... dessa espécie.

ESTELA - Ora, lá vem você com seus preconceitos! O que me apavora, não é isso...

DALVA - O que é, Estela?

ESTELA - É a maneira como Pedro vai receber o fato. Ele não receberá com os seus escrúpulos, nem com a minha tolerância. Se for verdade que ela é aquela mulher... a outra, será capaz de matá-la. Eu tenho quase a certeza de que estamos diante de um caso fantástico. Como? Por que isto acontece? De que maneira? Eu não entendo. Talvez um médico... especialista... ou um estudioso de fatos sobrenaturais...

A porta escancarou-se ante o pontapé violento de Pedro Barros, que entrou no recinto.

PEDRO BARROS - Cadê minha filha?

ESTELA - (amedrontada) Sua filha não está.

PEDRO BARROS - Cadê ela?

Estela e Dalva fitaram-se durante alguns segundos.

PEDRO BARROS - (insistiu, colérico) Cadê ela? Que mistério é esse?

ESTELA - Ela saiu... não faz muito tempo.

PEDRO BARROS - Como saiu? Eu lhe disse que queria lhe falar. Vou buscar ela, onde foi?

ESTELA - Deixe Pedro, eu e Dalva a traremos de volta. Vou mandar preparar o carro.

PEDRO BARROS - O que tá acontecendo com a minha filha?

DALVA - Nada, Pedro, nada... eu lhe garanto. Ela saiu... não faz muito tempo... e eu creio que... foi á igreja.

CORTA PARA:

CENA 2 - CHOUPANA DA FLORESTA - INT. - DIA.

A porta se abriu e João Coragem entrou com o Padre Bento. O sacerdote com a Bíblia entre as mãos, parou diante da imagem de Lara, ajoelhada, orando contritamente.

JOÃO - Aí está ela... como eu deixei... e não parece a mesma... de antes.

PADRE BENTO - (achegou-se, suavemente) Minha filha...

MARIA DE LARA - (levantou o rosto) Padre! (levantou-se e beijou-lhe as mãos) Que que está acontecendo comigo?

PADRE BENTO - Não sei... João foi me chamar... e está tão atordoado quanto você...

JOÃO - Eu pensei que ela nem esperasse a gente voltar.

PADRE BENTO - Que que está sentindo, minha filha?

MARIA DE LARA - Não sei como vim parar aqui... nem o que estava fazendo em companhia deste homem...

JOÃO - Ela não sabe, mas eu lembro, padre! Ou ela tá fingindo... ou... ou não existe explicação, padre.

João esforçava-se para contar a verdade, mas as palavras não se encaixavam dentro de sua vontade. Ele não sabia por onde começar.

JOÃO - Eu quero dizer que... que eu e você...

MARIA DE LARA - Sim, continue... que eu e o senhor... o quê? ( O padre ia falar. Lara interveio) Eu quero que ele diga. Diga a verdade, senhor João. Por favor... eu lhe dou liberdade de falar tudo o que tem contra mim...

JOÃO - Não é contra, moça... não é isso que eu quero lhe dizer.

MARIA DE LARA - Então o que é?

JOÃO - Que eu e você...

Lara fitava-o angustiadamente. João tentava contar a verdade. As palavras escapavam-lhe. A jovem insistia diante da presença tranqüilizadora do sacerdote.

JOÃO - Leva essa mulher logo embora daqui, padre!

MARIA DE LARA - Seu João... eu lhe peço desculpas. Pode ter a cer...

JOÃO - (cortou) Vai embora!

PADRE BENTO - Vá... vá, Lara... entre no meu carro e espere. Vou dar duas palavrinhas com João...

Depois que Lara deixou a pequena sala, o padre voltou a falar.

PADRE BENTO - João... voce fez muito bem em não dizer... tudo aquilo que me contou...

JOÃO - Eu tou ficando louco. Não entendo, padre. Que é que eu faço? Não entendo!

PADRE BENTO - Tenho certeza de que ela não está fingindo. E nem sei mesmo como é que uma criatura, como aquela moça, pode ter feito tudo aquilo que você me disse.

João encarou o padre, com decisão.

JOÃO - Ela é minha... minha mulher. Ela me pertence, padre! Me pertence!

PADRE BENTO - João, guarda isso só para você. Pelo amor de Deus, esqueça tudo aquilo que me contou. Eu ouvi como se fosse uma confissão. Juro que de mim não sairá uma única palavra.

JOÃO - (esmurrou a parede) Diabo! Diabo! Por que isto tinha de acontecer comigo. Logo comigo?

Padre Bento retirou o terço do bolso, abriu a Bíblia. Entregou-os ao rapaz.

PADRE BENTO - Você tem de jurar sobre esta cruz, João. Jure que só eu e você... teremos conhecimento... do que houve entre você e aquela pobre moça.

João segurou a cruz, comprimiu-a entre as mãos potentes. Beijou a imagem de Cristo.

JOÃO - Eu juro, padre. Juro sobre a cruz de Cristo!


FIM DO CAPÍTULO 19
NÃO PERCA O CAPÍTULO 20 DE IRMÃOS CORAGEM!!!

quarta-feira, 9 de março de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 18



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 18

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

JERÔNIMO
JOÃO
MARIA DE LARA / DIANA
RODRIGO
ESTELA
DALVA
PEDRO BARROS
POTIRA


CENA 1 - COROADO - CHOUPANA NA FLORESTA - INT. E EXT. - DIA.

João entendeu tudo ao ver a máquina fotográfica nas mãos de Jerônimo. Enrubesceu de raiva. Aquilo era demais. Avançou contra o rapaz, tentando apoderar-se do aparelho. Jerônimo, mais rápido, escondeu a máquina entre os braços poderosos.

JERÔNIMO - Só quero te provar o que disse, Jão. Que ela e a filha de Pedro Barros... são a mesma.

DIANA - (com ódio) Idiota! Não sou a mesma, coisa nenhuma!

Tentou investir contra o rapaz em busca da máquina fotográfica. Jerônimo deixou célere a choupana. Pulou no cavalo e afastou-se, perdendo-se na poeira da estrada. O sol causticava a zona dos garimpos. João Coragem empurrou a moça para a rêde e, fechando a porta, saiu no encalço do irmão. Diana gritava na choupana batida pelo calor.

DIANA - Ei, me espera aí. Eu quero ir embora! Me deixa ir embora!

Bateu com raiva na porta de madeira. Resistente.

DIANA - João! João!

As unhas riscavam traços desiguais na madeira lisa. Diana chorava com desespero.

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - RUAS - EXT. - DIA.

Os dois cavalos cruzaram em disparada as ruas de Coroado. Pararam diante do hotel de Gentil Palhares. Jerônimo entrou, correndo.

JERÔNIMO - Dr. Rodrigo! Dr. Rodrigo!

O promotor surgiu do interior da casa. Jerônimo lhe entregou a máquina. João apareceu, esbaforido.

JOÃO - ( partiu na direção do promotor) Me dê isto!

Rodrigo estendeu a mão, em sinal de advertência.

RODRIGO - Pare, João... eu explico.

JOÃO - Já sei o que oceis querem!

RODRIGO - (procurava explicar) É uma arma que a gente tem na mão.

JOÃO - Arma... contra a moça? Que foi que ela fez proceis?

RODRIGO - Não é contra ela... é contra o pai dela.

JOÃO - Disse e repito: aquela não é a professora. Aquela é outra. Eu dou minha palavra!

O rapaz avançou contra o promotor, desvairado. Jerônimo cerrou o punho e acertou o irmão. O sôco violento, de baixo para cima, dado com ira, lançou João Coragem ao solo. Meio zonzo com o ataque inesperado, João tentou levantar-se.

RODRIGO - (enérgico) Estão loucos, rapazes? Dois irmãos!

JERÔNIMO - (espumando) Essa mulher... tá pondo ele perdido. Vai ser a destruição de tudo o que planejamos.

JOÃO - (levantou-se trêmulo) Eu acho que tenho o direito de gostar de quem eu quero. Se ocê não teve sorte, irmão, eu não tenho culpa. Não venha agora, desforrá em cima de mim. Pra acabá com isso... me dê esse troço aí... pra destruir o retrato que ocê tirô...

JERÔNIMO - (arrancou a máquina das mãos do promotor) Escuta uma coisa... eu agora vou em frente. Você disse bem. Nunca tive sorte. Sempre fui o irmão apagado, o coitado. Não vou ser mais, Jão. Não vou ser mais!

João ainda tentou retirar a máquina das mãos do rapaz. Jerônimo recuou. Havia qualquer coisa na sua voz que obrigou o mais velho a interromper a investida.

JERÔNIMO - Prova, Jão! Prova que as duas não são a mesma mulher... e eu te juro... te devolvo o retrato. Juro!

Rodrigo aproximou-se do garimpeiro alto e robusto. Abraçou-o, em atitude pacificadora.

RODRIGO - É uma boa idéia. Prove... prove, João, e estará fazendo um benefício a você mesmo.

Olhando os dois homens, duros e inflexíveis, o rapaz voltou as costas e desapareceu pela porta da frente.

CORTA PARA:

CENA 3 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - INT. - DIA.

PEDRO BARROS - (off) Lara! Lara!

O vozeirão de Pedro Barros cruzava o casarão da fazenda como vento de temporal. Estela apareceu no alto da escada Trajava um vestido leve, de padrão alegre.

ESTELA - Ela ainda está no quarto, Pedro!

PEDRO BARROS - Já tou cheio de ver essa menina no quarto! Manda ela descer. Já! Quero falar com ela. Anda, vai lá e chama ela!

CORTA PARA:

CENA 4 - CASA - GRANDE - CORREDOR - SEQUENCIA - INT. - DIA.

Estela bateu á porta do quarto da filha. Pancadas leves com os nós dos dedos.

ESTELA - Lara! Lara!

A porta se abriu e Dalva apareceu, sombria, o rosto magro, maçãs salientes.

DALVA - Que é?

ESTELA - Será possível que não podemos falar com nossa filha? Pedro está impaciente. Tenho medo quando ele fica assim. É violento! Está querendo falar com ela imediatamente.

DALVA - Falar com ela? Pra que?

ESTELA - Há dois dias que você não nos deixa entrar neste quarto. Isto não pode continuar.

DALVA - Entre. Veja você mesma... com seus próprios olhos...

CORTA PARA:

CENA 5 - CASA - GRANDE - QUARTO DE LARA - SEQUENCIA - INT. - DIA.

Afastando-se da porta, Dalva permitiu a entrada de Estela. Era visível o nervosismo das duas. Estela olhou o interior da dependência. Olhos arregalados, feições transtornadas.


ESTELA - Onde... onde ela está?

DALVA - Há dois dias que eu minto. Há dois dias que ela não está em casa. (desesperava-se) Que é que eu podia fazer, Estela? Que é que eu podia fazer?

CORTA PARA:

CENA 6 - CHOUPANA NA FLORESTA - INT. E EXT. - DIA.

A chave rodou no interior da fechadura. Uma, duas vezes. A porta se abriu e Diana recebeu o feixe de luz sobre o rosto. O sol continuava causticante, arrancando raios coloridos das paredes rochosas da margem do riacho. João entrou na estreita sala. Diana recebeu-o com palavrões.

DIANA - Seu... besta de uma figa! Por que me trancou aqui? Eu tenho de dar o fora. Cachorro! Patife! Pensa que eu sou o quê? Sua prisioneira?

João agarrou o braço da jovem com força. Raivoso.

JOÃO - Agora... você vem comigo.

DIANA - Aonde?

JOÃO - A gente... vai até a casa de Pedro Barros. Vou te levá lá... pra te por frente a frente com a professora!

DIANA - Não quero ir. Não me interessa ver aquela débil mental. Quero ir embora, tratar da minha vida.

JOÃO - Não. Desta vez ce vai comigo. Estão querendo prejudicá a outra moça e eu não vou deixá.

Diana quis forçar passagem pela porta acanhada. O corpo do rapaz tomava por completo o espaço existente.

DIANA - Me deixa passar.

Potira ouvira a discussão, do lado de fora.

POTIRA - (pediu, tolerante) Larga a moça, Jão.

JOÃO - Não vê a necessidade de provar que elas são duas?

Diana tornava-se a cada instante mais violenta. Gritava, enlouquecida.

DIANA - A quem você quer ajudar? A ela? E quer me jogar na rua da amargura?

JOÃO - A outra moça não merece...

DIANA - Eu não quero estar metida nisto.

JOÃO - Vai ter que estar!

DIANA - Ninguém vai me obrigar. Você me largue! Me deixe em paz! Me deixe em paz!

JOÃO - (perdendo a paciência) -Bom... se não vai por bem... vai ter de ir por mal.

DIANA - (esperneava) Não. Não vou. Me solta!

De repente, a jovem soltou um grito mais alto e estridente. Suas mãos procuraram as têmporas. Depois Diana tapou o rosto com as mãos. Os joelhos tocaram o chão barrento, avermelhando-se ante a aspereza do solo. A moça permanecia paralisada como num transe mediúnico. Os lábios tremiam-lhe. Potira olhava a cena impressionante. Buscava os olhos de João.

POTIRA - Que é que ela tem?

A pausa fôra longa. Agora, aos poucos, a jovem levantava o rosto. As mãos macias escorriam vagarosas face abaixo. Havia meiguice e santidade em sua expressão. E cansaço também. João deu um passo á frente. A moça denotava espanto, olhando para os quatro cantos da minúscula sala.

MARIA DE LARA - O que foi?

JOÃO - Tá melhor? A gente pode ir

Potira ajoelhou-se diante da jovem, que agora parecia outra.

POTIRA - Espera, Jão. Ela não está bem. Que foi, moça?

MARIA DE LARA - Que lugar é este? Quem me trouxe para cá?

POTIRA - Foi João...

MARIA DE LARA - O Senhor João? Onde me encontrou? Como foi que vim parar aqui? Por quê? Que lugar é este?

Tentou levantar-se. Potira deu-lhe a mão, ajudando-a a erguer-se do chão duro.

POTIRA - Que tá sentindo?

MARIA DE LARA - Minha cabeça...

JOÃO - (sem acreditar naquilo) Isso é fita, pra não ir...

MARIA DE LARA - Senhor João... por favor, me diga... que aconteceu comigo? Como me encontrou?

JOÃO - Agora... agora vem ela com senhor João... e até parece outra!

MARIA DE LARA - (estremecendo) Outra?

JOÃO - Tá querendo me enganá... não quer que leve você á presença da professora...

MARIA DE LARA - Professora?

JOÃO - Sim. A filha de Pedro Barros!

MARIA DE LARA - Mas... eu sou a filha de Pedro Barros!

A revelação paralisou João e Potira. Lábios entreabertos, na expressão da surpresa, um e outro permaneciam estáticos. Dir-se-ia que o mundo havia parado, que a natureza se transformara num repouso absoluto.

JOÃO - (acordou do espanto) Você? Mas... você?

Potira adiantou-se. Pegou as mãos da jovem, entre as suas.

POTIRA - Você é Diana, moça...

MARIA DE LARA - Sou Lara...

João segurou-a fortemente pelos ombros. Balançou-lhe o corpo delicado.

JOÃO - Tá pensando... que eu sou o que? Um idiota?

MARIA DE LARA - (chorava abafadamente) Eu sou Lara!

JOÃO - (sacudiu-a) E Diana? E Diana?

MARIA DE LARA - Não sei quem é Diana!

JOÃO - É doida ou... quer me por doido...

MARIA DE LARA - Não sei do que está falando... mas me deixe ir embora... quero ir para minha casa... Seja o que for que tiver acontecido... eu lhe sou muito grata. Meu pai saberá recompensá-lo. Pedirei a Deus para ajudá-lo... Vou orar pelo senhor... mas... agora, eu lhe peço... deixe-me ir embora...

JOÃO - Vai rezá, não é? Vai pedir a Deus por mim... Tou precisando mesmo da ajuda dele. Porque tou ficando zonzo. Você tá me pondo doido. Agora vem com essa história de... de não saber quem é Diana... eu não entendo mais nada. E vou pedir a ajuda de alguém pra me explicá

MARIA DE LARA - Ajuda de quem?

JOÃO - Do Padre Bento.

MARIA DE LARA - Faz bem. Chame o Padre Bento... imediatamente. Preciso falar com alguém sensato... Vejo que o senhor não está em condições de me dizer nada... Vá que eu espero. Não estou entendendo nada. Parece que estou num outro mundo... onde as pessoas e as coisas são diferentes. Vá, eu lhe peço... vá buscar o Padre Bento!

JOÃO - Vem, Potira...

POTIRA - Ela pode precisá de mim.

MARIA DE LARA - Obrigada. Fico com Deus. Não preciso de nada.

Ajoelhando-se no centro da sala, a moça, com os olhos molhados e mãos postas, rezava a meia-voz. João e Potira, perplexos, saíram, deixando a porta da choupana entreaberta. Lá dentro, Maria de Lara seguia rezando, desligada do mundo.

FIM DO CAPÍTULO 18

Maria de Lara (Gloria Menezes) e João Coragem (Tarcísio Meira)

NÃO PERCA O CAPÍTULO 19 DE IRMÃOS CORAGEM!!!







segunda-feira, 7 de março de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 17



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 17

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

RITINHA
HERNANI
DUDA
DIANA
JOÃO
JERÔNIMO


CENA 1 - RIO DE JANEIRO - APARTAMENTO DE DUDA - INT. - DIA.

Ritinha fazia a limpeza do apartamento. Pano enrolado á cabeça, espanador na mão. A voz de Hernani roubou-a ás suas reflexões.

HERNANI - Sabe... você podia ser a futura miss Brasil!

RITINHA - (assustou-se) Eu?

HERNANI - Você mesma... tem uma carinha linda... e um corpinho de endoidar... Venceria de estalo. Deixaria as outras no chinelo.

RITINHA - (envaidecida com o galanteio) Tá brincando.

HERNANI - Não. Falo sério. Sonhei com você... e a vi numa passarela, com faixa e tudo... Estava de maiô azul. Linda. Linda de fazer inveja...

Hernani se aproximou ante o ar espantado da jovem. Arrancou-lhe o pano da cabeça. Com o espanador de penas negras, improvisou o cetro e com uma tira de pano rosa, preparou a faixa. Convidou, em seguida, a moça a desfilar de um lado para outro da sala. Passarela íntima. Incitava-a.

HERNANI - Venha. Caminhe... como uma rainha... majestosa.

Ritinha obedecia, embevecida.

HERNANI - Magnífica! Vou ser seu empresário. Vou tratar de te inscrever!

RITINHA - Mas... as misses não podem ser casadas.

HERNANI - Se você não diz... quem é que vai adivinhar? Pense nisso... pense bem, e resolva. Coloque seu futuro nas minhas mãos. A provinciana que venceu na cidade grande. A Miss Coroado. A futura Miss Brasil! Pense... pense bem, Ritinha... e depois me dê a sua resposta.

Hernani despediu-se. Ritinha correu ao quarto. Desnudou-se diante do espelho do guarda-roupa. Era mesmo bela. Vestiu o maiõ de cores discretas e, com o espanador-cetro, a tira-faixa e a coroa de pano, deixou-se sonhar, partir para o infinito dos devaneios, agarrada ás asas do irreal. Rita de Cássia – sem Coragem – Miss Brasil de mil novecentos e qualquer ano. Uma voz chamou Ritinha á realidade.

DUDA - (off) Ritinha! Ritinha!

Duda entrou no quarto, enrolado numa toalha, saído do banho.

DUDA - Depressa! Me ajude, Tenho que ir correndo pra concentração. Vamos ter um jogão no sábado.

RITINHA - (sonhava ainda) Duda... eu sou bonita?

DUDA - Ah, Ritinha... isso é hora de você fazer perguntas? Anda, vê minhas coisas!

A jovem retirava as roupas do armário, enquanto o marido trocava de vestimenta.

RITINHA - (arriscou a pergunta) Eduardo... você disse... ontem, que ia ver se endireitava as coisas. Será que endireitou?

Duda relembrou as palavras de Paula: “Você não pode se livrar de mim, assim como pensa... como um piparote, como um carrapicho que grudou na sua roupa. Não. Na situação em que estou, você não pode se descartar de mim...”

RITINHA - (insistente) Endireitou?

DUDA - Mais ou menos.

RITINHA - Entre nós não pode haver mais ou menos. Duda! Se você quiser... eu dou o fora de sua vida!

DUDA - Não. Eu não quero. Depois do jogo de sábado, a gente conversa.

RITINHA - (arriscou de novo) Eduardo, vou chamar Domingas pra ficar comigo. Eu não agüento mais ficar sozinha.

DUDA - Chame ninguém de Coroado. Não dá certo. Não quero ninguém aqui. Olha, estou atrasado!

Beijou rápido a esposa e saiu ás pressas.

DUDA - Tchau! Não telefone, nem me amole na concentração. Não dê vexame.

Ás últimas palavras, o rapaz já ia descendo as escadas, saltando degraus e cantando alegremente. Ritinha ainda correu á porta.

RITINHA - Duda! Esqueci de dizer que chamei Jerônimo.

Tinha sumido no caracol da escadaria. Rita dirigiu-se ligeiro á janela. Duda partira num carro.

RITINHA - Meu Deus! Jerônimo é capaz de brigar com o irmão, por minha causa.

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - CHOUPANA NA FLORESTA - INT. - DIA.

Diana observava o interior da pobre choupana de barro seco, taipa e sapê. Servira, noutros tempos, para armazenagem de material de garimpo. João, ás vezes, utilizava-a para um cochilo durante as horas de descanso, quando mais intenso se tornava o calor no campo de trabalho. Tudo o que ali se via, o pouco que não fôra consumido pelo tempo e pelos roedores, não dava para encher um saco de alguns quilos. Uma rêde de malha, em listras, com os punhos esgarçados; um fogareiro, garrafas vazias e um pequeno pote, com água fresca. Pendurado por um barbante grosso, um caneco de alumínio, amassado no fundo e nas bordas.

Diana contemplava o conjunto em desordem. Balançava-se indolente. Os ganchos rangiam na parede de barro batido. O tropel do cavalo despertou-a. João entrou.

DIANA - Pensei que me deixasse mofando aqui, hoje.

JOÃO - Trouxe comida pra você.

DIANA - É claro que estou com fome. Mas, quero saber o que é que você pretende com tudo isso.

JOÃO - Come!

Diana, esfaimada, atendeu á ordem.

DIANA - Bem, hoje vou dar o fora daqui, grandalhão. Já me encheu a paciência. Desde ontem você me tem como sua prisioneira.

O jovem Coragem ajoelhou-se diante da moça.

JOÃO - Você não é minha prisioneira... Eu quero te salvar...

DIANA - Salvar... mas salvar de que, João?

JOÃO - Do pecado. Quero salvar a mim mesmo. Eu chego aqui e... entro em pecado.

DIANA - Besteira! (T) E para que você me prende? Quer me transformar em freira, por acaso?

Ajoelhado ainda, João Coragem ouvia as perguntas da mulher.

JOÃO - (insistiu) Minha idéia... era pedir pra outra... pra filha de Pedro Barros... vir aqui... te dar uma lição de moral. Pra vê se você ficava igual a ela. Se conseguisse... eu me casava com você.

Diana gargalhou. Tomou a cabeça do rapaz entre as mãos, desgrenhando-lhe a cabeleira negra.

DIANA - Pedir pra filha de Pedro Barros me dar lição de moral! Esta é muito boa. ( continuava comendo, avidamente) E pediu?

JOÃO - Não... não tive coragem... de me aproximar da casa dela. Estive hoje, o dia inteiro, rondando a casa. Os criados me dissero que ela está no quarto... doente. Eu não tive coragem de pular a janela pra ir no quarto dela...

DIANA - (apreensiva) E fez muito bem. Olhe aqui, João: eu gosto de ser o que sou. Ninguém vai me mudar...

JOÃO - Quero que você tenha paciência... porque amanhã cedo... bem cedinho, mesmo, eu vou pedir ao Padre Bento pra vim te dá uns conselho.

DIANA - Não adianta! (com ar altivo) Nem o padre, nem o papa. Eu não mudo, João. Nem o próprio Deus vai me fazer ficar diferente!

JOÃO - Por que você não quer mudar de jeito?

DIANA - Simplesmente porque não quero. Custei a me livrar daquela prisão...

JOÃO - (sobressaltado) Prisão?

DIANA - É... prisão... num outro sentido. Agora que eu me libertei... não quero voltar. Estava até te esperando... só pra me despedir... porque, hoje, eu tenho de dar o fora. Vou continuar a minha vida... sem me prender a ninguém. Nem a você, que foi o cara mais legal que conheci até hoje. Mas eu gosto... de variar, me entende?

Diana acabara de comer. Levantou-se, empurrando a cabeça do rapaz, ternamente.

DIANA - Estou começando a achar que isto que existe... entre nós... está ficando muito sentimental...

João puxou-a para si e seus lábios colaram-se, mais uma vez, enquanto súbito relâmpago iluminava a escuridade ambiente. Jerônimo estava á porta. Á luz do flash registrara a cena que desejava. O Coronel Pedro Barros não perderia por esperar...

FIM DO CAPÍTULO 17
Ritinha (Regina Duarte)

NÃO PERCA O CAPÍTULO 18 DE IRMÃOS CORAGEM!!!