sexta-feira, 4 de março de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 16

Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 16

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

CEMA
JOÃO
DIANA
DUDA
RITINHA
HERNANI
PAULA
GENTIL PALHARES
PEDRO BARROS
DELEGADO FALCÃO



CENA 1 - COROADO - CASA DE BRAZ CANOEIRO - INT. - DIA.

Diana voltara a aparecer na choupana de Braz Canoeiro. Cema correra ao garimpo para avisar João Coragem. Aquilo já estava se tornando rotina, pensava a esposa do garimpeiro. Cema apontou para a rêde, de onde saíam duas pernas alvas e torneadas.

CEMA - Aí tá ela. Doida como sempre. Acho que desta vez tá até pior...

Diana notou a presença dos dois. Com as mãos em concha atirou para cima o feixe de cabelos alourados.

DIANA - Olá, grandalhão, como é que é? Tudo bem contigo?

João pediu a Cema que se afastasse. Queria conversar a sós com a jovem doidivanas.

JOÃO - E agora, como é que eu te chamo? Lara ou Diana?

DIANA - Vai encher, vai. Essa tua mania de me chamar por aquela outra cretina, já me encheu a paciência. E... qual é a bronca? Por que tanta raiva? Até que você estava legal comigo! Só porque eu desapareci com o dinheiro da sua mãe? Mas eu precisei dele... não ia sair de lá com a mão abanando...

JOÃO - Você provou o que é.

DIANA - O que que eu sou? Sou uma mulher sem freio. E você bem que soube aproveitar. Pra que vem agora com essa fita toda... Sai daqui, quadrado. Quadradão!

JOÃO - Eu pensei até em me casar com você... Fui vê o padre e tudo...

Diana sorria, como sempre, abusadamente.

JOÃO - Mas não era você...era a outra que eu queria.

Diana continuava rindo. Em escala cada vez maior.

DIANA - Prometo que rezo toda noite, um Padre Nosso e uma Ave Maria antes de deitar (falou em tom de caçoada) Mas, casa comigo, casa!

JOÃO - De você eu gostei... só porque se parece com ela.

DIANA - (irônica) Não diga, grandalhão! Não diga!

E aproximou-se, insinuante, do jovem rude.

DIANA - Tem certeza, absoluta? Então, me beije... só depois aceito sua resposta.

JOÃO - (evitando o contato com a moça) Se prepare. Vou te levar daqui.

DIANA - Pra igreja?

JOÃO - Não. Você não pode entrar numa igreja. Cheia de pecado, como é.

DIANA - Uhn... e você... vai me regenerar?

JOÃO - Vou te salvar.

Diana abraçou-o, ternamente.

DIANA - Antes de me salvar... a gente bem que pode... conversar mais um pouquinho... do pecado... da vida e da morte... do amor e do ódio.

João procurou desvencilhar-se dos braços da moça. Ela o agarrou mais fortemente, encostando os lábios no rosto dele. Dedos carinhosos alisaram-lhe a fronte.

DIANA - Gosto um bocado de você, grandalhão. Se não gostasse... não vinha de tão longe só pra te ver... Olha, eu vou te dizer uma coisa. Ela, aquela coitada, também está começando a gostar de você. Mas, ela luta pra não gostar...

JOÃO - Ela...

DIANA - A filha de Pedro Barros.

JOÃO - Falou com ela?

DIANA - Falo sempre...

JOÃO - Ela te confessou isso? Que tá gostando de mim?

DIANA - É... a cretina sente uma atração por você... mas reage. Pra ela você não serve. É um boçal. Foi ela mesma quem me disse.

JOÃO - Vamos embora.

DIANA - Espere aí... não disse tudo. Entre nós... não há diferença de educação. A gente é igual... e eu não me importo com essas coisas...

João empurrou-a brutalmente. Pegou duma correia pendurada na perede e amarrou o pulso da jovem ao dele, semelhantemente aos elos de uma algema. Diana sorria, sem dar importância ao ato grosseiro do rapaz.

JOÃO - Você, agora, não me escapa mais.

CORTA PARA:

CENA 2 - RIO DE JANEIRO - APARTAMENTO DE DUDA - INT. - DIA.


Eduardo regressou a casa no dia seguinte. Dia alto. Com as feições abatidas, olheiras arroxeadas e grandes manchas oleosas por toda a roupa.


DUDA - Estive desde ontem na concentração.

RITINHA - De novo? Depois do jogo, á noite?

DUDA - É, depois do jogo, também. Fausto Paiva costuma chamar todos os jogadores para comentar a partida e apontar as falhas. Isso acontece sempre. A gente dormiu lá.

RITINHA - E... a Paula?

DUDA - (aborrecido) Nâo enche de novo com a Paula!

RITINHA - Quando você saiu... ontem, ela estava te esperando. Eu vi.

DUDA - (embaraçado) Bem... eu aproveitei para passar aquela bronca! Disse tudo o que tinha a dizer. Foi até bom. Rompi mesmo, no duro, de uma vez!

Duda, intimamente, se julgava um canalha. A consciência o acusava pela ação indigna que cometera, pelo isolamento a que relegara a jovem esposa, desde as primeiras horas do casamento. As coisas efetivamente não andavam bem. Lembrou-se do perfume que havia comprado. Podia ser uma saída. Quem sabe, um presente?

DUDA - Ah, Ritinha. Me lembrei de você e lhe trouxe um presentinho. Vê se você gosta. É o perfume da moçada. Custa uma nota.

RITINHA - Não precisava... bastava que você tivesse se lembrado que eu estava sozinha... e voltado.

Com gesto carinhosos, Eduardo Coragem chamou a esposa a seus braços. Beijou-a.

DUDA - Estou aqui, não estou, amoreco? Pra que a zanga? Do mundo a gente não leva nada... gostou? Também ataco de filósofo, quando quero. (e meigo) Me dá um beijo, Rita, e acabe com essa carinha feia...

Ritinha retribuiu o beijo do marido.

CORTA PARA:

CENA 3 - RIO DE JANEIRO - PRÉDIO DO APTO. DE DUDA - PORTARIA - INT. - DIA.

Alguns pingos de chuva tamborilavam sobre o tapete do portão de entrada do edifício. Hernani conteve a irmã por alguns segundos.

HERNANI - Onde você pensa que vai, Paula?

PAULA - Que é que você acha?

HERNANI - Deixa o casal em paz. Não esteve com o Duda até agora? O que quer mais?

PAULA - Me esqueci de um troço que comprei com ele. Vou pegar, senão ela pensa que é dela.

HERNANI - Você quer estragar tudo? (segurava o pulso da irmã, impedindo-a de subir ao apartamento de Eduardo) Ou será que você está levando a sério esse romance?

Paula deu-lhe as costas e premiu o botão do elevador.

CORTA PARA:


CENA 4 - APARTAMENTO DE DUDA - QUARTO - INT. - DIA.


Havia silencio no apartamento. Ritinha e Duda descobriam-se, mutuamente, como marido e mulher. A campainha soou. A moça deixou a maciez da cama. Lá fora a chuva ganhava intensidade.


CENA 5 - APTO. DE DUDA - SALA - INT. - DIA.

A campainha tornou a soar. Rita abriu a porta.

RITINHA - Quê que você quer?

PAULA - Vim rapidamente. Estive fazendo compras com o Duda hoje de manhã... e ele trouxe meu perfume por engano. Vim buscá-lo. ( estendeu a mão) Quer me dar, por favor?

Rita olhou para dentro da casa com ira. Seus olhos buscavam o marido. “Mentiroso...” – pensava.

PAULA - Avant La Fête... é o perfume da moçada.

CORTA PARA:

CENA 6 - COROADO - RUA - EXT. - DIA.


Durante a esticada do casebre de Braz ao hotel do Gentil, Diana deixou-se, languidamente, cair sobre o peito forte de João Coragem. Sentia-lhe o odor másculo, a rijeza dos músculos, a segurança dos movimentos. Nem sentia o trote ás vezes duro do alazão. A proximidade do rapaz fazia seu sangue ferver. Ao passar por uma pequena multidão, João parou o cavalo e tirou o chapéu, fazendo o sinal da cruz.


CORTA PARA:

CENA 7 - COROADO - PENSÃO DE GENTIL PALHARES - INT. - DIA.

João e Diana entraram na Pensão. Gentil se achava desolado.


GENTIL PALHARES - Ai, meu Deus, quanta desgraça!

JOÃO - Quem morreu? Vi um enterro com gente, pra burro.

GENTIL PALHARES - Oh, homem, está no mundo da lua? Pois não foi o senhor prefeito, o seu Jorginho! Foi assassinado, ontem, em plena praça!

JOÃO - Jorginho! Meu Deus do Céu, Coroado tá virando uma cidade perigosa... Ontem, Braz Canoeiro, quase assassinado! Hoje, Jorginho prefeito. E amanhã, quem vai sê?

GENTIL PALHARES - Estou dizendo, João! Estou dizendo!

O hoteleiro não havia notado a presença de Diana. Olhou-a agora, aterrorizado.

GENTIL PALHARES - Esta mulher, de novo! O que ela veio fazer aqui?

DIANA - Vim cantar um fado, portuga!

Pedro Barros apareceu á porta. Aproximou-se, lentamente, de Diana. De costas a moça nada pressentia.

PEDRO BARROS - Soube que minha filha Lara está aqui. Vim do enterro pra ver se é verdade.

João correu em socorro da moça.

JOÃO - Lhe informaro errado. Esta não é sua filha.

PEDRO BARROS - Lara?

Diana não se voltou. Permaneceu de costas para o coronel do garimpo. Atirou-lhe a resposta por entre dentes.

DIANA - Já ando cheia de me confundirem com aquela zinha. Desguia, velho, desguia e vai procurar tua filha na igreja.

PEDRO BARROS - (atordoado) Que foi que ela disse?

DIANA - (virou-se irritada, olhar de fera) Vai procurar tua filha na igreja. A cretina não faz outra coisa senão rezar. Sabe pra quê? Pra compensar diante de Deus os teus pecados!

PEDRO BARROS - (sem acreditar no que ouvia) Minha filha... eu não tou te entendendo bem...

DIANA - Não sou sua filha. Já disse que estou cheia dessa confusão!

PEDRO BARROS - (dirigiu-se a João Coragem) O que foi que você fez com ela?

JOÃO - Eu? Nada. Essa daí é outra. Pelo menos é o que ela diz. Que não é sua filha.

Barros fixou o rosto da jovem. Examinou seu corpo, suas mãos.

PEDRO BARROS - Mas... como, como é possível! Será que eu tou ficando louco?

DIANA - É bem capaz. (Bateu com o copo sobre a madeira do balcão. Gentil olhava, paralisado) Ei, portuga, veja outra dose daí, dessa porcaria que queima...

PEDRO BARROS - Você nunca bebeu!

Tentou retirar o copo de suas mãos. Ela afastou-se rápida.

DIANA - Como é? Não se ouve música nessa pinóia? Só se canta o fado, é, portuga?

Pedro Barros chegara no auge do espanto.

PEDRO BARROS - Deus do céu! Deus do céu!

JOÃO - É bom o senhor ir pro enterro. Eu cuido dela.

PEDRO BARROS - (irado) Foi você, patife, que fez ela ficar assim?

Gentil interferiu, para explicar a Pedro Barros o que vinha acontecendo:

GENTIL PALHARES - Seu coronel... o João não tem culpa disso. Esta mulher apareceu por aqui, assim, e João nem a conhecia.

PEDRO BARROS - Mas... vocês estão vendo? Esta mulher não pode ser outra! É minha filha!

Passos apressados indicaram que alguém vinha entrando no hotel. Era o delegado Falcão.

DELEGADO FALCÃO - Seu coronel, sua presença está fazendo falta. O enterro já chegou ao cemitério.

PEDRO BARROS - Falcão... tou meio zonzo... Aquela moça... diz que não é minha filha.

Falcão aproximou-se de Diana, lento, mastigando o palito que jamais deixava de mover entre os dentes.

DELEGADO FALCÃO - É, seu coronel. Essa daí não é mesmo a Senhorita Lara. Conheço muito ela. É uma doida que apareceu por aqui, um dia destes. Furtou a caixa da igreja, ficou presa e tudo o mais...

PEDRO BARROS - Mas como? Isso é impossível!


FIM DO CAPÍTULO 16

Gentil Palhares (Artur Costa Filho) e Diana (Glória Menezes)

NÃO PERCA O CAPÍTULO 17 DE IRMÃOS CORAGEM!!!

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