quarta-feira, 2 de março de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 15



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 15

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DUDA
NECA
FAUSTO PAIVA
RITINHA
DALVA
MARIA DE LARA
ESTELA
PAULA
HERNANI
CARMEN VALÉRIA
PLAYBOY
JOGADORES DO FLAMENGO


CENA 1 - RIO DE JANEIRO - SEDE DO FLAMENGO - CONCENTRAÇÃO - INT. - DIA


Aquela hora os jogadores descansavam, alguns deitados em poltronas ou sofás, outros estendidos no chão, gozando da umidade doentia do cimento. Duda, alheio ás conversas, parecia perdido em seus pensamentos. Neca sentou-se ao seu lado.

NECA - Alguma informação da tua mulher?

DUDA - Nada, rapaz.

NECA - Ela não ligou pra ti?

DUDA - Não. Acho que tudo está bem por lá. Senão já tinha dado sinal de vida. E depois... que adianta eu me preocupar? Não posso fazer nada, não é?

NECA - O melhor é a gente se desligar de vez dos galhos lá de fora. Mulher é assim mesmo, rapaz. A gente casa, a gente compra amolação. Se não gostasse tanto da Carmen, não agüentava ela, não.


Fausto Paiva interrompeu a sesta dos rapazes.

FAUSTO PAIVA - Hora de dormir, rapazes!

Em grupos de dois os jogadores seguiram para o dormitório. Silenciosos. Cabisbaixos.

CORTA PARA:

CENA 2 - RIO DE JANEIRO - HOTEL GLÓRIA - SAGUÃO - INT. - DIA.

Durante o incidente com o chefe do hotel, o rapaz de cabelos longos e roupa moderna – medalhão caindo sobre o peito, não tirara os olhos de Ritinha. Ouvira a conversa e a conclusão do gerente: “Duda não é casado”. As últimas palavras ainda soavam em seus ouvidos, encadeando idéias. O rapaz elaborava um plano. Aproximou-se da moça.

PLAYBOY - Pra que toda essa tristeza, garota? Não vejo drama na sua história.

RITINHA - Estou... perdida no Rio de Janeiro. Não sei onde moro.

PLAYBOY - Amnésia?

RITINHA - Não. Burrice mesmo. Esqueci de tomar nota do endereço do apartamento do meu marido. Sou uma tonta, sabe?

PLAYBOY - Mas, vem cá... seu marido não é o Duda, do Flamengo?

RITINHA - É! Conhece ele?


PLAYBOY - Se conheço! Ele é legal comigo!

RITINHA - É mesmo? Por acaso sabe onde ele mora?

PLAYBOY - Sei onde mora, onde se diverte, onde nasceu, o que faz, o que come! Conheço tudo sobre a vida dele.

RITINHA - (sorria de satisfação) Então pode me dar o endereço dele?


PLAYBOY - Faço mais. Levo você até lá.

RITINHA - Ah, que bom! Ainda bem que a gente encontra amizade em todo canto. Espera aí. Vou pagar minha conta. Não quero voltar mais aqui. Sabe? A sorte sempre chega na horinha certa...

Saem ambos. O rapaz segurando as malas. A moça ajeitando os longos cabelos negros.

RITINHA - Puxa! Como tudo aqui é diferente da minha terra!

PLAYBOY - Sua terra?

RITINHA - Coroado.

Um táxi parou ao aceno do rapaz. Entraram ambos.

PLAYBOY - Copacabana!

O rosto de Ritinha, colado ao vidro lateral do carro, revelava a admiração que lhe proporcionava a cidade gigante. Os anúncios corriam como um rolo de celulóide colorido. Os postes gigantescos, as vitrines dos grandes magazins, os viadutos, o túnel, a igrejinha de Santa Terezinha, a saída para o mar. Ritinha deslumbrava-se com o panorama do Rio á noite. Esqueceu até mesmo do rapaz que a acompanhava e de sua excessiva proximidade.

O carro parou diante da boate.

CORTA PARA:

CENA 3 - RIO DE JANEIRO - BOATE - INT. - NOITE.

Lá dentro a música envolvia por completo o ambiente. Os pares que giravam entonteceram Ritinha. Tentou fugir. Os braços do rapaz a envolviam, qual tenazes. Quis gritar, os lábios do playboy não permitiam. Sentiu que flutuava no espaço. Que tudo escurecia repentinamente. Que o mundo e a vida se apagavam.

CORTA PARA:

CENA 4 - COROADO - FAZENDA DE BARROS - QUARTO DE LARA - INT. - DIA.

Maria de Lara, agachada, procurava algo desesperadamente quando a tia Dalva entrou na dependência.

DALVA - Que está fazendo, Lara?

MARIA DE LARA - Quero encontrar o espelho quebrado que feriu minha perna...

DALVA - Por que se preocupa com isso? Não se recorda como se feriu? Claro que não pode. Você perdeu os sentidos. Mas eu vi, e a socorri imediatamente!

MARIA DE LARA - Então, onde está o espelho quebrado?

Dalva deu alguns passos até o armário. Mostrou o espelho quebrado. Rachado no centro e esfacelado nas laterais da moldura.

DALVA - Está aqui. Não se lembra? Você estava deitada... a dor de cabeça quase a cegava... levantou-se, tonta... abriu o armário... O espelho caiu aos seus pés. Você se abaixou para apanhá-lo... perdeu os sentidos sobre ele... e não sei como... mas ele a cortou. Quando cheguei, logo em seguida... encontrei você, ferida... Isso foi tudo. Lembra-se, agora?

Lara retirou a atadura da perna. Estela acabara de entrar no quarto. Ouvira as explicações da cunhada.

ESTELA - Que horror! Mais parece uma queimadura!

Lara imobilizou-se com as palavras da mãe.

MARIA DE LARA - Queimadura!

DALVA - (nervosa) Claro... o espelho não cortou fundo... só raspou. Ficou essa impressão de queimadura.


Uma sombra de dúvida começava a obscurecer o espírito de Maria de Lara.

MARIA DE LARA - Já não tenho certeza de nada... João Coragem, na igreja, falou de uma queimadura... de uma queimadura. E agora, minha mãe fala a mesma coisa!

CORTA PARA:

CENA 5 - RIO DE JANEIRO - ESTÁDIO DO MARACANÃ - INT. - DIA.

Pela primeira vez, Ritinha assistia a um jogo de futebol. O Maracanã lhe parecia uma loucura. Inundado de gente. A seu lado a torcida organizada do Mengo. Surdos, tamborins, cuícas, agogôs. Gritos. Passos de ginga. O eco descomunal que acompanhou o gol do Flamengo, foi para a moça qualquer coisa de irreal. Parecera-lhe que toda aquela multidão recebera, de uma só vez, terrível ferroada de milhares de marimbondos – um salto só, um grito em uníssono. E o delírio.

Rita via Duda. Torcia por ele. Ansiava tocá-lo.

As rampas de acesso formigavam de gente. O Flamengo ganhara e a cidade estava em festas. Ritinha observava a massa a deslocar-se. Seu pensamento em Duda. Tinha de alcançar o portão de saída dos jogadores. Só assim encontraria chance de falar ao marido.

CORTA PARA:

CENA 6 - MARACANÃ - EXT. - TARDINHA.

Ritinha conseguira chegar ao grande portão. Lá estava Duda, rodeado de torcedores frenéticos. Tentava ingressar no ônibus especial do clube. Rita forçava passagem. A onda humana atirava-a para trás. Nova tentativa. Súbito, alguém abraçou e beijou o jovem ídolo do futebol. Os olhos de Ritinha não queriam acreditar. O beijo se estendia, interminável, diante de milhares de olhos. Reconhecera a moça que retinha seu marido nos braços: Carmen Valéria. Rita imobilizou-se, enquanto Duda se ajeitava nos bancos confortáveis do coletivo.

CENA 7 - MARACANÃ - SEQUENCIA - EXT. - ANOITECENDO.

No Estádio vazio o vento brincava de levantar papéis. Ritinha sentara-se num banco do jardim. Hernani despertou-a da meditação. Era um dos sócios do marido, na partilha do apartamento.

HERNANI - Ritinha! Ritinha!

A voz assustara-a. Quem poderia reconhecê-la, áquela hora, naquele lugar?

HERNANI - Que custo para te encontrar! Foi uma sorte um sujeito do estádio avisar: tem uma maluquinha ali, no jardim, que não quer ir embora.

Ritinha olhou para o rapaz. Tristonha. Descrente.

HERNANI - Desde ontem que estou á tua procura. Vamos, eu te levo em casa.

CORTA PARA:

CENA 8 - APARTAMENTO DE DUDA - INT. - NOITE.

Hernani e Ritinha chegaram ao apartamento e encontraram as luzes acesas, o som de música moderna e a presença de uma mulher.

CARMEN - Graças a Deus! Por onde você andou, menina? Um dia inteiro te procurando!

Ritinha evitou o abraço da outra. Lembrava-se dela – esposa do jogador do segundo time.

CARMEN - O que é que ela tem?

RITINHA - (irônica) Já acabou a brincadeira? Já se divertiram bastante ás custas da caipirinha? Quem foi que ganhou a aposta? Andem. Respondam... (esperou alguns segundos) Uai, não apostaram... pra ver quem enganava mais a idiota do interior?

CARMEN - Bem... eu não tenho nada com isto...

HERNANI - Ela já sabe de tudo, Carmen. Estava no estádio. Paula também. E... você conhece o gênio da minha irmã...


RITINHA - (com ódio no olhar e nas expressões do rosto) Você, então, é a Carmen. Carmen Valéria. E deu seu lugar pra outra? Quanto ganhou com isso?

CARMEN - Espera lá... Não ganhei nada. Eu tentei explicar, Ritinha. Ela chegou antes de mim... não pude fazer nada. Você já havia acreditado nela. Fiquei numa sinuca sem saber o que fazer. Mas estou aqui, desde ontem, tentando desfazer este engano. Me doeu na consciência.

A porta se abriu e Neca e Duda entraram sorridentes.

CARMEN - (atirou-se nos braços do marido) Meu nego, puxa vida, que saudades!

Rita evitava os olhos de Eduardo. Falou, dirigindo-se a todos.

RITINHA - Será que vocês querem fazer o favor de me deixar sozinha com meu marido?

DUDA - Gente... vão indo, vão. Depois a gente se fala.

Hernani ao sair explicou ao amigo.

HERNANI - Se não fosse buscá-la no estádio, ela não saberia voltar para casa. Olha aí, Duda, ela estava desaparecida desde ontem. Tchau!

As últimas palavras do companheiro despertaram a curiosidade do rapaz.

DUDA - Que papelão é esse? Que negócio de desaparecida?

RITINHA - (esforçando-se para não chorar) Foi ela... a tal de Paula... a sua noiva, que arranjou tudo isso. Foi me buscar no hotel, disse que era Carmen. Confiei nela. Ela disse que eu podia ir na concentração... me fez passar por aquele vexame. Nunca passei tanta vergonha na minha vida!


DUDA - Aquela safada! Ajusto contas com ela, sujeitinha ordinária! Mas você não podia ter vindo pra casa, em vez de ir pro hotel?

RITINHA - Eu não sabia o endereço. Me perdi. Me perdi, Duda.

O esforço fôra demasiado. Ritinha não se conteve mais e os soluços a dominaram por completo.

DUDA - Não chore, vá... Ninguém esperava que isso acontecesse. Vem cá!

Puxou a esposa para si, abraçando-a. Rita aconchegou-se ao peito do marido.

DUDA - Você não fez bobagem nenhuma, não?

RITINHA - Não... porque eu fugi. Mas, um sujeito me enganou e me levou num clube... uma boate. Eu passei mal e o tal moço me levou pro hotel.

DUDA - Me perdoe, Ritinha... Eu falei pra você como é a vida de jogador de futebol... sempre controlado em tudo...

RITINHA - E aquela mulher... Paula... eu vi quando ela te abraçou e beijou na saída do Maracanã!

DUDA - Você precisa entender... o caso com Paula é anterior á decisão quase forçada do nosso casamento. Isso merece melhor compreensão sua, Rita.

RITINHA - Compreender e aceitar esta situação? Você continuar com ela e comigo? Mas isso é humilhante!

DUDA - Você não tem direito nenhum de fazer exigências, Ritinha.

RITINHA - Sou sua mulher! Se não tenho direito... o que é que eu estou fazendo aqui?

DUDA - (explodiu) Eu te avisei, não avisei? Se estiver achando ruim, pode dar o fora! Amanhã mesmo, pode pegar o primeiro ônibus e voltar para Coroado.

Pegou no paletó e dirigiu-se á porta do apartamento.

RITINHA - Aonde você vai?

DUDA - Uns amigos... estão me esperando... eu volto daqui a pouco.

Duda saiu. Ritinha correu para a janela.

CORTA PARA:

CENA 9 - RIO DE JANEIRO - APTO. DE DUDA. - EXT. - NOITE.

Do alto da janela Ritinha avistou a outra. O fusca gêlo estacionado próximo á entrada do prédio. Paula beijou o rapaz e, abraçados, entraram no carro.

CORTA PARA:

CENA 10 - APTO. DE DUDA - INT. - NOITE.

Rita jogou-se de bruços sobre a cama, dominada pela exaustão. As lágrimas banhavam-lhe a face marcando pontinhos úmidos na brancura do lençol.




FIM DO CAPÍTULO 15 Ritinha (Regina Duarte) e Duda (Claudio Marzo)

NÃO PERCA O CAPÍTULO 16 DE IRMÃOS CORAGEM!!!






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