segunda-feira, 7 de março de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 17



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 17

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

RITINHA
HERNANI
DUDA
DIANA
JOÃO
JERÔNIMO


CENA 1 - RIO DE JANEIRO - APARTAMENTO DE DUDA - INT. - DIA.

Ritinha fazia a limpeza do apartamento. Pano enrolado á cabeça, espanador na mão. A voz de Hernani roubou-a ás suas reflexões.

HERNANI - Sabe... você podia ser a futura miss Brasil!

RITINHA - (assustou-se) Eu?

HERNANI - Você mesma... tem uma carinha linda... e um corpinho de endoidar... Venceria de estalo. Deixaria as outras no chinelo.

RITINHA - (envaidecida com o galanteio) Tá brincando.

HERNANI - Não. Falo sério. Sonhei com você... e a vi numa passarela, com faixa e tudo... Estava de maiô azul. Linda. Linda de fazer inveja...

Hernani se aproximou ante o ar espantado da jovem. Arrancou-lhe o pano da cabeça. Com o espanador de penas negras, improvisou o cetro e com uma tira de pano rosa, preparou a faixa. Convidou, em seguida, a moça a desfilar de um lado para outro da sala. Passarela íntima. Incitava-a.

HERNANI - Venha. Caminhe... como uma rainha... majestosa.

Ritinha obedecia, embevecida.

HERNANI - Magnífica! Vou ser seu empresário. Vou tratar de te inscrever!

RITINHA - Mas... as misses não podem ser casadas.

HERNANI - Se você não diz... quem é que vai adivinhar? Pense nisso... pense bem, e resolva. Coloque seu futuro nas minhas mãos. A provinciana que venceu na cidade grande. A Miss Coroado. A futura Miss Brasil! Pense... pense bem, Ritinha... e depois me dê a sua resposta.

Hernani despediu-se. Ritinha correu ao quarto. Desnudou-se diante do espelho do guarda-roupa. Era mesmo bela. Vestiu o maiõ de cores discretas e, com o espanador-cetro, a tira-faixa e a coroa de pano, deixou-se sonhar, partir para o infinito dos devaneios, agarrada ás asas do irreal. Rita de Cássia – sem Coragem – Miss Brasil de mil novecentos e qualquer ano. Uma voz chamou Ritinha á realidade.

DUDA - (off) Ritinha! Ritinha!

Duda entrou no quarto, enrolado numa toalha, saído do banho.

DUDA - Depressa! Me ajude, Tenho que ir correndo pra concentração. Vamos ter um jogão no sábado.

RITINHA - (sonhava ainda) Duda... eu sou bonita?

DUDA - Ah, Ritinha... isso é hora de você fazer perguntas? Anda, vê minhas coisas!

A jovem retirava as roupas do armário, enquanto o marido trocava de vestimenta.

RITINHA - (arriscou a pergunta) Eduardo... você disse... ontem, que ia ver se endireitava as coisas. Será que endireitou?

Duda relembrou as palavras de Paula: “Você não pode se livrar de mim, assim como pensa... como um piparote, como um carrapicho que grudou na sua roupa. Não. Na situação em que estou, você não pode se descartar de mim...”

RITINHA - (insistente) Endireitou?

DUDA - Mais ou menos.

RITINHA - Entre nós não pode haver mais ou menos. Duda! Se você quiser... eu dou o fora de sua vida!

DUDA - Não. Eu não quero. Depois do jogo de sábado, a gente conversa.

RITINHA - (arriscou de novo) Eduardo, vou chamar Domingas pra ficar comigo. Eu não agüento mais ficar sozinha.

DUDA - Chame ninguém de Coroado. Não dá certo. Não quero ninguém aqui. Olha, estou atrasado!

Beijou rápido a esposa e saiu ás pressas.

DUDA - Tchau! Não telefone, nem me amole na concentração. Não dê vexame.

Ás últimas palavras, o rapaz já ia descendo as escadas, saltando degraus e cantando alegremente. Ritinha ainda correu á porta.

RITINHA - Duda! Esqueci de dizer que chamei Jerônimo.

Tinha sumido no caracol da escadaria. Rita dirigiu-se ligeiro á janela. Duda partira num carro.

RITINHA - Meu Deus! Jerônimo é capaz de brigar com o irmão, por minha causa.

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - CHOUPANA NA FLORESTA - INT. - DIA.

Diana observava o interior da pobre choupana de barro seco, taipa e sapê. Servira, noutros tempos, para armazenagem de material de garimpo. João, ás vezes, utilizava-a para um cochilo durante as horas de descanso, quando mais intenso se tornava o calor no campo de trabalho. Tudo o que ali se via, o pouco que não fôra consumido pelo tempo e pelos roedores, não dava para encher um saco de alguns quilos. Uma rêde de malha, em listras, com os punhos esgarçados; um fogareiro, garrafas vazias e um pequeno pote, com água fresca. Pendurado por um barbante grosso, um caneco de alumínio, amassado no fundo e nas bordas.

Diana contemplava o conjunto em desordem. Balançava-se indolente. Os ganchos rangiam na parede de barro batido. O tropel do cavalo despertou-a. João entrou.

DIANA - Pensei que me deixasse mofando aqui, hoje.

JOÃO - Trouxe comida pra você.

DIANA - É claro que estou com fome. Mas, quero saber o que é que você pretende com tudo isso.

JOÃO - Come!

Diana, esfaimada, atendeu á ordem.

DIANA - Bem, hoje vou dar o fora daqui, grandalhão. Já me encheu a paciência. Desde ontem você me tem como sua prisioneira.

O jovem Coragem ajoelhou-se diante da moça.

JOÃO - Você não é minha prisioneira... Eu quero te salvar...

DIANA - Salvar... mas salvar de que, João?

JOÃO - Do pecado. Quero salvar a mim mesmo. Eu chego aqui e... entro em pecado.

DIANA - Besteira! (T) E para que você me prende? Quer me transformar em freira, por acaso?

Ajoelhado ainda, João Coragem ouvia as perguntas da mulher.

JOÃO - (insistiu) Minha idéia... era pedir pra outra... pra filha de Pedro Barros... vir aqui... te dar uma lição de moral. Pra vê se você ficava igual a ela. Se conseguisse... eu me casava com você.

Diana gargalhou. Tomou a cabeça do rapaz entre as mãos, desgrenhando-lhe a cabeleira negra.

DIANA - Pedir pra filha de Pedro Barros me dar lição de moral! Esta é muito boa. ( continuava comendo, avidamente) E pediu?

JOÃO - Não... não tive coragem... de me aproximar da casa dela. Estive hoje, o dia inteiro, rondando a casa. Os criados me dissero que ela está no quarto... doente. Eu não tive coragem de pular a janela pra ir no quarto dela...

DIANA - (apreensiva) E fez muito bem. Olhe aqui, João: eu gosto de ser o que sou. Ninguém vai me mudar...

JOÃO - Quero que você tenha paciência... porque amanhã cedo... bem cedinho, mesmo, eu vou pedir ao Padre Bento pra vim te dá uns conselho.

DIANA - Não adianta! (com ar altivo) Nem o padre, nem o papa. Eu não mudo, João. Nem o próprio Deus vai me fazer ficar diferente!

JOÃO - Por que você não quer mudar de jeito?

DIANA - Simplesmente porque não quero. Custei a me livrar daquela prisão...

JOÃO - (sobressaltado) Prisão?

DIANA - É... prisão... num outro sentido. Agora que eu me libertei... não quero voltar. Estava até te esperando... só pra me despedir... porque, hoje, eu tenho de dar o fora. Vou continuar a minha vida... sem me prender a ninguém. Nem a você, que foi o cara mais legal que conheci até hoje. Mas eu gosto... de variar, me entende?

Diana acabara de comer. Levantou-se, empurrando a cabeça do rapaz, ternamente.

DIANA - Estou começando a achar que isto que existe... entre nós... está ficando muito sentimental...

João puxou-a para si e seus lábios colaram-se, mais uma vez, enquanto súbito relâmpago iluminava a escuridade ambiente. Jerônimo estava á porta. Á luz do flash registrara a cena que desejava. O Coronel Pedro Barros não perderia por esperar...

FIM DO CAPÍTULO 17
Ritinha (Regina Duarte)

NÃO PERCA O CAPÍTULO 18 DE IRMÃOS CORAGEM!!!

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