terça-feira, 1 de março de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 14



Roteirizado por Antonio Figueira

do original de Janete Clair

CAPÍTULO 14

PERSONAGENS DESTE CAPÍTULO:

JOÃO CORAGEM

DALVA

JUCA CIPÓ

RITINHA

MARIA DE LARA

PEDRO BARROS

DELEGADO FALCÃO

GERENTE DO HOTEL


CENA 1 - COROADO - IGREJA - INT. - DIA

João Coragem rezava diante do altar da Virgem. Era seu hábito procurar o silencio da casa de Cristo nas horas em que, atormentado por algum problema, não encontrava nas coisas terrenas solução ou saída. Rezava com fervor, desligado do mundo. Nem sequer notou as duas mulheres que se sentaram a um dos cantos da igreja. Dalva e Maria de Lara benzeram-se. A tia lembrou-se de falar ao Padre Bento.

DALVA - Lara, fique aqui. Vou falar com o padre Bento e volto já.

João acabara as orações. Viu Lara sozinha a poucos passos. As atitudes da moça – Lara ou Diana – já não o surpreendiam tanto. Aproximou-se.

JOÃO - Diana.

Lara não ergueu os olhos.

JOÃO - (insistiu) -Diana... por que faz isso comigo?

MARIA DE LARA - (voltou-se para o rapaz) O senhor de novo, Senhor João Coragem?

JOÃO - Você quer me dar uma explicação, pelo amor de Deus?

MARIA DE LARA - Eu não sei do que o senhor está falando.

JOÃO - Você... você é Maria de Lara... ou é Diana?

MARIA DE LARA - Sou Maria de Lara. A explicação para essa confusão que o senhor está fazendo comigo, é que existe outra moça, com esse nome de Diana, que se parece muito comigo.

JOÃO - Outra? Então... é outra?

MARIA DE LARA - Estou desolada, seu João. Essa criatura faz coisas horríveis, comete atos indignos, rouba, briga, insulta... e talvez... outras coisas piores... que me envergonham... só em pensar. ( E, baixando a cabeça, tímida) Estou desesperada, mesmo. O senhor nem imagina quanto. Peço que me ajude a desfazer esta confusão.

JOÃO - (atônito) Ajudar!

MARIA DE LARA - É. Ajudar. Fale com ela... se a encontrar novamente. Diga que eu preciso vê-la... preciso orientá-la. Coitada! Deve ser tão infeliz!

João não tirava os olhos de um ponto no corpo da jovem. Lembrava-se da queimadura provocada pela água fervente que caíra sobre a perna de Diana, na noite em que a levara para casa. Lara estava ferida no mesmo lugar!

JOÃO - Vendo a senhora falar... a gente tem certeza que ela é outra.

MARIA DE LARA - Nunca duvide disso, seu João.

JOÃO - Mas quando eu vejo... que a senhora... tem um ferimento... no mesmo lugar em que ela se feriu...

MARIA DE LARA - (assustou-se) Como?

joão - Que foi isso na sua perna?

MARIA DE LARA - (olhou para a perna enfaixada) -Isso? Ah, sim... foi hoje de manhã... ou foi ontem de manhã? Não sei... ás vezes eu fico um pouco atordoada... é que sinto esta dor de cabeça. Mas, espere... foi hoje... hoje, mesmo. Eu estava no quarto.

Dalva retornava da sacristia. Lara buscou salvação na presença da tia.

MARIA DE LARA - Titia, isso na minha perna... como foi?

DALVA Um ferimento, hoje de manhã. O espelho do guarda-roupa que quebrou. Por quê?

MARIA DE LARA - Ah, sim, o espelho... é mesmo. Eu estava explicando ao senhor João Coragem... a origem de toda essa confusão. A outra mulher que se parece comigo. Ele disse que ela tem um ferimento como eu.

Dalva não escondia o menosprezo que votava á família Coragem. As conversas sucessivas entre a sobrinha e o garimpeiro – jovem, belo, mas pobre e de família detestada pelo irmão, Pedro Barros – tornavam-na irritadiça, nervosa.

DALVA - Quando é que o senhor vai deixar minha sobrinha em paz? Será que toda vez que nos encontramos é preciso nova explicação?

JOÃO - Eu não tenho culpa...


MARIA DE LARA - E por que insiste em falar comigo?

JOÃO - É que... eu e aquela outra mulher... a gente... quero dizer... a gente se gosta... a gente se gosta muito. Eu tou quase ficando doido por causa dela... Dona Lara.

As duas – tia e sobrinha – deixaram a igreja. João voltou os olhos para a imagem da Virgem. O rosto da santa confundindo-se com um outro rosto diabólico. No meio da visão, a lembrança de uma perna enfaixada – de Lara ou de Diana? O jovem não podia compreender o fato de tanta coincidência. Mesmo rosto, mesmo ferimento – apenas duas personalidades diametralmente diferentes. Um dia haveria de descobrir tudo.

CENA 2 - COROADO - IGREJA - EXT. - DIA.

Juca Cipó passeava de um lado para outro, diante da igrejinha. Figura hedionda, detestada pela população de Coroado, que nele via a mão assassina do Coronel Pedro Barros. Juca se benzia, ajoelhado no chão.

JUCA CIPÓ - Que Deus Nosso Sinhô me ajude! Que Deus Nosso Sinhô me livre de todo mal! Bala do inimigo e de tudo quanto é praga. Que Deus Nosso Sinhô me ajude...

O coronel viu o ajuntamento. Correu até o local.

PEDRO BARROS - Que é que você veio fazer aqui?

JUCA CIPÓ - Tenho uma coisa pra lhe dizê, meu patrão... (e sério) É uma coisa que eu acabo de saber, na feira da Praça.

PEDRO BARROS - Desembucha, home, e deixa de tanta preparação.

JUCA CIPÓ - Meu patrão, o Coragem tá pensando que vai ser o presidente da Associação dos Garimpeiros.

PEDRO BARROS - (estremeceu) Isso é hora de brincadeira?

JUCA CIPÓ - Quem falou, não brincou. O seu Doutor Rodrigo é que meteu na cabeça dele.

PEDRO BARROS - Qual dos Coragens?

JUCA CIPÓ - O mais moço, o Jeromo.

Pedro Barros atirou, com raiva, o charuto a distancia. Virou-se para o Delegado Falcão.

PEDRO BARROS - Como é que deixou acontecer uma coisa destas? É coisa certa, mesmo?

O delegado, terno branco, palito dançando entre os lábios – confirmou a novidade.

DELEGADO FALCÃO - Mais do que certo, coronel. No Hotel do Gentil já estão até preparando uma festa, pra essa noite. Vão festejar a decisão do Jerônimo.

PEDRO BARROS - Eu não disse? (explodiu) Tinha que acabar com a raça maldita desse promotor. E agora?

DELEGADO FALCÃO - Agora é abrir luta ferrada com eles. A gente não pode facilitar. Agora, é guerra.

CORTA PARA:

CENA 3 - RIO DE JANEIRO - HOTEL GLÓRIA - EXT. - DIA

Fachada do Hotel Glória. Um taxi pára, Ritinha desce e dirige-se á portaria, ar desanimado, segurando a pequena mala.


CORTA PARA:

CENA 4 - RIO DE JANEIRO - EXT. - NOITE.

Imagens da noite invadindo a grande cidade. Luzes multicoloridas pintavam o Rio com o brilho dos luminosos.


CENA 5 - HOTEL GLÓRIA - APTO. DE DUDA - INT. - NOITE.

Ritinha pegou o telefone e comunicou-se com a portaria do hotel.

RITINHA - O senhor podia telefonar de novo pra esse tal de clube? Eu mando chamar ele.

GERENTE - Pois não. Antes, permita-me avisá-la de que amanhã, bem cedo, preciso do apartamento onde a senhora está alojada.

RITINHA - Sim, senhor. Faça o favor de ligar pra mim.

CORTE PARA:

CENA 4 - SEDE DO FLAMENGO - INT. - NOITE.

O telefone tilintou na sede do clube. Fausto Paiva atendeu.

FAUSTO PAIVA - Alô! É, é aqui mesmo. Com quem quer falar? Duda? Não pode atender. Está dormindo. Mulher dele? E o que me importa? Nem que fosse a mãe dele. Agora não posso chamar, mais. Podia ter ligado há meia hora. Ele falava. Agora é impossível. A menos que a mulher dele esteja morrendo. É este o caso? Não? Então, não amole. Mande essa guria esperar até amanhã, de noite. Como enche! Boa noite!

Bateu o fone, com raiva, no gancho.

CORTA PARA:

CENA 5 - HOTEL GLÓRIA - SAGUÃO - INT. - NOITE

O gerente comunicou o incidente a Ritinha. A moça sentou-se numa poltrona, no saguão de entrada do luxuoso hotel. Pessoas entravam e saíam.


RITINHA - (insistiu)Seu gerente!

GERENTE - Ás suas ordens.

RITINHA - O senhor tem alguma resposta pra mim?

GERENTE - Resposta?

RITINHA - Sou a mulher do jogador de futebol. Perdi o endereço de minha casa... Estou neste hotel, desde hoje, cedo... porque não sei pra onde ir...

GERENTE - Ah, sim. O seu marido está na concentração do Flamengo. Vai jogar amanhã.

RITINHA - É Eduardo... o Duda! O senhor ficou de ver se me arrumava o endereço da minha casa. Lembra?

GERENTE - Exatamente. Tive todo o interesse em resolver o seu caso. Telefonei para a sede do clube. Do Flamengo. E tenho uma resposta.

RITINHA - Falou com meu marido? Sabe onde eu moro?

GERENTE - Não falei com seu marido. Do clube me disseram que o jogador Duda não é casado. Desculpe, mas volto a lembrá-la que amanhã vamos precisar do seu apartamento pela manhã.

FIM DO CAPÍTULO 14

Juca Cipó (Emiliano Queiroz)

NAO PERCA O CAPÍTULO 15 DE IRMÃOS CORAGEM!!!

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