sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 13

Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair


CAPÍTULO 13


CENA 1 - COROADO - ASSOCIAÇÃO DOS GARIMPEIROS - INT. - DIA.

Em Coroado, o promotor Rodrigo comentava o fim da gestão do Presidente da Associação dos Garimpeiros.

RODRIGO - Quem vai ser o novo presidente?

GARIMPEIRO - Quem escolhe são os garimpeiros. Mas os coitados são obrigados a escolher aquele que Pedro Barros quiser. Sabe como é. Pra essa pouca-vergonha de exploração continuar...

Rodrigo ouvia atento.

GARIMPEIRO - Olha, eu lhe digo. Um dos Coragens é que devia ir pro lugar do Maneco. Só assim a gente derrubava o Pedro Barros...

RODRIGO - (pensativo) Talvez fosse mesmo a saída para o impasse!

Rodrigo pôs o paletó e saiu apressado.

CORTA PARA:

CENA 2 - GARIMPO DE JOÃO CORAGEM - EXT. - DIA.

RODRIGO - Alô, João. Quero te dar duas palavrinhas. Pode vir até aqui?

João se impacientou. Não gostava de ser interrompido quando estava no garimpo.

JOÃO - Diabo de gente que agora vem atrapalhar o trabalho!

Rodrigo, sorrindo, sentou-se numa pedra enquanto João depositava a peneira em cima do mato rasteiro.

RODRIGO - Sabe o que é, companheiro. Eu me preocupo com a próxima escolha do presidente da Associação dos Garimpeiros. Acho que é uma oportunidade de vocês elegerem um homem que defenda os interesses de vocês e não os de Pedro Barros. Você ou seu irmão podem ser esse homem.

Estava lançada a isca. João balançou a cabeça, negativamente.

RODRIGO - (insistiu) Você pode fazer muito por sua gente, pelos seus garimpeiros. Pode realizar seus velhos sonhos... melhorar a condição de vida deles... pode fazer um trabalho de esclarecimento junto a esses homens, mostrando a eles os seus direitos e o valor daquilo que acham. Vocês podem terminar com o jugo do seu maior inimigo, o Pedro Barros.

O jovem Coragem levantou-se, abriu os braços num ângulo de 180 graus e, mostrando o garimpo, disse ao promotor.

JOÃO - Minha esperança toda tá ali. Se eu bamburro... se acho pedra boa... um diamante pra valer... faço tudo isso que o senhor me disse. Preciso só de dinheiro. Dou emprego pra muita gente e boto máquina no garimpo. Largando isso... eu não faço nada por ninguém. Não, seu doutor, o cargo não me atrai.

RODRIGO - (sem se dar por vencido) E o seu irmão? Ele também tem boa fama.

JOÃO - Meu irmão é dono da vida dele.

RODRIGO - Vou falar com ele. Onde está?

JOÃO - Em casa, eu acho.

CORTA PARA:

CENA 3 - RANCHO CORAGEM - COZINHA - INT. - DIA.

Jerônimo estava chegando do garimpo, ainda sujo de barro, com os cabelos desgrenhados e as botas cobertas de lama. Foi direto ao pote de água, na cozinha. A sêde era muita depois de horas e horas ao sol do rio. Não se deu conta de Potira, que o esperava, fumando, perna estendida sobre uma cadeira. O rapaz assustou-se ao deparar com a cena, a ponto de se engasgar com a água fresca.


POTIRA - (rindo) Que é isso, Jerome?

Aproximou-se do rapaz, imitando os trejeitos mundanos de Diana.

POTIRA - Tudo legal?

JERÔNIMO - (escandalizado) Tá doente, índia?

POTIRA - Nada disso. Tou morando na minha filosofia.

JERÔNIMO - Sua quê?

POTIRA - As filosofia da vida. Sabe qual é a minha? Rir, correr, ser livre... amar, quando quero.

Enlaçou o pescoço do rapaz.

POTIRA - Me livrar de tudo que angustia... fazer o que der na telha... pôr a alma pra fora... dizer o que sinto. Beijar quando tenho vontade...

As últimas palavras da índia misturaram-se ao beijo desesperado que uniu os seus lábios aos de Jerônimo. Espantado, surpreso com a atitude da irmã-de-criação, Jerônimo se entregou aos apelos da jovem. Ao fundo da sala, dois olhos assistiam a toda a cena: Sinhana. A velha mãe dos garimpeiros se afastou, procurando o sossego do fundo do quintal. Jerônimo reagiu após os primeiros instantes de excitação e com gestos grosseiros, bateu violentamente no rosto de Potira.

POTIRA - Jerome, chega! Chega!

JERÔNIMO - Sua... sua... doida!

Potira soluçava, cabeça caída ao peito.

JERÔNIMO - Desavergonhada! Precisa tomá vergonha nessa cara!

CORTA PARA:

CENA 4 - RIO DE JANEIRO - SEDE DO FLAMENGO - EXT. - DIA.

O táxi estacionou diante da sede do Flamengo. Homens de short, sandálias ao pé, toalhas enroladas no pescoço, transitavam no interior do edifício. Vez por outra, um jornalista era visto tomando apontamentos, enquanto outros batiam fotografias. Paula virou-se para Ritinha.


PAULA - Pode descer. É aqui.

RITINHA - Não vem comigo?

PAULA - Não. Não devo. Vá você. Boa sorte.

A jovem, pegando da pequena mala, desceu do táxi.

RITINHA - Obrigada, Carmen. Ah...

PAULA - Que foi?

RITINHA - Acho que me esqueci da camisola de dormir.

PAULA - Teu marido te empresta um pijama.

O táxi largou rápido, enquanto Ritinha entrava na sede do clube.

CORTA PARA:

CENA 5 - SEDE DO FLAMENGO - PORTARIA - INT. - DIA.

Fausto Paiva, o técnico, apareceu na portaria. Homem rude, desprovido de maneiras humanas, foi logo “atacando”:


FAUSTO PAIVA - Que é que há? Que é que está havendo aí?

PORTEIRO - Essa dona aí, seu Fausto. Tá querendo falar com o Duda. Disse que veio pra ficar com ele.

FAUSTO PAIVA - Ficar ou falar com ele?

RITINHA - É, com o Eduardo.

PORTEIRO - (visivelmente nervoso) Eu disse a ela que não pode entrar. Ela está insistindo. Não quer entender.

FAUSTO PAIVA - Moça, o Duda está em concentração.

RITINHA - Mas... eu sou mulher dele. Será que não posso ver meu marido?

FAUSTO PAIVA - Marido? Que historia é esta? Escute, minha filha, que golpe é esse que você está querendo dar?

Ritinha quase chorava. A voz se embargava na garganta.

RITINHA - Não quero dar golpe nenhum. Estou dizendo a verdade. Eu me casei com ele. Sou mulher dele.

FAUSTO PAIVA - Ora, menina, vê se toma vergonha, vai andando, vai. (E virando-se para o porteiro) Jarbas! Bota essa vigarista daqui pra fora!

O porteiro, pegando a jovem pelo braço, forçava sua retirada do clube.

RITINHA - (esbravejando) O que o senhor está pensando? Eu não sou quem o senhor está imaginando... Vim aqui... porque me disseram que eu podia ficar com ele.

FAUSTO PAIVA - Então você não sabe que jogador concentrado não pode receber mulher? Mulher da sua laia, então...!

O técnico estava lívido de raiva. Punhos fechados em atitude ameaçadora.

FAUSTO PAIVA - Vamos, desguia. Dê o fora. Ande, ande! Essas vigaristas...

Ritinha, chorando, deixou a sede do Flamengo. Fausto Paiva calou um palavrão e retornou ao interior das dependências.

CORTA PARA:

CENA 6 - SEDE DO FLAMENGO - SALA DE RECREAÇÃO - INT. - DIA.

Alguns jogadores relaxavam em frente á TV, enquanto outros jogavam cartas ou simplesmente cochilavam no enorme e confortável sofá branco.

FAUSTO PAIVA - (entrando no recinto) Olha aí, Duda. Uma sujeitinha chegou agora, na portaria, querendo falar com você. Dizia que era sua mulher. E veja só, a imbecil trouxe uma malinha, tipo da roça, e disse que ia ficar com você. Tem cada uma...

DUDA - Minha mulher?

Os jogadores riram.

JOGADOR 1 - Ficar com ele? Essa e boa!

JOGADOR 2 - Está pensando que isto aqui é hotel...

DUDA - (empalidecendo) Minha Nossa Senhora! Deve ter sido a Ritinha.

FAUSTO PAIVA - Disse que é sua mulher.

DUDA - (confirmou, raivoso) Mas é minha mulher!

Todos os olhos se voltaram para ele, espantados. Fausto Paiva acercou-se do jogador e fez a pergunta:

FAUSTO PAIVA - Você casou, Duda?

DUDA - Casei. Esqueci de avisar o senhor, seu Fausto! Me deixe ir falar com ela. Ver se encontro ela por aí.

FAUSTO PAIVA - Absolutamente. Daqui você não sai. ( e, irritado) - Isto é concentração ou parque de diversão? Mais respeito, minha gente! Mais respeito!

CORTA PARA:

CENA 7 - GÁVEA - RUA - EXT. - DIA.

Ritinha perambulava pelas imediações do clube. Não conhecia ninguém. Estava ás vésperas do desespero. Procurou um táxi.

TAXISTA - Pra onde, moça?

RITINHA - Eu... eu não sei! Eu não sei!

O carro rolava, maciamente. Pela janela estreita, Rita de Cássia via afastar-se a sede imensa. O mundo parecia ruir. Ritinha sentia o mundo esmagar seu frágil corpo. Para onde ir? O táxi se perdia em retas e curvas furando o bloqueio do tráfego a caminho do nada. Ritinha estava perdida na cidade grande.

FIM DO CAPÍTULO 13

Ritinha (Regina Duarte) e Duda (Claudio Marzo)

NÃO PERCA O CAPÍTULO 14 DE IRMÃOS CORAGEM!!!

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