sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 6

Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair


CAPÍTULO 6


CENA 1 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - EXT. - NOITE.

Na fazenda de Pedro Barros, Maria de Lara acabava de desmontar do cavalo. Cabelos alvoroçados, rosto corado.

JUCA CIPÓ - (dirigindo-se á moça) Dona Maria de Lara. Tá todo mundo desde onte... feito doido procurando pela senhora. Até o delegado Falcão tá no seu encalço.

MARIA DE LARA - (evitando olhar a cara do assassino) Mande entregar este cavalo ao dono. É um tal de João e é garimpeiro.

JUCA CIPÓ - (com raiva) Será o João Coragem?

Lara já tinha entrado em casa. A pergunta do capanga de Pedro Barros se perdeu no silencio da madrugada.

CORTA PARA:

CENA 2 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - PORTEIRA - EXT. DIA.

O sol já enchia de luz o verde dos campos quando um cavaleiro se aproximou do portão da fazenda. Era João Coragem. Das imediações do curral, onde orientava o trabalho de ordenha, Lourenço divisou o jovem e partiu, receoso, em sua direção.

LOURENÇO - Que quer aqui, João?

JOÃO - Queria dar duas palavrinhas com seu coronel Pedro Barros.

LOURENÇO - Veio comprar briga?

JOÃO - Não, vim em missão de paz.

LOURENÇO - (abrindo a porteira, desconfiado) Tá bem, entra...

JOÃO - Aproveito, também, pra sabê se... se meu cavalo alazão tá por aqui. Se a moça que me roubou ele, mora aqui. Uma moça bonita, fina... que não tem cara de ladrona.

CORTA PARA:

CENA 3 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - SEQUENCIA - EXT. - DIA.

Do alto da escada, Lara e Pedro Barros assistiam á chegada do irmão Coragem. Lara tentou descer em direção ao homem que lhe prestara auxílio na estrada deserta. Pedro Barros segurou-a fortemente, por detrás.

PEDRO BARROS - Vá pro seu quarto, menina.

MARIA DE LARA - (desafiadora) Quero falar com o moço, e não é o senhor quem vai me impedir.

PEDRO BARROS - (apertando mais o braço da filha) Num quero você metida com essa gente.

MARIA DE LARA - Por quê? Tem medo que eu descubra o que o senhor faz com eles?

PEDRO BARROS - Depois a gente conversa. Anda. Vá pro seu quarto, se não quer me fazer perder a paciência.

MARIA DE LARA - Vai fazer comigo... o mesmo que fez com Braz Canoeiro?

PEDRO BARROS - Obedece e não amola!

CORTA PARA:

CENA 4 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - INT. - SEQUENCIA - DIA.

Barros empurrou a filha até a porta de seu quarto enquanto João e Lourenço penetravam na sala da casa grande. A figura estranha de Pedro Barros destacava-se na moldura da escadaria. Charuto na boca, Barros descia lentamente, tentando aparentar uma calma que, na verdade, não possuía.
Lourenço se aproximou do chefe e cochichou ao seu ouvido, deixando em seguida a sala. João, impassível, assistia á cena.

PEDRO BARROS - Que é que você quer, João?

JOÃO - Bom dia, meu coronel, como está passando?

PEDRO BARROS - Bem, muito bem, com a graça de Deus. Vá dizendo logo o que tem a me dizer.

O coronel sentou-se a um canto da sala. João permaneceu de pé.

JOÃO - Vim pra conversá feito gente... pra pôr o senhor em dia com os acontecimentos de Coroado. Tem acontecido tanta coisa ruim em seu nome, que eu acho que o senhor deve de ignorar pelo menos a metade.

PEDRO BARROS - Que é que você quer dizer com esse palavreado todo?

JOÃO - Que tou aqui pra ver se desperto dentro do senhor... êsse sentimento de caridade... pela pessoa humana. Porque o que tá acontecendo aqui, é coisa que revolta até mesmo um santo. É barbaridade. É desumanidade. E eu não acredito que meu coronel esteja de acordo.

PEDRO BARROS - (mostrando-se inocente) Eu... eu não sei que acontecimentos são esses. Não sei do que você está falando.

JOÃO - (decidido) Tou falando das maldades que fizeram com o pobre do Braz Canoeiro.

PEDRO BARROS - (gritando) É um ladrão de diamantes!

JOÃO - Tou aqui pra lhe jurá... pra lhe dá minha palavra de honra, de como Braz Canoeiro tá inocente.

PEDRO BARROS - Não se meta naquilo que não é da sua conta. Me deixe trabalhar em paz.

João sentia a ira aumentar a cada palavra do coronel. Suas feições estavam transtornadas. Face dura.

PEDRO BARROS - Não posso fazer nada pelo Braz Canoeiro. Não sei o que você quer que se faça por um ladrão.

JOÃO - Vim apelá... pra seu sentimento de justiça... o home ta muito ferido... com a surra que seus home dero nele. Ta necessitando de socorro médico. A gente aqui em Coroado num tem recurso, nenhum hospital. Mas na cidade mais próxima, tem. Vim lhe pedir pro senhor mandá levar o pobre home pra lá.

PEDRO BARROS - (impiedoso) Ora, eu não tenho essa obrigação. Se está muito condoído da sorte dele, leve você. Eu não vou socorrer ladrão de diamante.
João deu alguns passos pela sala.

JOÃO - (secamente) Não vou lhe tomar mais tempo, seu coronel. Só queria lhe dizê que... vou ser obrigado a pedir auxílio pras autoridades... pra poder internar o Braz num hospital. E, pedindo auxílio... vou ter de dar queixa do castigo que dero nele. Isso pode não ser bão pro senhor.

PEDRO BARROS -- (levantou-se, colérico) -Pois dê a queixa! Faça o que quiser. Eu não tenho medo de nada. Quero que você e o Braz vão pro inferno! E fique sabendo que, nesta terra, quem faz a lei sou eu!

João deu as costas e saiu rápido da sala.

CORTA PARA:

CENA 5 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - SALA - INT. - DIA.

Na cidade de Coroado só se falava no baile em homenagem ao Duda. A cidadezinha se vestia de alegria com a presença do filho famoso. Na casa de Maciel, o médico do lugar, eternamente embriagado, Ritinha e Domingas conversavam.

RITINHA - Não diga que estou engordando, que eu te esgano! Eu vou ao baile do Duda. Também se o bandido não me reconhecer, nunca mais olho pra cara dele. Risco ele da minha vida.

DOMINGAS - (aconselhando) É melhó riscá desde já, Rita. Olha, tão dizendo umas coisa por aí. Chegô uma mulher da cidade, no mesmo trem que ele. Se hospedô na pensão do Gentil Palhares, uma mulher meio da misteriosa... tão dizendo que é mulhé dele. E mais, que tem jeito de mulhé-dama...

RITINHA - (recriminando) Domingas! Duda não é casado. Se fosse, Sinhana, mãe dele, não ia saber?

DOMINGAS - Uai... pra ter mulher, não precisa sê casado...

CORTA PARA:

CENA 6 - COROADO - SALÃO DA PREFEITURA - INT. - NOITE.

O cheiro do churrasco, da carne assada na brasa, enchia o salão da prefeitura de Coroado, engalanado para o baile em homenagem a Eduardo Coragem. Barris de chope amontoavam-se a um canto e um conjunto regional animava a festa. Os pares dançavam no estilo roceiro das cidadezinhas do interior. Simplicidade em tudo. Nas cadeiras rústicas que envolviam o salão, matronas e solteironas comentavam a vida dos presentes. De repente o delegado Falcão correu para a porta. Duda chegava, seguido da comitiva que não o largava desde o instante em que pisara na cidade.

DELEGADO FALCÃO - (saudando) Oh, mas aí está o rei da festa! – saudou o delegado.

PREFEITO JORGINHO - Seja bem-vindo! Esta é a nossa prefeitura, enfeitada pra receber o orgulho de nossa cidade.

Duda agradeceu, olhando detidamente as pessoas que se movimentavam no grande salão. Divisou Sinhana sentada numa das cadeiras de pista. Partiu em direção á mãe, rodeado de admiradores. Ritinha procurava a oportunidade de falar com Eduardo. Era coisa que não lhe saía da cabeça, desde que tomou conhecimento da visita que ele faria a Coroado. Mas agora, ao lado de Sinhana, procurava fugir á presença do jovem.

SINHANA - (retendo-a pela mão) Fica aí, menina.

RITINHA - Não quero passar vergonha.

DUDA - (alcançando a mãe) Olá, mãe... com quem a senhora veio?

SINHANA - (respondeu, perguntando) Tu não se lembra aqui desta moça, Duda?

DUDA - Desculpe, não tou lembrado não.

SINHANA - (sem se dar por vencida) Olha bem, Duda. ( E virando-se para a moça) Sorri para ele, menina. Eu acho que o sorriso dela ocê não pode ter se esquecido. Vai se lembrá de todo um passado... um passado que tá muito ligado a esse sorriso...

Duda fixou os olhos no rosto da jovem. Rebuscou a memória. Nada.

DUDA - Meu Deus, me perdoe, mas eu não sei quem é.

De repente Ritinha levantou a cabeça, olhou nos olhos de Duda e sorriu meigamente para ele.

DUDA - (empalidecendo) Jesus! Ou estou ficando doido... ou essa é a... a Rita de Cássia! A Ritinha!

Ritinha sorriu-chorando, mesclando a alegria com as lágrimas da emoção que lhe tomava a alma. Duda a reconhecera. Num instante o rapaz abraçava a amiga de infância, levantando-a no colo, esquecendo-se por completo das pessoas que observavam a cena. Rita de Cássia ria mais. E chorava mais...

A festa varava a madrugada.

CORTA PARA:

CENA 7 - COROADO - DELEGACIA - INT. - NOITE.

As dependências rústicas da cadeia de Coroado traduziam a realidade da região. Pobreza em tudo. Até na vida sem diversões ou interesses. Coroado, zona rica em pedras preciosas, nada oferecia á sua população humilde. Ao longe ouvia-se o ruído do baile da prefeitura. Três homens conversavam. João Coragem, Rodrigo, o novo promotor, e o negro Braz Canoeiro.

RODRIGO - É este o homem?

JOÃO - É este, seu doutô promotor... trouxe aqui pro senhor vê... e mais o seu doutô delegado Diogo Falcão.

RODRIGO - Falcão está no baile, mas já mandei chamá-lo.

Rodrigo voltou-se para Braz Canoeiro, sentado no banco central da sala. O negro mostrou-lhe os ferimentos por todo o corpo.

RODRIGO - Então, meu amigo, o que foi isso?

BRAZ CANOEIRO - Quisero me mandá pro outro mundo, seu doutô.

JOÃO - (esclarecendo) Dero purga nele e depois a sova brava. Veja aí, ta todo ferido.

RODRIGO - (espremendo os olhos, horrorizado) Uma desumanidade! É aquilo mesmo que eu lhe disse, João. Isto precisa ter um fim.

O delegado Falcão chegava, enraivecido, acompanhado pelo cabo do grupamento policial da cidade.

DELEGADO FALCÃO - Isto é um desafôro. Me arrancar do baile a uma hora destas, para tomar conhecimento de uma queixa!

RODRIGO - (severo) Fui eu que lhe mandei chamar, Falcão.

DELEGADO FALCÃO - (mudando de atitude) Seu Doutor Rodrigo César, eu... não sabia... tinham me falado num negro doente...

RODRIGO - Êste homem foi vítima de uma violência, Falcão. Quero que você registre a queixa.

Falcão mostrava-se indeciso, lembrando-se das ordens do coronel. Eram claras: “não registre a queixa, se quiser continuar mandando em Coroado”.

DELEGADO FALCÃO - Sim, é justo, mas não é este o garimpeiro que roubou um diamante de Pedro Barros? Tenho já a denúncia contra ele... o senhor devia era mandar prender ele, não defender, seu doutor...

RODRIGO - Mesmo que este homem fosse um ladrão, Pedro Barros não tem o direito de espancar ninguém. Exijo que você registre a queixa e que abra inquérito para apurar a violência de que foi vítima este homem.

DELEGADO FALCÃO - (com ira nos olhos, preencheu o documento exigido pelo Promotor Rodrigo César) Tá certo... vou fazer o que o senhor está mandando, seu doutor.


FIM DO CAPÍTULO 6


Maria de Lara, João Coragem e Pedro Barros

NÃO PERCA, NA PRÓXIMA SEGUNDA, O CAPÍTULO 7 DE IRMÃOS CORAGEM

Um comentário:

  1. maxximotv.blogspot.com, proponho parceria, a webnovela jogo da vida não volta? eu estava lendo tudo, amando e bem na hora que as das foram conversar vc's pararam!

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