quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 8

Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair


CAPÍTULO 8

CENA 1 - COROADO - IGREJA - INT. - DIA.

Na igreja do Padre Bento reuniam-se João, Duda, Jerônimo e o vigário.

DUDA - Mas... o que está havendo?

JOÃO - A gente quer que ocê, meu irmão, tome uma atitude de homem no caso da Ritinha.

DUDA - Se eu não tivesse respeitado ela. Mas não houve nada, João. Coisa de louco.

JERÔNIMO - O nome dela caiu na boca do povo. Isso não é nada, Duda?

JOÃO - A gente não quer forçá, mas ocê não vai perder nada se casando com ela. É uma boa moça e gosta de você.

A voz viera da porta de entrada da igreja. Ninguém notara a presença estranha. Todos voltaram-se ao mesmo tempo.

PAULA - Mas ele não pode casar com ninguém. Diga a eles, Duda, que você não pode se casar com essa moça.

DUDA - (grosseiro) Cale a boca, Paula. Eu me defendo e não é preciso que você diga nada.

JOÃO - (sério) Mas agora eu quero sabê.

PAULA - Eu e Duda somos... somos noivos. Estamos de casamento marcado.

JOÃO - (sem se dar por vencido) Tão de casamento marcado, mas não tão de papel passado. Sinto muito, dona, mas a senhora acaba de perder um noivo.

PAULA - Está de acordo com isso, Duda?

DUDA - Ei! Esperem aí! De acordo coisa nenhuma. Quem decide a minha vida sou eu.

Mudo até aquele instante, Padre Bento sentiu a ameaça da explosão, diante dos rumos tomados pela conversa.

PADRE BENTO - Meus filhos...respeitem a casa de Deus.

Duda, acompanhado de Paula, deixou o recinto do templo. João e Jerônimo permaneceram ao lado do Padre.

JOÃO - Esse idiota vai dar pano pra manga... pros nosso inimigo zombar de nós. Eu, João Coragem, você, Jerônimo... O pai e a mãe... nossa família que tem fama de justiceira, de gente boa, sem mancha... a gente que só pensa em acabar com a maldade desta terra... que temos a nosso favor a confiança de todo o povo, vamos ser arrasado por causa de um erro do nosso irmão.

PADRE BENTO - Ele tem razão, Jerônimo. Nesta terra, quem lutar contra o Coronel Pedro Barros tem que ter a honra inatacável.

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - DELEGACIA - INT. - DIA.

A estranha ladra de Coroado dormia serenamente na cela da cadeia local. Fôra apanhada roubando dinheiro da caixa da Igreja. Esperava a visita de João Coragem, a quem dissera conhecer e mandara chamar, logo que fôra levada á delegacia. João entrou, abruptamente, na sala do delegado. Falcão virou-se, atento.

DELEGADO FALCÃO - Olá, João. Aí está ela. Conhece?

DIANA - Olá, meu amigão. Me tira daqui que eu juro que não se arrepende.

DELEGADO FALCÃO - Seu irmão trouxe ela. Viu roubar todo o dinheiro da caixa da igreja. Conhece ela?

O espanto do rapaz se traduzia na expressão do rosto. Boquiaberto. Pasmo.

JOÃO - Claro que eu conheço. Tira ela daqui. Eu me responsabilizo por ela.

DELEGADO FALCÃO - (atônito) Juro que não entendo mais nada. Pensei que fosse a filha do seu Pedro Barros.

João olhou espantado para a autoridade policial. E para a moça que saía calmamente do interior da cela.

JOÃO - Filha dele?

DELEGADO FALCÃO - Graças a Deus que não é. Ficou provado que não é. Telefonei e a moça estava lá. Por Deus, nunca vi duas pessoas se parecerem tanto.

DIANA - (aproximando-se do rapaz) Então. Bonitão. Muito obrigada. Você é bacana pra burro.

JOÃO - (agarrando-a pelo braço) Onde pensa que vai?

DIANA - Cuidar da minha vida!

JOÃO - Tá enganada. Agora sou responsável por você. Você vem comigo.

Ela tentou desvencilhar-se das mãos fortes do mancebo.

DIANA - Você não é meu dono! Não me comprou!

A moça subiu a garupa do cavalo de João Coragem e o rapaz fez o animal galopar. Riam alegres. Durante alguns minutos atravessaram as ruas da pequena cidade, sob os olhos curiosos da população. Pouco depois ganharam o campo, num galope firme, decidido. Homem e mulher se confundindo com a natureza.

CORTA PARA:

CENA 3 - CASA DO RANCHO CORAGEM - INT. - DIA.

Duda procurava as malas e algumas roupas trazidas do Rio, para a estada no rancho da família. Entrou no quarto dos irmãos. Deparou com Ritinha, sentada ao fundo, dobrando algumas peças do seu vestuário.

DUDA - Oi... você está aí?

RITINHA - Tava te esperando, Duda.

DUDA - Pra que tava me esperando?

RITINHA - Pra te dizer o quanto lamento tudo o que está acontecendo com a gente. E pra lhe dizer também... que não quero te forçar a nada. Não quero que se case comigo obrigado. Mesmo porque não tem graça, não é? Você se casar sem gostar.

Eduardo se sentou na cama e forçou a moça a fazer o mesmo.

DUDA - Não. Não é esse o problema, Ritinha. O caso... é que não tenho condições de me casar nem com você... nem com ninguém. A minha vida é dura... é dura, viu? Uma vida sem parada. Hoje eu estou aqui, amanhã posso estar em São Paulo, Recife. Não é vida que a gente possa se dedicar a uma mulher. Não é a vida que mulher nenhuma deseje ter.

RITINHA - (abraçou-o com ternura) Duda. Se fosse só isso... eu te digo: estou disposta a enfrentar qualquer coisa. Disposta a me sacrificar por você, a passar a vida esperando por você... mas eu quero ser sua mulher. Mas o caso, Duda, eu sei... é que você não gosta de mim.

DUDA - Gostar, eu gosto, mas não é como você merece, Rita.

Rita de Cássia sentia que o sonho de sua vida poderia transformar-se em realidade. Bastava um pouco mais de estímulo para que tudo pudesse dar certo.

RITINHA - Se gosta um pouquinho, Duda, case comigo. Me leve com você... Eu não quero forçar, é claro. Mas gostaria tanto de partir com você. Desejo tanto ser sua mulher.

As feições de Eduardo traduziam o conflito que lhe ia n'alma.

DUDA - Eu sinto... mas não dá pé, Ritinha. Não tem jeito não.

Saiu apressadamente, com a mala segura pela mão. A velha Sinhana interveio, surgindo do fundo da casa.

SINHANA - Onde vai?

DUDA - Embora pro Rio, mãe. Aluguei um táxi que vai me levar de volta amanhã cedo.

SINHANA - Teu pai quer te dizer duas palavras.

DUDA - O que é, mãe?

SINHANA - Isso que você vai fazer, filho, não é próprio de gente de bem.

DUDA - Eu não quero ouvir mais nada.

SINHANA - Vem. O pai te espera.

CORTA PARA:

CENA 4 - ESTRADA Á MARGEM DO RIACHO - EXT. - FIM DE TARDE.

Já próximo á choupana de Braz Canoeiro, João e a desconhecida beijaram-se ardentemente sobre a cela do cavalo. A moça saltou, lépida e, correndo pela margem do riacho, arrancou uma planta, atirando-a ao rosto do rapaz. Ele, perseguindo-a, conseguiu alcançá-la e, derrubando-a. a abraçou.

JOÃO - Sabe, moça, nunca vi ninguém como você.

DIANA - Nunca viu mulher?

JOÃO - Mulher, já. Não do seu jeito.

DIANA - E o que é que tem meu jeito?

JOÃO - Ocê tem cara de santa, mas... parece um demônio. Um demônio de tentação... de fogo...

O apelo era forte demais. Os braços de João Coragem envolviam o delicado corpo da moça. Seus lábios se uniram num desejo mútuo.

CORTA PARA:

CENA 5 - CHOUPANA DE BRAZ CANOEIRO - EXT. - NOITE.

Cema surgiu á porta da choupana, deparando com a cena amorosa. João percebeu a presença da mulher de Braz Canoeiro.

JOÃO - Vem cá, Cema. Eu trouxe essa moça pra ocê olhar pra ela. Olha bem pra cara dela. Veja se não é a mesma que roubou meu cavalo?

CEMA - Parecer, se parece muito. Só que a outra... não vi sorrir nenhuma só vez, Jão.

João pediu a Cema para hospedar a desconhecida por algum tempo no pobre casebre do garimpeiro.

CEMA - Pode, Jão. Tenho confiança em ocê.

JOÃO - O caso é que eu não tenho nela...

CEMA - Ocê fica á vontade. Amanhã... de manhãzinha eu tou de volta com meu Braz.

Cema saiu, trouxa á cabeça, deixando o rapaz no meio do terreiro, imerso em pensamentos. A voz da moça acordou-o das reflexões.

DIANA - Ei, João Coragem, vem ou não vem?

Amarrou o cavalo no tronco de uma árvore e, desajeitado, entrou apressadamente na choupana de Braz.

CORTA PARA:

CENA 6 - CHOUPANA DE BRAZ CANOEIRO - INT. - NOITE.

O diálogo foi breve.

DIANA - Eu quero ser sua. Você não me comprou? Sim... a fiança... não foi meu preço?

JOÃO - Não vê que isso não pode ser. Cê tem que ter alguém que cuide de sua vida. Não pode ter vindo de qualquer lugar.

DIANA - E vim.

JOÃO - De onde?

DIANA - De uma cidade que você não conhece. Longe daqui. Mas eu acho que isso agora não tem grande importância.

JOÃO - Não tem?

DIANA - Porquê eu agora sou sua.

João observou a moça, espantado com a ousadia de suas palavras.

DIANA - Ou... você não me quer?

JOÃO - Escute aqui... você é doida? Fugiu de algum manicômio?

Encarando o olhar do rapaz, a moça principiou um sorriso até alcançar a intensidade de uma gargalhada.

JOÃO - Eu nem sei o seu nome!

DIANA - Diana. Diana Lemos.

A noite avançava. O silencio quebrado apenas pelo tritinar dos grilos na beira do riacho. Diana e João dormiam.


FIM DO CAPÍTULO 8


NÃO PERCA O CAPÍTULO 9 DE IRMÃOS CORAGEM

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