sábado, 12 de fevereiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 9

Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 9

CENA 1 - RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.

Duda e o pai, Sebastião, ouviam atentamente as ponderações do promotor, Dr. Rodrigo Cesar.

RODRIGO - Bem, Duda, sua recusa em casar com Ritinha poderá trazer sérias implicações para todos voces. Há luta aberta entre a família Coragem e o grupo do coronel Pedro Barros. Luta de morte. E com a atitude que voce tomou, não aceitando limpar o nome da moça, quem sofrerá as consequencias? Claro que a família. Voce estará longe, no Rio, cheio de glórias. (fez uma pausa e continuou) Pedro Barros está usando você para desmoralizar seus irmãos. Se você não se casar com essa moça, a cidade inteira vai ficar revoltada. Não só contra você, mas também contra sua família. Isso vai enfraquecer nossa luta, entende?

DUDA - Acho que estou começando a entender. Mas, que diabo, eu não fiz nada. Dou minha palavra. Isso tudo é injusto. Se o senhor está aqui pra fazer justiça, deve começar por me defender dessa calúnia.

RODRIGO - Entenda, Duda. Numa cidade pequena, como esta, seu procedimento é indefensável. Para o povo daqui, cheio de preconceitos, o simples fato dessa moça ter passado uma noite fora de casa é o suficiente para desonrá-la.

Duda fixou os olhos do pai. De Sinhana, que acabava de entrar. De Rodrigo, o jovem promotor. Lutava intimamente á procura de uma solução para tudo aquilo. Pediu licença e saiu da sala. Lá fora um carro o esperava para levá-lo até Coroado.

CORTA PARA:

CENA 2 - CASA DE BRAZ CANOEIRO - INT. - DIA.

A clarinada do galo no terreiro e o cocoricar de dezenas de outros, pelas redondezas, acordaram João, deitado na esteira esfiapada da casa de Braz Canoeiro. Abriu os olhos, como que admirado, não reconhecendo o lugar. De repente a lembrança chegou-lhe vívida. E ela? De relance procurou Diana na rêde. A rêde balançava, vazia.

JOÃO - Diana!

Correu até a porta. Apenas o bucolismo das árvores, das montanhas distantes. Voltou ao interior da casa. Diana não se achava em nenhum lugar.

CORTA PARA:

CENA 3 - CASA DE BRAZ CANOEIRO - SEQUENCIA. - EXT. - DIA.

JOÃO - (murmurou) Tentação do diabos...

Desorientado, João procurou o cavalo que havia amarrado, á noite, num tronco de árvore, no terreiro. O animal pastava tranqüilamente nos fundos da cabana. João desamarrou-o, selou-o e partiu em disparada. Diana não lhe saía do pensamento.

CORTA PARA:

CENA 4 - COROADO - CENTRO. - EXT. - DIA.

No centro de Coroado e nas estradas de acesso á cidadezinha, os capangas de Pedro Barros, armados de garruchas e rifles, esperavam o carro de Duda. A ordem era inflexível: se o rapaz conseguisse deixar a cidade, não ultrapassaria os limites de Coroado. O próprio Pedro Barros, acompanhado do Dr. Maciel, comandava as operações, das proximidades da Pensão do Gentil Palhares. Barros comentava com o médico:

PEDRO BARROS - Eu hoje decidi e vou ser padrinho de um casamento. O Padre está avisado. Desde ontem. A cerimônia é ás dez. Falei com o juiz, preparei tudo. Um casamento de urgência, o juiz ajeitou logo a papelada.

Maciel observava o carro parado diante da pensão.

DR. MACIEL - Eu sei que ele marcou viagem para as 8. O safado está pensando em fugir. E minha filha vai ficar... difamada.

CORTA PARA:

CENA 5 - PENSÃO DE GENTIL PALHARES - QUARTO - INT. - DIA.

No interior do quarto, Duda ouve baterem na porta. Era Domingas. A mãe-de-criação de Ritinha. Parecia assustada.

DOMINGAS - Eduardo, eu não quero que nada te aconteça. É por isto que tou aqui. Falo, porquê sei como é que a Ritinha vai ficar se você... quero dizer... se os home de Pedro Barros te agarrá. Tá tudo de tocaia pelas estrada de Coroado. Por qualquer lado que você for... eles vão te agarrá!

CORTA PARA:

CENA 6 - COROADO - RUA - EXT. - DIA.

Gentil Palhares colocava várias malas dentro do veículo, ante o olhar observador de Paula.

PEDRO BARROS - (apontando para a frente da pensão) Estão colocando as malas! Já vai sair o carro...

DR. MACIEL - Está fugindo!

PEDRO BARROS - Não vai longe, Doutor! Não vai longe!

CORTA PARA:

CENA 7 - ESTRADA - EXT. - DIA.

Na estrada, os capangas, de tocaia, aguardavam a ordem do capataz.

LOURENÇO - Lá vem o carro.

JUCA CIPÓ - (vibrando) É esse mesmo. Se prepare!

Os dois sacaram do revólver, ao mesmo tempo e esperaram a aproximação do carro. Sob a mira das armas o chofer parou. Juca e Lourenço não queriam acreditar... Paula estava sozinha no interior do veículo.

LOURENÇO - Desculpe, moça. A gente pensava... que o jogador de futebol estivesse aí.

JUCA CIPÓ - E agora?

LOURENÇO - Bem... se a moça vai sozinha, a gente não tem nada com isso. Podemos deixar ela seguir viagem.

CORTA PARA:

CENA 8 - COROADO - RUA - EXT. - DIA.

Lourenço saiu á procura de Pedro Barros em Coroado.

PEDRO BARROS - E então?

LOURENÇO - Nada do homem. Nem sombra.

DR. MACIEL - (gritando) Mas o carro... ele saiu daqui de carro...

LOURENÇO - No carro a gente só achou a moça...

CORTA PARA:

CENA 9 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - QUARTO DE RITINHA - INT - DIA.

Domingas olhava preocupada para o velho relógio de parede. As horas se aproximavam. O casamento estava marcado para as 10. João Coragem trouxera Ritinha e agora voltara ao rancho para buscar a família.

DR. MACIEL - (impaciente) Que diabo tem essa menina que não qué falar comigo?

RITINHA - Quem fez o que o senhor fez com minha mãe... que era uma santa mulher... tem mesmo coragem pra tudo.

DR. MACIEL - (espumando) O que eu fiz?

RITINHA - O senhor... tem a alma de um demônio. E eu não quero nunca mais olhar a sua cara!

Rita ameaçou sair do quarto. Maciel segurou-a, fora de si.

DR. MACIEL - Vem cá... me explica essa coisa direito. Quem foi que lhe disse... isso... do que eu fiz contra sua mãe? Eu não matei ela, está me ouvindo? Eu não matei...

RITINHA - Eu não disse isso. Mas se o senhor mesmo afirma é porque matou!

DR. MACIEL - Já sei. Foi aquela velha feiticeira. Sinhana. Foi ela que andou enchendo a sua cabeça.

RITINHA - Me deixe! Estamos em cima da hora. Temos um encontro marcado... pra passar por mais uma vergonha... na Igreja do Padre Bento.

CORTA PARA:

CENA 10 - COROADO - IGREJA - EXT. - DIA.

A Igreja estava repleta. Dezenas de curiosos atravessavam a praça em demanda do templo. O carro de Pedro Barros estacionara diante da casa de Deus.


CORTA PARA: INTERIOR DA IGREJA.

João, ajoelhado, rezava contrito. Á entrada de Lara, conduzida pela mãe, e Dalva, sua tia, Gentil Palhares sentiu um choque.

GENTIL PALHARES - (cutucando a esposa) Conhece essa aí? É a mesma moça que vem perturbando o sossego da cidade.

Maria de Lara, Estela, Dalva e Pedro Barros colocaram-se atrás do banco onde se encontrava, rezando, João Coragem. Gentil não se deu por satisfeito. Esgueirou-se por entre os presentes e alcançou o jovem garimpeiro.

GENTIL PALHARES - Lembra-se dessa zinha aí atrás?

0 jovem voltou os olhos para o banco de trás e viu a moça.

JOÃO - (perguntou á meia-voz) Diana... que é que você ta fazendo aqui?

Lara olhou para a tia, indignada.

MARIA DE LARA - O que é que ele está dizendo?

DALVA - Você o conhece?

MARIA DE LARA - É um dos inimigos de papai...

JOÃO - (sem se conter) Onde conseguiu esse vestido... pra vim nesse chique todo?

MARIA DE LARA - Eu não entendo o que o senhor está dizendo.

JOÃO - Você roubou? De quem?

Maria de Lara estava perto do desespero. As lágrimas lhe vinham aos olhos. Dalva tomou a frente da sobrinha.

DALVA - O senhor sabe com quem está falando?

JOÃO - Claro que eu sei!

DALVA - Esta moça é Lara, minha sobrinha. Filha de Pedro Barros.

JOÃO - Filha... dele!

João Coragem emudeceu de espanto. Já fazia alguns minutos que Ritinha, levada ao altar pelas mãos de Pedro Barros, aguardava o noivo.
Os cochichos começavam a tomar conta da Igreja quando, de braço com Sinhana, Eduardo entrou – expressão feroz, testa franzida. Ao lado do Promotor Rodrigo César. Dirigiram-se ao altar sob os olhares interessados dos presentes. O Padre Bento brincou:


PADRE BENTO - Aproxime-se, filho. É a primeira vez que faço um casamento em que a noiva é que espera pelo noivo...

PADRE BENTO - Ajoelhem-se, filhos.

CORTA PARA:

CENA 11 - COROADO - ADRO DA IGREJA - EXT. - DIA.

Lara deixara o banco da Igreja, forçada pelos olhares insistentes de João Coragem. Agora, discutiam no adro da igrejinha.

JOÃO - Como é que você tem coragem de fingir desse jeito, depois da gente passar uma noite...

MARIA DE LARA - O quê?

JOÃO - Você sabe bem o que tou querendo lhe fazer entender. Tá certo, diante dos outros você pode fingir. Mas, agora que a gente tá sozinho, os dois, me diga... pra que o orgulho? Quer me endoidecer?

MARIA DE LARA - (sem acreditar no que ouvia) Olha aqui, Senhor João Coragem. Eu estou sendo muito paciente. Quero chegar a um acordo com o senhor. Sou compreensiva, humana. E lhe digo que estou muito agradecida por ter me socorrido naquele dia. E lhe digo mais: estou muito arrependida por ter fugido no seu cavalo. Espero que o tenha recuperado...

JOÃO - Agora tá se lembrando de tudo. Não se lembra também de que eu comprei você?

MARIA DE LARA - (horrorizada) Me... me comprou?

JOÃO - Você mesma disse, não se lembra? O dinheiro da Igreja... eu paguei... a caixa da santa que você roubou.

MARIA DE LARA - Mas... isto é uma loucura!

CORTA PARA:

CENA 12 - IGREJA - SEQUENCIA - INT. - DIA.

O Padre benzeu as alianças. Fez as perguntas de praxe.

PADRE BENTO - Que Deus os abençoe. Estão casados, meus filhos, com a graça de Deus. Deste momento em diante, são marido e mulher.

Duda deu um beijo na testa da esposa.

CORTA PARA:

CENA 13 - ADRO DA IGREJA - EXT. - DIA.

João agarrou Maria de Lara pelo braço, quase feroz.

JOÃO - Vem cá. Se você quer que eu esconda que a filha de Pedro Barros é minha propriedade... que se vendeu por muito pouco... tem de ao menos reconhecer o que fez.

MARIA DE LARA - (quase sem voz) Me deixe ir embora...

João apertava-a mais fortemente.

JOÃO - Anda, moça... tem de reconhecer. Tem de reconhecer ou eu... eu perco a cabeça, Diana!

Lara estremeceu, como que tocada por um fio de alta tensão.

MARIA DE LARA - Diana!

JOÃO - É. Diana. O nome que você me deu. Mas não é Diana coisa nenhuma. É Maria de Lara. Maria de Lara, não é?

FIM DO CAPÍTULO 9
















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