quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 12

Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 12


CENA 1 - RANCHO DOS CORAGEM - EXT. - DIA.

Diana livrou-se dos sapatos e examinava os pés, observada com hostilidade por Jerônimo.

DIANA - ô garotão, me arruma um pouco de água quente, vai. Preciso lavar os pés.

Jerônimo virou-se e entrou na casa, voltando alguns minutos depois com uma panela de água fervente. Aproximou-se da jovem, colocou a água ao seu lado e esbarrou, propositadamente.

DIANA - (soltou um grito de dor) Aiiiiiiiiiii!!! Viu o que voce fez? Queimou minha perna! Quer saber? Não fico mais aqui. Pra mim chega!

JERôNIMO - (murmurou, entrando na casa) Já vai tarde!

A moça deixou o rancho, capengando, e se dirigiu, lentamente para o centro de Coroado.

CORTA PARA:

CENA 2 - RANCHO CORAGEM - INT. - DIA.

O tropel do cavalo acordou Sinhana do longo cochilo. Jerônimo levantou-se da esteira.


JERÕNIMO - Continua dormindo, mãe. João vem aí.

SINHANA - Jão? Ele vai perguntar, Jerome.

JERÔNIMO - Eu respondo prele. Vai.

Sinhana entrou no quarto, receosa do resultado da conversa dos irmãos. João entrou.

JOÃO - Cadê mãe? E a moça? Como é que ela chama, mesmo? Ah, Diana. Êta nome bonito. Nunca pensei que fosse casar com mulher de nome Diana.

JERÔNIMO - E cê pensa em casar com uma mulher que mal sabe o nome? Uma mulher que nem sabe quem é?

JOÃO - Ela é o que é. Eu gosto porque gosto. Quem ela é não tem importância. Nem um nome. Pode ser Lara ou Diana. O pai dela pode ser Pedro Barros ou Antonio. Ela não tem culpa de ser filha de quem é. Cada um de nós é dono de si mesmo. Tu me entende, mano? Demorei porque fui acordar o Padre Bento. Ele tá disposto a fazer o casamento e dá sua bênção.

JERÔNIMO - Mas, o que carece ocê saber, irmão, é que ela podia ser Lara ou Diana... de acôrdo, que não tem a menor importância. Quando a mulher é boa, honesta. Quando a gente gosta porque ela merece... tudo dá certo. Mas, quando a mulher é doida... só pensa na sua liberdade... quando a mulher diz as coisas que a Lara ou Diana disse aqui... o caso muda de figura.

JOÃO - O que foi que ela disse?

JERÔNIMO - Honra... moral... ela não conhece. Só conhece uma coisa: a liberdade. Ela não se amarra a ninguém. Se isso acontece, ela bota na tua cabeça um chapéu furado...

JOÃO - (irritado com os modos do irmão) Te pedi pra respeitar ela!

JERÔNIMO - Mas, respeito ela não merece!

JOÃO - Jerônimo, acho que, pela primeira vez na vida, vamos ter que brigar, irmão.

Sinhana surgiu na porta do quarto, enrolada num xale.

SINHANA - Ainda não disse prêle?

JOÃO - O quê?

JERÔNIMO - A tua noiva foi... embora.

João ficou estático. Dirigiu-se a Sinhana.

JOÃO - Já vi tudo. Cê mandou ela ir?

SINHANA - Ela foi de gosto, filho.

Furioso, João encarava a mãe e o irmão.

JOÃO - De gosto não pode ser! Não pode ser!

A porta escancarou-se com a violência do rapaz. No fundo da noite, apenas o canto dos grilos e o mugir dolente do gado. A escuridão tomava conta de tudo. Até mesmo de João Coragem.

CORTA PARA:

CENA 3 - RIO DE JANEIRO - APARTAMENTO DE DUDA - INT. - DIA.

O dia nascera belo. Claro e quente como são os dias de verão no Rio. O apartamento de Eduardo Coragem, num edifício moderno, abria ampla visão para o mar, para as belezas das praias cariocas, coloridas de biquínis, formigando de gente. Ritinha perdeu minutos na admiração de tudo aquilo. Tão diverso da simplicidade interiorana de Coroado. Assim mesmo iniciou seus afazeres de dona de casa.

Aqui, restos de bebidas. Ali, uma camisa de Duda, amarrotada, jogada a um canto do sofá. Ritinha beijou e apertou contra o seio a camisa amarfanhada. Era um pedaço dele. De repente a porta se abriu e Paula entrou. Ainda na pele de Carmen Valéria, esposa de Neca, amigo e companheiro de Duda, no Flamengo.

RITINHA - Bom dia, Dona Carmen. Tudo aqui estava muito sujo. Também, homem não sabe fazer limpeza, não é?

Paula sentou-se, displicentemente. Tirou um cigarro do maço, quase cheio, e o acendeu.

RITINHA - Quer tomar um café? Fiz agora mesmo.

PAULA - Não. Pode deixar.

RITINHA - Zangada, Dona Carmen?

PAULA - (grosseira) Não enche!

RITINHA - Eu... estava aqui sozinha... e estava pensando... que eu bem podia ir ver meu marido na tal de concentração.

Paula sorriu, soltando uma baforada de fumaça.

PAULA - Ah, você quer ir, é?

RITINHA - Eu posso?

PAULA - Mas, claro que pode! Você chega lá e diz: sou mulher do Duda. Recém-casada. Acho que tenho o direito de ficar com o meu marido. Você vai ver como tudo é fácil.

Ritinha animou-se, em sua inocência.

RITINHA - Eles deixam?

PAULA - Lógico! Vá, vá se arrumar. Eu te deixo, num carro, no prédio da concentração. Você salta e manda chamar o técnico, Fausto Paiva. Guarde bem o nome. Fausto Paiva. Ele é um anjo...

Ritinha dirigiu-se ao quarto para mudar de roupa. A campainha da porta soou. Paula atendeu. Era Carmen Valéria.

PAULA -Carmen! (E em voz baixa, para que Ritinha não ouvisse) Que é que está fazendo aqui?

CARMEN - Me deixa entrar. Quero explicar a confusão que você fez com a mulher do Duda.

PAULA - Calma! Calma!

CARMEN - Vou dizer a ela quem você é.

PAULA - Você vai é complicar as coisas. Dê o fora que eu vou me encontrar contigo longe daqui e te dou todas as explicações.

CARMEN - (insistiu) Cadê a guria? Telefonei hoje cedinho e a coitada falou comigo como se me conhecesse. Na hora não entendi. Depois, fiquei queimando as pestanas e dei com a coisa. Você disse que era eu, não disse?

Paula confirmou, balançando a cabeça.

CARMEN - Isso é sujeira da grossa! Eu ia pegar a menina no hotel, ontem á noite. Você foi na minha frente. Cheguei lá, ela já tinha saído. Tentei telefonar para cá, ninguém atendia. Mas hoje eu boto esse troço em pratos limpos. Não quero confusão com o Duda. Pra cima da mamãe aqui, não!

Paula percebia a dificuldade da situação. Mais um minuto e tudo estaria perdido. Quem sabe? – até mesmo o Duda – para sempre. Não viu outra saída.

PAULA - É pena você botar as coisas em pratos limpos. Eu estava pensando em te dar uma mãozinha na carreira, em troca desse favor.

Carmen ouvia sem dizer nada.

PAULA - Pois é, eu ia te apresentar ao Nelson Mota, que pode te arranjar um contrato na Phillips...

CARMEN - Você está me gozando...

PAULA - Falo sério. Ele é meu chapa. E conheço, também, a turma da pesada da Globo. Sou assim com a mulher do Chacrinha! Sou liga do Borjalo, amiga do Pacote. Andei pelos corredores da Globo e recebi dois imensos sorrisos do Boni! Sabe que eu tenho cara de chegar lá e exigir: olhe aí, quero que vocês dêem uma oportunidade pra minha amiga, a grande sambista Carmen Valéria!

CARMEN - (voz baixa) Não sabia que você tinha tantos conhecimentos...

PAULA - Aguenta mão aí com o nosso segredo e você vai ver só uma coisa...

Ritinha acabara de aprontar-se e assomara á porta.

RITINHA - Estou pronta...

Paula fez a apresentação.

PAULA - Esta é a mulher do Duda... E esta é a esposa de um jogador da reserva.

Ritinha e Carmen Valéria deram-se as mãos.

PAULA - Vamos até a concentração do Flamengo.


FIM DO CAPÍTULO 12

João (Tarcísio Meira) e Diana (Glória Menezes)

NÃO PERCA O CAPÍTULO 13 DE IRMÃOS CORAGEM!!!

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