terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 7

Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair


CAPÍTULO 7


CENA 1 - BEIRA DE UM RIACHO - EXT. - NOITE

O frescor da madrugada, o clarão da lua iluminando a vastidão dos campos, o cantar dos primeiros pássaros, serviam de pano de fundo para as recordações de Duda e Ritinha. Ao longe, o marulho do riacho, eterno viajante dos caminhos do sertão. O casal passeava de mãos dadas.

RITINHA - (apontando um trecho das águas) Veja se se lembra deste lugar.

DUDA - Me lembro. A gente vinha nadar aqui todas as tardes.

RITINHA - Bandido! Um dia você escondeu a minha roupa. Tive de ir de maiô para casa, enrolada na toalha. O pai quase me matou de pancada.

No tronco de uma árvore, meio apagado pelo tempo, os dizeres lá estavam, escritos á ponta de canivete. “Duda e Ritinha. Amor para sempre”.

DUDA - (propondo) Vamos cair n’água, como antigamente?

Os risos do casal podiam ser ouvidos no silencio da madrugada. Os corpos se uniam no sentimento da saudade. E os lábios respondiam ás perguntas que não precisariam ser feitas.

CORTA PARA:

CENA 2 - MARGEM DO RIACHO - SEQUENCIA - EXT. - AMANHECER.
Duda e Ritinha estavam deitados á margem do riacho, de mãos dadas. De repente a lembrança do tempo sacudiu a moça. Os raios de sol já se refletiam, dourados, sobre o leito do riacho.

RITINHA - Seu maluco! Sabe que horas são?

DUDA - Não, nem quero saber.

RITINHA - Acho que umas cinco e meia. O sol já ta nascendo.

DUDA - (olhando, espantado, para o céu) O quê? Puxa, Ritinha, que coisa! Não dá vontade de pedir pra Deus parar a vida aqui?

RITINHA - Que dá, dá. Só assim você não fugia mais de mim.

Beijam-se novamente. Terna e demoradamente.

RITINHA - (murmurou ao ouvido do amado) Queria nunca mais te deixar.

Uma nuvem de tristeza vedou o semblante da moça.

RITINHA - Sei que vai ter que voltar pra sua vida no Rio, no Flamengo...

DUDA - Sim. Devo voltar daqui a uns dois ou três dias. Logo que terminar o prazo da minha licença...

RITINHA - E tudo vai ficar como antes. Juro que nunca mais, nunca mais vou ver o sol nascer, só pra não me lembrar de você.

DUDA - Diga o que quer que eu faça...

RITINHA - Quero que não me deixe, que me leve com você.

Duda segurou docemente o rosto de Ritinha, contornando com as mãos a curva da fronte, a forma do nariz, a linha dos lábios. Beijou-lhe os olhos. As faces. Até que seus lábios se colassem, parecendo a eles que a natureza era um carrossel a girar, a girar, a girar...

EDUARDO - Agora... não posso, Ritinha. Mas eu volto um dia qualquer pra te buscar.

CORTA PARA:

CENA 3 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - EXT. - DIA.

Na porta da casa do Doutor Maciel havia uma agitação incomum para aquela hora. Domingas olhava as pessoas que passavam rumo ao trabalho. Maciel, mais ébrio que nunca, sentava-se numa enorme pedra na entrada da casa. Foi quando perceberam o casal que se aproximava. Domingas voltou-se, tensa, para o médico viciado. Eduardo falou primeiro.

DUDA - Eu... eu trouxe a Ritinha... A gente... andou passeando... recordando os tempos de criança...

RITINHA - A gente não sentiu passar as horas, pai.

Maciel não pôde controlar a cólera, aumentada com doses excessivas de cachaça.

DR. MACIEL - Seus... seus desavergonhados!

Ritinha tentou falar. Maciel não deu chance.

DR. MACIEL - Seu cachorro da cidade! Pensa que pode abusar das moças do interior? Pensa que pode vir, almofadinha... fazer aqui o que lhe der na telha?

DUDA - (enérgico) Doutor, o senhor está me ofendendo.

Maciel não tomou conhecimento da revolta do moço.

DR. MACIEL - Vai ter que pagar por isso. Vai ter que pagar, seu cachorro.

Ameaçador, suspendeu a bengala na direção do rapaz.

RITINHA - Pai, a gente não fez nada de mal.

DR. MACIEL - Se não fez, mesmo, vai ter que dar conta na polícia. Esses safados da cidade... pensam que a filha da gente é lixo.

RITINHA - O senhor está muito enganado. Passamos a noite conversando, brincando... sem maldade.

DR. MACIEL - (sem acreditar) Vem dizer isso a mim? A mim?

DOMINGAS - Deixa a menina entrá, patrão. Pra acabá com o escândalo.

DR. MACIEL - Entrá, onde? Nesta casa? Ela que fique na rua. Na rua com este sujeitinho. Pra voltar a passar nesta porta, só depois de casar na polícia.

DUDA - (reagindo, colérico) O senhor... o senhor está bêbado.

Maciel apontava o dedo para as serras que se viam no horizonte.

DR. MACIEL - Rua! Rua! Os dois. Rua!

Duda abraçou Ritinha e, juntos, saíram correndo ante os olhos escandalizados dos vizinhos e das pessoas que por ali passavam ás primeiras horas da manhã. Coroado saberia de tudo logo que a boca do povo começasse a espalhar a triste nova da filha do Dr. Maciel.

CORTA PARA:

CENA 4 - RANCHO CORAGEM - INT. - DIA.
No rancho humilde da família Coragem, Jerônimo e Potira estavam almoçando. Sinhana acabara de colocar os pratos sobre a mesa e sentava-se também para acompanhar os filhos. De repente a porta da frente se abriu e Duda e Ritinha deram um passo em direção á sala. As atenções se concentraram no casal. Jerônimo, surpreso, não tirava os olhos dos dois.

DUDA - (quebrou o silencio repentino) Entra, Ritinha, esta casa agora é sua.

Ritinha entrou, quase chorando.

DUDA - Vem, não se acanhe não. (E virando-se para os presentes) O pai dela expulsou a pobre de casa.

Duda dirigiu-se para seus aposentos, no interior da casa.

JERÔNIMO - Que foi que andou fazendo com você, Rita?

RITINHA - Ninguém fez nada, gente. Não houve nada. A gente brincou sem mal. Se jogou na água. A gente... só se beijou... sem mal. Será que ninguém acredita nisso?

SINHANA - É. O mal todo é esse, menina. É que ninguém vai acreditar.

JERÔNIMO - E agora como vai ser?

Duda voltara do quarto após tomar banho.

DUDA - Já sei, vocês também estão pensando coisas horríveis a nosso respeito.

JERÔNIMO - (segurou o irmão pelos ombros, mãos firmes) A realidade é esta, mano: mesmo que não tenha acontecido nada... você vai ter que casar com ela.

DUDA - (chocado) O que!? Ca... casar... com... com ela. Mas... isto é um disparate!

SINHANA - (incisiva) Vai ter, Duda. Honra de moça é um negócio muito sério. Compreenda, filho. Não é problema se você errou ou não errou. O problema é ela ficar falada, desmoralizada.

JERÔNIMO - Vai ter que casar, Duda. Num tem pra onde.

CORTA PARA:

CENA 5 - COROADO - RUA - EXT. - DIA.

No centro da cidade vários homens se divertiam vendo o cavaleiro puxar uma moça enlaçada pela cintura. Descalça, sapatos atirados no meio da rua, a jovem vestida de chita, gritava e esbravejava.

DIANA - Desgraçado! Patife! Me solta!

O cavaleiro, objeto da fúria da moça, respondia aos insultos.

HOMEM 1 - Devolve o dinheiro. Devolve, vagabunda. Ou vai ter de sambar na corda aqui pra gente ver.

HOMEM 2 - Quem é ela?

HOMEM 1 - Uma ladra. Roubou dinheiro da venda do Peixoto.

O grupo havia se afastado, dispersando-se. A jovem permanecera sozinha. Calçava os sapatos de fivela e ajeitava os cabelos revoltos. Uma voz surpreendeu o seu silencio.

JOÃO - Será que estou ficando doido ou você não é a moça que roubou meu cavalo?

DIANA - Epa... lá vem mais um. Será que nesta cidade todo mundo é gira?

JOÃO - (insistiu) Nós dois...quero dizer... a gente já não se viu, não?

DIANA - Nunca vi sua cara. Você viu a minha? Agora sou também ladra de cavalos. Olha aqui, nunca vi seu cavalo, e muito menos você, bonitão. Mas se quer que a gente se conheça melhor, não me custa nada. É só dizer... “me ajude”.

JOÃO - Olha, juro que rezei pra te encontrar de novo.

DIANA - Onde foi que você me viu? Eu não me lembro.

JOÃO - Por quê ta fingindo? Eu te socorri, te cuidei...

DIANA - Está brincando...se é desculpa pra gente entrar num entendimento, tá perdendo seu tempo.

JOÃO - Não... não é isso... eu precisava te ver de novo.

O Promotor Rodrigo Cesar aproximou-se.

RODRIGO - João!

JOÃO - (esqueceu por instantes a presença da moça) Sei que esteve em minha casa. ( Virando-se á procura da jovem misteriosa) Aquela moça...cadê ela?

Mais uma vez a mulher desaparecera sem explicação.

CORTA PARA:

CENA 6 - RANCHO CORAGEM - EXT. - DIA.

Do interior da casa, Potira e Sinhana ouviram o galope do cavalo. Chegaram á porta do rancho. O cavaleiro era Lourenço, capataz de Pedro Barros.

LOURENÇO - O moço Duda ta aí?

SINHANA - Tá não. O que qué dele?

LOURENÇO - Recado do meu patrão. Ele que se prepare pra casar com a filha do Dr. Maciel, ainda hoje.

SINHANA - Meu filho não precisa ser obrigado. Se é o certo, ele casa. Se não é, ninguém obriga.

LOURENÇO - Certo ou não, ele vai casá. É uma ordem. Coroado em peso está esperando. E vai ser hoje. Na igreja do padre Bento.

Lourenço deu a volta ao cavalo e saiu em disparada.


FIM DO CAPÍTULO 7

Ritinha (Regina Duarte) e Sinhana (Zilka Salaberry)
NÃO PERCA O CAPÍTULO 8 DE IRMÃOS CORAGEM

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