segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 11

Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair



CAPÍTULO 11

CENA 1 - CASA DO RANCHO CORAGEM - EXT. - DIA.
Sinhana, encostada á porta, descansava da labuta incessante no rancho. Os rapazes davam trabalho. Ela e Potira tinham de se desdobrar para atender aos deveres da casa e do rancho. Potira abriu a porta dos fundos e anunciou:

POTIRA - Jão vem aí com uma moça bonita.

SINHANA - Fecha a porta dos fundos, índia do inferno.

João apeou do cavalo e retirou a moça da garupa.

JOÃO - Mãe, Jerônimo. Abram a porta.

SINHANA - Vai simbora, Jão. Vai simbora.

JOÃO - Abre, mãe.

Jerônimo interveio, abrindo a porta ao irmão.

DIANA - Alô, garotão. Era você que não queria abrir a porta?

Jerônimo não respondeu. Dirigiu-se ao irmão.

JERÔNIMO - Pra que você trouxe ela aqui?

Inquieta, a moça olhava detidamente a casa.

JOÃO - Olha, estou precisando de duas coisas: comida e água pra ela lavar os pés. Estão todos sujos de areia...

SINHANA - (voltou-se, irritada) E ocê acha que tua mãe vai lavar pé da filha de Pedro Barros?

DIANA - (deu uma gargalhada) Taí, grandalhão. Taí a chave do mistério. Tua velha está de cara feia porque está pensando que eu sou aquela cretina. Manjei tudo.
.
SINHANA - (zangada) Que língua é essa que ela tá falando, filho?

JOÃO - É jeito dela, mãe.

JERÔNIMO - (olhou severo para a moça) Quem é essa sujeita?

DIANA - (raivosa) Não engrossa, rapaz. Não engrossa e não me confunde. Não sou filha de Pedro, nem de Paulo. Não tenho pai, nem mãe. Não sou daqui.

JERÔNIMO - (dirigindo-se a João) Explica, irmão. Essa... não é aquela moça que eu vi na casa do safado do Barros?

DIANA - (bateu palmas, sorrindo) Gostei! Isso mesmo! O safado do Barros.

JOÃO - Esta... é outra, irmão. Acha que se fosse filha dele... dizia essas coisas? Do próprio pai?

O jovem se aproximou da moça, num exame meticuloso. Pegou no rosto de Diana, suspendendo-o com ira.

JERÔNIMO - Ela não é outra. É a filha de Pedro Barros, Jão!

DIANA - (insolente) Conheço a filha dele. É uma cretina, metida a besta. Olha aí, tenho até pena dela.

JERÔNIMO - Ela tá te enganando, Jão. Isso é coisa do pai dela. Um truque... ou qualquer coisa parecida, para dar um golpe na gente.

SINHANA - (possessa) É isso mesmo. Não acredita nessa mulher, meu filho.

DIANA - Diz pra eles, grandalhão. Diz o que foi que você decidiu a meu respeito.

João não sabia por onde começar. Titubeava.

JOÃO - Eu... eu e ela... a gente vai se unir... eu quero dizer... vou amanhã bem cedinho falar com Padre Bento... a gente vai se casar.

JERÔNIMO - A gente não vai deixar cê fazer essa besteira, mano. De jeito nenhum.

JOÃO - Quem decide minha vida sou eu...

JERÔNIMO - Além de ser filha de um bandido, é uma...

João Coragem moveu-se em direção do irmão. Havia desvario no seu gesto. Seus olhos faiscavam como as pedras que descobria no garimpo.

JOÃO - Veja como fala, irmão.

SINHANA - (dirigiu-se á moça) Cê não é mulher pro meu filho.

João saíra por alguns minutos e Jerônimo não se deixava vencer.

JERÔNIMO - Seja mulher de Pedro Barros ou de um santo, mulher como você se encontra ás dúzias.

Diana sorriu.

SINHANA - Só quero te fazer uma pergunta. Cê gosta do meu filho?

DIANA - Ele me distrai. É um bom sujeito.

SINHANA - E vai fazer ele se casar com você... porque é um bom sujeito? Cê é uma aventureira e quer desgraçar com a vida de um homem bão.

DIANA - Quero desgraçar com ninguém, dona! Me deixa! Um canto pra dormir... um prato de comida... poder rir quando quero... amar... correr... brincar, sem medo... é a minha filosofia.

Sinhana sentiu a possibilidade de se desfazer da jovem. Ela não tinha dinheiro. Retirou algumas notas de um pote guardado na prateleira.

SINHANA - Gosta muito de dinheiro, também, não?

DIANA - Não desprezo. Ás vezes preciso... até roubar... sabe como é? Quem tem uma vida livre, como eu...

SINHANA - (entregou-lhe o dinheiro) Pois toma. Leva. São as economias da família. É tudo quanto a gente tem. Pega isto e some. Some da vida do meu filho.

Diana sorriu, pegou das notas e guardou-as, em grupo, no seio.

CORTA PARA:

CENA 2 - RIO DE JANEIRO - APARTAMENTO DE DUDA - INT. - DIA.

Ritinha, deitada, voltou o pensamento á sua cidade. Sua gente. Ali, no Glória, tudo era tão contrário da simplicidade de Coroado. O telefone tocou.

RECEPCIONISTA - Madame. Tem uma moça na portaria que quer subir para falar com a senhora.

RITINHA - Quem é?

RECEPCIONISTA - Dona Carmen Valéria.

RITINHA - Carmen? Ah, sei! A cantora. Estou esperando por ela. Faça o favor de mandar subir. Ah, e pode ver também a minha conta. Em nome de Eduardo Coragem.

Ritinha levantou-se célere. Ajeitou alguns pertences na mala. Rapidamente contou o dinheiro na bolsa. A campainha soou. Paula entrou.

PAULA - Boa noite! É a mulher do Duda?

RITINHA - Sou. É Dona Carmen?

PAULA - Sou Carmen Valéria. A mulher do Neca.

RITINHA - Que bom que a senhora veio. Estava me sentindo sozinha... parecia que habitava outro planeta... ou que estava perdida, rodando em órbita, no espaço...

Paula examinava-a de todos os ângulos.

PAULA - Você, então, é a jovenzinha que agarrou o Duda, do interior, hein?

RITINHA - Agarrei? Como?

PAULA - Ele me contou, rapidamente, por telefone, em que circunstância teve que casar com você. Foi... obrigado, não foi?

RITINHA - Não. Não foi bem assim...

PAULA - Vocês, meninas do interior, são mais espertas que as da cidade. Vou te contar! Que golpe deram no rapaz!

Ritinha se sentiu chocada com a grosseria da outra.

RITINHA - Eu... eu não forcei ele a nada. Não queria o casamento... Não queria obrigar Eduardo, nem havia motivo pra ele se casar comigo... A senhora me entende?

PAULA - Pois é. Mas o fato é que ele está casado. E você vai ser uma pedra na vida dele.

RITINHA - Pedra?

PAULA - Pedra, rochedo, ou coisa parecida.

RITINHA - Por quê?

PAULA - Por quê? Porque Duda não tem tempo para se dedicar a esposa, nem a filhos. Tem uma vida louca. Nunca lhe disseram o que é a vida de um jogador de futebol, menina?

Ritinha se sentia aborrecida com a conversa da estranha amiga do marido.

RITINHA - Ele me disse por alto.

PAULA - Bem. Então você vai ter a experiência. Vamos embora. (Chama o boy) Rapaz, leve estas malas. Ela vai deixar o apartamento.

PAULA - Já jantou?

RITINHA - Não. Fiquei com vergonha de ir no restaurante, sozinha.

PAULA - Pois eu te levo num lugar pra comer.

RITINHA - Que não seja longe da minha casa, Dona Carmen.

PAULA - (sem se conter) Sua casa, hein? Golpe de sorte! Sim, senhor! Duda aluga apartamento para se casar com outra... a outra ajeita as coisas, compra tudo a seu gosto. De repente, você aparece casada com ele... e rouba tudo da outra.

RITINHA - (chocada) Que outra?

PAULA - Duda não te disse? Safado. Devia ter contado que estava de casamento marcado com outra mulher.

RITINHA - Casamento marcado?

PAULA - (fingiu mudar de assunto) Vamos embora. Tenho de te proteger. Sabe como é. Se a outra te encontra é capaz de te esganar...

Ritinha se assustou. Pegou a bolsa e saiu. Paula seguiu atrás, tendo refletida nos olhos toda a revolta que a dominava.



FIM DO CAPÍTULO 11


NÃO PERCA O CAPÍTULO 12 DE IRMÃOS CORAGEM!!!

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