quarta-feira, 9 de março de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 18



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 18

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

JERÔNIMO
JOÃO
MARIA DE LARA / DIANA
RODRIGO
ESTELA
DALVA
PEDRO BARROS
POTIRA


CENA 1 - COROADO - CHOUPANA NA FLORESTA - INT. E EXT. - DIA.

João entendeu tudo ao ver a máquina fotográfica nas mãos de Jerônimo. Enrubesceu de raiva. Aquilo era demais. Avançou contra o rapaz, tentando apoderar-se do aparelho. Jerônimo, mais rápido, escondeu a máquina entre os braços poderosos.

JERÔNIMO - Só quero te provar o que disse, Jão. Que ela e a filha de Pedro Barros... são a mesma.

DIANA - (com ódio) Idiota! Não sou a mesma, coisa nenhuma!

Tentou investir contra o rapaz em busca da máquina fotográfica. Jerônimo deixou célere a choupana. Pulou no cavalo e afastou-se, perdendo-se na poeira da estrada. O sol causticava a zona dos garimpos. João Coragem empurrou a moça para a rêde e, fechando a porta, saiu no encalço do irmão. Diana gritava na choupana batida pelo calor.

DIANA - Ei, me espera aí. Eu quero ir embora! Me deixa ir embora!

Bateu com raiva na porta de madeira. Resistente.

DIANA - João! João!

As unhas riscavam traços desiguais na madeira lisa. Diana chorava com desespero.

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - RUAS - EXT. - DIA.

Os dois cavalos cruzaram em disparada as ruas de Coroado. Pararam diante do hotel de Gentil Palhares. Jerônimo entrou, correndo.

JERÔNIMO - Dr. Rodrigo! Dr. Rodrigo!

O promotor surgiu do interior da casa. Jerônimo lhe entregou a máquina. João apareceu, esbaforido.

JOÃO - ( partiu na direção do promotor) Me dê isto!

Rodrigo estendeu a mão, em sinal de advertência.

RODRIGO - Pare, João... eu explico.

JOÃO - Já sei o que oceis querem!

RODRIGO - (procurava explicar) É uma arma que a gente tem na mão.

JOÃO - Arma... contra a moça? Que foi que ela fez proceis?

RODRIGO - Não é contra ela... é contra o pai dela.

JOÃO - Disse e repito: aquela não é a professora. Aquela é outra. Eu dou minha palavra!

O rapaz avançou contra o promotor, desvairado. Jerônimo cerrou o punho e acertou o irmão. O sôco violento, de baixo para cima, dado com ira, lançou João Coragem ao solo. Meio zonzo com o ataque inesperado, João tentou levantar-se.

RODRIGO - (enérgico) Estão loucos, rapazes? Dois irmãos!

JERÔNIMO - (espumando) Essa mulher... tá pondo ele perdido. Vai ser a destruição de tudo o que planejamos.

JOÃO - (levantou-se trêmulo) Eu acho que tenho o direito de gostar de quem eu quero. Se ocê não teve sorte, irmão, eu não tenho culpa. Não venha agora, desforrá em cima de mim. Pra acabá com isso... me dê esse troço aí... pra destruir o retrato que ocê tirô...

JERÔNIMO - (arrancou a máquina das mãos do promotor) Escuta uma coisa... eu agora vou em frente. Você disse bem. Nunca tive sorte. Sempre fui o irmão apagado, o coitado. Não vou ser mais, Jão. Não vou ser mais!

João ainda tentou retirar a máquina das mãos do rapaz. Jerônimo recuou. Havia qualquer coisa na sua voz que obrigou o mais velho a interromper a investida.

JERÔNIMO - Prova, Jão! Prova que as duas não são a mesma mulher... e eu te juro... te devolvo o retrato. Juro!

Rodrigo aproximou-se do garimpeiro alto e robusto. Abraçou-o, em atitude pacificadora.

RODRIGO - É uma boa idéia. Prove... prove, João, e estará fazendo um benefício a você mesmo.

Olhando os dois homens, duros e inflexíveis, o rapaz voltou as costas e desapareceu pela porta da frente.

CORTA PARA:

CENA 3 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - INT. - DIA.

PEDRO BARROS - (off) Lara! Lara!

O vozeirão de Pedro Barros cruzava o casarão da fazenda como vento de temporal. Estela apareceu no alto da escada Trajava um vestido leve, de padrão alegre.

ESTELA - Ela ainda está no quarto, Pedro!

PEDRO BARROS - Já tou cheio de ver essa menina no quarto! Manda ela descer. Já! Quero falar com ela. Anda, vai lá e chama ela!

CORTA PARA:

CENA 4 - CASA - GRANDE - CORREDOR - SEQUENCIA - INT. - DIA.

Estela bateu á porta do quarto da filha. Pancadas leves com os nós dos dedos.

ESTELA - Lara! Lara!

A porta se abriu e Dalva apareceu, sombria, o rosto magro, maçãs salientes.

DALVA - Que é?

ESTELA - Será possível que não podemos falar com nossa filha? Pedro está impaciente. Tenho medo quando ele fica assim. É violento! Está querendo falar com ela imediatamente.

DALVA - Falar com ela? Pra que?

ESTELA - Há dois dias que você não nos deixa entrar neste quarto. Isto não pode continuar.

DALVA - Entre. Veja você mesma... com seus próprios olhos...

CORTA PARA:

CENA 5 - CASA - GRANDE - QUARTO DE LARA - SEQUENCIA - INT. - DIA.

Afastando-se da porta, Dalva permitiu a entrada de Estela. Era visível o nervosismo das duas. Estela olhou o interior da dependência. Olhos arregalados, feições transtornadas.


ESTELA - Onde... onde ela está?

DALVA - Há dois dias que eu minto. Há dois dias que ela não está em casa. (desesperava-se) Que é que eu podia fazer, Estela? Que é que eu podia fazer?

CORTA PARA:

CENA 6 - CHOUPANA NA FLORESTA - INT. E EXT. - DIA.

A chave rodou no interior da fechadura. Uma, duas vezes. A porta se abriu e Diana recebeu o feixe de luz sobre o rosto. O sol continuava causticante, arrancando raios coloridos das paredes rochosas da margem do riacho. João entrou na estreita sala. Diana recebeu-o com palavrões.

DIANA - Seu... besta de uma figa! Por que me trancou aqui? Eu tenho de dar o fora. Cachorro! Patife! Pensa que eu sou o quê? Sua prisioneira?

João agarrou o braço da jovem com força. Raivoso.

JOÃO - Agora... você vem comigo.

DIANA - Aonde?

JOÃO - A gente... vai até a casa de Pedro Barros. Vou te levá lá... pra te por frente a frente com a professora!

DIANA - Não quero ir. Não me interessa ver aquela débil mental. Quero ir embora, tratar da minha vida.

JOÃO - Não. Desta vez ce vai comigo. Estão querendo prejudicá a outra moça e eu não vou deixá.

Diana quis forçar passagem pela porta acanhada. O corpo do rapaz tomava por completo o espaço existente.

DIANA - Me deixa passar.

Potira ouvira a discussão, do lado de fora.

POTIRA - (pediu, tolerante) Larga a moça, Jão.

JOÃO - Não vê a necessidade de provar que elas são duas?

Diana tornava-se a cada instante mais violenta. Gritava, enlouquecida.

DIANA - A quem você quer ajudar? A ela? E quer me jogar na rua da amargura?

JOÃO - A outra moça não merece...

DIANA - Eu não quero estar metida nisto.

JOÃO - Vai ter que estar!

DIANA - Ninguém vai me obrigar. Você me largue! Me deixe em paz! Me deixe em paz!

JOÃO - (perdendo a paciência) -Bom... se não vai por bem... vai ter de ir por mal.

DIANA - (esperneava) Não. Não vou. Me solta!

De repente, a jovem soltou um grito mais alto e estridente. Suas mãos procuraram as têmporas. Depois Diana tapou o rosto com as mãos. Os joelhos tocaram o chão barrento, avermelhando-se ante a aspereza do solo. A moça permanecia paralisada como num transe mediúnico. Os lábios tremiam-lhe. Potira olhava a cena impressionante. Buscava os olhos de João.

POTIRA - Que é que ela tem?

A pausa fôra longa. Agora, aos poucos, a jovem levantava o rosto. As mãos macias escorriam vagarosas face abaixo. Havia meiguice e santidade em sua expressão. E cansaço também. João deu um passo á frente. A moça denotava espanto, olhando para os quatro cantos da minúscula sala.

MARIA DE LARA - O que foi?

JOÃO - Tá melhor? A gente pode ir

Potira ajoelhou-se diante da jovem, que agora parecia outra.

POTIRA - Espera, Jão. Ela não está bem. Que foi, moça?

MARIA DE LARA - Que lugar é este? Quem me trouxe para cá?

POTIRA - Foi João...

MARIA DE LARA - O Senhor João? Onde me encontrou? Como foi que vim parar aqui? Por quê? Que lugar é este?

Tentou levantar-se. Potira deu-lhe a mão, ajudando-a a erguer-se do chão duro.

POTIRA - Que tá sentindo?

MARIA DE LARA - Minha cabeça...

JOÃO - (sem acreditar naquilo) Isso é fita, pra não ir...

MARIA DE LARA - Senhor João... por favor, me diga... que aconteceu comigo? Como me encontrou?

JOÃO - Agora... agora vem ela com senhor João... e até parece outra!

MARIA DE LARA - (estremecendo) Outra?

JOÃO - Tá querendo me enganá... não quer que leve você á presença da professora...

MARIA DE LARA - Professora?

JOÃO - Sim. A filha de Pedro Barros!

MARIA DE LARA - Mas... eu sou a filha de Pedro Barros!

A revelação paralisou João e Potira. Lábios entreabertos, na expressão da surpresa, um e outro permaneciam estáticos. Dir-se-ia que o mundo havia parado, que a natureza se transformara num repouso absoluto.

JOÃO - (acordou do espanto) Você? Mas... você?

Potira adiantou-se. Pegou as mãos da jovem, entre as suas.

POTIRA - Você é Diana, moça...

MARIA DE LARA - Sou Lara...

João segurou-a fortemente pelos ombros. Balançou-lhe o corpo delicado.

JOÃO - Tá pensando... que eu sou o que? Um idiota?

MARIA DE LARA - (chorava abafadamente) Eu sou Lara!

JOÃO - (sacudiu-a) E Diana? E Diana?

MARIA DE LARA - Não sei quem é Diana!

JOÃO - É doida ou... quer me por doido...

MARIA DE LARA - Não sei do que está falando... mas me deixe ir embora... quero ir para minha casa... Seja o que for que tiver acontecido... eu lhe sou muito grata. Meu pai saberá recompensá-lo. Pedirei a Deus para ajudá-lo... Vou orar pelo senhor... mas... agora, eu lhe peço... deixe-me ir embora...

JOÃO - Vai rezá, não é? Vai pedir a Deus por mim... Tou precisando mesmo da ajuda dele. Porque tou ficando zonzo. Você tá me pondo doido. Agora vem com essa história de... de não saber quem é Diana... eu não entendo mais nada. E vou pedir a ajuda de alguém pra me explicá

MARIA DE LARA - Ajuda de quem?

JOÃO - Do Padre Bento.

MARIA DE LARA - Faz bem. Chame o Padre Bento... imediatamente. Preciso falar com alguém sensato... Vejo que o senhor não está em condições de me dizer nada... Vá que eu espero. Não estou entendendo nada. Parece que estou num outro mundo... onde as pessoas e as coisas são diferentes. Vá, eu lhe peço... vá buscar o Padre Bento!

JOÃO - Vem, Potira...

POTIRA - Ela pode precisá de mim.

MARIA DE LARA - Obrigada. Fico com Deus. Não preciso de nada.

Ajoelhando-se no centro da sala, a moça, com os olhos molhados e mãos postas, rezava a meia-voz. João e Potira, perplexos, saíram, deixando a porta da choupana entreaberta. Lá dentro, Maria de Lara seguia rezando, desligada do mundo.

FIM DO CAPÍTULO 18

Maria de Lara (Gloria Menezes) e João Coragem (Tarcísio Meira)

NÃO PERCA O CAPÍTULO 19 DE IRMÃOS CORAGEM!!!







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