segunda-feira, 28 de março de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 22

Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 22

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
RODRIGO CÉSAR
POTIRA
JOÃO
JERÔNIMO
RITINHA
SINHANA
DUDA
PAULA
VIRGÍNIA


CENA 1 - RANCHO CORAGEM - INT. - DIA.

Potira preparava o almoço. Panela fumegando sobre o grande fogão de ferro. Rodrigo Cesar entrou, sem bater á porta. Há muito vinha desejando ter a oportunidade de falar sozinho á índia. Vislumbrava ali, naquele momento, a grande ocasião. Aproximou-se, pé ante pé. De repente, Potira estava em seus braços. Abraçara-a apertadamente, por trás.

RODRIGO - Não se assuste...

A índia reagiu, valentemente.

POTIRA - Me deixa...

RODRIGO - Desculpe... mas... estou louco por você.

Procurou os lábios da moça com terrível ânsia. Potira aceitou o beijo do promotor. Nem ouviram as passadas fortes do irmão mais velho. João viu toda a cena.

JOÃO - Que é que há, seu doutô? Vamo com calma...

Potira correu a esconder-se, envergonhada.

JOÃO - Essa índia não é de brincadeira, seu doutô.

RODRIGO - Por favor, João, não leve a mal...

JOÃO - Essa índia é fogo, seu doutô Rodrigo. Ninguém brinca com ela sem saí queimado...

RODRIGO - Eu sei. Não pretendo brincar... mas foi irresistível, João..

João viu a foto, imensa, caída no chão.

JOÃO - Que foto é essa?

Rodrigo aproveitou para mudar de assunto.

RODRIGO - Eu trouxe... para você ver, João, a importância da arma que nós temos na mão.

O grandalhão admirou o retrato em ponto grande, ele e Lara, no beijo da choupana. Não cansava de admirar a foto. Rodrigo achou que era hora de intervir.

RODRIGO - Você me entendeu bem? Viu a arma que nós temos nas mãos?

João ainda estava alheio, admirando a foto.

JOÃO - Agora... me diga... como é que pode... como é que acontece uma coisa assim na vida de um homem? Se eu contasse pra alguém... tudo o que aconteceu comigo e com a filha do Coronel Barros... iam dizer que eu tava louco. Eu também penso que andei tendo sonho ruim... que aquilo tudo num foi verdade, que é invenção da minha cabeça. Mas... tá aqui. Tá aqui a prova de que num inventei, nem sonhei!

RODRIGO - Eu nunca duvidei da sua palavra, João.

JOÃO - Agora... o que há com essa moça é que eu não sei. Por que ela finge , daquele jeito, que é duas pessoas? E como é que pode fingir tão bem?

Rodrigo apanhou um copo e deu outro a João. Serviram-se de uma dose de cachaça.

RODRIGO - Eu explico, João. É uma aventureira... seu único objetivo é se divertir... veio da cidade, com todos os defeitos das moças livres. Chegando aqui, teve que vestir uma capa de santa. Está me entendendo, João? Num lugar pequeno, Lara tinha de ser outra, bem diferente. Como filha de Pedro Barros ela não podia se divertir com um garimpeiro... mas como uma moça qualquer, nada impedia. Daí, então, usou do recurso de se fazer passar por outra. Ela está enganando você, João. Como acredito que engana o pai e toda a família.

CENA 2 - RIO DE JANEIRO - APARTAMENTO DE DUDA - INT. - DIA.

Ritinha e Sinhana ouviam a transmissão do jogo através do rádio. Torciam desesperadamente, a cada lance de Duda. Jerônimo voltou da sala com um telegrama na mão.

JERÔNIMO - É do Doutor Rodrigo. Tenho que voltá imediatamente.

SINHANA - A gente vai amanhã cedo.

RITINHA - Tão depressa? Vou ficar sozinha de novo...

SINHANA - Reza aquela oração de chamá marido que eu te ensinei. Ele não guenta. Vem correndo pro teu lado. Esteja onde estiver...

Ritinha sorriu, triste. No rádio, o locutor comentava: “Faltam 3 minutos para terminar a partida. O Flamengo vence por 3 a 1, três gols de Duda. E o Flamengo vai novamente ao ataque. Paulo Henrique...”

JERÔNIMO - (orgulhoso) Duda é um craque, mãe.

SINHANA - E eu sei lá o que é isso. Era melhor que ele estivesse aqui, do lado da mulher dele. Quando é que ele volta?

RITINHA - Nem sempre ele volta. Há mais de um mês a gente tá casado. É sempre isso. Depois do jogo... quase sempre ele não volta para casa.

CORTA PARA:

CENA 3 - APARTAMENTO DE PAULA - INT. - NOITE.


No apartamento de Paula, Duda deitado, com a cabeça em seu colo, conversava sobre o jogo. De repente, a campainha soou na sala. Paula levantou-se e se encaminhou para a porta. Abriu-a. Apareceram Ritinha e Jerônimo.


PAULA - Ai, meu Deus, chegou o cangaço.

DUDA - (off) Quem está aí, Paula?

Duda não vira a entrada do irmão e da esposa. Olhos fechados, chamou a amante.

DUDA - Paula... venha coçar os meus pés.

A voz macia de Ritinha tirou-o da semi-inconsciência em que se encontrava.

RITINHA - É a especialidade dela, Duda?

O jovem jogador, com os olhos esbugalhados, olhou os recém-chegados.

JERÔNIMO - Nem a presença da velha te faz voltá pra casa. Cê ta mesmo perdido, mano. Inteiramente perdido. Nem merece o sobrenome honrado da família. De Coragem cê não tem nada. É um Eduardo Covarde...

CENA 4 - RIO DE JANEIRO - INTERIOR DO TAXI - EXT. - DIA.

Sinhana deu o endereço ao motorista e recostou-se no banco traseiro do taxi. Coordenava as idéias e os termos da conversa, enquanto velozmente o veículo cruzava as ruas movimentadas da zona sul. Pagou a corrida e, desajeitada, encaminhou-se para a entrada do prédio.


CORTA PARA:

CENA 5 - HALL E ELEVADOR DO APARTAMENTO DE PAULA - INT. - DIA.


Sinhana entrou no hall do edifício, de paredes espelhadas e farta decoração vegetal, tomou coragem e premiu o botão do elevador.

CENA 6 - APARTAMENTO DE PAULA - CORREDOR - INT. - DIA.

Segundos depois achava-se diante da porta do apartamento. Conferiu o número. Era aquele mesmo. Gorda e com ares de interiorana, a figura de Sinhana despertou a curiosidade da criada. Tentava identificar a mulher que estava á sua frente.

SINHANA - (sem maiores rodeios) Ela tá em casa?

CRIADA - Tá no banho. A quem anuncio?

Empurrando a porta semicerrada, a velha penetrou no apartamento.

CENA 7 - APARTAMENTO DE PAULA - SALA. - INT. - DIA.

SINHANA - Precisa anunciá nada. Eu espero ela terminá o banho. (ante o espanto da empregada, sentou-se cômodamente no sofá).

CRIADA - Minha senhora, Dona Paula vai demorar!

SINHANA - Não faz mal. Não tenho pressa.

A voz de Paula chegou-lhe aos ouvidos, vinda do fundo do apartamento.

PAULA - (off) Quem é, Virgínia?

Os olhos da criada voltaram-se incontinenti para a mulher estranha que, com total naturalidade, admirava a confortável residência.

CRIADA - É... uma mulher... que não quer dizer o nome!

PAULA - (of) Pergunte se é a mãe da moça que vai ter criança.

A empregada fez a pergunta sugerida por Paula. Com um muxoxo Sinhana virou o rosto fugindo á resposta.

CRIADA - Ela não quer dizer, Dona Paula.

PAULA - (off) Diga a ela que eu já vou.

Sinhana percebeu os olhares insistentes de Virgínia e a tentativa de aproximação que a mulata, simulando trabalho, fazia para dar continuidade á conversa. Decidiu facilitar as coisas e com um sorriso encorajou a jovem.

CRIADA - (parou diante da velha, amparada á vassoura) A gente sabe porque a senhora não quer dizer. Pode confiar em mim que eu conheço o segredo de Dona Paula. Sou liga assim com ela... Olha, foi um custo a gente achar uma pessoa nas condições da sua filha.

SINHANA - (fechando a carranca) Que condição, mulhé?

CRIADA - ... esperando filho pra daqui a sete meses. (Baixando a voz, em tom de confidência) A moça quer mesmo dar a criança logo depois que nascer? (fez uma pausa de alguns segundos esperando a resposta).

Sinhana permanecia muda.

CRIADA - Eu digo isto porque Dona Paula precisa de uma criança pra nascer no tempo certo... no mês que devia nascer o filho dela... isto é... se ela estivesse mesmo esperando criança.

Tudo se esclaracia rapidamente e a velha percebia com clareza o jogo sujo da amante do filho. Mostrou-se interessada.

SINHANA - Como disse?

Virgínia vibrou com o interesse despertado na senhora.

CRIADA - Pois então! (aproximou-se mais de Sinhana e, quase num sussurro, fez a revelação) Dona Paula não está esperando criança coisa nenhuma! Seu Hernani não lhe disse?

SINHANA - Ah... então... ela não tá esperando não?

CRIADA - Não acabei de lhe dizer, dona?

SINHANA - E pra que a... mentira?

CRIADA - (diminuiu ainda mais o volume da voz) Pra amarrar o jogador de futebol.
O Duda! Nunca ouviu falar no Duda?

SINHANA - (irônica) Já! Muito!

CRIADA - Pensei que seu Hernani tinha dado o serviço direitinho á senhora. Olha... o negócio tem que ficar em segredo... mas não vamos exagerar, não é? A senhora pode saber.

Com uma toalhinha á guisa de turbante e outra de banho a envolver-lhe o corpo ainda molhado, Paula surgiu na sala. Virgínia apontou para a velha.

CRIADA - Está aí a mulher!

Paula vinha agitada.

PAULA - Prontinho, gente! Desculpem a demora! (E dirigindo-se a Sinhana) Muito prazer. Então a senhora é a mãe da moça... (Não chegou a concluir a frase. De pé, reconhecera a mulher que se encontrava em sua casa).

PAULA - A mãe do Duda!

Virgínia desapareceu pela porta da cozinha.

PAULA - (procurou controlar-se) A que... devo a honra da visita?

SINHANA - Eu vim pra lhe desmascará. Tinha uma coisa que me dizia, aqui dentro – “essa mulhé ta mentindo...”

Paula sorria, sem graça, as pernas tremendo.

PAULA - Como? Não estou entendendo o que a senhora diz. Eu menti? Menti... em quê?

SINHANA - Acho que não precisa dá explicação. A senhora mesmo se desmascarô.

Sinhana deu alguns passos em direção á saída. A jovem tentou interceptá-la.

PAULA - Minha senhora! A senhora me condena por amar o seu filho?

SINHANA - Não é por gostá dele que a senhora mentiu.

PAULA - Quem lhe garante?

SINHANA - A sua cara, dona! (abriu a porta com energia).

PAULA - (revoltada) Minha vingança e´que, nem a senhora nem a esposinha arranjada de última hora vão conseguir afastá-lo de mim. (quase suplicante, procurou saber o que, desde o primeiro instante, tanto temia) – Vai dizer tudo a ele?

SINHANA - (sem piedade na voz) Agora mesmo!

PAULA - Pensa que vai adiantar alguma coisa?

SINHANA - Vai... se ele não for trôxa! Seu desespêro, dona, é o medo de não tê quem lhe pague as conta! Mas, quer sabê de uma coisa? Cria vergonha e vai trabalhá. Pega um cabo de enxada ou mesmo uma vassoura, dona!

PAULA - Ai, que ódio! Que ódio! Que ódio!

Sapateava, histéricamente, enquanto Sinhana descia ao térreo.

CORTA PARA:

CENA 8 - RIO DE JANEIRO - RUA. - EXT. - DIA.

SINHANA - (para si) Quero vê a cara do Duda quando eu contá quem é essa mulhé!

Com o coração alegre e renovadas esperanças, a mãe Coragem fez sinal com o braço estendido e o taxi parou, rangendo os freios.


FIM DO CAPÍTULO 22



E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

JERÔNIMO E SINHANA RETORNAM A COROADO.
A DÚVIDA DE RITINHA SE VOLTA PARA SUA TERRA OU FICA COM O MARIDO.
RITINHA DESCOBRE QUE ESTÁ GRÁVIDA!
O PROMOTOR RODRIGO, NA COMPANHIA DE JOÃO CORAGEM, VAI Á FAZENDA DE PEDRO BARROS E EXIGE QUE JUCA CIPÓ ENTREGUE SUA ARMA PARA SER PERICIADA. CONSEGUIRÃO SEU INTENTO?



NÃO PERCA O CAPÍTULO 23 DE IRMÃOS CORAGEM!!!


Nenhum comentário:

Postar um comentário