terça-feira, 22 de março de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 20



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 20

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

POTIRA
SINHANA
JOÃO
JERÕNIMO
FAUSTO PAIVA
DUDA
RITINHA
NECO
DALVA
MARIA DE LARA
CARMEN
HERNANI




CENA 1 - RANCHO CORAGEM - INT. - DIA.

No rancho da família Coragem, Potira contava o que vira a Sinhana e Jerônimo.

POTIRA - (falava nervosamente) ... aí, mãe Sinhana... ela se abaixou... gritando... Jão tava segurando ela, forte! Ele largou de susto. Ela chorou, chorou... depois se levantou, ergueu a cabeça... e já parecia outra mulher!

SINHANA - (benzendo-se) -Parece coisa feita!

POTIRA - Parecia mesmo.

JERÔNIMO - (sorrindo) Então a gente tinha razão. A gente tinha razão. Ela disse que era filha de Pedro Barros?

POTIRA - Sim. Disse pra nós ouvir, bem claro...

Sinhana investiu contra o filho do meio.

SINHANA - Cê tá alegre com a disgraça do seu irmão?

João ouviu aquelas palavras quando entrava na sala.

JOÃO - De que é que está falando?

A velha Sinhana resolveu dizer a verdade.

SINHANA - Filho, Potira disse...

JOÃO - Potira fala demais. Eu proíbo oceis de espalhá isso que foi dito aqui. Proíbo e exijo que respeitem ela...

JERÔNIMO - Isso é o que a gente vai vê .

Já a noite começava a virar a madrugada. A aragem fria penetrava suave pela porta aberta. Sinhana benzeu-se diante do pequeno altar. Orava. Potira acendia as velas dos santos – pensava em Jerônimo. João olhava a escuridão dos céus. Negros como os seus olhos e como o futuro que o aguardava.

CENA 2 - SEDE DO FLAMENGO - CONCENTRAÇÃO - INT. - E APTO. DE DUDA - INT. - DIA.

O telefone tilintou na espaçosa sala de descanso. Os jogadores esperaram a chamada. Fausto Paiva atendeu.


FAUSTO PAIVA - Duda... telefone para você. Acho que é a tua mulher de novo. Parece que ela não compreendeu que não deve te encher na concentração.

Duda levantou-se e pôs o fone ao ouvido.

DUDA - Alô! Que é, Ritinha? Não te disse que não deve me amolar a paciência aqui, na concentração? Pra que me desobedeceu?

RITINHA - Chegou um telegrama, Eduardo. De Jerônimo. Eles saíram ontem de Coroado. Vão chegar hoje ás oito horas da noite...

DUDA - O quê? Jerônimo vem aí?

RITINHA - Vem, com sua mãe.

DUDA - (quase deixou o aparelho cair) Com mãe? Mas que é que aqueles dois vêm fazer no Rio? O quê? Alô! Tá me ouvindo, Ritinha? Que é que meu irmão e mãe vêm fazer aqui?

Rita de Cássia respondeu baixinho, num tom quase inaudível, como se receasse que o marido ouvisse.

RITINHA - Eu... chamei, Eduardo.

O rapaz não ouvira nada.

DUDA - Fala mais alto!

RITINHA - (repetiu, elevando o volume da voz) Fui eu... que chamei, Eduardo.

DUDA - Não estou ouvindo.

RITINHA - Eu chamei. Ouviu... benzinho. Eu chamei...

DUDA - Você é uma tonta! Uma imbecil! Onde se viu, imbecil, está me ouvindo? Imbecil!

Ritinha desligou. Com cuidado. Choramingava, quando colocou o fone no gancho.

CENA 3 - SEDE DO FLAMENGO - CONCENTRAÇÃO - INT. - DIA.

Aflito, Duda conversava com Neco.

DUDA - Em suma, minha família vai chegar dentro de algumas horas.

NECO - E qual o problema?

DUDA - Aí está o problema: nem minha mãe nem Jerônimo conhecem o Rio de Janeiro. Quem os levará até o apartamento? Rita? Ela não conhece nem um metro além da nossa residencia.

NECO - Que situação... e agora?

DUDA - Agora... só existe uma saída!

CORTA PARA:

CENA 4 - SEDE DO FLAMENGO - CONCENTRAÇÃO - INT. - NOITE.

Era noite. Todo o elenco do primeiro time e os regra-três se achavam diante do televisor. Chico Anísio fazia das suas no vídeo iluminado. Fausto Paiva olhou a turma. Sim. Faltava um.


FAUSTO PAIVA - Cadê o Duda?

NECO - (justificando) Ainda está ressonando...

FAUSTO PAIVA - Não foi jantar... só está querendo dormir... que negócio e êsse? Está de pileque? Alguém andou infringindo as regras?

NECO - Não, senhor. Ele está... meio gripado...

FAUSTO PAIVA - Eu vou ver.

CORTA PARA:

CENA 5 - CONCENTRAÇÃO - DORMITÓRIO - INT. - NOITE.

As camas forradas de branco davam um aspecto hospitalar ao grande salão-dormitório. Fausto abriu a porta. Numa das camas, próximo á janela central, havia alguém dormindo. Coberto da cabeça aos pés. Fausto aproximou-se.

FAUSTO PAIVA - Que é que há, Duda? Não está se sentindo bem? Vamos ver isso, rapaz...

Neco surgiu na claridade da porta. Fausto Paiva insistiu.

FAUSTO PAIVA - Ei, Duda, acorda pra cuspir! Vamos lá ver que soneira é essa...

Neco ainda tentou explicar, mas era tarde. O severo treinador acabara de suspender a colcha. Sobre a cama, apenas alguns travesseiros habilmente arranjados. De Duda nem a sombra. Fausto virou fera.

FAUSTO PAIVA - Onde está ele? Onde está aquele irresponsável?

CENA 6 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - QUARTO DE LARA - INT. NOITE.

Maria de Lara tomava o chá caseiro, recomendado pelo Dr. Maciel. Conversava com a tia.


MARIA DE LARA - Por que mentiu ao doutor?

DALVA - Eu menti?

MARIA DE LARA - Escondeu que, quando eu voltei a mim, estava em companhia de João Coragem. O Padre Bento também omitiu isso, por quê?

DALVA - Porque... o padre foi prudente. A gente desta cidade malda muito as coisas. Podiam não entender que você desfaleceu e o senhor João a encontrou... como da primeira vez.

MARIA DE LARA - Por que é sempre ele que me encontra?

DALVA - Não sei... deve ser coincidência...

Lara tomou um gole do chá, engasgando-se com repentino soluço. A xícara balançava em suas mãos. Dalva correu a ajudá-la.

DALVA - Lara! Lara! O que é isso?

MARIA DE LARA - A senhora não me engana. O que está se passando não é normal. Eu não me sinto bem. Perco a noção do tempo, facilmente. Quando volto a mim, estou em companhia de um homem que me é completamente estranho e indiferente. E ele me diz coisas absurdas que me fazem perceber que existe alguma coisa séria entre nós dois. E a senhora me afirma que nada disto é importante?

A moça levantou-se e caminhou até o guarda-roupa. Escolheu um vestido verde, sem decote, saia rodada. Desceu para falar com Pedro Barros. O coronel a esperava ansiosamente, ao lado do Dr. Maciel e do Delegado Falcão. A casa grande era toda alegria.

CENA 7 - RIO DE JANEIRO - PRÉDIO DO APTO. DE DUDA - ESCADARIA - INT. - NOITE.

Sinhana subia as escadas resfolegante, botando a alma pela boca... Duda e Jerônimo sorriam, apesar do sacrifício da velha.

SINHANA - Ai! Mais fácil é subir os morros de Coroado!

DUDA - Também... precisa ter vontade, mãe, pra subir três andares... tendo o elevador.

SINHANA - Prefiro agüentar a escada. Não entro naquele negócio todo fechado, não.

JERÔNIMO - Bobagem, mãe. A gente tem de se acostumá com o modernismo. Tamo ou não tamo no Rio de Janeiro?

SINHANA - Ô cidade doida! Tou até tonta. Um dia inteiro de viage. Chego aqui, parece que as coisas estão de pernas pro ar.

JERÔNIMO - E Ritinha?

DUDA - Ela tá esperando a gente lá em cima.

SINHANA - Por que ela não foi com cê esperá a gente?

DUDA - Porque... eu tive que fugir de onde estava pra poder esperar voces.

Sinhana e Jerônimo olharam-se.

SINHANA - Fugir?

JERÔNIMO - A gente não sabia que cê tava preso! Que foi que cê fez, mano?

DUDA - Não é nada disso. Não falei em prisão.

SINHANA - Diz que fugiu...

DUDA - Da concentração, gente. É outra coisa. Depois explico. Vamos indo logo que eu tenho que voltar imediatamente.

CENA 8 - APARTAMENTO DE DUDA - SALA - INT. - NOITE.

O barulho ensurdecedor da alta-fidelidade tomou de impacto o ambiente, quando a porta do apartamento se abriu. Sinhana e Duda pararam petrificados na soleira. No ritmo mais quente, as jovens dançavam, agarradas aos rapazes, enquanto, mais além, outras e outros bebericavam uísque, cuba-libre e bebidas fortes. Duda atravessou a sala á procura de Ritinha.

CENA 9 - APARTAMENTO DE DUDA - QUARTO - INT. - NOITE.

Duda encontrou a esposa no quarto, deitada, pronta para dormir.

DUDA - (recriminando-a) Você só faz bobagem! Besteira em cima de besteira! Parece... uma debilóide. Não dá uma dentro. Desde que chegou aqui, só dessas, de idiota!

RITINHA - Não mandei dar esta festa.

DUDA - Hernani disse que você deixou.

RITINHA - Eu não deixei nada. Não mando na minha casa. Quem manda é ele e a Paula. Com certeza foi ela quem inventou esta porcaria. Para colocar você contra mim. Ela estava aqui... veio buscar a geladeira e me disse que é pra guardar o leite... do bebê de vocês.

DUDA - Bem, eu não tenho culpa disso, tenho?

RITINHA - Não. Quem é que tem, então? Eu?

DUDA - Eu já te disse...

RITINHA - (corta) Você não disse coisa nenhuma... Já conheço de cor e salteado a sua história. Olha, Eduardo, eu estou farta. Farta, ouviu bem?

A porta do quarto se abriu. Jerônimo e Sinhana entraram.

JERÔNIMO - A gente não tem onde ficar... Cada vez tá chegando mais gente...

Ritinha procurou amparo nos braços da velha amiga.

RITINHA - Ainda bem que vocês vieram.

JERÔNIMO - (para Duda) Irmão... isso vai demorá pra acabá?

DUDA - Eu... eu não sei, pergunte a ela.

RITINHA - (aos gritos) Não tenho nada com isso! Pergunte á noiva dele. Que vai dar um bebê a ele!

DUDA - (perdeu as estribeiras) Sabe o que mais, sua boba, eu não te agüento! Não te agüento!

Virou as costas e deixou o quarto, em demanda da rua.

RITINHA - Jerônimo, bem que você avisou. Este é outro mundo. Não é para nós, Jerônimo. Eu vou embora com vocês. Eu não agüento mais.

O jovem abraçou carinhosamente a cunhada. Sinhana estava aborrecida com o barulho e a agitação da festa. Ninguém ouvia ninguém. Ensurdecedor. A alta-fidelidade no último ponto.

SINHANA - Quem não agüenta sou eu. Espera aí que já dou um jeito nesse negócio, á minha maneira.

CENA 10 - APARTAMENTO DE DUDA - SALA - INT. - NOITE.

Sinhana dirigiu-se á sala e correu ao aparelho de som, desligando-o. Todos os olhos se voltaram para ela.


SINHANA - Olha aí. Acabô a bagunça, minha gente. Acabô. Vamos embora, cada um pras suas casa, que já é hora de dormi. Vamos indo, minha gente. Vamos embora.

CARMEN - Quem é a grossa?

SINHANA - Sou aquela que, se fosse tua mãe, te dava ensinamento. Como não sou, com a graça de Deus, não tenho obrigação de te aturar. Olha aí, a porta da rua. Olha aí. Tá bem aberta (escancarou a porta) Vamo dando o fora, todo mundo pra rua.

Os pares saíram reclamando, mas deixaram o apartamento. Sinhana ainda gritou, quando os últimos se afastavam, rumo ao elevador:

SINHANA - Isto aqui é casa de família, tão me ouvindo? Família. (e falando para o filho e a nora) Comigo é assim. Você tem que aprendê, minha filha...

RITINHA - Puxa vida, que saudades que eu estava de vocês! ( abraçando Sinhana) Olha, o banheiro é ali, eu sei que vocês querem tomar banho e depois vamos á janta. Preparei um guisadinho bacana pra vocês comerem.

Jerônimo observava os copos, pratos, cinzas de cigarro. Aquela balbúrdia de fim de festa. Ritinha o abraçou. O rapaz desvencilhou-se dela quase com brutalidade.

RITINHA - Jerônimo...

JERÔNIMO - Cê não tem modos de mulher casada.

RITINHA - É que o Duda não tem me dado vida de casada.

JERÔNIMO - Que é que ele anda fazendo?

RITINHA - Já ouviu falar num negócio chamado jogo de futebol? Concentração? Treinos? Viagens? Obrigações de um jogador de futebol? Olhe aqui... Duda fica comigo dois dias por semana, quando muito... sendo que um deles... ele dedica á sua... ex-noiva.

JERÔNIMO - Pois é. Agora num tem mais jeito, Ritinha. Cê não pode voltá atrás. Desgraçô com a minha vida e com a sua.

RITINHA - Veio de tão longe... só pra me dizer isso, é? Nem precisava. Pra me dizer que meu casamento foi um fracasso? Eu já sabia. Desde que pus os pés neste Rio de Janeiro.

Ritinha começava a choramingar.

JERÔNIMO - Não vai chorar agora, vai?

RITINHA - Tá com muita prosa só porque vai ter um cargo de presidente da Associação dos Garimpeiros.

Jerônimo sorriu com a ingenuidade da moça. Resolveu acabar com a discussão.

JERÔNIMO - Como é, não se come nesta terra?

Sinhana gritou do banheiro.

SINHANA - (off) Ei, Ritinha, o aquecedô tá pegando fogo!

Os dois olharam-se recíprocamente e abriram a boca numa gargalhada imensa. No banheiro, a velha passava mal.

FIM DO CAPÍTULO 20


E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...


* DUDA, AO RETORNAR AO FLAMENGO, TERÁ DE ENFRENTAR A FÚRIA DO TÉCNICO FAUSTO PAIVA, QUE DESCOBRIU SUA FUGA PARA IR AO ENCONTRO DA MÃE E DO IRMÃO, QUE ACABARAM DE CHEGAR AO RIO DE JANEIRO.

* EM COROADO, PEDRO BARROS COMUNICA Á FILHA, MARIA DE LARA, QUE DEU SUA MÃO EM CASAMENTO AO DELEGADO FALCÃO.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 21 DE IRMÃOS CORAGEM!!!

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