sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 3

Roteirizado por Antonio Figueira
Colaboração de Robson Augusto
do original de Janete Clair


CAPÍTULO 3

CENA 1 – COROADO – GARIMPO DE PEDRO BARROS – EXT. – DIA

Na outra banda da cidade, os tratores desvirginavam o solo á cata de diamantes. Chapelão caído sobre os olhos, o Coronel Pedro Barros enxugava a testa com um lenço úmido de suor. O trabalho se desenvolvia com a ajuda de novas máquinas. Trabalho penoso, amenizado pela força do aço que abria sulcos na pele dura da terra. Pedro Barros dava ordens, gesticulava, gritava. Seus cabelos e barba, grisalhos, embebidos de suor. O sol queimava. Depois de alguns minutos afastou-se em direção ao rio. O garimpo faiscava. Dezenas de homens peneiravam, pés submersos, água na altura dos joelhos., á procura das gemas que não lhes pertenciam. Da fortuna que jamais lhes serviria no futuro. Braz Canoeiro era um deles.Negro,de bonita estampa, leal, bom caráter. O suor que lhe escorria das costas parecia refletir, qual espelho, o olho coruscante do sol.

Juca Cipó acabava de chegar.Desmontou e observou o bando em atividade. Seus olhos fixaram a figura em negro de Braz Canoeiro e se concentraram em seu gesto natural de limpar os lábios com o dorso da mão.

JUCA CIPÓ - Peguem esse homem!

CAPANGA - Qual homem, seu Juca?

JUCA CIPÓ - (correndo na direção do negro) - Braz Canoeiro. Ele engoliu um diamante!

O garimpo parou de estalo para assistir á cena. Vencido pelo jagunço, Braz foi lançado ao solo, de encontro ao cascalho.

BRAZ CANOEIRO - Cês tão enganado... eu não engoli nada, não.

JUCA CIPÓ - Engoliu sim. Eu vi. Vi quando ocê passô a mão na boca, nego nojento.

BRAZ CANOEIRO - Passei sim, mas não engoli nada... juro.

Braz empalideceu. Abriu a boca com as duas mãos. O Coronel Pedro Barros se aproximou do local. Severo nos seus sessenta e poucos anos.

PEDRO BARROS - Que foi que houve aí?

JUCA CIPÓ - Esse crioulo sujo, seu coroné. Engoliu um diamante.

PEDRO BARROS - Façam ele botar pra fora.

BRAZ CANOEIRO - (reagindo, amedrontado) Não é verdade, seu coroné. Eu não engoli nada. Juro por Deus, pela minha mãe.

PEDRO BARROS - Façam ele cuspir o diamante. Por cima ou por baixo. Cadê o óleo de rícino?

De um salto o jagunço chegou á cabana onde estavam guardados o material de trabalho, alimentos e remédios de uso permanente. Voltou com uma garrafa na mão.

BRAZ CANOEIRO - (gritando, enlouquecido, apavorado) Não! Eu não engoli nada. Eu não engoli...

Juca Cipó puxou do revólver, puxou com violência a cabeça do negro e encostou o cano na têmpora encarapinhada.

JUCA CIPÓ - Vamos, bebe ou morre!

Braz ingeriu todo o conteúdo. E caiu ao solo.

CORTE PARA:

CENA 2 - COROADO - CENTRO DA CIDADE - EXT. - DIA.

Na igrejinha branca, o papel de seda multicolorido, cortado em tiras, se destacava qual pintura em alto-relevo. A cidade vivia. Coroado se engalanava para receber seu filho famoso. De um lado para outro da rua estreita, a faixa se destacava – SEJA BEM-VINDO, DUDA. Pés no chão, calça de brim, rota, aqui e ali desenhada de remendos coloridos, um tabaréu palitava os cacos de dentes, debruçado no balcão sujo da bodega. Deu uma bicada, cuspindo o pardo do fumo de mistura á brancura da aguardente que queimava. Ao longe um sino tangia. Na rua um moleque pregava o “sabor da cocadinha de côco”. O bimbalhar do chocalho conduzia o jumento da água ao seu destino. No armarinho-tem-de-tudo, Dona Ana vendia rendas e peças de chita .A cidade vibrava. Coroado estava em festa.

De repente o monstrengo estremeceu a rua . João Coragem surgia num fordeco 34, caindo aos pedaços . Sinhana de vestido novo, sorridente. Jerônimo, medalhão sobre o peito, admirando as novidades e João, feliz, na direção do calhambeque.

JOÃO - (mostrando a faixa embalada pelo vento) Olha, mãe. Vou lê: SEJA BEM-VINDO, DUDA.

SINHANA - (surpresa) Como é que já souberam?

JOÃO - Todo mundo sabe. Tão preparando um festão pra quando ele chegá.

CORTE PARA

CENA 3 - COROADO - RUA - EXT. - SEQUENCIA - DIA.

A moça apareceu na esquina. Quase correndo no seu andar lépido e aprumado. Rita de Cássia era toda excitação. O vestido florido, de saia rodada, escondia formas firmes e arredondadas. Os seios saltavam a cada movimento da jovem, na tentativa de libertar-se da prisão do pano. As faces vermelhas acentuavam o rubor no esforço da pressa.

RITINHA - João.

JOÃO - Rita.

RITINHA - (contendo o entusiasmo, dirigindo-se a Sinhana) Oh, Sinhana... É verdade que ele chega mesmo amanhã?

JOÃO - (apontando a faixa, orgulhoso) Tu não ta vendo? Tem faixa na rua. Banda ensaiando. Parece até deputado em véspera de eleição.

RITINHA - Eu quase não acreditei. Faz tanto tempo...

SINHANA - Sete anos, Ritinha. Sete anos. Quando saiu daqui, tinha 16. Tá um home.

RITINHA - Será que ele ainda se lembra da gente?

SINHANA - Intão num havia de se lembrá, Ritinha? De mim, que sou mãe dele?

RITINHA - (desconcertada) Eu... espero que não tenha me esquecido, também.

Era visível a preocupação da moça. Naquele momento via o pai sair da farmácia e se aproximar do grupo.

RITINHA - (despedindo-se, apressada) Té logo, Sinhana. Té logo, João.

Enquanto Ritinha se afastava, Sinhana comentou com o filho:

SINHANA - Por quê tanto assanhamento dessa menina?

JOÃO - Não se lembra, mãe? Ela foi namorada do Duda.

SINHANA - Ah, é verdade...

CORTE PARA:

CENA 4 - COROADO - RUA - EXT. - SEQUENCIA - DIA.

O cadilaque de Pedro Barros estacionou pouco atrás do fordeco. Maria de Lara deixara a quietude da fazenda em busca do rebuliço de Coroado. Quase ninguém conhecia a filha do coronel na cidadezinha agitada dos garimpos. Desde menina, presa nos limites da fazenda, quando moça fora para o Rio e só agora retornara, professora, para a tranqüilidade das terras do coronel. Comentava-se a beleza, a bondade da filha do coronel – um oásis no clima de violência da fazenda do pai. O carro permanecia parado. No rosto da moça a doçura, a meiguice. Foi isto que mais impressionou João Coragem ao se aproximar do veículo.

JOÃO - (murmurando) Bela demais...

JERÔNIMO - Quê que ce viu aí dentro, mano?

JOÃO - (despertando do repentino enlevo) Um diamante, Jerônimo. Um rubim daqueles!

JERÔNIMO - Num é o carro de Pedro Barros?

JOÃO - (sem tirar os olhos da moça) É. Mas ela quem é?

JERÔNIMO - Sei lá, João. Vamo simbora. Isso é bamburra demais pra nós.


NÃO PERCA, NA PRÓXIMA SEGUNDA, O 4. CAPÍTULO DE IRMÃOS CORAGEM!!



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