quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - Capítulo 2

Roteirizado por Antonio Figueira
Colaboração de Robson Augusto
do original de Janete Clair


Capítulo 2


CENA 1. COROADO.GARIMPO.EXT.DIA

Peitos nus, tostados pelo sol, os garimpeiros catavam a riqueza. As peneiras rudes passando, mão-a-mão, num ritmo de máquina. O trançado fino deixando escapar fios cristalinos de água do rio, retendo o cascalho bruto, as peneiras rolavam ns dança das mãos. Peneira na água. Peneira no sol. De mão-para-mão. Barro no rio. Cascalho no sonho que não se acabava. Era a cata do diamante.

Jerônimo apareceu correndo.

JERÔNIMO - (telegrama na mão) João! Ô João!

O homem rijo susteve a peneira. Era um jovem másculo de peito largo, irmão Coragem de olhos negros, mãos calosas do trabalho duro de sol-a-sol. Fez sinal ao outro que esperasse. Era todo concentração no dançar das pedras. Jerônimo avizinhou-se, impaciente.

JERÔNIMO - Bamburrou, mano?

JOÃO - Nada. É um
chibiu, pedrinha miúda.

JERÔNIMO - Olho de mosquito...

JOÃO - Que era que tu vinha gritando, feito maluco?

JERÔNIMO - Trago notícia, Jão. Chegou telegrama do Rio. Do Duda... ele vai vir depois de amanhã.

JOÃO – (virando-se risonho) Duda? Vai vir aqui?

JERÔNIMO – Pode lê o telegrama, mano.

JOÃO - (segurando o telegrama com a mão molhada e suja de barro) É mesmo. Puxa, há quanto tempo não vejo aquele sem-vergonha. Vai ser uma alegria pros velhos...

JERÔNIMO - Tão chorando de alegria.

JOÃO - (feliz) Menino, vai sê uma festança!

Dois homens se aproximavam a cavalo. Um deles, tipo estranho, de gestos afeminados, conhecido em toda a região do garimpo. Juca Cipó. Homem de feições traiçoeiras, onde a maldade se mostrava clara. Caráter formado em anos de crime contra a gente simples do garimpo. Juca era temido. Rostos sombrios, ele e o companheiro alcançaram a margem do rio. Súbito silencio quebrou a alegria dos presentes. O próprio ar pareceu parar de repente.

JUCA CIPÓ - Tardes...

JOÃO - Tardes...

JUCA CIPÓ - Como vai o garimpo, gentes? Bamburrando muito?

JOÃO - Que o quê.... só farinhada, quando muito.

JUCA CIPÓ - Trago um recado do patrão procês. Do coroné Pedro Barros.

Todos os olhos se voltaram a um só tempo.

JOÃO - Que recado?

JUCA CIPÓ - Avisar a ocês que tem gringo na cidade. O coroné manda prevenir que quem vender diamante pra eles vai se dá mal...

Jerônimo sentiu o rosto ferver. Tentou sacar da arma que descansava na bainha. Deu um passo á frente na direção do capanga. João, pressentindo a aproximação do perigo, num gesto rápido, conteve a fúria do irmão. Juca Cipó permanecia atento, o riso sarcástico na boca feminina.

JERÔNIMO – (impetuoso) - Pois diga lá ao “seu” coronel Pedro Barros que quem vai se dar mal é ele. Nós vendemos nossas pedra pra quem quisé.

JOÃO - Calma, Jerônimo... ( e dirigindo-se a Juca Cipó) Este garimpo é nosso. “Seu” coronel Pedro Barros manda lá, no garimpo dele.

Impassível, acariciando a crina do animal, Juca observava a reação dos Coragens. Jerônimo apertou os olhos, nervosamente.

JUCA - Tá certo. Mas na hora de vendê as pedras ocês tem que vendê pra ele.

JOÃO - A gente sempre vende.

JERÔNIMO - E ele se aproveita pagando o que qué...

JOÃO - (explodindo) Até o dia que a gente quisé vendê a outro, porquê a gente é livre, Juca!

Juca irritou-se. Sorriu, irônico.

JOÃO – (chegando perto da montada) Hôme, vou até lhe dizê... Tenho encontro marcado com os gringos e vou vendê minhas pedras pra eles.

JUCA - Pois vamos vê... O recado tá dado. O resto é com ocês. Vamo.

Juca partiu a galope seguido do capanga. Os irmãos permaneceram rígidos, como que tocados por um vento de morte. Ao longe os cavalos se perdiam numa curva da estrada. O tropel cessara.

JERÔNIMO - Que vontade, Jão, de dar uma surra nesse jagunço desgraçado.

JOÃO - Calma, mano. Nada de gastá vela com mau difunto...

João estreitou o irmão num abraço e caminhou com ele até a beira do rio.

JOÃO - Anda. Vem me ajudá a catá um pouco. Esta noite sonhei que estava correndo atrás de um boi.

JERÔNIMO - Sonhar com boi é pedra grande na certa!

JOÃO - E o boi era zebu.

JERÔNIMO - Melhor ainda.

O cascalho acumulava-se á margem do rio. Macias, as águas rolavam acariciando o fundo barrento. O ritmo da peneirada voltou a alegrar os homens rudes e a confundir-se com a movimentação da natureza – o rio a correr, os pássaros a voar, o vento a embalar a copa das árvores. João lembrou-se do telegrama e da chegada do irmão.

JOÃO - Como será que tá o Duda, mano?

JERÔNIMO - Tá um home. É jogadô de futebol, de fama.

JOÃO - Vivo que ele é. Encontrou uma mina nos pés, o safado. E a gente aqui, a dá duro feito um escravo...


FIM DO 2. CAPÍTULO

NÃO PERCA O 3. CAPÍTULO DE IRMÃOS CORAGEM!!!

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