Roteirizado por Antonio Figueira
Colaboração de Robson Augusto
do original de Janete Clair
Capítulo 2
Colaboração de Robson Augusto
do original de Janete Clair
Capítulo 2
CENA 1. COROADO.GARIMPO.EXT.DIA
Peitos nus, tostados pelo sol, os garimpeiros catavam a riqueza. As peneiras rudes passando, mão-a-mão, num ritmo de máquina. O trançado fino deixando escapar fios cristalinos de água do rio, retendo o cascalho bruto, as peneiras rolavam ns dança das mãos. Peneira na água. Peneira no sol. De mão-para-mão. Barro no rio. Cascalho no sonho que não se acabava. Era a cata do diamante.
Jerônimo apareceu correndo.
JERÔNIMO - (telegrama na mão) João! Ô João!
O homem rijo susteve a peneira. Era um jovem másculo de peito largo, irmão Coragem de olhos negros, mãos calosas do trabalho duro de sol-a-sol. Fez sinal ao outro que esperasse. Era todo concentração no dançar das pedras. Jerônimo avizinhou-se, impaciente.
JERÔNIMO - Bamburrou, mano?
JOÃO - Nada. É um chibiu, pedrinha miúda.
JERÔNIMO - Olho de mosquito...
JOÃO - Que era que tu vinha gritando, feito maluco?
JERÔNIMO - Trago notícia, Jão. Chegou telegrama do Rio. Do Duda... ele vai vir depois de amanhã.
JOÃO – (virando-se risonho) Duda? Vai vir aqui?
JERÔNIMO – Pode lê o telegrama, mano.
JOÃO - (segurando o telegrama com a mão molhada e suja de barro) É mesmo. Puxa, há quanto tempo não vejo aquele sem-vergonha. Vai ser uma alegria pros velhos...
JERÔNIMO - Tão chorando de alegria.
JOÃO - (feliz) Menino, vai sê uma festança!
Dois homens se aproximavam a cavalo. Um deles, tipo estranho, de gestos afeminados, conhecido em toda a região do garimpo. Juca Cipó. Homem de feições traiçoeiras, onde a maldade se mostrava clara. Caráter formado em anos de crime contra a gente simples do garimpo. Juca era temido. Rostos sombrios, ele e o companheiro alcançaram a margem do rio. Súbito silencio quebrou a alegria dos presentes. O próprio ar pareceu parar de repente.
JUCA CIPÓ - Tardes...
JOÃO - Tardes...
JUCA CIPÓ - Como vai o garimpo, gentes? Bamburrando muito?
JOÃO - Que o quê.... só farinhada, quando muito.
JUCA CIPÓ - Trago um recado do patrão procês. Do coroné Pedro Barros.
Todos os olhos se voltaram a um só tempo.
JOÃO - Que recado?
JUCA CIPÓ - Avisar a ocês que tem gringo na cidade. O coroné manda prevenir que quem vender diamante pra eles vai se dá mal...
Jerônimo sentiu o rosto ferver. Tentou sacar da arma que descansava na bainha. Deu um passo á frente na direção do capanga. João, pressentindo a aproximação do perigo, num gesto rápido, conteve a fúria do irmão. Juca Cipó permanecia atento, o riso sarcástico na boca feminina.
JERÔNIMO – (impetuoso) - Pois diga lá ao “seu” coronel Pedro Barros que quem vai se dar mal é ele. Nós vendemos nossas pedra pra quem quisé.
JOÃO - Calma, Jerônimo... ( e dirigindo-se a Juca Cipó) Este garimpo é nosso. “Seu” coronel Pedro Barros manda lá, no garimpo dele.
Impassível, acariciando a crina do animal, Juca observava a reação dos Coragens. Jerônimo apertou os olhos, nervosamente.
JUCA - Tá certo. Mas na hora de vendê as pedras ocês tem que vendê pra ele.
JOÃO - A gente sempre vende.
JERÔNIMO - E ele se aproveita pagando o que qué...
JOÃO - (explodindo) Até o dia que a gente quisé vendê a outro, porquê a gente é livre, Juca!
Juca irritou-se. Sorriu, irônico.
JOÃO – (chegando perto da montada) Hôme, vou até lhe dizê... Tenho encontro marcado com os gringos e vou vendê minhas pedras pra eles.
JUCA - Pois vamos vê... O recado tá dado. O resto é com ocês. Vamo.
Juca partiu a galope seguido do capanga. Os irmãos permaneceram rígidos, como que tocados por um vento de morte. Ao longe os cavalos se perdiam numa curva da estrada. O tropel cessara.
JERÔNIMO - Que vontade, Jão, de dar uma surra nesse jagunço desgraçado.
JOÃO - Calma, mano. Nada de gastá vela com mau difunto...
João estreitou o irmão num abraço e caminhou com ele até a beira do rio.
JOÃO - Anda. Vem me ajudá a catá um pouco. Esta noite sonhei que estava correndo atrás de um boi.
JERÔNIMO - Sonhar com boi é pedra grande na certa!
JOÃO - E o boi era zebu.
JERÔNIMO - Melhor ainda.
O cascalho acumulava-se á margem do rio. Macias, as águas rolavam acariciando o fundo barrento. O ritmo da peneirada voltou a alegrar os homens rudes e a confundir-se com a movimentação da natureza – o rio a correr, os pássaros a voar, o vento a embalar a copa das árvores. João lembrou-se do telegrama e da chegada do irmão.
JOÃO - Como será que tá o Duda, mano?
JERÔNIMO - Tá um home. É jogadô de futebol, de fama.
JOÃO - Vivo que ele é. Encontrou uma mina nos pés, o safado. E a gente aqui, a dá duro feito um escravo...
FIM DO 2. CAPÍTULO
Nenhum comentário:
Postar um comentário