Roteiro de Antonio Figueira
Colaboração de Robson Augusto
Capítulo 1
LETREIRO:
RIO DE JANEIRO - 1965
Colaboração de Robson Augusto
Capítulo 1
LETREIRO:
RIO DE JANEIRO - 1965
CENA 1. ESTADIO DO MARACANÃ.EXT.DIA
O Maracanã estremecia. Bandeiras rubro-negras, aos milhares, agitavam-se no imenso anel do estádio. A cada finta, a cada passe, a multidão respondia com a cadencia do “olé”! Feições transtornadas, mãos que se apertavam em desespero, na solidariedade do sofrimento. Era o Flamengo na ânsia da vitória. Em todo o campo – num eco gigantesco – a voz dos locutores brotava de dezenas de milhares de transistores. O Brasil acompanhava atento a “tortura” de seu time mais querido. Frios, os ponteiros dos relógios assinalavam os instantes finais. O Flamengo insistia.
LOCUTOR - (off) ...Avança o Flamengo nos minutos derradeiros da partida. O placar permanece mudo. Só a vitória interessa á equipe da Gávea... Lá vai Gérson. Domina o couro. Ultrapassa o meio do campo. Finta um adversário. Passa por outro e estende na direita a Carlos Alberto, que entrega a Duda – a maior figura em campo... O Brasil acompanha atento a “tortura” do seu time mais querido. Frios, os ponteiros do relógio assinalam os instantes finais. O Flamengo insiste!
O repentino silêncio foi quebrado apenas pelo locutor nervoso
LOCUTOR - (off) ...Duda investe pelo miolo. Vence um adversário. Dois. Penetra na área. Atenção. Pode marcar....
De repente a loucura. O grito da multidão em uníssono.
LOCUTOR - (off) “Gooooooool! Goooooooool! Do Flamengo! Duda! Duda!
Espocavam foguetes, frenéticas as bandeiras são agitadas. No gramado, um inferno.
LOCUTOR - “Uma pirâmide humana esmaga o ídolo da Gávea... Duda chora. O juiz olha o seu cronômetro. Vai terminar a partida. Há um delírio no Maracanã, senhoras e senhores. E atenção! Terminou o jogo... Flamengo, campeão carioca de 1965!
Surdos e tamborins misturam-se aos gritos de Mengo! No gramado verde, salpicado de papéis, os rádio-repórteres investiam de microfones volantes
REPÓRTER - E agora, Duda? Depois do título e do gol histórico...
DUDA - Um só pensamento. Pedir licença ao clube para ver minha mãe. Visitar minha terra e abraçar meus irmãos, que não vejo há muitos anos. É tudo o que quero.
REPÓRTER - Senhoras e senhores, que admirável exemplo de profissional. Dono da tarde, autor do gol que deu o campeonato ao Flamengo, Duda foge de qualquer outro compromisso para voltar á sua terra, rever sua gente e sua mãezinha, numa cidade distante, no interior do país...
CORTA PARA:
LETREIRO: COROADO
CENA 2 – CASA DE SINHANA. INT. DIA.
Na casa rústica de Coroado, a velha Sinhana colocava o último prato sobre a mesa de pés maciços. Num canto da parede a imagem de São José. Cam na imagem e no ambiente todo. Sobre o baú secular – herança não se sabe de quem – algumas amostras sem valor de pedras da região. O cheiro do feijão bem temperado inundava a sala onde o garimpeiro Sebastião – pele curtida, enrugada, faces esquálidas – retirava a bota enlameada e gasta.
SINHANA - Sabe, velho,esta noite sonhei com o nosso Duda, o ingratão.
SEBASTIÃO - Se preocupa não. O menino tá mais arranjado na vida que os dois irmãos, o Jerônimo e o João.
Sinhana chegou á janela. Ao longe, na linha do horizonte, o risco das montanhas arranhava o céu. O verde das árvores tingia de alegria a solidão ambiente. A velha porteira, corroída pelo tempo, fechava os sonhos de liberdade do gado tristonho, a ruminar. Ao longe, um manto de poeira levantava-se da estrada de barro batido. Num galope cadenciado, um cavaleiro se aproximava.
SINHANA - (sotaque carregado) “Jerome” vem aí.
CENA 3 – CASA DE SINHANA. EXT. DIA.
Era um jovem de traços belos, cabeleira revolta, gestos agressivos e expressão sofrida. O cavalo estacou retido pela pressão das rédeas, o suor do animal se confundindo com o suor do homem. Fôra longa a esticada de Coroado ao rancho humilde e pobre.
CENA 4 – CASA DE SINHANA. INT.DIA
Ligeiro o jovem saltou da sela, atou o laço num tronco de árvore e dirigiu-se á casa, agitado.
JERÔNIMO - Mãe! Mãe!
SINHANA - Que e isso, Jerome! Que escarcéu é esse? Será que achou rubim?
JERÔNIMO - Não. Mãe. Tava no garimpo, não. Vim da cidade, correndo pra lhe mostrá esse telegrama que seu Zequinha, do correio, me deu. É do Duda, mãe!
Sinhana estremeceu.
SINHANA - (misto de emoção e apreensão) Duda? Que é que diz, meu filho? Má nova?
JERÔNIMO (alegre) - Que ele chega depois de amanhã!
A noticia fora forte demais. Sinhana escorou o corpo pesado de encontro á porta de madeira, com lágrimas a estourarem de seus olhos, O pensamento voltou aos dias de outros tempos. Ao filho ausente. Nascido ali. Na natureza agreste da região. Dali partira para a cidade grande. Aprendera a arte do futebol – “tão diferente das lutas do garimpo” – e hoje, famoso – “tava nos jornais e na boca de toda gente”.
JERÔNIMO (repete) - Chega depois de amanhã, mãe. Parece mentira...
SINHANA - Tu leu direito, filho? É verdade mesmo?
JERÔNIMO - Então. Mãe, eu não sei lê? Olha: (lê em voz alta) “Chego trem de quinta-feira. Duda”.
Sinhana pensava nos anos de ausência do filho. Nunca escrevera uma linha, nunca mandara notícia... e as lágrimas deslizaram incontidas pela face da velha mãe.
Jerônimo se aproximou. Com rudeza levantou as pontas do avental e enxugou as lágrimas da mãe.
SEBASTIÃO - Deixa isso pra lá, velha. Sei porquê ta chorando, mas cada um tem seu jeito de sê.
SINHANA - (voltando-se para o marido) Se alegra, Bastião. Seu filho Duda vai chegar.
SEBASTIÃO - Ouvi tudo, mulher. Tou alegre. Você sabe que tou. (dirigindo-se ao filho) Seu irmão já sabe?
JERÔNIMO - João? Inda não.
SEBASTIÃO - Então corre, vai dizê pra ele. Tá no garimpo.
FIM DO CAPÍTULOO Maracanã estremecia. Bandeiras rubro-negras, aos milhares, agitavam-se no imenso anel do estádio. A cada finta, a cada passe, a multidão respondia com a cadencia do “olé”! Feições transtornadas, mãos que se apertavam em desespero, na solidariedade do sofrimento. Era o Flamengo na ânsia da vitória. Em todo o campo – num eco gigantesco – a voz dos locutores brotava de dezenas de milhares de transistores. O Brasil acompanhava atento a “tortura” de seu time mais querido. Frios, os ponteiros dos relógios assinalavam os instantes finais. O Flamengo insistia.
LOCUTOR - (off) ...Avança o Flamengo nos minutos derradeiros da partida. O placar permanece mudo. Só a vitória interessa á equipe da Gávea... Lá vai Gérson. Domina o couro. Ultrapassa o meio do campo. Finta um adversário. Passa por outro e estende na direita a Carlos Alberto, que entrega a Duda – a maior figura em campo... O Brasil acompanha atento a “tortura” do seu time mais querido. Frios, os ponteiros do relógio assinalam os instantes finais. O Flamengo insiste!
O repentino silêncio foi quebrado apenas pelo locutor nervoso
LOCUTOR - (off) ...Duda investe pelo miolo. Vence um adversário. Dois. Penetra na área. Atenção. Pode marcar....
De repente a loucura. O grito da multidão em uníssono.
LOCUTOR - (off) “Gooooooool! Goooooooool! Do Flamengo! Duda! Duda!
Espocavam foguetes, frenéticas as bandeiras são agitadas. No gramado, um inferno.
LOCUTOR - “Uma pirâmide humana esmaga o ídolo da Gávea... Duda chora. O juiz olha o seu cronômetro. Vai terminar a partida. Há um delírio no Maracanã, senhoras e senhores. E atenção! Terminou o jogo... Flamengo, campeão carioca de 1965!
Surdos e tamborins misturam-se aos gritos de Mengo! No gramado verde, salpicado de papéis, os rádio-repórteres investiam de microfones volantes
REPÓRTER - E agora, Duda? Depois do título e do gol histórico...
DUDA - Um só pensamento. Pedir licença ao clube para ver minha mãe. Visitar minha terra e abraçar meus irmãos, que não vejo há muitos anos. É tudo o que quero.
REPÓRTER - Senhoras e senhores, que admirável exemplo de profissional. Dono da tarde, autor do gol que deu o campeonato ao Flamengo, Duda foge de qualquer outro compromisso para voltar á sua terra, rever sua gente e sua mãezinha, numa cidade distante, no interior do país...
CORTA PARA:
LETREIRO: COROADO
CENA 2 – CASA DE SINHANA. INT. DIA.
Na casa rústica de Coroado, a velha Sinhana colocava o último prato sobre a mesa de pés maciços. Num canto da parede a imagem de São José. Cam na imagem e no ambiente todo. Sobre o baú secular – herança não se sabe de quem – algumas amostras sem valor de pedras da região. O cheiro do feijão bem temperado inundava a sala onde o garimpeiro Sebastião – pele curtida, enrugada, faces esquálidas – retirava a bota enlameada e gasta.
SINHANA - Sabe, velho,esta noite sonhei com o nosso Duda, o ingratão.
SEBASTIÃO - Se preocupa não. O menino tá mais arranjado na vida que os dois irmãos, o Jerônimo e o João.
Sinhana chegou á janela. Ao longe, na linha do horizonte, o risco das montanhas arranhava o céu. O verde das árvores tingia de alegria a solidão ambiente. A velha porteira, corroída pelo tempo, fechava os sonhos de liberdade do gado tristonho, a ruminar. Ao longe, um manto de poeira levantava-se da estrada de barro batido. Num galope cadenciado, um cavaleiro se aproximava.
SINHANA - (sotaque carregado) “Jerome” vem aí.
CENA 3 – CASA DE SINHANA. EXT. DIA.
Era um jovem de traços belos, cabeleira revolta, gestos agressivos e expressão sofrida. O cavalo estacou retido pela pressão das rédeas, o suor do animal se confundindo com o suor do homem. Fôra longa a esticada de Coroado ao rancho humilde e pobre.
CENA 4 – CASA DE SINHANA. INT.DIA
Ligeiro o jovem saltou da sela, atou o laço num tronco de árvore e dirigiu-se á casa, agitado.
JERÔNIMO - Mãe! Mãe!
SINHANA - Que e isso, Jerome! Que escarcéu é esse? Será que achou rubim?
JERÔNIMO - Não. Mãe. Tava no garimpo, não. Vim da cidade, correndo pra lhe mostrá esse telegrama que seu Zequinha, do correio, me deu. É do Duda, mãe!
Sinhana estremeceu.
SINHANA - (misto de emoção e apreensão) Duda? Que é que diz, meu filho? Má nova?
JERÔNIMO (alegre) - Que ele chega depois de amanhã!
A noticia fora forte demais. Sinhana escorou o corpo pesado de encontro á porta de madeira, com lágrimas a estourarem de seus olhos, O pensamento voltou aos dias de outros tempos. Ao filho ausente. Nascido ali. Na natureza agreste da região. Dali partira para a cidade grande. Aprendera a arte do futebol – “tão diferente das lutas do garimpo” – e hoje, famoso – “tava nos jornais e na boca de toda gente”.
JERÔNIMO (repete) - Chega depois de amanhã, mãe. Parece mentira...
SINHANA - Tu leu direito, filho? É verdade mesmo?
JERÔNIMO - Então. Mãe, eu não sei lê? Olha: (lê em voz alta) “Chego trem de quinta-feira. Duda”.
Sinhana pensava nos anos de ausência do filho. Nunca escrevera uma linha, nunca mandara notícia... e as lágrimas deslizaram incontidas pela face da velha mãe.
Jerônimo se aproximou. Com rudeza levantou as pontas do avental e enxugou as lágrimas da mãe.
SEBASTIÃO - Deixa isso pra lá, velha. Sei porquê ta chorando, mas cada um tem seu jeito de sê.
SINHANA - (voltando-se para o marido) Se alegra, Bastião. Seu filho Duda vai chegar.
SEBASTIÃO - Ouvi tudo, mulher. Tou alegre. Você sabe que tou. (dirigindo-se ao filho) Seu irmão já sabe?
JERÔNIMO - João? Inda não.
SEBASTIÃO - Então corre, vai dizê pra ele. Tá no garimpo.
NÃO PERCA, NA PRÓXIMA QUARTA, O 2. CAPÍTULO DE IRMÃOS CORAGEM!!!
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