sexta-feira, 15 de abril de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 30


Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 30

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

SINHANA
JOÃO
JERÔNIMO
CEMA
BRAZ CANOEIRO
JUCA CIPÓ
PEDRO BARROS
DELEGADO FALCÃO

CENA 1 - RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.

Sentado no chão, João Coragem observava os dedos ágeis de Sinhana a costurar-lhe a calça rota e remendada. Moveu os braços e retirou de sob o travesseiro um retrato de mulher. Fitou-o demoradamente, embevecido, desligado de tudo e de todos. Sinhana parou para admirar o alheamento do filho. Balançou a cabeça, desconsolada.

SINHANA - Nunca mais viu ela, filho?

João voltou a si, guardando a foto no bolso da camisa.

JOÃO - (entre alegre e surpreso) Não... mas vou vê, mãe. Comprá um terno bão... ir na capital vendê meu diamante... voltá pra Coroado cheio da nota... ir na casa do pai dela e dizê: eu já posso sê marido da sua filha.

SINHANA - (ar de malícia) E ela vai querê?

JOÃO - (otimista) Ela qué. Ela gosta de mim. Num entendo bem o que acontece... e já nem quero entendê. Eu acho que ela fez aquelas coisa toda... virô outra mulhé... pra me namorá.

Sinhana atirou a calça sobre a cama e botou as duas mãos sobre os joelhos.

SINHANA - Então ela tem duas cara, filho?

JOÃO - Podia tê até três, mãe. Eu quero ela assim mesmo. Tou doido por ela, mãe. Tou maluco!

A velha levantou-se e tornou a apanhar a calça que jogara sobre a cama e, virando-a pelo avesso, mostrou o bolsinho sobressalente que improvisara. Puxou-o com força, testando a resistência.

SINHANA - Olha aí, botei o diamante na bolsinha de couro e fiz um bolsinho a mais na tua calça, pra caber ela... Amarrei bem amarrado, com linha de barbante. Veja se tá firme...

João experimentou puxar o pequeno bolso de couro do interior do bolso recém-costurado.

JOÃO - Firme, tá. Pra me roubá ela, tem que me matá.

Sinhana benzeu-se, ante as palavras azarentas do filho.

SINHANA - Deus Nosso Senhô não vai permiti, mas é preciso tê cuidado. Seu pai tá doente de medo. Anda sonhando com coisa ruim.

JOÃO - Que nada! (confiante) Eu confio na minha gente. Ninguém vai me fazê mal, nem me roubá a pedra.

Abraçou a mãe, beijando-lhe a testa.

SINHANA - Tenho muito medo, Jão...

JOÃO - A gente vai fazê bem pra todo mundo. Vai vê só. Vou pô máquina no garimpo, dá emprego pros home, fazê uma casa decente pra senhora. Vou fazê creche pra tudo quanto é criança... asilo pros velho, hospital... vou ajudá a prefeitura a calçá as rua de Coroado. Dá de comê aos pobre. Tratá dos animal sem dono. Vou fazê tanta coisa...

SINHANA - (lembrou, puxando-lhe as orelhas) Pensa um pouco em ocê, também.

JOÃO - Num quero muita coisa. Já disse. Só um terno bão... pra pedi aquela mulhé em casamento.

Sinhana achou graça da ingenuidade do grandalhão.

SINHANA - Só terno bão não resorve, filho...

JOÃO - Vai, gordinha... (em tom de brincadeira, batendo com a mão espalmada nas nádegas da velha) Veste um vestido bunito pra gente ir junto na cidade. Vou ao banco recebê o empréstimo. E quero que a minha família vai bem bunita...

SINHANA - Visto o vestido do intêrro?

JOÃO - (franziu o nariz, repetidamente) Num precisa ir tão chic, ô que! Um vestido decente, só!

Contente, Sinhana desapareceu pela porta do quarto.

CORTA PARA:

CENA 2 - RANCHO CORAGEM - QUARTO DE JOÃO - INT. - DIA.

Jerônimo contava ao irmão a história do encontro com Lara, quando ele e Cema visitaram a fazenda de Pedro Barros á procura de Braz Canoeiro.

JERÔNIMO - E... tenho um recado dela!

JOÃO - Lara?

JERÔNIMO - É... naquele momento... o olhar era de Lara. (depois de ligeira pausa, voltou a falar) Não sei se eu devo dar...

JOÃO - Não sabe! (quase gritava diante da hesitação do irmão) Claro que tem de dar. O que foi que ela mandô me dizê? Anda, fala logo!


JERÔNIMO - (de má vontade) Ela disse... que tá muito satisfeita por você tê achado o diamante...

Houve uma transformação repentina na face de João Coragem. O rosto másculo ameninou-se num sorriso infantil de contagiante alegria. Correu a pegar nas mãos de Jerônimo.

JOÃO - Ela disse isso? Ela disse? O que mais?

JERÔNIMO - Só.

JOÃO - (agitado pela novidade) Onde ocê viu ela? Como foi?

JERÔNIMO - Tinha ido buscá Braz na casa do Barros. Fui lá disposto a tudo. Lara... tava no jardim.

JOÃO - Me diga... tava bunita? Mansa? Calma?

JERÔNIMO - Era Lara. Não Diana.

JOÃO - E o Braz?

JERÔNIMO - Tá se escondendo da gente, irmão... Braz traiu ocê!

JOÃO - O quê? Braz? Num credito! Braz é home bão. Honesto. É dos nosso. (assanhou a cabeleira cuidada do irmão) Larga mão de tá só com pensamento ruim. Agora as coisa vão melhorá. Se alegra. Vamo na cidade tirá retrato de toda a família e pegá dinheiro no banco.

CENA 3 - RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.

A fala macia de Cema fez João voltar-se para a porta de entrada. Lá estavam ela e o marido.


CEMA - Braz precisa falá com ocê.

Alegre o rapaz tocou o ombro do irmão, como a chamar-lhe a atenção para os conceitos inamistosos emitidos contra o negro. Braz permanecia quieto, calado.

JOÃO - Tá aí o home, mano! Olha o Braz aí!

Com duas passadas, Jerônimo achegou-se ao casal. Falou seco, sem meios termos, dirigindo-se a Braz.

JERÕNIMO - Por onde andô?

JOÃO - (encorajou, notando a timidez do outro) Fala, Braz .

BRAZ - João... eu, eu num tenho nem cara de olhá procê.

JOÃO - Vamo lá. Que foi que o Pedro Barros te obrigô a fazê contra mim?

BRAZ - Não... até que ele não me judiô... não me obrigô. Me tratô muito bem... tentando me convencê a reclamá os direito da pedra, porque eu te ajudei a cavá a gruna. E me fez assiná um papel... em que dizia isso.

Cema atirou, com raiva, algumas notas de dinheiro sobre a mesa.

CEMA - E ele recebeu dinheiro pra te fazer isso, João!

Jerônimo apontou para o dinheiro e para a figura angustiada do negro.

JERÔNIMO - E você não chama isso de traição?

João pensou, enquanto manuseava as notas, espalhadas por sobre a mesa.

JOÃO - Quando muito... foi uma fraqueza, Braz... não foi traição. (bondosamente devolveu o dinheiro á mulher do amigo, fitando os olhos lacrimosos do negro).

JERÔNIMO - Essa não! (em atitude de revolta) Essa não! Você é um santo! Vai pro céu quando morrê. Pode ficá certo que vai.

JOÃO - (pausadamente) Então eu ia negá a sua parte, Braz? A parte de todo mundo que me ajudô a cavá a gruna? Então ocê acha que eu ia fugi com a pedra... pra não reparti o dinheiro dela, com ninguém? Nossa Senhora! (andava nervosamente, de um lado para outro no centro da sala, gesticulando fartamente) Vai sobrá dinheiro pra todo mundo. (virou-se para o irmão) Faz a conta aí, Jerônimo. Quanto é que a gente vai ganhá? A mil cruzeiros o quilate...

JERÕNIMO - É muito dinheiro. O diamante tem 750 quilates, no mínimo... assim de olho. Num sei fazê conta muito bem, mas seu doutô Rodrigo, que é esperto nessas coisa, disse que é quase um bilhão de cruzeiros.

JOÃO - Virge Mãe! Ninguém vai precisá brigá pra recebê a sua parte. Pega esse dinheiro e devolve pro Pedro Barros. Diz a ele que ocê num precisa de nada disso. Que todo mundo aqui vai ficá rico.

CENA 3 - COROADO - CARTÓRIO - INT. - DIA.

Durante vários minutos, em companhia do Delegado Falcão, Pedro Barros examinou os livros de escritura do tabelionato de Coroado.
Juca Cipó entrou, excitadíssimo, como sempre.

JUCA CIPÓ - Eles saíro do banco... agora entraro na igreja. Acho que tavam com os bolso cheio da nota, meu patrão.

Barros fechou estrepitosamente o grande livro do cartório.

PEDRO BARROS - É, mas não vão ter dinheiro pra pagá. O “seu” Valmir, gerente do banco, deu um golpe errado.

DELEGADO FALCÃO - A que conclusão o senhor chegou, meu coronel?

PEDRO BARROS - A de que a escritura do Matão é falsa!

DELEGADO FALCÃO - Falsa? Mas... pelo que acabamos de ver... nos livros que o escrivão nos emprestou... a escritura é absolutamente verdadeira.

PEDRO BARROS - (raivoso) Voce tá do lado deles ou do meu? Aquela pedra tem que vir pro meu bolso, Falcão. E vindo pra mim, vem pra você, também. Ou você já não quer mais ser meu genro?

DELEGADO FALCÃO - Eu... eu quero... é lógico, mas... seu co... coronel, nós temos que agir dentro da lei! Eu não po... posso fugir a isso... me desviar... nem um milímetro...

PEDRO BARROS - Pois eu tou exigindo que você cumpra a lei, ora essa! Você manda interditá a mina e obriga João a entregá a pedra...

DELEGADO FALCÃO - A quem?

PEDRO BARROS - Á lei, ora bolas! A você, que representa ela!

O delegado voltou a insistir, batendo com a mão espalmada contra a capa preta do livro oficial.

DELEGADO FALCÃO - A escritura... é verdadeira, repito!

JUCA CIPÓ - (saltou, atrevido e frenético) Se meu patrão tá dizeno que é falsa, tem que sê falsa!

PEDRO BARROS - O sujeito que vendeu as terra do Matão pra Sebastião Coragem tá morto há muitos anos. A gente pode prová que a assinatura dele não é verdadeira.

DELEGADO FALCÃO - Mas, eu não posso provar!

PEDRO BARROS - (ordenou, de cara amarrada) Manda interditá a mina e depois a gente arranja as provas.

DELEGADO FALCÃO - Mas...

PEDRO BARROS - Obedece, Falcão. Ou pode dá por encerrado o seu noivado com a minha filha!

Juca pulava, dando palmadas nas coxas.

JUCA CIPÓ - É isso mesmo. Escreveu não leu, pau comeu! Dá duro nele, meu patrão!

O olhar do delegado refletia desespero e ódio.

PEDRO BARROS - Vai ou não vai obedecê á minha ordem?

Falcão pesava os prós e os contras, mas era carta vencida no jogo desleal de Pedro Barros.

FIM DO CAPÍTULO 30
Rodrigo César (José Augusto Branco) e Potira (Lucia Alves)

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

# O DELEGADO FALCÃO, JUCA CIPÓ E OS CAPANGAS DE PEDRO BARROS ENFRENTAM OS IRMÃOS CORAGEM, DE ARMAS EM PUNHO, EXIGINDO A ENTREGA DO DIAMANTE. JOÃO E JERÔNIMO ESTÃO DISPOSTOS A TUDO PARA NÃO PERDER A PEDRA TÃO VALIOSA. QUEM VENCERÁ ESTA PARADA?

NÃO PERCA O CAPÍTULO 31 DE IRMÃOS CORAGEM!!!

Nenhum comentário:

Postar um comentário