sábado, 9 de abril de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 27



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 27

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO

JERÔNIMO

RODRIGO

SINHANA

PEDRO BARROS

DR. MACIEL

POTIRA


CENA 1 - RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.

Jerônimo e Rodrigo estavam atentos ás reações de Sinhana. O promotor perguntava-lhe sobre a vida de Maciel.


RODRIGO - Basta que responda como foi que Maciel matou a mulher.

SINHANA - Eu não disse que ele matou.

RODRIGO - Eu não estou querendo prejudicar o médico. Não é ele que eu pretendo pôr na cadeia. É outro... muito mais poderoso.

SINHANA - O que eu sei não dá pra pô ninguém na cadeia.

JERÔNIMO - (estimulou-a) Então diz, mãe... o que sabe?

A velha ensimesmou-se, acreditando na conveniência ou não de revelar o pouco que conhecia da história do médico. Um pouco que se transformaria em muito, uma vez levado ao conhecimento da Justiça.

JERÔNIMO - (insistia, humilde) Diz, mãe! Diz!

Rodrigo assistia atento á cena.

CENA 2 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - SALA - INT. - DIA.

Maciel descia as escadas. Barros foi ao seu encontro. Como sempre, o médico cheirava fortemente a álcool.


PEDRO BARROS - Que foi que houve com ela, desta vez?

DR. MACIEL - ... o ferimento no ombro, que se abriu de novo.

PEDRO BARROS - (apreensivo) É grave?

DR. MACIEL - Não. Do ferimento ela vai ficar boa. Entretanto... o mal da sua filha... não é bem esse.

Maciel acabou de descer e, cabisbaixo, deu alguns passos pela sala.

PEDRO BARROS - (voltou a insistir) O que é, doutô? Me diga logo!

DR. MACIEL - Já disse e repito... seu mal é mais da alma.

PEDRO BARROS - Por que diz isso?

DR. MACIEL - Porque eu sei... ela sofre por um problema interior. Eu não sou assim tão burro... que não perceba... quando um paciente tem problema dessa natureza!

Segurou a garrafa e desarrolhou-a com os dentes. Encheu um cálice e bebeu. Com uma careta depositou a taça sobre o balcão do bar.

DR. MACIEL - Meu coronel... prepare-se para um susto! (Barros empertigou-se, esperando pelo pior) Ela... abriu aquele ferimento... com suas próprias mãos!

A notícia teve o mesmo efeito que uma notícia de morte. Pedro Barros estremeceu. Procurou o refúgio no sofá. As pernas tremiam-lhe assustadoramente. Maciel, temendo pela saúde do amigo, deu-lhe a beber uma dose forte de aguardente. Aos poucos a cor retornou á face esmaecida do velho chefe. Barros resistira.

CORTA PARA:

CENA 3 - RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.

SINHANA - Eu era empregada na casa dele. (recordava ela, e Rodrigo era todo atenção) Queria muito bem á finada Dona Alzira, que Deus a guarde... (fez o “pelo sinal” com gestos largos e demorados) Seu doutô era muito ciumento e a menina Ritinha tinha nascido, de pouco. Era assim... pequenininha, tinha menos de um ano. Ele era brigão. Num queria que a finada se vestisse bem, se pintasse, nada. E ela era uma moça muito bonita, mas fraquinha. Um dia ficô doente. Pra falá com justiça, ele levô ela pra tudo quanto foi canto, pra se tratá. Certa vez, quando ele vortô de um tratamento que foi fazê na capital de Belo Horizonte... ele veio meio doido. Diferente. Bruto. Revortado com Deus e o mundo. Ela me dizia: “Sinhana,eu num sei o que deu no meu marido. Tá com raiva do mundo. Nem olha minha cara”. Despois ela caiu de cama, de vez. Ficô mal. O gênio dele piorô. Ficou briguento e mau. (pensou um pouco antes de fazer a revelação final; Rodrigo nem piscava, anotando as partes principais da conversa) Eu num posso dizê que foi ele que matô... mas tava muito diferente. Ela sofria... sofria, tadinha, naquela cama, se desmilinguino. Um dia ele se embriagô. Bebeu muito. Deu uma injeção nela... que foi a conta. Ela só virô os olhos, aflita, pro meu lado... e morreu!

O suor escorria pelo corpo da velha. Rodrigo abraçou-a, enternecido. A velha limpou algumas lágrimas que, teimosamente, rolaram de seus olhos na evocação de um passado triste.

SINHANA - (continuou) Fiquei cismada, fiquei. Mas... nunca tive certeza e, também, nunca mais olhei prêle. Só tomei querência da menina... que agora é minha nora. Ele ficô com ódio de mim, até hoje...

Rodrigo soprou-lhe a testa, abundantemente molhada.

RODRIGO - Fique tranqüila. O que disse nada prova contra o Dr. Maciel. É apenas uma cisma da senhora... que pode ser injustificada. (deu-lhe um tapinha no braço roliço) Eu lhe garanto que não vou prejudicar o médico. (voltou-se para Jerônimo, quieto, imperturbável, a um canto da sala) Eu vou indo, amigo.

SINHANA - (reteve-o pelo braço) Só uma pergunta, seu doutô.

RODRIGO - Sim.

SINHANA - Ando, também, cismada com o senhô. Sou velha matreira, ladina. Eu sinto, seu doutô, que não é por simples... como é que o senhô disse pro meu João? Ah... vontade de ajudá o próximo que o senhô, moço bonito e prendado, se meteu nesta terra estranha e anda fazeno tudo isso... pra derrubá Pedro Barros.

RODRIGO - Então, um homem não pode lutar por aquilo que julga certo?

SINHANA - (com franqueza, estudando as reações do moço) Os home não são tão puro, seu doutô. Pelo menos o senhô não é .

RODRIGO - Talvez a senhora tenha razão. Eu não sou tão puro de sentimentos.

JERÔNIMO - Há uma outra razão?

RODRIGO - (movia as mãos nervosamente, balançou a cabeça em sinal de contrariedade) Desculpem, mas não tenho resposta. Pelo menos por enquanto.

Deixou a sala, visivelmente atormentado, com expressão de angústia.

CORTA PARA:

CENA 4 - RANCHO CORAGEM - EXT. - DIA.


Lá fora, Potira aguardava o promotor, com dois vestidos de corte moderno, seguros pelas pontas dos dedos. Fagueira, aproximou-se do rapaz.

POTIRA - Seu doutô, brigada, viu?

RODRIGO - (ainda sério) De nada, Potira. É pra você ir se acostumando.

POTIRA - Acostumando!

RODRIGO - Vista aquele que mais gostar no domingo. Quero que você fique bem bonita...

POTIRA - Por quê?

RODRIGO - Porque eu não quero pedir a mão de uma moça desarrumada...

CORTA PARA:

CENA 5 - RANCHO CORAGEM - QUARTO - INT. - DIA.


Na semi-escuridão do quarto a silhueta do rapaz contrastava com a brancura da parede caiada. Jerônimo trocava de camisa, peito nu. Do pescoço o grande cordão de prata descia, e nele se destacava, balouçante, o medalhão com a efígie de Cristo.

Os braços da mulher envolveram-no de repente, e seus lábios tocaram, de leve, a pele sensível do pescoço.

POTIRA - Ele disse... que vai pedi a minha mão em casamento! Eu não gosto dele, Jerome. Gosto de ocê. Eu quero ocê!

Num átimo, Jerônimo lembrou-se do amigo e de suas pretensões. Do amor que o levava a abandonar seus deveres, se necessário, para compartilhar da vida humilde dos Coragem.

Potira era tudo, significava vida e futuro para o promotor Rodrigo. Ao mesmo tempo, sentiu a enormidade da paixão, meramente carnal, que o atirava contra a mestiça. Atordoado, desvencilhou-se das mãos da moça e deixou o quarto a passos rápidos. Desesperada, a índia jogou-se ao chão, martelando com os punhos o barro duro e amarelado.

FIM DO CAPÍTULO 27




E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

finalmente, a grande virada!

JOÃO CHEGA AO RANCHO ENLOUQUECIDO, GRITANDO QUE ENCONTROU O MAIOR DIAMANTE DO MUNDO!


A NOTÍCIA CHEGA AOS OUVIDOS DE PEDRO BARROS, QUE NÃO QUER ACREDITAR E MANDA OS CAPANGAS PEGAREM BRAZ CANOEIRO.

NO RIO DE JANEIRO, DUDA RECEBE TELEGRAMA DE JOÃO DIZENDO QUE ESTÃO RICOS!


NÃO PERCA O CAPÍTULO 28 DE IRMÃOS CORAGEM

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