terça-feira, 12 de abril de 2011

CAMINHOS E ESCOLHAS - CAP. 1



escrita por: DERECK CELLEGARI


CENA 1. CONTINUAÇÃO DO CAPÍTULO ANTERIOR. CARMEN COMEÇA A CHORAR.
MÉDICO – (triste) Eu lamento muito. Eu imagino o que a senhora está sentindo.
CARMEN – (chorando) Mas é melhor assim, não é? A outra opção era... morrer.
MÉDICO – A senhora tem razão. Então eu vou preparar a sala de cirurgia. Nós vamos fazer
de tudo para salvar o Eduardo.
CARMEN – Obrigada, doutor.
MÉDICO – Com licença. (sai dali)
CARMEN CONTINUA CHORANDO.

CENA 2. ESTACIONAMENTO DO HOSPITAL. OLAVO E JOSÉ MEIRELES CONTINUAM SE ENCARANDO.
OLAVO – (cínico) Eu não sei do que o senhor tá falando, pai.
JOSÉ MEIRELES – Nós vamos ter uma conversa sincera, portanto deixe o seu cinismo idiota
de lado. Isso me dá nojo!
OLAVO – O senhor não tem o direito de falar assim comigo.
JOSÉ MEIRELES – Você é que não tinha o direito de fazer aquilo. Eu nunca pensei que você
ia chegar tão longe com essa vingança, Olavo. Você destruiu a vida de uma criança... uma criança
que não tinha culpa de tudo aquilo que aconteceu no passado.
OLAVO – Eu realmente não sei do que o senhor está falando, e acho que esse não é o local e
o momento adequado pra fazer acusações sem base nenhuma.
JOSÉ MEIRELES – Você vai negar pra mim? Você vai continuar negando pra mim que jogou
a Vitória daquela janela?
OLAVO – O senhor viu? O senhor viu eu jogando a Vitória? Não! O senhor não viu.
JOSÉ MEIRELES – Tudo se encaixa, Olavo. As luvas pra não deixar registros, a faca pra
cortar a rede de proteção, o momento do barulho da queda...
OLAVO – Se você sair contando isso por aí, vão te chamar de maluco.
JOSÉ MEIRELES – Eu estou mais velho, pode até ser. Mas o porteiro viu as luvas, viu a faca.
Será que vão dizer que ele é louco também?
OLAVO – Eu vou embora. Não aguento mais tanta injustiça.
OLAVO VAI SAINDO, MAS JOSÉ MEIRELES PEGA EM SEU BRAÇO COM FORÇA.
JOSÉ MEIRELES – (bravo) Eu não vou deixar você sair impune de novo. Você é meu filho,
mas duas vezes livrando a sua cara de dois crimes terríveis, não dá pra mim. Eu não tenho
estômago pra isso.
OLAVO – (cínico e chorando) Eu não fiz nada. Dessa vez, não fui eu.
OLAVO SAI DALI.

CENA 3. QUARTO DE VITÓRIA, NO HOSPITAL.CHORANDO.
LETÍCIA ESTÁ PERTO DA FILHA.

LETÍCIA – (arrasada) Minha filha. Por quê? Por quê você partiu tão cedo? Por quê você
pulou daquela janela. Ai, Meu Deus! Eu vou sentir tantas saudades de você, Vitória. Você é a outra
parte do meu coração. Só de pensar naquela casa sem você, na minha vida sem você. Sem o seu
sorriso, o seu abraço, o seu beijo. Só olhando pra as suas fotos, sonhando com você, vendo seu
rosto nas outras crianças. (beija Vitória) A mamãe te ama muito, viu? Não se esquece disso. Fica
com Deus, meu amor. Descansa em paz. Em paz.
LETÍCIA ABRAÇA VITÓRIA, EMOCIONADA.
CENA 4. PRESÍDIO MASCULINO. CELA “DE LUÍS”. OS OUTROS PRESOS DORMEM. ALGUNS
FUMAM DISCRETAMENTE. LUÍS ESTÁ SENTADO PRÓXIMO À GRADE. ELE PENSA EM CLARA. OS
DOIS ESTÃO NA PRAIA DE COPACABANA. ELES SE ABRAÇAM.
LUÍS – É tão bom ter você do meu lado.
CLARA – Eu sinto a mesma coisa por você.
LUÍS – Promete que a gente nunca vai se separar?
CLARA – É claro que prometo. A gente ainda não é casado, mas só a morte nos separa.
LUÍS BEIJA CLARA.
DE VOLTA À REALIDADE, ELE FALA PARA SI MESMO:
LUÍS – (triste) Eu acho que a prisão nos separou, meu amor.

CENA 5. SALA DE VALÉRIA, NO BORDEL.

VALÉRIA – Vocês são dois incompetentes mesmo! As contas tão ai! E cadê o dinheiro pra
pagar? Na barriga de um cachorro pulguento!
GUSTAVO – A gente tem que achar esse cachorro. De qualquer jeito.
HUGO – Será que as esmeraldas vão sair pelo cocô dele?
GUSTAVO – Vamos ficar em alerta. Nós temos que sequestrar aquele cachorro.
VALÉRIA – Façam qualquer coisa. Mas eu quero as esmeraldas na minha mão. E logo!

CENA 6. SALA DE CIRURGIA. OS MÉDICOS LIGAM UM SOM COM MÚSICAS CLÁSSICAS.
ELES COMEÇAM A CIRURGIA DE EDUARDO.
ENQUANTO ISSO, CARMEN AGUARDA AFLITA NA SALA DE ESPERA. COM ELA, ESTÃO
WILIAM, CRISTIANE, SIMONE E JULIANA.
OS MÉDICOS MARCAM O PONTO DO CORTE NA MÃO DE EDUARDO.
CARMEN CHORA E SIMONE A ABRAÇA.
OS MÉDICOS COMEÇAM CORTAR A MÃO DE EDUARDO.

CENA 7. RIO DE JANEIRO. AMANHECE. SALA DE ESPERA DO HOSPITAL. O MÉDICO DE EDUARDO CHEGA NA SALA. CARMEN VAI ATÉ ELE.

CARMEN – E então, doutor? Como foi a cirurgia do meu filho?

CENA 8. PRAIA DE IPANEMA. ALICE ESTÁ SENTADA NUM BANCO DO CALÇADÃO. BETO
CHEGA ATÉ ELA.
BETO – Bom dia, dona Alice.
ALICE – Bom dia. Eu tava te esperando.
BETO – (sentando-se) Há muito tempo?
ALICE – Não. O seu nome é Roberto, não é? (Beto assente com a cabeça) Ok. Olha, Beto, eu
pensei no que você disse, na sua proposta pra eu fotografar... E eu resolvi aceitar essa proposta. É,
eu acho que preciso me mostrar mais, me libertar, sabe?
BETO – Sei. Eu adoraria que você fosse fotografar, e tudo mais, só que...
ALICE – Já apareceu outra? Não me diga isso, porque eu sou insubstituível.
BETO – Não, não é nada disso. É que, na verdade, eu não sou fotógrafo, não trabalho em
revista nenhuma.
ALICE – (surpresa) Como é? Como é que... Como assim você não é fotógrafo?
BETO – Eu sou advogado, me formei numa universidade em São Paulo.
ALICE – Você me enganou. Pra que eu preciso de um advogado?
BETO – Você não lembra de mim. Eu estudava na mesma escola que a sua, quando você
morava em São Paulo. Eu sou o filho de Mário e Regina. O meu pai, um juiz, e a minha mãe, uma
médica. Eu te amo, Alice.
ALICE – Eu... eu não tô entendendo nada. Eu não lembro de você, eu não lembro dos seus
pais. Que loucura é essa?
BETO – Eu estudava no primeiro ano do médio quando você fazia o nono do fundamental.
Eu era muito tímido. Não tinha coragem de falar do amor que eu sinto por você.
ALICE – Você...
ALICE PARA DE FALAR QUANDO LEMBRA DA SEGUINTE CENA NO JANTAR DE RENATO:
RENATO – (bravo) Para, Alice! Para! Cala a boca! Eu não aguento mais você falando essas
bobagens, essas idiotices. Eu não queria ser bruto com você, mas é o jeito. A Melissa é muito mais
educada e civilizada do que muita gente, mais civilizada do que você. Cê é uma garota mimada,
que não sabe lidar com as pessoas, quer tudo de mão beijada, quer que todos se curvem pra você,
mas não é assim. Não é assim que a banda toca, Alice. Põe nessa sua cabeça obsessiva que eu não
sou seu. Eu não sou apaixonado por você!
DE VOLTA À REALIDADE:
ALICE – (decidida) Você pode me ajudar. Eu posso fazer de você o homem mais feliz do
mundo. Mas isso, se você me ajudar a transformar outro homem no mais triste do mundo.
BETO – Se é pra conseguir o teu amor... Eu posso te ajudar sim.
ALICE – Ótimo.

CENA 9. SALA DE ESPERA DO HOSPITAL.
CARMEN – Fala, doutor.
MÉDICO – Ocorreu tudo muito bem na cirurgia. Eu só não posso comemorar 100% porque
o Eduardo ficou sem as duas mãos. Mas saiu tudo como planejado.
CARMEN – E quando é que ele vai acordar?
MÉDICO – Logo. Ele vai sentir algumas dores, mas isso faz parte de qualquer processo
cirúrgico.
CARMEN – Que bom que deu tudo certo. Graças a Deus!

CENA 10. BAR DE VICTOR. VICTOR ESTÁ SENTADO NUMA CADEIRA E ASSISTE AO
NOTICIÁRIO, ENQUANTO ERICLES VÊ O PROGRAMA ATRÁS DO BALCÃO.
ERICLES – Jornal! Só passa coisa ruim. Só tem desastre.
VICTOR – É verdade.
JORNALISTA – Adolescente foi atropelado enquanto andava de skate com amigos na noite
de ontem. O nome dele é Eduardo Neves. (aparece uma foto de Eduardo)
VICTOR – Vou mudar de canal. Vamos ver se tem alguma coisa boa.
JORNALISTA – A sua mãe, Carmen Neves, (a notícia paralisa Victor) não permitiu que
repórteres tivessem acesso ao garoto.
ERICLES – Não vai mudar de canal não?
VICTOR – (nervoso) Vou. Claro.
VICTOR MUDA DE CANAL.
VICTOR – (baixinho e para si mesmo) Carmen.

CENA 11. RUA SEM SAÍDA, E ABANDONADA. UM JOVEM ESTÁ AGUARDANDO ALGO. ELE
VESTE CASACO E CALÇA. CRISTIANE CHEGA ALI E SE APROXIMA DELE.
CRISTIANE – (brava) Por que você atropelou o Eduardo? O que foi que deu na sua cabeça?
O RAPAZ SE VIRA. É DIOGO.
DIOGO – Eu não queria ter atropelado o Eduardo. Eu não queria.
CRISTIANE – Mas por causa dessas drogas que você toma... por causa delas você atropelou o
meu amigo. E sabe o que tá acontecendo agora? O Eduardo está sem as duas mãos! Você acabou
com a vida o meu amigo!
DIOGO – (chorando) Eu juro que eu não sabia o que tava acontecendo. Eu não tava dentro
de mim.
CRISTIANE – Eu vi a placa do carro, mas fiquei calada. Eu queria conversar com você
primeiro. Você é que tem que se entregar pra a polícia.
DIOGO – Eu não vou fazer isso. Polícia não! De jeito nenhum!
CRISTIANE – Ou você se entrega, ou eu te entrego.
PAUSA.
DIOGO – Você não pode me entregar. Por favor, Cristiane, você não pode fazer isso comigo.
CRISTIANE – Eu posso e devo. Eu não vou ficar calada. Você destruiu uma vida e vai pagar
por isso.
DIOGO – Eu prometo que vou tomar jeito, mas me perdoa. Pelo amor de Deus!
CRISTIANE – Você já foi longe demais, Diogo.
DIOGO SE AJOELHA.
DIOGO – Eu te peço. Não me denuncia. Eu juro que nunca mais vou me meter com drogas,
com nada disso. Eu juro que vou te amar. Dar pra você o amor que você merece.
CRISTIANE – Meu silêncio não tá à venda, Diogo. Me dá licença.
DIOGO ABRAÇA CRISTIANE E A BEIJA.

CENA 12. RIO DE JANEIRO. CEMITÉRIO. MUITAS PESSOAS CAMINHAM, SEGUINDO O
CAIXÃO DE VITÓRIA, QUE É LEVADO NUM “CARRINHO”. LETÍCIA CHORA, ABRAÇADA A OLAVO.
JÁ NO TÚMULO, O PADRE REALIZA UMA MISSA:

PADRE – Vamos rezar para o Pai e pedir que Ele acolha nossa querida irmã, Vitória, que
partiu tão cedo desse mundo. Pai Nosso que Estais no céu, Santificado seja o Vosso Nome. Venha a
nós o Vosso Reino. Seja feita a Vossa Vontade, assim na Terra como no Céu. O pão nosso de cada
dia nos dais hoje, perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido.
E não nos deixeis cair em tentação, livrai nos sempre de todo o mal. Amém. Que Deus, nosso
Senhor, abençoe e mostre a Vitória um caminho bonito, tranquilo, e eterno. Em Nome do Pai, do
Filho, e do Espírito Santo. Amém.
TODOS – Amém.
PADRE – Alguém mais gostaria de falar alguma coisa?
JOSÉ MEIRELES OLHA PARA OLAVO PROFUNDAMENTE. OLAVO TENTA DISFARÇAR.
JOSÉ MEIRELES – Eu gostaria de falar, padre. Eu quero falar mais uma coisa. Uma coisa
muito importante.
OLAVO FICA NERVOSO. JOSÉ MEIRELES VAI ATÉ O TÚMULO.

CENA 13. PRAÇA EM FRENTE AO PRÉDIO QUE GILDO MORA. HUGO E GUSTAVO
APARECEM NA PRAÇA COM UMA CADELA.
HUGO – Agora sim. Os cães tem um faro muito bom. Nessa cachorra do sexo feminino não vai ser diferente. Vai se misturar o faro e o tesão, então ela vai achar num piscar de olhos um cachorro do sexo masculino.
GUSTAVO – E o vendedor disse se ela tava no cio?
HUGO – Ha! Ha! É claro que ela tá no cio. O próprio nome diz. É uma cachorra!
GUSTAVO – Então vamos lá. Mas primeiro deixa eu amarrar o meu cadarço.
GUSTAVO SE ABAIXA E SE CONCENTRA NO SAPATO. CLARA SAI DO PRÉDIO COM
PEDRINHO E TOTÓ. A CADELA LATE.
HUGO – É o cachorro! Mas que sorte!
GUSTAVO – (olhando para o sapato) Como você sabe que é o cachorro que queremos?
HUGO – É o bebê! Vamos logo, Gustavo! Vamos pegar aquela esmeralda.
GUSTAVO SE LEVANTA E OLHA PARA OS TRÊS.

CENA 14. HOTEL MAR NATO. CORREDOR DO HOTEL. MEL E UMA COLEGA CAMAREIRA ESTÃO PROCURANDO SERVIÇO.
COLEGA – Ai, colega! Eu tô tão feliz!
MEL – Posso saber que passarinho verde apareceu?
COLEGA – Eu tô namorando.
MEL – Ah... E já faz muito tempo?
COLEGA – É pela Internet, querida. É hoje que eu vou ver a cara do meu namorado. Ele
disse que mora no interior do Rio. Tomara que ele não mande uma foto falsa.
MEL PENSA EM ALGO, MAS ESCONDE.
COLEGA – É, porque esse negócio de Internet não é muito certo. Vai que ele mande uma
foto de uma pessoa que não é ele.
MEL – Tem que ter muito cuidado.
COLEGA – Com certeza. Ah, mas deixa eu te contar mais. Ele fala tão bem. É tão romântico.
AS DUAS CONTINUAM CONVERSANDO.
CENA 15. SALA DA MANSÃO ROMERO. MAURÍCIO ESTÁ LENDO UM JORNAL. A
CAMPAINHA TOCA. ELE LEVANTA E VAI ATENDER.
MAURÍCIO – Eu atendo, Lurdes! Tô mais perto!
MAURÍCIO ABRE A PORTA E SE SURPREENDE. É EMÍLIA.
EMÍLIA – Eu voltei, Maurício.
PAUSA.

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