sexta-feira, 27 de maio de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 47



classificação



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 47

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

CEMA
JOÃO
DUDA
JERÔNIMO
MARIA DE LARA
DR. RAFAEL
DALVA
RITINHA
SINHANA
CAPANGA

CENA 1 - CASA DO RANCHO CORAGEM - EXT. - NOITE.


Durante alguns segundos Cema permaneceu paralisada, não acreditando naquilo que vira. Aos poucos recuperou-se do choque e, como se visse um fantasma, saiu em disparada ao encontro dos cavaleiros.

CEMA - Socorro! Socorro! Seu Bastião tá morreno!

Os rapazes saltaram lépidos das montarias. Cema falou, aflita, quase sem respirar, apontando para o interior da casa.

CEMA - Foi um assalto. Os home tão fugino, mas seu Bastião tá morreno!

DUDA - Vai ver o pai. Me dê a sua arma, irmão. Vou atrás dos bandidos. (voltou-se
para a mulher) Por onde eles foram?

CEMA - Ainda falta um! Ali! Ali tá ele, Duda!


O vulto oculto pelas sombras procurava, nervosamente, montar no cavalo.

DUDA - (ameaçou) Pare! Pare ou eu atiro!


Incontinenti o homem esporeou o animal e partiu a galope, o cavalo relinchando.O estampido do tiro ecoou no silencio da noite, confundindo-se com o grito de dor do bandido. A bala atingiu-lhe o braço á altura do bíceps, obrigando-o a uma parada momentânea. Eduardo aproveitou para atirar-se contra o desconhecido. A luta foi rápida. Com um pontapé lançado do alto da sela, o homem jogou o rapaz ao solo, ao mesmo tempo em que apontava o revólver contra ele, detonando-o.

CAPANGA - Não adianta, mocinho... não adianta... Fique aí ou acabo com você!
Dou-lhe outro tiro.


Com o rosto sujo de terra e a perna ferida pelo tiro, Eduardo arrastou-se até a casa, ouvindo o bater das ferraduras do cavalo a perder-se na distancia. A perna doía-lhe como seiscentos diabos...


CORTA PARA:

CENA 2 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - QUARTO DE LARA - INT. - NOITE.


João Coragem mal respirava quando,subindo dois a dois os degraus da escada, entrou no quarto de Lara. Dr. Rafael, de mangas arregaçadas e com o rosto banhado de suor, concluía o trabalho. Lara, muito pálida, descansava com os olhos cerrados.

JOÃO - (em voz baixa) Como tá ela, douto?

DR. RAFAEL - Tudo já passou...

JOÃO - Passou? O que o senhô quer dizê?

Aproximou-se do leito, indeciso.

JOÃO - (olhou para o médico) É... Lara?


O médico fez que sim com a cabeça. João beijou suavemente a testa da esposa. Ela abriu os olhos com doçura.

MARIA DE LARA - João... João... você demorou!

JOÃO - Agora, tá tudo bem. Tou aqui...


João notou o leve tremor que sacudiu o corpo da esposa e as manchas de sangue que marcavam o lençol alvo e a camisola de dormir.

MARIA DE LARA - (quase sem forças, gemendo fracamente ao movimentar o
corpo) Que foi que lhe fizeram, João?

JOÃO - A mim, nada. Você é que me preocupa!

MARIA DE LARA - Eu? Mas... eu estou bem.

JOÃO - (os olhos embaçados) O nosso filho... já soube?

MARIA DE LARA - Que tem o nosso filho?


O rapaz percebeu a indiscrição e o leve movimento de mãos do Dr. Rafael.

JOÃO - Nada. Tou só perguntano... tá... tá tudo bem?

MARIA DE LARA - Está... não é mesmo, doutor?


Abrindo o pacote de remédios, o médico deu um passo á frente, segurando as mãos da paciente.

DR. RAFAEL - Claro! Está tudo bem. (dirigindo-se ao rapaz) Não a deixe falar muito. Ainda está fraca.

Indaiá ajudava Lara a erguer-se um pouco para ingerir o comprimido que o médico lhe dava.

MARIA DE LARA - (apreensiva) Por que fiquei... neste estado de fraqueza?

JOÃO - Acho que você... fez algum esforço. Foi isso.

A moça virou o rosto, visivelmente atormentada.

MARIA DE LARA - Eu... ou ela?

JOÃO - (com mau pressentimento) Não sei... não sei o que foi que houve.

MARIA DE LARA - Só sei que estava muito aflita... para avisar você, João... de que
estava correndo perigo. É tudo o que me lembro. Depois veio a escuridão...

JOÃO - Por quê?

MARIA DE LARA - Porque havia uma ameaça... minha mãe me avisou... que meu pai não pretendia cumprir a palavra... não sei bem o que era... só sei que falaram num
golpe que estavam preparando para você...


Depois de aplicar uma injeção na veia de Lara, o Dr. Rafael fez sentir que ela fazia um esforço demasiado com possíveis conseqüências desagradáveis para o futuro. João despediu-se de Lara, beijando-a na testa. A moça agarrou, frenèticamente, os ombros do marido.


MARIA DE LARA - Eu precisava de você... era você que faltava na minha vida... pra
me dar essa sensação de apoio, de segurança... Acho que o Dr. Rafael tem razão.
Você é uma espécie... de tratamento... para o meu mal. Junto de você... eu não
tenho medo... de nada.

Cerrou os olhos, maciamente, enquanto João Coragem, muito sério, descia para a sala de visitas, no compartimento térreo da casa-grande.

CORTA PARA:

CENA 3 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - SALA - INT. - NOITE.


Rafael aguardava João em companhia de Dalva. O médico fumava um cigarro, observando a evolução da fumaça e as variadas formas que assumia. Era como que uma personalidade multiforme. A voz de João ligou-o novamente á realidade.

JOÃO - (para a tia da esposa) Foi Lourenço... ou foi a senhora?

DALVA - Não admito a mais leve acusação...

JOÃO - (cortou, com frieza) A empregada disse...

DALVA - Não importa o que tenha dito. No momento eu fiquei desnorteada. Ela
estava fora de si. Não pensei que fossem chegar a extremos.

JOÃO - Doutor... e o meu filho?

O médico meneou a cabeça, fitando desoladamente os olhos do rapaz.

DR. RAFAEL - Ela perdeu a criança, João.


Um silencio irritante sucedeu ás palavras francas do Dr. Rafael. João controlava o ódio que o impelia a procurar o capataz e dar-lhe o castigo merecido.

JOÃO - (a Dalva) Onde anda Lourenço?

DALVA - Não sei. Saíram todos daqui... não sei aonde foram.


JOÃO - Eu vou acabá com a vida de muita gente. Vou procurá Lourenço e matá-lo
como quem esmaga um verme... (lutava para conter as lágrimas que lhe banhavam
os olhos) Eu... eu tava tão contente, doutor! Casado com ela... a criança que vinha...
era até uma esperança de que ela ia se curá... o senhor mesmo disse, doutô! E de
repente... (fez uma pausa, com as mãos postas diante do rosto, afugentou algumas
gotas teimosas que insistiam em deslizar por sobre sua face) ... e de repente, tudo
vai por água abaixo... por culpa de um desgraçado... um desgraçado que, a troco de
nada... por pura maldade... manda fazê o que fizero com minha mulhé. Doutô... é de
enlouquecer qualquer um. É de enlouquecer, doutô! (gritava, em desespero).


Em largas passadas cruzou a sala para olhar o campo que se estendia á sua frente.

JOÃO - Olha... avisa ao pai dela que eu volto pra pegar ele... e venho disposto a
tudo. Ai daquele que tentá se atravessá no meu caminho!

Rafael e Dalva ouviram o desabafo do rapaz, sem nada comentar.

CORTA PARA:

CENA 4 - CASA DO RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - NOITE.

CEMA - Duda levô um tiro, mas num tá mal.


Ritinha, que havia retornado ao rancho, acompanhando Sinhana e Potira, quase desfaleceu com o impacto da notícia. Apoiou-se á parede calada aguardando a verdade pior.

CEMA - Num tá mal, tou dizendo. Acho que é coisa á toa. Tou te avisano procê não
ficá nesse desespero.

Ritinha, com esforço, conseguiu soerguer-se.

CORTA PARA:

CENA 5 - CASA DO RANCHO CORAGEM - QUARTO - INT. - NOITE.


Sentado na cama com a perna esticada sobre o colchão, Duda contraía os músculos da face, numa careta de dor. A seu lado, Jerônimo tentava estancar o sangue, aplicando um torniquete com ligaduras improvisadas de sua própria camisa.

SINHANA - Deixa. Faço isso. Vão buscá mais água fervida. Depressa! Corre, índia!


Ritinha, transtornada pelos acontecimentos, viu Duda por entre o vão formado pelos corpos de Sinhana e Jerônimo. Correu até ele.

RITINHA - Eduardo! Eduardo! Que foi que fizeram com você?

Abraçou-se ao rapaz, alisando-lhe a testa suada.

DUDA - Calma, Ritinha! Isto não é nada!


A jovem olhou para a perna ensangüentada do marido, razão de seu êxito na vida.

RITINHA - Foi na perna, Eduardo? Na perna!

DUDA - Eu acho que isso não tem importância.

JERÔNIMO - Mandei o Braz chamar o Dr. Maciel.

A velha lembrou-se do marido, até àquele instante esquecido de todos. Ninguém se lembrara da presença do chefe da família, exceto Sinhana.

SINHANA - Seu pai, como é que tá?

JERÕNIMO - Num tá bom, não, mãe. Quando cheguei tava passano mal, mas dei
aquele remédio pro coração e agora parece que acalmô.

SINHANA - Diabo de home frôxo!

JERÔNIMO - (sentido) Ele é doente!

SINHANA - E João?

JERÔNIMO - Deve de tá pajeando a mulhé dele na casa do sogro (olhando
demoradamente para os presentes, o rapaz revelou a verdade do atentado) Olha só
pra aquilo! (mostrou o buraco no chão, recentemente escavado) Levaro o
diamante dele!

SINHANA - Se Deus destinô o diamante pro João, ninguém fica com ele.

JERÕNIMO - Se João num estivesse com a mulhé dele, nada disso teria acontecido... (retornando à perna do irmão e ajeitando o travesseiro de fronha bordada. Duda gemia fracamente, trincando os dentes) João é um fraco, mãe. Aquela mulhé desgraçô com ele... desgraçô com todos nós...


Os olhares voltaram-se repentinamente para a porta do quarto. João Coragem acabava de chegar, camisa aberta ao peito, de onde, por entre os cabelos negros, a imagem dourada de Cristo rebrilhava á luz baça do candeeiro.

JOÃO - Que foi que houve?


O garimpeiro, espantado, verificou de imediato a situação do irmão deitado na cama, com a perna apoiada no colo de Ritinha.

DUDA - Temos más notícias, irmão...

Jerônimo tornou a apontar para o local onde a pedra estivera guardada.

JERÕNIMO - Olha!

Os olhos do garimpeiro esbugalharam-se e a voz como o som cavo de um trombone rachado, saiu-lhe do peito, abafada pela exclamação:

JOÃO - Meu... diamante!

JERÕNIMO - (cabisbaixo) Foi roubado... Olha pro teu irmão. Foi ferido a bala. Fala
com Cema. Foi judiada pelos home. Fala com pai. O coitado nem pode. Tá ruim do
coração.

JOÃO - Mas... como? Como, Santo Deus! Como pode ter acontecido isto?

JERÕNIMO - Pergunta ao teu sogro! Pergunta a tua mulhé! Foram os home de
Pedro Barros...

JOÃO - Não tanto pelo diamante... sim, também por ele... mas, muito mais por
você, meu irmão...


João dirigiu-se até a beira da cama onde Duda permanecia deitado. Afagou-lhe a cabeça, os cabelos desgrenhados. O suor molhou-lhe os dedos, empapou-lhe a palmada mão. Duda sorriu, meio desligado.

DUDA - Isto talvez não seja nada, João. Eu tentei evitar que o sujeito fugisse com a
sua pedra... agarrei-me a ele... e o bandido me impediu, atirando...

RITINHA - (nervosa) ... foi na perna dele, João! Logo na perna dele!

JOÃO - (para Sinhana) É grave, mãe?

SINHANA - Num sei, filho. Só um médico pode dizê... Já mandaro chamá Dr. Maciel, mas tá demorano como diabo...


Ritinha levantou-se, colocando a perna do esposo sobre almofadas trazidas por Potira.

RITINHA - Eu vou buscar papai!


FIM DO CAPÍTULO 47
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

- JOÃO E JERÔNIMO DUSCUTEM.

- DR. MACIEL SE NEGA A CUIDAR DE DUDA, E JOÃO E JERÔNIMO VÃO Á CASA DELE, DISPOSTOS A TUDO PARA QUE O MÉDICO SOCORRA O IRMÃO BALEADO.


NÃO PERCA O CAPÍTULO 48 DE



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