sexta-feira, 13 de maio de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 41



classificação



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 41

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

MARIA DE LARA
JOÃO
PEDRO BARROS
ESTELA
PADRE BENTO
JERÔNIMO
SINHANA
PEDRO BARROS
DUDA
PAULA
CRIADA
JUIZ
HERNANI
GARIMEPIROS
JAGUNÇOS

CENA 1 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - SALA - INT. - NOITE.

Maria de Lara descia a passos lentos as escadas que conduziam aos aposentos superiores da casa. Todos os olhares se voltaram para a moça. A pele muito alva e os olhos mortiços davam-lhe a impressão de uma freira. Padre Bento e o juiz se preparavam para a cerimônia do casamento. No meio dos presentes, Pedro Barros mal se mantinha de pé, ébrio e iracundo. Aproximou-se de João Coragem.

PEDRO BARROS - Voce venceu, João. Está aí minha filha!

Ele olhou para a moça, emocionado, feliz; levantou-lhe o rosto, erguendo-lhe a ponta do queixo. Ela o encarou amorosa. De mãos dadas seguiram para o improvisado altar.

CORTA PARA:

CENA 2 - CASA DO RANCHO CORAGEM - EXT. - NOITE.


A impaciência provocava dores nervosas em todo o abdome de Jerônimo Coragem. Seus olhos furavam a escuridão da noite, qual fachos de luz de um farol.

SINHANA - Nada inda, Jerome?

JERÔNIMO - Nada,não, mãe.

SINHANA - Não acha que tão demorando muito?

JERÔNIMO - O tempo certo. O casamento de Duda não foi demorado, também?

SINHANA - Um pouco menos. E foi na igreja. Não havia perigo de nada, apesar de ter sido também um casamento forçado. (benzeu-se) Deus que me perdoe! Até parece praga! Meus filho tem sempre que se casá obrigado. Isso é sangue quente. Veja se ao menos ocê toma jeito! Se case direitinho, com preparação e tudo. Não assim, de repente, pra salvá honra de moça.

JERÔNIMO - A situação do mano é muito diferente, mãe. O Duda não queria se casá... todo mundo é que forçava. O João, não. Ele é quem quis... e ninguém mais...

SINHANA - Bem... lá isso é verdade, filho. Ele ficava maluco se não se unisse a essa
moça.

CORTA PARA:

CENA 3 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - SALA - INT. - NOITE.

E a união, enfim, se legalizava diante da lei de Deus e da lei dos homens. João colocava meigamente a aliança no dedo anular de Maria de Lara.


JOÃO - (falou baixinho) Peço desculpas pela simplicidade da aliança...

MARIA DE LARA - Ora... isso não tem importância...

JOÃO - Comprei aqui mesmo... em Coroado. Foi a que eu achei.

MARIA DE LARA - Por favor...

JOÃO - Mas, dentro de um mês, espero comprá uma de diamante pra lhe dá...

MARIA DE LARA - Não precisa...

JOÃO - Quando você pudê vir pra minha companhia, conforme o trato...

MARIA DE LARA - Eu sei...

JOÃO - (João levantou um pouco mais o tom de voz) Aí, o padre abençoa de novo
as aliança, não é, padre?

PADRE BENTO - Naturalmente. Se Deus quiser.

O padre fez o Pelo-Sinal e pediu um Padre-Nosso pela felicidade dos nubentes. João e Lara continuavam de mãos dadas, sorridentes. Barros se aproximou.

PEDRO BARROS - A gente tem um trato. Eu cumpri a minha palavra; quero ver se vai cumprir a sua.

JOÃO - (com firmeza) Eu cumpro.

PEDRO BARROS - Então, tudo termina aqui...

JOÃO - (mirando a esposa) Por enquanto...

PEDRO BARROS - Que seja... pode se retirar levando seus papéis. Minha filha fica comigo.

Estela chegou apressada e com ar feliz.

ESTELA - Meu Deus, Pedro. Pelo menos deixe-nos cumprimentar os noivos.

Severo, o coronel balançou a cabeça em sinal de negativa.

PEDRO BARROS - Não, nada de cumprimento. Tenho pressa de acabá com isso.

Filha e mãe se abraçaram chorando. A voz de João, forte e grossa, despertou a jovem.

JOÃO - Lara!

A moça voltou-se para o marido.

JOÃO - Não se esqueça... Dentro de um mês venho te buscar. (Lara o fitava deslumbrada) Todo mundo é testemunha: a palavra das duas partes tem que sê cumprida.

Lara subiu as escadas com os olhos fixos no belo e corajoso homem que, desde aquele instante, unira sua vida á dela. Não havia mais dúvidas em seu pensamento: mesmo sem o saber, amava apaixonadamente o jovem João Coragem.

CORTA PARA:

CENA 4 - COROADO - PENSÃO DE GENTIL PALHARES - INT. - NOITE.

Pelo barulho que se ouvia na pensão de Gentil Palhares, Jerônimo calculava que a festa era das mais animadas. Tinha ouvido dos garimpeiros a história do casamento do irmão, e as manobras traiçoeiras da jagunçada evitadas, apenas, com a presença em número muito superior dos companheiros de garimpo dos irmãos Coragem. Agora, Jerônimo procurava o irmão no hotel-pensão do Gentil.

JERÔNIMO - (abraçou com afeto e recém-casado) Então, deu tudo certo...

JOÃO - (segurando o mano pelos ombros) Ela tava bunita pra burro, irmão! E com
ar de santa... e com aquele ar... riu pra mim... falou comigo... e senti emoção na sua voz.

Os olhos do rapaz se perdiam no infinito ao recordar a mulher que amava.

JERÔNIMO - (sacudiu-o) Qual! Tá perdido mesmo de amor! Num tem mais remédio, não!

JOÃO - Eu senti, irmão, que ela num tava querendo cumpri o trato.

JERÔNIMO - E por que não aproveitou e num trouxe ela com você?

JOÃO - Palavra é palavra. Pedro Barros cumpriu a dele. Eu tenho que cumpri a minha. Um Coragem não pode fugir á palavra empenhada!

JERÔNIMO - (desconfiado) Ele cumpriu obrigado. Pode te atraiçoá. É melhor ocê não confiá muito.

JOÃO - (pediu, com ar triste) Não me desanima, irmão.

JERÔNIMO - Qual nada! Bola pra frente. Agora, tudo vai sê mais fácil. Vou até beber
pela tua felicidade!

Bebem juntos um caneco de chope gelado. Por entre a espuma da bebida, borbulhante e branca, João Coragem vê a imagem da mulher.

CORTA PARA:

CENA 5 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - QUARTO DE LARA - INT. - NOITE


Maria de Lara, pensativa, observava a noite sem lua do alto da janela. A brisa fresca e curiosa ouvia seus pensamentos e procurava levá-los ao marido, distante. Lara recordava feliz a cena da aliança; as palavras amorosas do másculo garimpeiro e sua advertência final: - “Venho buscá-la dentro de um mês”. Oh, se fosse hoje! – pensava Lara, sentindo-se envergonhada consigo mesma. Diante da janela os sonhos começaram por dominá-la. João estava presente em todos os instantes de sua vida futura...

CORTA PARA:


CENA 6 - RIO DE JANEIRO - APARTAMENTO DE DUDA - SALA - INT. - DIA.

PAULA - (recomendou á criada) Veja quem é, antes de abrir!

CRIADA - Quem é?

DUDA - (off) Leiteiro!

A empregada abriu a porta, confiante, e Duda entrou fora de si, empurrando a mulher para o lado. Paula voltava da cozinha. Viu o ex-amante e sua expressão de ódio.

PAULA - Por que deixou ele entrar?

DUDA - Ah, você tinha proibido minha entrada, não é? (esticou o dedo grande diante da cara da mulher) Muito bem. Agora nós vamos ajustar umas contas. Eu te disse que vinha! Não disse? E que ia te esganar, caso não encontrasse minha mulher aqui.

PAULA - Pois é, mas sua mulher deixou este apartamento, porque quis. Eu não obriguei. Disse que ia ter paciência de esperar.

DUDA - Invenção sua! Você deve ter feito qualquer coisa pra ela se sentir desesperada... e aceitar a ajuda do pilantra do seu irmão! (e furioso) Cadê ele? Eu arrebento você e ele, os dois juntos! É capaz até de ter matado a pobrezinha...

Paula encolheu-se, horrorizada.

PAULA - Ai, que horror! Não seja exagerado, Duda! Eu não fiz nada contra ela, juro!

O rapaz perdera a paciência e a qualquer instante esmurraria a antiga companheira.

DUDA - Mas, onde ela está? Onde ela está? Me diga antes que eu perca a cabeça!

PAULA - Sei lá!

Avançou contra a mulher, controlando-se no último segundo.

DUDA - Isto é lá resposta pra quem está neste desespero! “Sei lá...” Você não tem vergonha na cara, sua idiota!

Paula procurava recuperar-se da extrema angústia de que estava possuída. Não esperava tamanha reação de Duda.

PAULA - O que eu sei é que ela saiu com meu irmão. Desde terça-feira, também ele desapareceu. Eu acho que quem deve saber dela é Carmen, mulher do Neco. Eu vi quando ela telefonou para Carmen.

Duda completou a ligação e soube da ida de Carmen para Petrópolis. Ritinha não poderia estar na casa do amigo. Onde estaria, então?

A resposta de sua indagação íntima estava chegando. A porta abriu-se e Hernani deparou com o jogador. Duda avançou, feroz.

DUDA - Aí está ele, o bandido!

Hernani assustou-se e Duda o agarrou violentamente pela gola do paletó.

DUDA - Miserável! Patife! Onde está a minha mulher?

HERNANI - (resfolagava) Espera... Es... espera, Duda!

DUDA - (desesperado) Que foi que você fez com minha mulher?

HERNANI - Ela saiu daqui... desatinada...

PAULA - Não foi por minha culpa...

HERNANI - Essa não, mana. Diga a verdade. Você trouxe toda a sua tralha pra cá e fincou pé, dizendo: daqui não saio, daqui ninguém me tira...

PAULA - Claro, não é! Tive que desocupar meu apartamento e não tinha para onde ir.

A expressão de Duda era de um homem enlouquecido.

DUDA - Coitadinha! Coitadinha dela! Como é vítima!

PAULA - Ah, Duda, não enche, tá?

DUDA - Essa história, depois nós vamos discutir. Continue, Hernani.

HERNANI - Aí... eu não deixei que ela saísse daqui sozinha, quebrando a cabeça... embora não quisesse aceitar a minha ajuda, eu insisti e a levei para a casa de Matilde, a mulher do massagista do Flamengo...

DUDA - (com uma ponta de ciúme) E... você ficou lá, também?

HERNANI - Eu me mandei, Duda. Só voltei hoje de manhã, pra saber como ela estava passando... e pra avisar que você já estava de volta.

Duda percebeu algo de errado.

DUDA - E daí?

HERNANI - Daí?

DUDA - É. E daí? Que foi que houve com ela?

HERNANI - Bem... (sem saber por onde começar) Ritinha já não estava mais lá... e a Matilde me entregou esta carta... pra dar a você...

Eduardo arrancou, excitado, a carta da mão do ex-amigo.

DUDA - Carta! De Ritinha!

HERNANI - É. Com certeza ela explica para onde foi... porque a Matilde não sabia... ela só pegou as malas, mandou chamar o taxi... e sumiu.

DUDA - Sumiu...

A fisionomia de Duda revelava desespero e ódio, misturados. Os músculos da face estavam duros, enrijecidos e algumas rugas construíam riscos ondulados em sua testa.

DUDA - Sumiu... Ritinha... foi embora... é isso que você quer dizer?

HERNANI - Eu não sei... juro que não sei... Fiz o que pude, Duda.

A carta balançava entre as mãos do rapaz. Faltava-lhe coragem para abri-la e tomar conhecimento de sua verdade.

DUDA - Ela foi embora... e foram vocês... que fizeram isso. Eu... acabo com vocês. Juro. Vou ler esta carta. (levantou-se, mostrando aos irmãos) E volto para acabar com a raça de vocês dois... E, outra coisa... este apartamento ainda é meu, por lei... você trate de se mandar daqui. (dirigia-se de forma rude á mulher) Quando eu voltar, não quero te ver aqui...

FIM DO CAPÍTULO 41
João (Tarcísio Meira) e Sinhana (Zilka Salaberry)

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

SINHANA DEPÔE NA DELEGACIA, COMPLICANDO AINDA MAIS A SITUAÇÃO DO DR. MACIEL NO CASO DA MORTE DE SUA ESPOSA.

DOMINGAS TEM UMA ENORME SURPRESA COM A CHEGADA DE RITINHA A COROADO.

DUDA FICA DIVIDIDO: CUMPRIR SEUS COMPROMISSOS PROFISSIONAIS OU IR PARA COROADO ATRÁS DE RITINHA?

NÃO PERCA O CAPÍTULO 42 DE

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