classificação
Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 45
DUDA
JOÃO
SINHANA
RITINHA
DR. MACIEL
DR. RAFAEL
BEATO ZACARIAS
DALVA
INDAIÁ
LOURENÇO
JAGUNÇOS
Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 45
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:
DUDA
JOÃO
SINHANA
RITINHA
DR. MACIEL
DR. RAFAEL
BEATO ZACARIAS
DALVA
INDAIÁ
LOURENÇO
JAGUNÇOS
CENA 1 - CASA DO RANCHO CORAGEM - INT. - DIA.
Duda via pela primeira vez o diamante achado pelo irmão.
DUDA - Caramba, João! É um pedrão! Como foi que você encontrou essa coisa de doido? O pai envelheceu na cata e nunca achou uma igual!
Sorrindo, feliz da vida, João Coragem contou pormenores da descoberta.
DUDA - (preocupado) E você guarda isto aí, enterrado? Até quando?
JOÃO - (decidido) Só até amanhã. Amanhã eu vou direto vendê e volto cheio da nota. Vamo eu e Jerônimo, um tomano conta do outro.
DUDA - Olha aí, eu acho que posso ir também, pra te dar mais garantia. Três dá mais certeza de segurança.
JOÃO - E os teu compromisso?
DUDA - Consegui uma semana de licença. Foi duro, mano! Mas, essa semana toda o meu time não jogou e como eu tou com um cartazão lá com os homens, eles me deixaram vir buscar minha mulher. Só volto no domingo, hoje é quinta, dá tempo de eu ir com vocês fazer o negócio do diamante. (tornou a insistir, preocupado) Alguém sabe que tá escondido aqui, neste chão?
JOÃO - Bem... o povo deve de sabê que eu nun ando com ele pra baixo e pra cima. E que a gente guarda em algum lugá. Mas ninguém sabe onde, né?
Sinhana apareceu pálida, na sala.
SINHANA - Eduardo, vem cá depressa!
Duda assustou-se com a fisionomia da velha. Algo acontecera de muito grave, a ponto de transtornar a mãe, sabidamente mulher de nervos fortes e emoções controladas.
DUDA - Que foi, mãe?
SINHANA - Tua mulher... me obrigou a dizê as coisa lá do pai dela... aí, eu peguei e disse... pensando em acalmá ela... mas ela saiu em disparada... dizendo que precisava falá com o pai. Vai trás dela, home! Veja se evita dela fazê uma besteira.
Correndo, Eduardo deixou a sala á procura da esposa. Ao cruzar a porta, derrubou no chão a velha ferradura enferrujada que servia de talismã “contra mau-olhado e doença ruim”, acreditava Sinhana.
DUDA - (gritava a altos brados) Ritinha! Ritinha!
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - EXT. - DIA.
Eduardo, esbaforido, alcançou Ritinha no momento em que esta batia á porta da casa do pai.
DUDA - Ritinha, espera, se acalma primeiro! Depois você fala com seu pai.
RITINHA - (sem dar ouvidos ao marido) Não me atrapalha, Eduardo, eu preciso dizer tudo o que sinto a ele.
Maciel veio atender. Mais ou menos lúcido, mas visivelmente abatido pelas bebedeiras sucessivas.
DR. MACIEL - Que foi isso? Que barulho é esse? Eu estou descansando...
DUDA - Ritinha está muito nervosa.
RITINHA - Diga a ele por quê.
DUDA - Eu não digo nada. Digo sim, que é melhor a gente dar uma volta pela praça, pra ver a preparação da festa de hoje á noite...
Impaciente, o médico observava as reações da filha.
DR. MACIEL - Ela quer me dizer alguma coisa?
RITINHA - Quero sim. Quero dizer que já sei de tudo.
DR. MACIEL - (com a voz velada) Tudo... quê?
RITINHA - Sinhana me contou a verdade. Você se embriagou pra ter coragem de... pra ter coragem de fazer o que fez com a minha mãe.
DR. MACIEL - Eu não posso confirmar uma coisa dessas (com a voz rouca pela surpresa) Não é verdade.
RITINHA - (sem pena) Mas eu não quero nunca mais olhar para a sua cara... porquê para mim você é um assassino. (descontrolada, gritou na cara do pai) Assassino! Assassino!
CORTA PARA:
CENA 3 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - PORTEIRA - EXT. - NOITE.
Dois riscos de luzes paralelas rodeados por um halo amarelado, cortaram como raios a escuridão que envolvia a fazenda de Pedro Barros. Diante da grande porteira o carro estacionou fazendo ouvir o ruído cadenciado da máquina a trabalhar. O motorista pressionou duas vezes o aro da buzina. Um vulto surgiu na escuridão e se encaminhou para o veículo.
JAGUNÇO - Quem é?
O motorista colocou a cabeça para fora por entre o quadrado da janela estreita.
DR. RAFAEL - (autoritário) Sou o médico da filha do Senhor Barros. Me deixe passar logo. Estou com pressa.
JAGUNÇO - (grosseiro) Ninguém aqui chamou médico.
No foco de luz a figura do jagunço destacava-se como um boneco num quadro de fundo negro. O cano longo da espingarda fazia mira no quadrado da janelinha.
DR. RAFAEL - Venho de fora, ninguém me chamou. Qual é o problema? Estou proibido de entrar?
JAGUNÇO - Não... não me disseram que o médico não podia entrar. (abriu a porteira num gesto rápido) Pode passar, doutor.
CORTA PARA:
CENA 4 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - GALPÃO - INT. - NOITE.
O beato Zacarias acabara de vergastar as costas nuas de Maria de Lara, deixando marcas arroxeadas da chibata “que tirava o demônio do corpo”. Entre orações balbuciadas e tiradas cênicas com a cruz de Cristo, o beato castigara o “espírito mau” que dominava a moça. Sangue coagulado e pedaços de pele lanhada eram tudo o que restava das costas macias da filha de Pedro Barros. Lourenço ria disfarçadamente, encostado a uma viga de madeira do galpão, gozando o espetáculo medieval. Contrito, o beato Zacarias invocava a divindade, levantando as mãos para os céus. Lara caiu ao solo.
BEATO ZACARIAS - Padre Nosso, que estais no céu...
CORTA PARA:
CENA 5 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - QUARTO DE LARA - INT. - NOITE.
O movimento na casa grande era incomum ante a gravidade do estado da filha do coronel. Levada ás pressas para o quarto, Lara era assistida por Dalva e Indaiá, que lhe aplicavam compressas de salmoura sobre a pele rasgada. Continuava inerte, sem sentidos; o barulho de um motor despertou as atenções da casa.
CORTA PARA:
CENA 6 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - EXT. - NOITE
LOURENÇO - (gritou) Um carro desconhecido!
Os freios rangeram e a figura do Dr. Rafael surgiu do interior do carro.
DALVA - Deus é grande. Chegou quem devia.
A exclamação de Dalva irritou o capataz da fazenda. Lourenço correu apressado para a porta.
LOURENÇO - Oto não devia ter deixado entrar este tipo.
Rafael encaminhou-se para a confortável residência, depois de retirar do banco traseiro a pequena mala de viagem. Notou a presença de Lourenço e Indaiá.
DR. RAFAEL - Que está acontecendo aqui? Um sujeito no portão quase não me deixa entrar.
INDAIÁ - Coisas muito estranhas, doutor. Caso de polícia...
DR. RAFAEL - (apreensivo) E Lara?
INDAIÁ - Está muito mal. (apontou para o capataz que permanecia mudo) Este sujeito aí tentou matar a pobre.
DR. RAFAEL - (contraiu os músculos da face) Tentou matar!
LOURENÇO - Doutor, esta mulher não sabe o que está dizendo, não é nada disso. O senhor não precisava ter vindo. Nada está acontecendo...
DR. RAFAEL - Quero ver Lara, agora!
O médico afastou com rispidez o jagunço e adentrou a residência. Lourenço olhou o relógio e, consultando o tempo, falou para os capangas:
LOURENÇO - Virgílio! Oto! Chicão! Onde estão vocês? Está na hora! Os cavalos estão prontos, mãos á obra, minha gente! Chegou a nossa hora! Juca, vamo!
O tropel perdia-se no silencio da noite.
CORTA PARA:
CENA 7 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - QUARTO DE LARA - INT. - NOITE.
O Dr. Rafael penetrou no quarto de Lara e, de imediato, constatou a gravidade da situação. O flagelo fôra demasiado violento. Dalva correu a abraçá-lo.
DALVA - Bendito seja Deus!
Em poucas palavras pôs o médico a par dos acontecimentos e da presença do beato Zacarias.
DR. RAFAEL - (recriminou) E a senhora permitiu que fizessem uma coisa dessas?
DALVA - Eu fiquei desesperada, doutor! Cheguei a um ponto em que acreditaria no próprio demônio se aparecesse aqui, dizendo que a tiraria daquele estado...
DR. RAFAEL - (se benzia, admirado) Que estupidez! Que atraso!
Retirou o paletó, atirando-o sobre a cama. “Pulsação irregular. Pressão 11,3 x 4”. O estetoscópio subia e descia acompanhando o ritmo acelerado do peito da moça. O pequeno cone metálico de audição, assentado sobre o baixo ventre, registrava irregularidade no ritmo cardíaco. O médico balançou a cabeça, desconsoladamente.
DALVA - (ansiosa) Nada se pode fazer, doutor?
DR. RAFAEL - Acredito que não.
DALVA - O senhor fala de Lara ou... ou da criança?
Rafael levantou-se. Visivelmente irritado.
DR. RAFAEL - Da criança, evidentemente! (voltou-se para Indaiá, em voz baixa) Prepare água fervente, toalhas, algodão e álcool puro e uma bacia.
A criada deixou o quarto correndo, enquanto o médico se preparava para atender a paciente. Dirigiu-se a Dalva, sem a fixar diretamente.
DR. RAFAEL - Não sou especialista neste assunto, mas creio que neste caso não há muito o que fazer. Seria um crime esperar que viesse um ginecologista... não haveria tempo.
Pacientemente, virou Lara de bruços.
DR. RAFAEL - Limpe as feridas das costas. O resto é comigo.
A moça gemeu ao ser tocada pela tia. Os ferimentos tinham assumido um aspecto azul-arroxeado, com profundos sulcos de bordas ensangüentadas.
DALVA - Como foi... que o senhor veio?
DR. RAFAEL - Dona Estela passou pelo hospital hoje de manhã. Parecia aflita. Percebi que o marido a havia forçado a viajar...
DALVA - De fato. Estela não queria viajar.
A criada retornou com a bacia e o material pedido pelo médico. A água fervente levantava leve fumaça, amornando o ambiente.
DR. RAFAEL - O marido de Lara... onde está?
DALVA - (com má vontade) Não sei.
DR. RAFAEL - Vá chamá-lo (dirigindo-se á criada) Quero-o aqui. Imediatamente.
Dalva ensaiou uma negativa, procurando impedir a presença de João Coragem naquela casa.
DALVA - Doutor... isto é contra a vontade de Pedro!
DR. RAFAEL - Muita coisa aconteceu aqui contra a vontade de muita gente. Eu o quero aqui. Repito. Imediatamente. (rabiscou algumas notas sobre um papel de receita) E mande ele trazer estes remédios, com urgência.
Indaiá deixou apressadamente o quarto. O médico deu início, sem demora, á délivrance forçada. Lara gemia. Dalva suava e o Dr. Rafael, atento, trabalhava em silencio.
Duda via pela primeira vez o diamante achado pelo irmão.
DUDA - Caramba, João! É um pedrão! Como foi que você encontrou essa coisa de doido? O pai envelheceu na cata e nunca achou uma igual!
Sorrindo, feliz da vida, João Coragem contou pormenores da descoberta.
DUDA - (preocupado) E você guarda isto aí, enterrado? Até quando?
JOÃO - (decidido) Só até amanhã. Amanhã eu vou direto vendê e volto cheio da nota. Vamo eu e Jerônimo, um tomano conta do outro.
DUDA - Olha aí, eu acho que posso ir também, pra te dar mais garantia. Três dá mais certeza de segurança.
JOÃO - E os teu compromisso?
DUDA - Consegui uma semana de licença. Foi duro, mano! Mas, essa semana toda o meu time não jogou e como eu tou com um cartazão lá com os homens, eles me deixaram vir buscar minha mulher. Só volto no domingo, hoje é quinta, dá tempo de eu ir com vocês fazer o negócio do diamante. (tornou a insistir, preocupado) Alguém sabe que tá escondido aqui, neste chão?
JOÃO - Bem... o povo deve de sabê que eu nun ando com ele pra baixo e pra cima. E que a gente guarda em algum lugá. Mas ninguém sabe onde, né?
Sinhana apareceu pálida, na sala.
SINHANA - Eduardo, vem cá depressa!
Duda assustou-se com a fisionomia da velha. Algo acontecera de muito grave, a ponto de transtornar a mãe, sabidamente mulher de nervos fortes e emoções controladas.
DUDA - Que foi, mãe?
SINHANA - Tua mulher... me obrigou a dizê as coisa lá do pai dela... aí, eu peguei e disse... pensando em acalmá ela... mas ela saiu em disparada... dizendo que precisava falá com o pai. Vai trás dela, home! Veja se evita dela fazê uma besteira.
Correndo, Eduardo deixou a sala á procura da esposa. Ao cruzar a porta, derrubou no chão a velha ferradura enferrujada que servia de talismã “contra mau-olhado e doença ruim”, acreditava Sinhana.
DUDA - (gritava a altos brados) Ritinha! Ritinha!
CORTA PARA:
CENA 2 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - EXT. - DIA.
Eduardo, esbaforido, alcançou Ritinha no momento em que esta batia á porta da casa do pai.
DUDA - Ritinha, espera, se acalma primeiro! Depois você fala com seu pai.
RITINHA - (sem dar ouvidos ao marido) Não me atrapalha, Eduardo, eu preciso dizer tudo o que sinto a ele.
Maciel veio atender. Mais ou menos lúcido, mas visivelmente abatido pelas bebedeiras sucessivas.
DR. MACIEL - Que foi isso? Que barulho é esse? Eu estou descansando...
DUDA - Ritinha está muito nervosa.
RITINHA - Diga a ele por quê.
DUDA - Eu não digo nada. Digo sim, que é melhor a gente dar uma volta pela praça, pra ver a preparação da festa de hoje á noite...
Impaciente, o médico observava as reações da filha.
DR. MACIEL - Ela quer me dizer alguma coisa?
RITINHA - Quero sim. Quero dizer que já sei de tudo.
DR. MACIEL - (com a voz velada) Tudo... quê?
RITINHA - Sinhana me contou a verdade. Você se embriagou pra ter coragem de... pra ter coragem de fazer o que fez com a minha mãe.
DR. MACIEL - Eu não posso confirmar uma coisa dessas (com a voz rouca pela surpresa) Não é verdade.
RITINHA - (sem pena) Mas eu não quero nunca mais olhar para a sua cara... porquê para mim você é um assassino. (descontrolada, gritou na cara do pai) Assassino! Assassino!
CORTA PARA:
CENA 3 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - PORTEIRA - EXT. - NOITE.
Dois riscos de luzes paralelas rodeados por um halo amarelado, cortaram como raios a escuridão que envolvia a fazenda de Pedro Barros. Diante da grande porteira o carro estacionou fazendo ouvir o ruído cadenciado da máquina a trabalhar. O motorista pressionou duas vezes o aro da buzina. Um vulto surgiu na escuridão e se encaminhou para o veículo.
JAGUNÇO - Quem é?
O motorista colocou a cabeça para fora por entre o quadrado da janela estreita.
DR. RAFAEL - (autoritário) Sou o médico da filha do Senhor Barros. Me deixe passar logo. Estou com pressa.
JAGUNÇO - (grosseiro) Ninguém aqui chamou médico.
No foco de luz a figura do jagunço destacava-se como um boneco num quadro de fundo negro. O cano longo da espingarda fazia mira no quadrado da janelinha.
DR. RAFAEL - Venho de fora, ninguém me chamou. Qual é o problema? Estou proibido de entrar?
JAGUNÇO - Não... não me disseram que o médico não podia entrar. (abriu a porteira num gesto rápido) Pode passar, doutor.
CORTA PARA:
CENA 4 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - GALPÃO - INT. - NOITE.
O beato Zacarias acabara de vergastar as costas nuas de Maria de Lara, deixando marcas arroxeadas da chibata “que tirava o demônio do corpo”. Entre orações balbuciadas e tiradas cênicas com a cruz de Cristo, o beato castigara o “espírito mau” que dominava a moça. Sangue coagulado e pedaços de pele lanhada eram tudo o que restava das costas macias da filha de Pedro Barros. Lourenço ria disfarçadamente, encostado a uma viga de madeira do galpão, gozando o espetáculo medieval. Contrito, o beato Zacarias invocava a divindade, levantando as mãos para os céus. Lara caiu ao solo.
BEATO ZACARIAS - Padre Nosso, que estais no céu...
CORTA PARA:
CENA 5 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - QUARTO DE LARA - INT. - NOITE.
O movimento na casa grande era incomum ante a gravidade do estado da filha do coronel. Levada ás pressas para o quarto, Lara era assistida por Dalva e Indaiá, que lhe aplicavam compressas de salmoura sobre a pele rasgada. Continuava inerte, sem sentidos; o barulho de um motor despertou as atenções da casa.
CORTA PARA:
CENA 6 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - EXT. - NOITE
LOURENÇO - (gritou) Um carro desconhecido!
Os freios rangeram e a figura do Dr. Rafael surgiu do interior do carro.
DALVA - Deus é grande. Chegou quem devia.
A exclamação de Dalva irritou o capataz da fazenda. Lourenço correu apressado para a porta.
LOURENÇO - Oto não devia ter deixado entrar este tipo.
Rafael encaminhou-se para a confortável residência, depois de retirar do banco traseiro a pequena mala de viagem. Notou a presença de Lourenço e Indaiá.
DR. RAFAEL - Que está acontecendo aqui? Um sujeito no portão quase não me deixa entrar.
INDAIÁ - Coisas muito estranhas, doutor. Caso de polícia...
DR. RAFAEL - (apreensivo) E Lara?
INDAIÁ - Está muito mal. (apontou para o capataz que permanecia mudo) Este sujeito aí tentou matar a pobre.
DR. RAFAEL - (contraiu os músculos da face) Tentou matar!
LOURENÇO - Doutor, esta mulher não sabe o que está dizendo, não é nada disso. O senhor não precisava ter vindo. Nada está acontecendo...
DR. RAFAEL - Quero ver Lara, agora!
O médico afastou com rispidez o jagunço e adentrou a residência. Lourenço olhou o relógio e, consultando o tempo, falou para os capangas:
LOURENÇO - Virgílio! Oto! Chicão! Onde estão vocês? Está na hora! Os cavalos estão prontos, mãos á obra, minha gente! Chegou a nossa hora! Juca, vamo!
O tropel perdia-se no silencio da noite.
CORTA PARA:
CENA 7 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - QUARTO DE LARA - INT. - NOITE.
O Dr. Rafael penetrou no quarto de Lara e, de imediato, constatou a gravidade da situação. O flagelo fôra demasiado violento. Dalva correu a abraçá-lo.
DALVA - Bendito seja Deus!
Em poucas palavras pôs o médico a par dos acontecimentos e da presença do beato Zacarias.
DR. RAFAEL - (recriminou) E a senhora permitiu que fizessem uma coisa dessas?
DALVA - Eu fiquei desesperada, doutor! Cheguei a um ponto em que acreditaria no próprio demônio se aparecesse aqui, dizendo que a tiraria daquele estado...
DR. RAFAEL - (se benzia, admirado) Que estupidez! Que atraso!
Retirou o paletó, atirando-o sobre a cama. “Pulsação irregular. Pressão 11,3 x 4”. O estetoscópio subia e descia acompanhando o ritmo acelerado do peito da moça. O pequeno cone metálico de audição, assentado sobre o baixo ventre, registrava irregularidade no ritmo cardíaco. O médico balançou a cabeça, desconsoladamente.
DALVA - (ansiosa) Nada se pode fazer, doutor?
DR. RAFAEL - Acredito que não.
DALVA - O senhor fala de Lara ou... ou da criança?
Rafael levantou-se. Visivelmente irritado.
DR. RAFAEL - Da criança, evidentemente! (voltou-se para Indaiá, em voz baixa) Prepare água fervente, toalhas, algodão e álcool puro e uma bacia.
A criada deixou o quarto correndo, enquanto o médico se preparava para atender a paciente. Dirigiu-se a Dalva, sem a fixar diretamente.
DR. RAFAEL - Não sou especialista neste assunto, mas creio que neste caso não há muito o que fazer. Seria um crime esperar que viesse um ginecologista... não haveria tempo.
Pacientemente, virou Lara de bruços.
DR. RAFAEL - Limpe as feridas das costas. O resto é comigo.
A moça gemeu ao ser tocada pela tia. Os ferimentos tinham assumido um aspecto azul-arroxeado, com profundos sulcos de bordas ensangüentadas.
DALVA - Como foi... que o senhor veio?
DR. RAFAEL - Dona Estela passou pelo hospital hoje de manhã. Parecia aflita. Percebi que o marido a havia forçado a viajar...
DALVA - De fato. Estela não queria viajar.
A criada retornou com a bacia e o material pedido pelo médico. A água fervente levantava leve fumaça, amornando o ambiente.
DR. RAFAEL - O marido de Lara... onde está?
DALVA - (com má vontade) Não sei.
DR. RAFAEL - Vá chamá-lo (dirigindo-se á criada) Quero-o aqui. Imediatamente.
Dalva ensaiou uma negativa, procurando impedir a presença de João Coragem naquela casa.
DALVA - Doutor... isto é contra a vontade de Pedro!
DR. RAFAEL - Muita coisa aconteceu aqui contra a vontade de muita gente. Eu o quero aqui. Repito. Imediatamente. (rabiscou algumas notas sobre um papel de receita) E mande ele trazer estes remédios, com urgência.
Indaiá deixou apressadamente o quarto. O médico deu início, sem demora, á délivrance forçada. Lara gemia. Dalva suava e o Dr. Rafael, atento, trabalhava em silencio.
FIM DO CAPÍTULO 45
E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...
INDAIÁ PROCURA JOÃO EM COROADO E O AVISA DE QUE LARA ESTÁ PASSANDO MAL.
OS CAPANGAS DE PEDRO BARROS INVADEM O RANCHO DOS CORAGEM E RENDEM CEMA E O VELHO SEBASTIÃO EM BUSCA DO DIAMANTE!
INDAIÁ PROCURA JOÃO EM COROADO E O AVISA DE QUE LARA ESTÁ PASSANDO MAL.
OS CAPANGAS DE PEDRO BARROS INVADEM O RANCHO DOS CORAGEM E RENDEM CEMA E O VELHO SEBASTIÃO EM BUSCA DO DIAMANTE!
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