quinta-feira, 5 de maio de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 38



classificação



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 38

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

DUDA
RITINHA
JOÃO
PEDRO BARROS
JERÔNIMO
LOURENÇO
JUCA CIPÓ
BRAZ CANOEIRO
GARIMPEIROS
CAPANGAS DE PEDRO BARROS

CENA 1 - RIO DE JANEIRO - APARTAMENTO DE DUDA - INT. - NOITE.

O som estridente da campainha violentou o silencio do apartamento. Ritinha levantou-se célere.

DUDA - Sou eu! Abre, bem!

Sem acender a luz, Ritinha correu á porta, cobrindo o busto com as mãos. Fazia calor no Rio.

RITINHA - Puxa! Você veio! Nem te esperava mais!

Duda abraçou a mulher, beijando-lhe ávido a boca e o pescoço.

DUDA - Ficava maluco se não te visse hoje, amor!

A moça aninhou-se nos braços do marido, o busto nu esmagado de encontro ao peito do esposo.

RITINHA - Parece um sonho que esteja aqui.

Duda afastou-a meio metro e admirou-lhe segundos o corpo despido. No assoalho as unhas brancas decoravam pés pequenos e mimosos que sustentavam pernas e coxas de carnes firmes e morenas. A discreta calota do ventre, um pouco entumescida, anunciava a gravidez em início. Duda extasiava-se descobrindo belezas no corpo de Ritinha. Puxou-a para si, com o sangue ardendo...

DUDA - Não tá certo voce ficar aqui, assim...

CORTA PARA:

CENA 2 - APARTAMENTO DE DUDA - BANHEIRO - INT. - NOITE.

Pulando sob as águas do chuveiro, Duda lamentava o tempo perdido, das viagens que o obrigavam a separar-se da mulher por tanto tempo. Friccionou o corpo cabeludo com a toalha de desenhos geométricos. Sentia o sangue ferver, apesar do banho frio e da brisa que penetrava pela portinhola aberta do banheiro. Enrolado na grossa toalha de banho, encaminhou-se para o quarto onde “ela” o estaria esperando.

CORTA PARA:

CENA 3 - APARTAMENTO DE DUDA - QUARTO - INT. - NOITE.


DUDA - Olhe aqui (deitando-se ao lado da mulher) não deixe o apartamento, não tome conhecimento das ameaças de ninguém. A lei dá muito tempo pro inquilino. Me espera voltar dessa excursão.

Ritinha acenou que sim, olhando fundo nos olhos do marido.

DUDA - Preste bem atenção no que estou dizendo: não abra a porta pra ninguém.

RITINHA - Tá certo. Entendi tudo, mas agora fica quieto que eu tenho uma surpresa pra você. (agarrou a mão do rapaz e colocou-a sobre a barriga e ordenou) Fica quieto... daqui a pouco você vai ver uma coisa...

DUDA - O quê?

RITINHA - Ele pular.

DUDA - Já? Tá brincando!

Rita confirmou.

DUDA - Então... já está destinado. Vai ser jogador de futebol.

Sorriu satisfeito, pensando na cara de Fausto Paiva e nos companheiros da equipe abraçados, certamente, aos confortáveis travesseiros do hotel. Recordou-se do desentendimento havido na hora da partida.

DUDA - Desafiei o time todo... vou agüentar com as conseqüências desta viagem... só pra vir aqui... e sentir os pulinhos de meu filho! Amanhã vou contar pra turma! Vão se divertir ás pampas!

Chegou-se para junto da esposa e beijou-lhe o ombro. As luzes do quarto se apagaram, enquanto outras luzes clareavam-lhe a mente: amava Ritinha. Os corpos estreitaram-se ainda mais, paralelos, formando um imenso desenho negro na brancura imaculada do lençol. Os sonhos começavam com antecipação.

CORTA PARA:

CENA 4 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - SALA - INT. - DIA.


JOÃO - Me dissero que o sinhô queria falá comigo.

João Coragem protestara contra a presença no rancho dos capangas do coronel, mas aquiescera em comparecer á fazenda, para se entrevistar com Pedro Barros. O convite, de certa forma, o surpreendeu, já que o duelo de interesses levara as duas famílias a uma luta de morte. Lourenço lhe garantira que nada lhe aconteceria de mal. Pedro Barros desejava apenas esclarecer alguns ângulos, ainda obscuros, de seu romance com a moça Diana. Apesar dos protestos de Jerônimo, João partiu para a fazenda, acompanhado pelos asseclas do coronel.

Agora, encaravam-se, frente a frente. João, meio desconfiado; Pedro Barros tentando aparentar uma calma que não possuía.

PEDRO BARROS - (ríspido) Entre!

João aceitou o convite. O coronel indicou o sofá.

PEDRO BARROS - Ouvi dizer, João, que você ta querendo se casar com minha filha. E que já tem até casamento marcado pra amanhã. Certo?

JOÃO - Deve de tê ouvido dizê, também, que não fiz isso contra a vontade dela. Não ia arrumá papel de casamento se não estivesse de acordo.

PEDRO BARROS - (cenho franzido) Pode ter sonhado que ela estava de acordo.

JOÃO - Vamo deixá de muita prosa. O senhô tá sabendo, como eu sei, que a gente precisa se casá de qualquer jeito. Não é o sinhô que prega moral nessa cidade? Não é o salvador das honra? Pois salva agora a de sua própria filha.

PEDRO BARROS - Andou falando com o médico da cidade?

JOÃO - Andei. E tou ciente de tudo...

Pedro Barros procurara conter a ira e não elevar a voz. O assunto tinha de ser tratado em bases pacíficas.

PEDRO BARROS - Sabe que eu podia até te matar pelo que fez?

Breve silencio pairou sobre a sala. Barros acendia o cachimbo, chupando furiosamente o cano de ébano.

PEDRO BARROS - Voce me pegou no pulo dessa vez, João. Mas não vou te ceder minha filha de mão beijada.

JOÃO - Tou disposta até a aceitar a condição.

PEDRO BARROS - A condição se resume em dois pontos: vocês casam, mas Maria de Lara terá de permanecer na fazenda até que você possua meios de lhe dar o conforto por ela gozado. E ainda lhe facilito as coisa, pra alcançá seu objetivo: quero comprá sua pedra.

Estava claro o intuito do coronel, a trama chantagista que elaborara para ficar de posse da cobiçada pedra.

PEDRO BARROS - Pra isso mandei trazer ela. Quero ver a preciosidade. Dizem que é uma pedra do outro mundo. Pois eu quero ver, para crer.

JOÃO - (enfurecido com a ambição do outro) Então... o senhor não me chamou aqui pra salvar a honra de sua filha... me chamou pra fazê negócio.

PEDRO BARROS - (com cinismo) A gente pode unir as duas coisas. Quero ver o diamante!

Alguma coisa, um sexto-sentido, avisava o rapaz que era chegado o momento. Tudo se decidiria a partir do instante em que o valioso diamante passasse ás mãos do coronel: a paz ou a guerra definitiva. Lentamente, como se retirasse do poço toneladas de minério, João puxou do bolso a preciosidade. Colocou-a cuidadosamente sobre a mesa, os olhos perscrutando o ambiente.

PEDRO BARROS - Deixa a pedra aí, home! Ta com medo que eu te roube ela?

Pedro Barros abriu a pequena bolsa de couro e seus olhos pareceram saltar das órbitas.

PEDRO BARROS - Deus de misericórdia!

A exclamação do coronel atraíram á sala os capangas de Lourenço e Juca Cipó. Um a um aproximaram-se, rodeando covardemente o garimpeiro. Barros permanecia extasiado.

JOÃO - (cutucando as costas do coronel) O que é isso? O que é que eles tão fazendo aqui?

PEDRO BARROS - Calma, João... a gente ta realizando um negócio. Tenho que tomar as precauções habituais.

A cilada fora preparada com requintes pelo coronel. Não havia saída para o outro e, mesmo que tentasse qualquer reação, a pedra jamais lhe voltaria ás mãos. Os homens, mal encarados, prestavam atenção a todos os movimentos do rapaz. Lourenço se adiantou e se postou ao lado de Pedro Barros.

LOURENÇO - (empalideceu) Virge mãe!

PEDRO BARROS - Cala a boca, Lourenço! Você não entende muito disso!

Examinou a pedra por alguns instantes, movendo-a entre os dedos. Foi á janela e, contra a luz do sol, observou a radiação, os efeitos de luz. Barros engendrava a jogada na base do blefe...

PEDRO BARROS - Ela só tem aparência. Não é pura. Conheço isso longe. Chama “engana-trouxa”...

JOÃO - Então, me dá ela.

PEDRO BARROS - Mas espera. Ainda assim... eu faço negócio com você... mas visando ao bem-estar da minha filha... Eu te dou por ela... e por muito favor... só pra você fazer uma casa decente... deixe ver... (encostou dois dedos na fronte, em atitude pensativa)... cinqüenta milhões de cruzeiros. Velhos.

João revoltou-se com a exploração.

JOÃO - Absurdo. Eu não quero vender nada. Me dê...

PEDRO BARROS - Vou lhe fazer um favor...

JOÃO - (decidido) Eu não quero.

PEDRO BARROS - Desculpe... mas vai ser obrigado!

João Coragem sondou o ambiente. Estava cercado e sem chance de readquirir a pedra. A voz de Jerônimo, firme e clara, fez com que todos os olhares se voltassem para a porta.

JERÔNIMO - Acho que chegamos em boa hora!

Atrás do Presidente da Associação do Garimpeiros, Braz, Antonio e uma dezena de outros companheiros armados e prontos para a ação. O grupo entrou lentamente na sala do coronel. Barros espumava de cólera.

JERÔNIMO - A gente veio... tomá parte no negócio. (e firme para o coronel) Entrega a pedra pra ele.

O cano do revólver distava dois metros do coração de Barros. Um excelente alvo.

JERÔNIMO - (insistiu mais uma vez) Vamo, dê o diamante ao mano.

Barros hesitava, entre perplexo e raivoso. As duas facções se entreolhavam, com ódio.

PEDRO BARROS - Então, Jerônimo, você se fez chefe dos homens... pra formar uma quadrilha?

JUCA CIPÓ - (cínico) Viraro bandoleiro, meu patrão.

JERÔNIMO - Bandoleiro é aquele que rouba. A gente só defende os direito. No nosso caso, quem é o bandoleiro são os do seu lado.

João balançou a cabeça para a direita, num gesto típico de irritação.

JOÃO - Anda. A minha pedra.

BRAZ CANOEIRO - (gritou do fundo, com a voz emocionada) A gente ta disposto a tudo.

De má vontade e sem outro recurso, Pedro Barros entregou o diamante ao verdadeiro dono. Havia ódio na máscara facial do coronel.

PEDRO BARROS - Agora dêem o fora!

João colocou as duas mãos espalmadas acima do peito, em sinal de calma.

JOÃO - Ainda não. Falta o principal. Quero saber se amanhã ta tudo certo pro casamento.

PEDRO BARROS - Voce sabe qual a minha condição.

JOÃO - Pois eu repito que aceito. A moça só vai viver comigo quando eu tiver conforto de riqueza pra lhe dá. Muito bem. Isso não vai demorá pra acontecê. (voltou-se para os amigos) Irmão, minha gente, cês tão ouvindo. Pedro Barros deu uma condição e eu aceitei. Me caso com a filha dele, mas ela só vem pra mim quando eu tiver dinheiro...

JERÔNIMO - (enérgico) Ele vai ter que cumprir a palavra.

BRAZ CANOEIRO - (com ânsia de vingança) A gente obriga ele a cumprir!

Protegido pelos companheiros, João Coragem deixou a sala da casa-grande.

FIM DO CAPÍTULO 38

João (Tarcísio Meira) e Braz (Milton Gonçalves)

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

PAULA CHEGA AO APARTAMENTO DE RITINHA COM MALAS E BAGAGENS, DIZENDO QUE VEIO PARA FICAR. RITINHA DECIDE CHAMAR A POLÍCIA E É DESAFIADA PELA AMANTE DO MARIDO.

PADRE BENTO COMUNICA A JOÃO QUE O CASAMENTO SERÁ REALIZADO NA FAZENDA DE PEDRO BARROS.

O DELEGADO FALCÃO NÃO SE CONFORMA COM O CASAMENTO DE JOÃO E LARA.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 39 DE...


Nenhum comentário:

Postar um comentário