quarta-feira, 25 de maio de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 46



classificação



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 46

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

INDAIÁ
POTIRA
JOÃO
LOURENÇO
JUCA CIPÓ
VIRGÍLIO
OTO
SEBASTIÃO
DUDA
JERÔNIMO
BRAZ CANOEIRO
CEMA


CENA 1 - COROADO - PRAÇA - EXT. - NOITE.

Coroado vibrava de alegria. Viera gente de todos os vilarejos da região e de todos os rincões do garimpo para assistir á posse de Jerônimo. A cidade estava em festas, com as biroscas iluminadas pelos candeeiros e a praça agitada pelas discussões dos grupos que optavam por esta ou aquela facção. Os partidários do coronel preferiam manter-se num ponto de mediação. Indaiá surgiu, de repente, esbaforida, diante da sede da Associação. Viu, com um suspiro de alívio, a mestiça Potira tranquilamente sentada num dos bancos do jardim. A índia meditava, observando o movimento da cidadezinha.

INDAIÁ - (aproximando-se) Se alembra de mim, menina?

POTIRA - Lembro, dona. Como vai?

INDAIÁ - Estou procurando João. É urgente. Sabe por onde ele anda?

POTIRA - Tava por aqui, agorinha mesmo... (passeou os olhos pela praça cheia de gente. Apontou, satisfeita) Olha lá ele!

Indaiá correu em direção ao moço.

INDAIÁ - (tocando-lhe no ombro, com dedos nervosos) João, preciso falar com ocê.

Um brilho de curiosidade surgiu nos olhos do rapaz.

INDAIÁ - Trago recado de Dona Lara, minha patroa. Ela tá muito mal!

As mãos fortes do garimpeiro chegaram a magoar os braços da mestiça, ante a notícia desagradável.

JOÃO - Mal? Doente? De quê?

INDAIÁ - Depois explico. Agora, seu doutô Rafael, da cidade, mandou lhe buscá. E lhe pede pra mandá vê estes remédios, na farmácia, com urgência.

Entregou a receita a João e ambos saíram ligeiros á procura dos medicamentos. Foguetes espocavam nos céus de Coroado. A praça regurgitava de gente. Potira, Sinhana, Jerônimo. Toda a família Coragem viera á cidade para assistir á posse do líder dos garimpeiros.

CORTA PARA:

CENA 2 - CASA DO RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - NOITE.


Apenas o velho Sebastião permanecera no longínquo rancho, imerso em pensamentos. Vez por outra o sono o dominava por minutos. Os quatro homens entraram sem fazer barulho, passos macios, a deslizar por sobre o chão de barro da velha casa. Enquanto Juca perscrutava o ambiente, Lourenço e os outros “cabras” ingressavam nas dependências escuras do rancho. Apenas a luz mortiça de um lampião iluminava as feições cansadas do garimpeiro pai. Lourenço lançou a luz de uma lanterna sobre o rosto de Sebastião. O velho assustou-se.

SEBASTIÃO - O que é isto?

LOURENÇO - (com ironia) Um pesadelo, velho.

Sebastião tentou levantar-se, contido pelas mãos grosseiras de Virgílio. O velho imobilizou-se como se tocado por mão de ferro.

SEBASTIÃO - (gritou com voz fraca) Cema! Braz!

LOURENÇO - Não adianta. Não tem ninguém aí. Juca tá de vigia.

VIRGÍLIO - (já alterado, sequioso de sangue) Que faço com ele?

LOURENÇO - Nada, se ele disser logo onde João guarda o diamante.

Os homens com gestos bruscos levantaram o velho e o empurraram para fora do quarto.

LOURENÇO - Tá fazendo a gente perdê muito tempo, velho. Diga logo! Onde escondem o diamante de João?

SEBASTIÃO - -Podem me matar. De mim não arrancam palavra...

O capataz virava bicho, á medida que Sebastião se retesava e negava-se a dizer palavra. Oto, o capanga manco de um pé, convidou com sadismo:

OTO - Vamo dá a lição nele!

CORTA PARA:

CENA 3 - CASA DO RANCHO CORAGEM - EXT. - NOITE.

Lá fora Juca Cipó detinha Cema, após luta de alguns minutos. A esposa de Braz sofria o abraço asqueroso do jagunço lunático. Juca ria e se babava com o corpo provocante de Cema colado ao seu.
Lourenço surgiu á porta.

LOURENÇO - (ordenou, enérgico) Ei, você aí! (evitava dizer nomes, protegidos que estavam pela escuridão da noite) Larga de brinquedo! Traz essa mulher!

Juca Cipó forçava os seios da mulher de Braz e procurava, desesperado, levantar-lhe a saia. Cema resistia rasgando as carnes do bandido com dentes e unhas.

CORTA PARA:

CENA 4 - COROADO - PRAÇA - EXT. - NOITE.


Na barraca de tiro ao alvo, Duda ensinava Ritinha a acertar na mosca. Viu Jerônimo, nostálgico, perambulando pela praça. Chamou-o com um assovio estridente.

DUDA - Se anime, Jerônimo. Que cara é essa?

JERÔNIMO - Sei não. Meu coração tá apertado, quereno me avisá de alguma coisa.

Duda forçou um sorriso sem graça, com o visível objetivo de animar o irmão.

DUDA - (de brincadeira, ironizando a tristeza do outro) Você já viu coração falar?

JERÔNIMO - (afirmou, profético) O meu tá dizeno: alguma coisa de ruim tá pra acontecer.

Braz se aproximou, sorridente, com uma espiga de milho assada trincada nos dentes. Jerônimo admirou-se com a presença do negro. Devia, a essa hora, estar vigilante nos arredores do rancho.

JERÔNIMO - (com energia) Que é que tá fazeno aqui?

BRAZ CANOEIRO - Vim só dá uma espiada na festa. Cema ficô lá, tomano conta do velho.

O pressentimento de Jerônimo tornava-se real. O rapaz empalideceu e o queixo tremeu-lhe, nervosamente.

JERÔNIMO - Cema... sozinha! E você deixou, home?

BRAZ CANOEIRO - Tem nada, não. A noite tá calma.

JERÕNIMO - (reprovou a atitude do negro) Por quê fez isso, Braz?

Duda entrou na conversa, depois de acertar dois tiros no alvo da barraca.

DUDA - O que foi?

JERÔNIMO - Esse... esse doido sem responsabilidade deixou a mulhé dele sozinha tomano conta do pai.

DUDA - (sem atinar com o perigo) O pai tá correndo perigo, gente?

JERÔNIMO - (sêcamente) Todos nós tamo, Duda! Você não sente... que uma ameaça parece que tá em cima da gente?

DUDA - Uai, sendo assim... que é que a gente tá fazendo aqui, se divertindo?

Jerônimo acompanhou seu raciocínio, locado por uma onda de apreensão.

JERÔNIMO - Vamo lá vê o pai, Duda. Vem comigo!

CORTA PARA:

CENA 5 - CASA DO RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - NOITE.


Juca entrou na grande sala do rancho, arrastando Cema, de olhar irado, vestes em frangalhos e os cabelos em completo desalinho. A mulher buscava reunir os trapos que restavam da blusa, envergonhada, com os seios á mostra, cheios e pontiagudos.

JUCA CIPÓ - Foi difícil domá ela. Parece uma onça! Me lanhou todo, a fera! A gente se divertiu um bocado.

A jovem esposa do garimpeiro negro abraçou-se ao corpo do velho Sebastião, amedrontada.

CEMA - (apavorada, voz embargada) Que fizero a ele? Que é que vocês qué, bandidos?

Lourenço, protegido pela total escuridão, direcionou o foco da lanterna mostrando, apenas, dois rostos surpresos e temerosos.

LOURENÇO - (firme e decidido) Só a pedra do João, que tá escondida nesta casa. Onde está?

CEMA - Eu não sei e se soubesse, não diria!

JUCA CIPÓ - (histérico, levantava o dedo na direção do idoso chefe de família) O velho sabe! O velho sabe! Sabe sim!

LOURENÇO - ... e vai dizer agora, se não quer que a mulher morra.

O capataz apontou o revólver para o ar e num trajeto curto, deixou-o com a mira na testa da bela mulher.

CEMA - (sem perder a coragem) Pode deixá! Não diz, seu Bastião! Eu não tenho medo!

SEBASTIÃO - (murmurou, junto ao ouvido da mulher) Eles te matam, Cema!

LOURENÇO - Eu vou dá um tempo. Vou contá até três!

JUCA CIPÓ - Acaba logo com isso! Vem gente aí!

OTO - (da porta, onde permanecia de vigília, avisou) Ou muito me engano ou tou ouvindo um tropel de cavalo...

LOURENÇO - Um...

JUCA CIPÓ - (esfregando as mãos, nervosamente) Como é? Diz ou não diz?

O tropel aumentava.

LOURENÇO - Dois...

OTO - (gritou, embaraçado) Não tou enganado. Vem gente por aí.

CEMA - Num diz, seu Bastião. Num diz!

LOURENÇO - Se acabô o tempo.

VIRGÍLIO - (com requintes de sadismo, estimulou) Atira, atira nela!

SEBASTIÃO - (temeroso, acedeu) Eu digo! Eu digo, mas acende o lume, pra mim vê as cara de ocês.

LOURENÇO - Não dá tempo pra isso. Diz logo. Anda, velho!

Com os dedos em gancho o ancião apontou para o quarto.

SEBASTIÃO - Ali... onde os menino dorme.

Rápidos os homens deslizaram para o cômodo do lado. Ao longe o rumor do tropel aumentava de intensidade. Lourenço empurrou o velho até o quarto, dobrando-o com uma chave-de-braço. O velho gemia. Cema em desespero, tentava ganhar tempo.

CEMA - Num diz, seu Bastião. Não conta! Não conta!

O tropel tornava-se mais claro.

CORTA PARA:

CENA 6 - CASA DO RANCHO CORAGEM - QUARTO - INT. - NOITE.

Lourenço forçou o velho mais fortemente. Sebastião mostrou o lugar exato onde João escondera a pedra.

SEBASTIÃO - É aqui! No chão... enterrado.

LOURENÇO - (gritava para os asseclas) Cuidado! Se ele mentiu, acertem nele antes dos cavalo chegá por aqui.

Com as mãos em atividade, os homens retiraram a pedra que ocultava o local, depois de afastarem rudemente o velho garimpeiro, derrubando-o sobre o chão de barro.

OTO - (gritou da porta de entrada) Mais depressa! Já estão mais perto!

Removida a terra, surgiu diante dos olhos ávidos dos assaltantes a bolsinha de couro de João Coragem. Lourenço examinou-a, ràpidamente.

LOURENÇO - É ela... Vamos indo. (deu as ordens) Ocês seguem na frente... eu me encontro com ocês mais adiante. Pra despistá os home que vêm aí. Cada um segue um caminho.

Deixaram o rancho correndo, escapulindo pelas laterais escuras da estrada.

FIM DO CAPÍTULO 46


E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

GRANDES EMOÇÕES NA VIDA DOS IRMÃOS CORAGEM: OS CAPANGAS DE PEDRO BARROS INVADEM O RANCHO PARA ROUBAR O DIAMANTE, AGRIDEM CEMA E DEIXAM O VELHO SEBASTIÃO Á BEIRA DA MORTE.

NA PERSEGUIÇÃO AOS BANDIDOS, DUDA LEVA UM TIRO NA PERNA!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 47 DE

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