sexta-feira, 24 de junho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 58



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Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 58

CENA 1 - CASA DO RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.


Sinhana estava ansiosa, á espera de notícias do filho. Durante o dia, dezenas de vezes, correra á porta, ao ouvir o barulho de patas ou o ruido rouco do motor de automóvel. Jerônimo, que saíra cedo para Coroado, regressava, agora, á hora do almoço, trazendo Lara a seu lado. A expressão de ambos denotava, claramente, o desassossêgo e a preocupação. João não dava notícias... E os dias se passavam, molemente. O rapaz atravessou a sala, jogou o paletó surrado num gancho da parede e se sentou, arfando, estirando as pernas, abertas em arco, por sobre um tamborete de madeira.

SINHANA - Alguma notícia do teu irmão?

JERÔNIMO - Não, mãe. Nenhuma. E tá todo mundo querendo jogá a culpa nele.

SINHANA - Mas ele saiu daqui pra dar fim ao Lourenço. Não era isso que ocês tava quereno? Não era ocê que brigava com seu irmão pra ele fazê justiça?

JERÔNIMO - (descalçando as botas barrentas) Não desminto. Eu queria que ele fizesse alguma coisa... mas não disse pra ele matá.


MARIA DE LARA - O que você queria que ele fizesse?


JERÔNIMO - Queria... que ele conseguisse o diamante. Era tudo o que eu desejava.

SINHANA - (arrastou um banco e sentou-se) ... e que vingasse a morte do pai!

JERÔNIMO - Eu... eu nem sei o que queria. Talvez fosse isso... nem sei. Naquela hora eu queria tudo. Eu mesmo tinha que ter ido ao encontro dele... daquele bandido. Se a gente tem que fazê justiça... resta ainda muita gente.

SINHANA - Tou contigo. Resta, ainda, muita gente.

Lara voltou a falar, percebendo o rumo da conversa e as indiretas que a feriam.

MARIA DE LARA - Eu sei de quem vocês estão falando. Mas eu quero lhes dizer que não posso ser responsabilizada pelos atos do meu pai. E, se estou aqui, é porque não estou do lado dele. Reconheçam isso. E não me olhem com tanta acusação.

As palavras da nora ecoaram no coração de Sinhana. De fato, que culpa poderia ter Lara dos erros do pai?

JERÔNIMO - Afinal de contas... a gente foi vítima. Assaltaram nossa casa... roubaram... feriram nosso irmão Duda, e no final das contas... tá todo mundo, agora, contra João. E vão fazer do Lourenço uma vítima!

MARIA DE LARA - Afinal, vocês falam, falam, sem saber se foi João quem matou Lourenço. Pode ser que não tenha sido!

JERÔNIMO - É... e eu tou torceno por isso. Porque eu vi na cara daquela gente que viu o corpo do Lourenço... a revolta, a mudança... o esquecimento de tudo o que a gente passô... nos últimos tempos. O povo... esse mesmo povo que apoiava nós... que tava do nosso lado, se esqueceu que Lourenço foi um ladrão... um assassino. Agora ele é vítima. É herói. E João um criminoso infame... segundo essa gente.

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - DELEGACIA - INT. - DIA.


Falcão descobriu o corpo, azulado pela morte. Juca Cipó benzeu-se, com gestos indiscretos. Pedro Barros estimulava a mulher.

PEDRO BARROS - Coragem, minha senhora!

BRANCA - (virou o rosto, horrorizada, empalidecendo) Meu Deus!

DELEGADO FALCÃO - Eram estas as roupas... que usava? Reconhece o anel?


BRANCA - É dele, sim! Os cabelos... não existe a menor dúvida. É meu marido! É ele! Foi assassinado! Assassinado, meu Deus!

A mulher sentiu o mundo rodar, como se estivesse num avião desgovernado. Falcão e Barros evitaram que ela caísse ao chão. Branca perdera os sentidos.

PEDRO BARROS - (ordenou a Juca Cipó) Veja alguma coisa aí, pra ela tomá.


O café estimulou um pouco a mulher de Lourenço. Aos poucos foi se refazendo da vertigem, amparada pelos braços do delegado.

BRANCA - (com ódio) Eu exijo puniçõo pra esse crime. Punição imediata.

DELEGADO FALCÃO - Mas... quem é o culpado?

BRANCA - João Coragem! João Coragem jurou ele de morte. Foi atrás dele, em minha casa, e jurou matar ele. Prendam esse homem ou eu não acredito mais na justiça! (agarrou as mãos do delegado, nervosamente) O senhor tem que fazer alguma coisa e deve acreditar em mim! Era João Coragem o homem que esteve lá em casa. Em Morrinhos. Ele disse o seu nome. Me mandou rezar pra Lourenço não resistir, porque afirmava que meu marido tinha roubado o diamante dele. Mas ninguém podia provar isso. Meu marido não era um ladrão! Não era ladrão!

Branca mentia para salvar as aparências e vingar a morte de Lourenço. Vira o diamante e estivera presente, na noite em que Virgílio procurara o marido e lhe confessara que participara do roubo na casa dos Coragens. Mentia, agora, impelida pela desordem emocional e pela necessidade de se vingar do homem que ameaçara liquidar o assassino do pai (indiretamente a morte fôra provocada pelos acontecimentos da noite do assalto). Branca sorria, enlouquecida. Ao fundo, encoberto pela escuridão ambiente, o corpo de Lourenço destacava-se como um boneco de cêra num museu.

DELEGADO FALCÃO - Essa crueldade que fizeram com seu marido será castigada. (voltando-se para o coronel) Pode levar a moça pra descansar, seu Pedro. Vou tomar as minhas providências.

BRANCA - (olhando de esguelha para o corpo) Quando será o sepultamento?

DELEGADO FALCÃO - Vou liberar o corpo amanhã.

PEDRO BARROS - Lourenço D’Ávila vai ter um enterro digno do homem que era! Bom empregado, ótimo trabalhador, honesto e bom caráter. Todo o povo de Coroado tem que saber que ele foi vítima do homem que eles veneravam como um santo.

BRANCA - (espantou-se com a revelação) João Coragem... era tido como um santo?


DELEGADO FALCÃO - Era, dona. João Coragem era um exemplo de bondade, aqui na nossa terra...

BRANCA - E foi capaz de fazer aquilo? (apontou para o cadáver) Aquela crueldade com meu marido?

O delegado fez que sim, balançando a cabeça.

DELEGADO FALCÃO - Agora, o povo vai saber quem ele é. E eu, dona, Diogo Falcão, vou ter o prazer de tirar a máscara dele.

CORTA PARA:

CENA 3 - ESTRADA - EXT. - DIA.


O sol estava a pino, queimando os arredores do rancho, mas o cavaleiro, andando a trote lento, não dava conta dos seus efeitos. A barba de vários dias, negra, contrastava com a camisa branca, salpicada de pó. Jerônimo reconheceu-o de imediato e a trote largo encaminhou-se a seu encontro. Era João.


CORTA PARA:


CENA 4 - RANCHO CORAGEM - GALPÃO - INT. - DIA.

Os dois rapazes, abraçados, entraram no galpão de tantas recordações, boas e más, para o recém-chegado. Jerônimo abriu o diálogo.

JERÔNIMO - Tava aflito contigo, irmão.

JOÃO - Que foi que houve? Não me deixou ir pra casa. Que te aconteceu, home?

JERÔNIMO - Tou há um dia e uma noite te esperano, na estrada.

JOÃO - (franzindo a testa, admirado) Por que?

JERÔNIMO - Tu não sabe, ainda? Junto da nossa casa tem home da polícia, te esperano.

JOÃO - Uai! E que foi que eu fiz?

JERÔNIMO - (desconfiado) De onde tu vem, João?

JOÃO - De muito longe. Venho da cidade de Franca. Tou viajando há mais de quatro dias. Viaje dura. Num foi brincadeira, não.

JERÔNIMO - Que é que tu foi fazê na cidade de Franca, mano?

JOÃO - Tu sabe que lá é que tem bom comprador de diamante. Lá é que Lourenço tinha conhecimento. Pois eu fui atrás do sem-vergonha, naquela cidade, esperano encontrá ele.

JERÔNIMO - E... num encontrô?


JOÃO - Nada. Percorri a cidade inteira... perguntei pra Deus e o mundo... ninguém sabia dele. Ele num apareceu por lá. Desisti e resolvi vir tratá da minha vida, continuá procurando ele, por aqui.

JERÔNIMO - (sério e com fisionomia severa) Hoje... é o entêrro dele, João!


A notícia deixou o garimpeiro de boca aberta. Durante breves segundos não pôde dizer palavra. Até que se recompôs, apertando com força os braços do irmão.

JOÃO - Morreu... o desgraçado?

JERÔNIMO - Morreu matado! E tão dizeno... que foi ocê, mano! Aí é que tá o diabo!

CORTA PARA:

CENA 5 - CASA DO RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.


Potira correra das margens do riacho até ao rancho de paredes brancas para dar a boa nova.

POTIRA - Mãe, Sinhana! Lara! João chegou!

MARIA DE LARA - Tem certeza?

POTIRA - Jerome esperô por ele, na estrada. Lá longe, perto do rio. Eu tava veno o garimpo e vi o encontro dos dois. Ele veio na estrada, de longe. Jerome foi ao encontro dele... e os dois fôro lá pro galpão.

SINHANA - Tão lá?

POTIRA - Tão. Conversano. João tá todo sujo e barbudo.

Lara ajeitou-se ao espelho e afivelou o cinto de couro.

MARIA DE LARA - Eu vou até lá pra ver João!

SINHANA - Cuidado com o que vai fazê, moça. Tem home da polícia rodeano a casa.

Lara saiu correndo sem se importar com as precauções necessárias.

CORTA PARA:


CENA 5 - RANCHO CORAGEM - GALPÃO - INT. - DIA.


No galpão, sentados sobre montes de capim sêco, João e Jerônimo trocavam idéias.

JOÃO - Tou lhe afirmano, Jerônimo. Não fui eu que tirei a vida daquele miserável. E não tirei por uma razão: não encontrei com ele no meu caminho. Mas te digo, se tivesse encontrado, teria matado com as minhas mão. Bastava ele dizê que não me entregava o meu diamante... e eu acabava com ele.

JERÔNIMO - Pois é... mas alguém fez o serviço por ocê. E acho que o interêsse era, também, o diamante. A pedra num foi encontrada com o corpo, irmão.

JOÃO - (estremeceu) A minha pedra... num foi achada?


JERÔNIMO - Não. Acharo tudo com ele. Anel e documentos. Menos a pedra.

JOÃO - Diabo, Jerônimo! Então... num tem mais esperança da gente encontrá ela?

JERÔNIMO - Acho que não....

JOÃO - (profundamente aborrecido) Diacho! E eu que viajei tanto... pra vê se ao menos... recuperava a minha pedra.

JERÔNIMO - Tá tudo contra nós, irmão.

Batidas leves na porta, levaram ambos a procurar refúgio. Jerônimo apontou para um grampo de aço que se projetava do chão. Por baixo, um quadro de madeira ocultava um compartimento subterrâneo. João correu a esconder-se ali. Jerônimo abriu a porta.

Era Lara.

Potira vinha atrás e chegou a tempo de ver João deixar o esconderijo e beijar apaixonadamente a esposa. A mestiça espicaçou o homem a quem amava.

POTIRA - Num tá com inveja? Ou tu num é home?

JERÔNIMO - Num enche! Que é que tu tá fazeno aqui? A gente tá falano de coisa séria.

POTIRA - Olha... os soldados tão rodeano a nossa casa, o tempo todo.

JERÔNIMO - Tá ouvino, mano? Tem soldado rodeano a nossa casa. Pra te agarrá. São os home do Falcão, a soldo do coronel...


MARIA DE LARA - Como é que vai ser, João? Vai se deixar agarrar?

JOÃO - Eu tava dizeno pro meu irmão... num tenho culpa, porque num matei o desgraçado do Lourenço. Mas, num matei porque num encontrei ele pelo caminho.

MARIA DE LARA - Se não matou, não há o que temer!

JERÔNIMO - Não há o que temer... mas é bão ele num se deixá agarrá. Acho melhor fugir.

JOÃO - Acho que não. Fugindo dou prova de culpa.

JERÔNIMO - Sim... mas da forma que a coisa foi tramada, vai sê muito difícil tu prová sua inocência.

JOÃO - (largando a mão da esposa) A coisa tá tão séria, assim?

JERÔNIMO - Muito mais do que tu pensa!

Jerônimo tornou a olhar para fora, através das frestas da janela. Os soldados passeavam atentos com as armas encostadas ao ombro. Por enquanto João não tinha saída.

FIM DO CAPÍTULO 58
Ritinha e Duda


E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** PEDRO BARROS PREPAROU SUA VINGANÇA CONTRA A INFIDELIDADE DA ESPOSA, ESTELA.


*** JOÃO E MARIA DE LARA PASSAM A NOITE JUNTOS NO GALPÃO.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 59 DE

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