quarta-feira, 29 de junho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 60



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Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 60

CENA 1 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - SALA - INT. - DIA.

A carta de Eduardo deixara Ritinha excitada. Duda estava bem de saúde, apesar da dormência que ainda sentia na perna operada. Os médicos do clube o haviam examinado, superficialmente, aconselhando-lhe respouso e mais alguns dias de observação. Posteriormente, bateriam chapas radiográficas e, se necessário, retirariam o gêsso para um exame direto sobre o local. Duda morava, agora, na Ilha do Governador, numa casa de frente para o mar, para a Baía de Guanabara, arranjada por um dos diretores do Flamengo. Deixara a zona sul, preferindo o sossego da Ilha. Ritinha, dizia na carta, iria gostar do lugar, como se gosta da terra de nascença... A jovem esposa continuava a sorrir, lendo a carta do marido. Domingas aproximou-se. Tinha as feições amarradas.

RITINHA - Que é que você tem, Mingas?

Leu para a empregada alguns trechos da missiva. A criada não mudara para melhor. Permanecia séria, apreensiva.

RITINHA - (tornou a perguntar) Tá me escondendo alguma coisa, Mingas?

DOMINGAS - Sei lá. Pergunta pro teu pai.

RITINHA - O que?

DOMINGAS - Pergunta prêle. Se o teu marido pode ficá tanto tempo... com aquela perna, assim.

RITINHA - (começou a inquietar-se) Assim, como? Pois se papai fez um trabalho perfeito. Os médicos da cidade acharam bom o que ele fez.

DOMINGAS - (fez um muxôxo de ironia) Trabalho perfeito, hem? Eu é que sei!

RITINHA - (segurou a senhora pelo braço, balançando-a rudemente) Mingas, o que há? Se você sabe de alguma coisa... diga, pelo amor de Deus!

DOMINGAS - (refletiu por alguns segundos e se decidiu) O que eu digo... é que se o Eduardo ficar mais uma semana com a perna daquele jeito... o negócio pode encrencar.

RITINHA - Como?

Veio toda a verdade, numa enxurrada.

DOMINGAS - Ritinha, teu pai mentiu! Teu pai não extraiu a bala da perna dele! A bala ficô, tá me entendendo? Ficô lá, enterrada no osso e teu pai não tirô!

A moça perdera a fala. Queria dizer alguma coisa, mas a voz estreitava-se na garganta e não saía. Finalmente, conseguiu controlar as emoções e expressar o que desejava.

RITINHA - Não tirou? Não tirou a bala da perna do Duda?

DOMINGAS - Não, Ritinha! Ele não conseguiu retirar. A operação era difícil, ele não tinha recurso.

RITINHA - Mas podia ter contado a verdade! A gente tinha tomado outra providência.

DOMINGAS - Pois é... o erro dele foi esse. Mentir que tinha tirado.

RITINHA - (descontrolada) Por que mentiu? Por que?

DOMINGAS - Não sei te dizê a causa. Só te disse isso, pra que alguma coisa seja feita, logo, em favô do Duda.

RITINHA - Claro! É preciso avisar ele imediatamente. Eu tenho que fazer alguma coisa. Oh, meu Deus, mas o que, Mingas? O que é que eu faço?

CORTA PARA:

CENA 2 - RANCHO CORAGEM - GALPÃO - INT. - NOITE.


Era noite e Potira entrou apavorada, porta adentro. João parou a colher de sopa a meia distancia da boca.


POTIRA - Os soldado me seguiro. Eles vem aí!

JOÃO - (levantou-se calmamente) Não precisa ninguém ficá assustado. Isso tinha que acontecê. Eu num vô passá a minha vida toda fugino da polícia.

Foi á porta e escancarou-a. A figura mal-amanhada do cabo Elias encheu o quadrado da moldura.

CABO ELIAS - Noite, João!

JOÃO - Noite, cabo Elias! Alguma novidade?

CABO ELIAS - A gente tem orde de te levá preso, João.

JOÃO - Sinto muito, cabo, mas o senhô não vai cumpri a sua orde, porque eu num fiz nada pra merecê prisão.

CABO ELIAS - (visivelmente atrapalhado) Pois é... Mas a gente tem que lhe pedi pra nos acompanhá. É importante o que o delegado qué falá com ocê!

JOÃO - (tranquilizou o cabo) Eu vou falá com o delegado. Diz isso prêle. Mas, vou por minha vontade, só pra vê o que ele qué. Vai, faz o que te mando, porque daqui eu num saio, em companhia de ninguém. (os soldados entreolharam-se, sem saber como agir. João aproveitou-se da indecisão para lançar sua derradeira investida) Tu sabe que eu pago pra num entrá numa briga, cabo, mas, quando entro, pago pra num saí.

CABO ELIAS - (ordenou a um dos praças) Vai tu avisá o delegado. Eu fico com João.

CORTA PARA:

CENA 3 - COROADO - DELEGACIA - INT. - NOITE.


Horas depois o delegado surpreendeu-se com a chegada do “prisioneiro”. João Coragem entrou, logo seguido do Cabo Elias. Falcão levantou-se, ágil, procurando o revólver que lançara sobre a cadeira.

JOÃO - (perguntou, de imediato) Eu sube... que o senhô queria falá comigo.

DELEGADO FALCÃO - Quero, sim. Muito, João. Muito, mesmo.

Levantou-se e apanhou, discretamente, um molho de chaves.

JOÃO - Antes de tudo, quero dizê que vim da própria vontade... e que não vou ficá aqui, mais do que uma hora. Portanto, se tivé de me dizê alguma coisa, seja breve...

Diogo Falcão estava num de seus dias de tranquilidade. Calmo, enérgico e intimorato.

DELEGADO FALCÃO - (sem levantar a voz) É pena... mas o assunto que temos a tratar... é muito longo, João. (fez sinal para o cabo retirar-se).

JOÃO - (taxativo) Então... eu num vô esperá, seu Falcão.

DELEGADO FALCÃO - Em todo o caso, vou fazer o possível para ser rápido.... mas, ainda assim, nós temos que conversar... com você atrás das grades...

JOÃO - Atrás das grades eu num vô ficá, Seu Falcão. Volto noutra hora, então.

João deu alguns passos para a porta. Os homens do delegado bloqueavam o corredor e a porta de saída, obstruindo todos os caminhos de retirada do garimpeiro. De armas a tiracolo, partiram para agarrar o moço. João deu um salto para trás, desferindo um murro no ar.

DELEGADO FALCÃO - Não adianta tentar resistir, João. Você está preso!

JOÃO - Há muito tempo, delegado, que eu ando com vontade de fazê isso!

Como um gato enfurecido, João atirou-se de encontro ao delegado, atingindo-lhe o queixo com um tremendo direto. Falcão vergou-se, sobre a mesa. Os soldados permaneciam estáticos. Falcão mal podia respirar e o garimpeiro voltava a despejar-lhe torrentes de sôcos, de direita e de esquerda. O rosto do delegado aos poucos, assumia o aspecto de um boxeador em vias de nocaute. Sangrava por todos os lados, e o olho esquerdo sumira, por entre as carnes entumescidas. João dava-lhe o castigo merecido, completamente fora de si. Finalmente, passada a surpresa, os guardas agiram com prontidão, subjugando o homem enfurecido. Falcão ergueu a cara amassada, limpando o sangue com a toalha suja que retirou do fundo de uma gaveta. Mal, muito mal, podia divisar vultos indefinidos por entre o pequeno espaço de visão do ôlho castigado. João mantinha-se calado, seguro pelas costas po três soldados do destacamento de Coroado.

DELEGADO FALCÃO - (com ironia; ofegante) O santo... tem seu geniozinho, hem? O povo de Coroado... precisava ver isso.

JOÃO - Ocê é um covarde, traidor, seu delegado. Merecia um castigo!

DELEGADO FALCÃO - Por que tanta revolta? Você não pode reagir, assim, a uma voz de prisão!

JOÃO - Mas eu não fiz nada... pra me prendê!

DELEGADO FALCÃO - Há acusações seríssimas contra você. Você matou Lourenço D’Àvila!

JOÃO - (revoltado) Que tipo de delegado é você? Eu não matei Lourenço! Por um simples motivo: não encontrei ele no meu caminho!

DELEGADO FALCÃO - (cortou a palavra do prisioneiro, com grosseria) Não estou te perguntando nada. Você só fala quando eu mandar! Seu... (ia dizer um palavrão, mas se conteve. Olhou para a toalha ensanguentada) Tranquem ele no xadrez. Vai mofar aí até quando eu quiser!

CORTA PARA:

CENA 4 - COROADO - PENSÃO DE GENTIL PALHARES - QUARTO DE RODRIGO - INT. - AMANHECER.


Era inacreditável aquilo que Rodrigo ouvia, deitado ainda, no quarto da pensão. Regressara pela madrugada a Coroado e já Jerônimo o procurara para relatar os acontecimentos, iniciando pelo roubo do diamante. Esfregando os olhos vermelhos – dormira pouco nas últimas horas, Rodrigo se inteirava, pouco a pouco, da verdade.

RODRIGO - Isto não devia... não podia ter acontecido! Como é que vocês deixaram... como permitiram?

JERÔNIMO - (forçando a mão direita, espalmada, contra o próprio peito) Mas... nós, nós é que podia evitar, doutô? A gente foi roubado! Se nossa casa foi invadida por aquele jagunço maldito, como é que a gente podia evitar?

Rodrigo levantou-se, sentando-se á cama. A sunga branca contrastava com a pele morena e os cabelos negros que lhe cobriam o corpo.

RODRIGO - Vocês tem prova de que foi Lourenço o autor do roubo?

JERÔNIMO - Prova... a gente num tem. Eles agiram na calada da noite. Só Cema é que podia reconhecer eles...

RODRIGO - E ela reconheceu?

JERÔNIMO - Reconheceu e não reconheceu... Juca Cipó, por exemplo, conseguiu prová que tava na festa do Divino, naquela noite.

RODRIGO - E Lourenço?

JERÔNIMO - Sumiu logo depois do roubo... e só apareceu morto... naquele estado que lhe disse.

RODRIGO - (com a frieza de um juri) Mas, foi João quem matou?

JERÔNIMO - Não! João disse que não foi!

Os dois rapazes assustaram-se com as batidas fortes e nervosas. Alguém os procurava, prêsa de terrível nervosismo. Era Gentil, o dono da pensão.

GENTIL PALHARES - Desculpe, Dr. Rodrigo! Venho avisar Jerônimo... teu irmão acaba de ser trancafiado no xadrez, pelo Falcão. (contou os detalhes, ante a surpresa dos rapazes) Foi um Deus-nos-acuda, ainda há pouco, na delegacia! Dizem que João perdeu as estribeiras e acabou atacando o delegado, amassando-lhe as fuças...

JERÔNIMO - (boquiaberto) Deus do céu... eu acho que o mano tá perdendo a cabeça!

Rodrigo vestiu-se em segundos.

RODRIGO - Vamos lá, Jerônimo!

Saíram juntos, aflitos, em direção á cadeia.

FIM DO CAPÍTULO 60

Jerônimo, padre Bento e Braz Canoeiro

e no próximo capítulo...

*** DUDA TELEFONA DO RIO PARA RITINHA E CONTA Á ESPOSA O QUE ELA JÁ SABIA - SEU PAI NÃO RETIROU A BALA DE SUA PERNA!

*** JERÔNIMO MAL CONSEGUE DISFARÇAR O CIÚME AO VER POTIRA E RODRIGO BEIJANDO-SE.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 61 DE

segunda-feira, 27 de junho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 59



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Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 59


CENA 1 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - ESCRITÓRIO - INT. - DIA.

Estela procurou o marido no silêncio do escritório, onde Pedro Barros remexia documentos e calculava preços de diamantes para revendas aos intermediários nas capitais do sul.


ESTELA - (entrou sem bater) Pedro... qual é o seu jogo?

PEDRO BARROS - (ajeitando os óculos de aro de tartaruga) É duro viver debaixo do mesmo teto da mulher do seu ex...

ESTELA - (cortou) Isto é uma sujeira! É uma infâmia de sua parte!

PEDRO BARROS - Você vai penar! (vermelho de raiva) Vai penar mais do que se estivesse nas chamas do inferno!

ESTELA - Eu tenho uma arma contra você (ameaçou, sem medo do descontrôle do marido) Não brinque comigo, Eu posso dizer a todo mundo que foi você quem mandou Lourenço roubar o diamante de João Coragem. Eu digo e arraso com você, Pedro. Tenha muito cuidado comigo! Eu acabo com você, Pedro! Você sabe disso!

PEDRO BARROS - (em tom baixo, com toda a fúria retida dentro de si) Experimente... diz a alguém uma palavra e vai ver o que te acontece.


ESTELA - Podia dizer ao João Coragem... e ele teria uma forte razão para se defender das acusações que lhe fazem agora. Podia contar a verdade à nossa filha. Dizer que o golpe que você praparou para João foi o roubo do diamante, com auxílio do Lourenço.

PEDRO BARROS - E como é que você pode ter certeza disso?

ESTELA - (franca e ousada) Lourenço me disse!

PEDRO BARROS - Se ele disse, é porque você estava de combinação com ele. Tinham já o plano de me trair, não tinham?

A mulher engasgou, ante a maquiavélica rede de idéias construída pelo marido.

ESTELA - Não... não é isso.

PEDRO BARROS - Portanto... você também está envolvida nisso. Diga alguma coisa e quem vai ficar desmoralizada é você. Diante de todo o povo... diante da mulher dele. E tem mais... Eu sei que você deu suas jóias como metade do pagamento das suas dívidas de jogo. A outra metade... tem que pagar já, porque passou o tempo que o tal de Souza te deu.(Estela estava lívida, com os lábios trêmulos. Vencida) Ele vem aí pra cobrar. Ou você paga... ou ele pode te meter na cadeia. (enquanto acendia um charuto, olhou o rosto branco da esposa. Estela estava a ponto de sofrer uma crise de histeria. Continuou, sádico) O Souza telefonou. Está me intimando a pagar, e eu não pago. A dívida é sua. Você que se arranje. Mas... estou lhe dando uma ótima oportunidade pra você sumir da minha vida. A dívida é boa desculpa. Você sai quase limpa. Não espere que eu te enxote desta casa, como você merece...

A mulher chegara ao cume do desespero e desceu ao chão da humildade.

ESTELA - Pedro... Pedro, você não quer me ajudar?

O coronel olhou-a, com desprezo, amassando com força, entre as mãos poderosas, um punhado de papel rabiscado. Estela observou a cena. Talvez fosse ela um pedaço desvalorizado daquele papel amassado...

PEDRO BARROS - (dono da situação) Você tem três dias pra sumir. Não posso nem olhar pra sua cara.

Deixou o escritório, sem olhar para trás. Estela perambulou pelo compartimento e abandonou-se aos pensamentos, evitando as lágrimas que forçavam saída. Pedro teria a resposta. Mais tempo, menos tempo, pensava ela, daria ao brutamontes o troco que merecia. Ou achava ele que era o dono do mundo?

CORTA PARA:

CENA 2 - RANCHO CORAGEM - GALPÃO - INT. - DIA.


O dia clareava, os galos cantavam em sucessivas repetições e o gado mugia, dando conta de que a vida retornava com os primeiros raios de sol. A vida no rancho entrara na rotina diária. O sol alcançava o ponto central de seu passeio pela terra, quando João acordou. Dormira numa esteira forrada com lençol alvo e perfumado. Lara não arredara pé do seu lado.

JOÃO - Eu dormi?

MARIA DE LARA - Desde ontem, amor. Foi um sono só!

JOÃO - Puxa vida! Como tava cansado!

A mulher encheu uma xícara com o café que Potira lhe entregara, minutos antes. O bolo de milho estava fresco e saboroso. E o queijo desmanchava na boca.

JOÃO - Ocê ficô aqui, comigo?

Ela fez que sim, movendo a cabeça, encabulada. O rapaz afagou as mãos da moça. Puxou-a para si e beijou-a nos lábios, acariciando de leve os bicos dos seus seios, por sobre a camisola fina.

JOÃO - Como tão as coisas?

MARIA DE LARA - Parece que os soldados estão rondando a casa. Jerônimo pediu pra você ficar aqui, por enquanto.

JOÃO - Bobage do Jerônimo. Tenho que tratá da minha vida. Não vô passá a vida toda fugino, como se tivesse culpa.

MARIA DE LARA - Acho que ele está esperando a vinda do Dr. Rodrigo, pra saber o que vocês devem fazer.

JOÃO - Que nada... Resolvo sozinho os meus problema. Preciso lá do conselho dos outro? Eu fiquei aqui, mas foi de cansaço...

Tornou a brincar com os seios da esposa.

MARIA DE LARA - (protestou, fracamente) Pára com isso, João...

JOÃO - Tá meio envergonhada... Que é isso? Já se esqueceu que a gente é marido e mulhé?

MARIA DE LARA - Não, João. É a única coisa da qual me recordo a todo momento e sempre com muita emoção. Porque você é o único bem da minha vida.

Os dois se olharam apaixonadamente, mas num movimento repentino, a moça desviou os olhos do marido e fixou-os num ponto qualquer do galpão.

JOÃO - Que foi?

MARIA DE LARA - Havia um outro bem... que eu perdi, amor.


JOÃO - (levantou-se, de estalo) Já sabe? (a esposa confirmou, num gesto triste) Diacho... quem te contô?

MARIA DE LARA - Eu já andava desconfiada. Tinha de saber.

JOÃO - Ficou muito triste?

MARIA DE LARA - Você não imagina quanto. Fiquei tão chocada que perdi a noção das coisas, mais uma vez.

À lembrança de Diana, uma ruga de preocupação traçou um risco largo na testa do rapaz.

JOÃO - Perdeu?

MARIA DE LARA - É... aquela coisa horrível, eu acho que voltou. Porque não me lembro de ter pegado meu carro. Nem sei como fui aparecer no dia seguinte, dentro do carro, sozinha e sem sentidos.

João vestia a camisa, ainda transtornado com a notícia.

MARIA DE LARA - O que houve? Ficou preocupado...

JOÃO - Pensei... que você tava curada daquelas coisa. O Dr. Rafael disse que o casamento ia te curá.

MARIA DE LARA - (agasalhando-se entre os braços robustos do esposo) Que acha você que eu fiz, João?

JOÃO - Não posso sabê. Nem me interessa. Num precisa lembrá disso. Nem fale mais nisso. A gente tem uma vida inteira pela frente. A gente pode fazê uma outra vida... de paz... daqui pro futuro. Se ocê tá disposta a viver a minha vida, simples... a gente vive bem. Vou voltá a garimpar de novo... vou voltá firme ao trabalho, sem grande ambição. (fêz o sinal da cruz, com a cabeça erguida) Acho que foi castigo porque sonhei alto demais. Deus Nosso Senhô me deu uma lição... a gente tem que se conformá com o que tem. E eu tenho ocê, que é tudo pra mim. Ganhando pro gasto... eu vou continuando meu garimpo. E a gente faz a nossa casinha simples... e vamo tê uma dúzia de filho... uma dúzia só, não. Minha vó teve vinte filho. A gente vai tê vinte e dois. Vinte e dois garimpeirinho... tudo home.

Lara sorria ante a ingenuidade do marido e mais ainda, ao reconhecer a natureza do seu caráter, firme, leal, bondoso. Um homem para ser amado apaixonadamente.

FIM DO CAPÍTULO 59
Maria de Lara

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** DOMINGAS REVELA A RITINHA QUE O DR. MACIEL NÃO RETIROU A BALA DA PERNA DE DUDA, DEIXANDO-A DESESPERADA.

*** JOÃO VAI, POR VONTADE PRÓPRIA Á DELEGACIA FALAR COM FALCÃO. ENFURECIDO POR TENTAREM PRENDÊ-LO, ESPANCA VIOLENTAMENTE O DELEGADO DE COROADO!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 60 DE



sexta-feira, 24 de junho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 58



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Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 58

CENA 1 - CASA DO RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.


Sinhana estava ansiosa, á espera de notícias do filho. Durante o dia, dezenas de vezes, correra á porta, ao ouvir o barulho de patas ou o ruido rouco do motor de automóvel. Jerônimo, que saíra cedo para Coroado, regressava, agora, á hora do almoço, trazendo Lara a seu lado. A expressão de ambos denotava, claramente, o desassossêgo e a preocupação. João não dava notícias... E os dias se passavam, molemente. O rapaz atravessou a sala, jogou o paletó surrado num gancho da parede e se sentou, arfando, estirando as pernas, abertas em arco, por sobre um tamborete de madeira.

SINHANA - Alguma notícia do teu irmão?

JERÔNIMO - Não, mãe. Nenhuma. E tá todo mundo querendo jogá a culpa nele.

SINHANA - Mas ele saiu daqui pra dar fim ao Lourenço. Não era isso que ocês tava quereno? Não era ocê que brigava com seu irmão pra ele fazê justiça?

JERÔNIMO - (descalçando as botas barrentas) Não desminto. Eu queria que ele fizesse alguma coisa... mas não disse pra ele matá.


MARIA DE LARA - O que você queria que ele fizesse?


JERÔNIMO - Queria... que ele conseguisse o diamante. Era tudo o que eu desejava.

SINHANA - (arrastou um banco e sentou-se) ... e que vingasse a morte do pai!

JERÔNIMO - Eu... eu nem sei o que queria. Talvez fosse isso... nem sei. Naquela hora eu queria tudo. Eu mesmo tinha que ter ido ao encontro dele... daquele bandido. Se a gente tem que fazê justiça... resta ainda muita gente.

SINHANA - Tou contigo. Resta, ainda, muita gente.

Lara voltou a falar, percebendo o rumo da conversa e as indiretas que a feriam.

MARIA DE LARA - Eu sei de quem vocês estão falando. Mas eu quero lhes dizer que não posso ser responsabilizada pelos atos do meu pai. E, se estou aqui, é porque não estou do lado dele. Reconheçam isso. E não me olhem com tanta acusação.

As palavras da nora ecoaram no coração de Sinhana. De fato, que culpa poderia ter Lara dos erros do pai?

JERÔNIMO - Afinal de contas... a gente foi vítima. Assaltaram nossa casa... roubaram... feriram nosso irmão Duda, e no final das contas... tá todo mundo, agora, contra João. E vão fazer do Lourenço uma vítima!

MARIA DE LARA - Afinal, vocês falam, falam, sem saber se foi João quem matou Lourenço. Pode ser que não tenha sido!

JERÔNIMO - É... e eu tou torceno por isso. Porque eu vi na cara daquela gente que viu o corpo do Lourenço... a revolta, a mudança... o esquecimento de tudo o que a gente passô... nos últimos tempos. O povo... esse mesmo povo que apoiava nós... que tava do nosso lado, se esqueceu que Lourenço foi um ladrão... um assassino. Agora ele é vítima. É herói. E João um criminoso infame... segundo essa gente.

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - DELEGACIA - INT. - DIA.


Falcão descobriu o corpo, azulado pela morte. Juca Cipó benzeu-se, com gestos indiscretos. Pedro Barros estimulava a mulher.

PEDRO BARROS - Coragem, minha senhora!

BRANCA - (virou o rosto, horrorizada, empalidecendo) Meu Deus!

DELEGADO FALCÃO - Eram estas as roupas... que usava? Reconhece o anel?


BRANCA - É dele, sim! Os cabelos... não existe a menor dúvida. É meu marido! É ele! Foi assassinado! Assassinado, meu Deus!

A mulher sentiu o mundo rodar, como se estivesse num avião desgovernado. Falcão e Barros evitaram que ela caísse ao chão. Branca perdera os sentidos.

PEDRO BARROS - (ordenou a Juca Cipó) Veja alguma coisa aí, pra ela tomá.


O café estimulou um pouco a mulher de Lourenço. Aos poucos foi se refazendo da vertigem, amparada pelos braços do delegado.

BRANCA - (com ódio) Eu exijo puniçõo pra esse crime. Punição imediata.

DELEGADO FALCÃO - Mas... quem é o culpado?

BRANCA - João Coragem! João Coragem jurou ele de morte. Foi atrás dele, em minha casa, e jurou matar ele. Prendam esse homem ou eu não acredito mais na justiça! (agarrou as mãos do delegado, nervosamente) O senhor tem que fazer alguma coisa e deve acreditar em mim! Era João Coragem o homem que esteve lá em casa. Em Morrinhos. Ele disse o seu nome. Me mandou rezar pra Lourenço não resistir, porque afirmava que meu marido tinha roubado o diamante dele. Mas ninguém podia provar isso. Meu marido não era um ladrão! Não era ladrão!

Branca mentia para salvar as aparências e vingar a morte de Lourenço. Vira o diamante e estivera presente, na noite em que Virgílio procurara o marido e lhe confessara que participara do roubo na casa dos Coragens. Mentia, agora, impelida pela desordem emocional e pela necessidade de se vingar do homem que ameaçara liquidar o assassino do pai (indiretamente a morte fôra provocada pelos acontecimentos da noite do assalto). Branca sorria, enlouquecida. Ao fundo, encoberto pela escuridão ambiente, o corpo de Lourenço destacava-se como um boneco de cêra num museu.

DELEGADO FALCÃO - Essa crueldade que fizeram com seu marido será castigada. (voltando-se para o coronel) Pode levar a moça pra descansar, seu Pedro. Vou tomar as minhas providências.

BRANCA - (olhando de esguelha para o corpo) Quando será o sepultamento?

DELEGADO FALCÃO - Vou liberar o corpo amanhã.

PEDRO BARROS - Lourenço D’Ávila vai ter um enterro digno do homem que era! Bom empregado, ótimo trabalhador, honesto e bom caráter. Todo o povo de Coroado tem que saber que ele foi vítima do homem que eles veneravam como um santo.

BRANCA - (espantou-se com a revelação) João Coragem... era tido como um santo?


DELEGADO FALCÃO - Era, dona. João Coragem era um exemplo de bondade, aqui na nossa terra...

BRANCA - E foi capaz de fazer aquilo? (apontou para o cadáver) Aquela crueldade com meu marido?

O delegado fez que sim, balançando a cabeça.

DELEGADO FALCÃO - Agora, o povo vai saber quem ele é. E eu, dona, Diogo Falcão, vou ter o prazer de tirar a máscara dele.

CORTA PARA:

CENA 3 - ESTRADA - EXT. - DIA.


O sol estava a pino, queimando os arredores do rancho, mas o cavaleiro, andando a trote lento, não dava conta dos seus efeitos. A barba de vários dias, negra, contrastava com a camisa branca, salpicada de pó. Jerônimo reconheceu-o de imediato e a trote largo encaminhou-se a seu encontro. Era João.


CORTA PARA:


CENA 4 - RANCHO CORAGEM - GALPÃO - INT. - DIA.

Os dois rapazes, abraçados, entraram no galpão de tantas recordações, boas e más, para o recém-chegado. Jerônimo abriu o diálogo.

JERÔNIMO - Tava aflito contigo, irmão.

JOÃO - Que foi que houve? Não me deixou ir pra casa. Que te aconteceu, home?

JERÔNIMO - Tou há um dia e uma noite te esperano, na estrada.

JOÃO - (franzindo a testa, admirado) Por que?

JERÔNIMO - Tu não sabe, ainda? Junto da nossa casa tem home da polícia, te esperano.

JOÃO - Uai! E que foi que eu fiz?

JERÔNIMO - (desconfiado) De onde tu vem, João?

JOÃO - De muito longe. Venho da cidade de Franca. Tou viajando há mais de quatro dias. Viaje dura. Num foi brincadeira, não.

JERÔNIMO - Que é que tu foi fazê na cidade de Franca, mano?

JOÃO - Tu sabe que lá é que tem bom comprador de diamante. Lá é que Lourenço tinha conhecimento. Pois eu fui atrás do sem-vergonha, naquela cidade, esperano encontrá ele.

JERÔNIMO - E... num encontrô?


JOÃO - Nada. Percorri a cidade inteira... perguntei pra Deus e o mundo... ninguém sabia dele. Ele num apareceu por lá. Desisti e resolvi vir tratá da minha vida, continuá procurando ele, por aqui.

JERÔNIMO - (sério e com fisionomia severa) Hoje... é o entêrro dele, João!


A notícia deixou o garimpeiro de boca aberta. Durante breves segundos não pôde dizer palavra. Até que se recompôs, apertando com força os braços do irmão.

JOÃO - Morreu... o desgraçado?

JERÔNIMO - Morreu matado! E tão dizeno... que foi ocê, mano! Aí é que tá o diabo!

CORTA PARA:

CENA 5 - CASA DO RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.


Potira correra das margens do riacho até ao rancho de paredes brancas para dar a boa nova.

POTIRA - Mãe, Sinhana! Lara! João chegou!

MARIA DE LARA - Tem certeza?

POTIRA - Jerome esperô por ele, na estrada. Lá longe, perto do rio. Eu tava veno o garimpo e vi o encontro dos dois. Ele veio na estrada, de longe. Jerome foi ao encontro dele... e os dois fôro lá pro galpão.

SINHANA - Tão lá?

POTIRA - Tão. Conversano. João tá todo sujo e barbudo.

Lara ajeitou-se ao espelho e afivelou o cinto de couro.

MARIA DE LARA - Eu vou até lá pra ver João!

SINHANA - Cuidado com o que vai fazê, moça. Tem home da polícia rodeano a casa.

Lara saiu correndo sem se importar com as precauções necessárias.

CORTA PARA:


CENA 5 - RANCHO CORAGEM - GALPÃO - INT. - DIA.


No galpão, sentados sobre montes de capim sêco, João e Jerônimo trocavam idéias.

JOÃO - Tou lhe afirmano, Jerônimo. Não fui eu que tirei a vida daquele miserável. E não tirei por uma razão: não encontrei com ele no meu caminho. Mas te digo, se tivesse encontrado, teria matado com as minhas mão. Bastava ele dizê que não me entregava o meu diamante... e eu acabava com ele.

JERÔNIMO - Pois é... mas alguém fez o serviço por ocê. E acho que o interêsse era, também, o diamante. A pedra num foi encontrada com o corpo, irmão.

JOÃO - (estremeceu) A minha pedra... num foi achada?


JERÔNIMO - Não. Acharo tudo com ele. Anel e documentos. Menos a pedra.

JOÃO - Diabo, Jerônimo! Então... num tem mais esperança da gente encontrá ela?

JERÔNIMO - Acho que não....

JOÃO - (profundamente aborrecido) Diacho! E eu que viajei tanto... pra vê se ao menos... recuperava a minha pedra.

JERÔNIMO - Tá tudo contra nós, irmão.

Batidas leves na porta, levaram ambos a procurar refúgio. Jerônimo apontou para um grampo de aço que se projetava do chão. Por baixo, um quadro de madeira ocultava um compartimento subterrâneo. João correu a esconder-se ali. Jerônimo abriu a porta.

Era Lara.

Potira vinha atrás e chegou a tempo de ver João deixar o esconderijo e beijar apaixonadamente a esposa. A mestiça espicaçou o homem a quem amava.

POTIRA - Num tá com inveja? Ou tu num é home?

JERÔNIMO - Num enche! Que é que tu tá fazeno aqui? A gente tá falano de coisa séria.

POTIRA - Olha... os soldados tão rodeano a nossa casa, o tempo todo.

JERÔNIMO - Tá ouvino, mano? Tem soldado rodeano a nossa casa. Pra te agarrá. São os home do Falcão, a soldo do coronel...


MARIA DE LARA - Como é que vai ser, João? Vai se deixar agarrar?

JOÃO - Eu tava dizeno pro meu irmão... num tenho culpa, porque num matei o desgraçado do Lourenço. Mas, num matei porque num encontrei ele pelo caminho.

MARIA DE LARA - Se não matou, não há o que temer!

JERÔNIMO - Não há o que temer... mas é bão ele num se deixá agarrá. Acho melhor fugir.

JOÃO - Acho que não. Fugindo dou prova de culpa.

JERÔNIMO - Sim... mas da forma que a coisa foi tramada, vai sê muito difícil tu prová sua inocência.

JOÃO - (largando a mão da esposa) A coisa tá tão séria, assim?

JERÔNIMO - Muito mais do que tu pensa!

Jerônimo tornou a olhar para fora, através das frestas da janela. Os soldados passeavam atentos com as armas encostadas ao ombro. Por enquanto João não tinha saída.

FIM DO CAPÍTULO 58
Ritinha e Duda


E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** PEDRO BARROS PREPAROU SUA VINGANÇA CONTRA A INFIDELIDADE DA ESPOSA, ESTELA.


*** JOÃO E MARIA DE LARA PASSAM A NOITE JUNTOS NO GALPÃO.

NÃO PERCA O CAPÍTULO 59 DE

quarta-feira, 22 de junho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 57



classificação



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 57


CENA 1 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - SALA - INT. - NOITE.

A noite caía quando o delegado chegou á fazenda de Pedro Barros. Saltou lépido para o chão e apressou-se a procurar o coronel.

DELEGADO FALCÃO - Temos novidades...

PEDRO BARROS - (cortou) Já andei sabendo. Essas coisas correm léguas. É mesmo verdade? Lourenço foi encontrado morto, no rio?

DELEGADO FALCÃO - Tudo indica que é ele. Eu vim só avisar. Agora, tenho que chamar a mulher dele, em Morrinhos, pra ela vir fazer o reconhecimento em definitivo.

PEDRO BARROS - Acharam documentos?

DELEGADO FALCÃO - Estão quase destruídos. Já mandei secar pra ver se a gente descobre alguma coisa.

PEDRO BARROS - E João? Já apareceu? Faz mais de dez dias que saiu daqui e até hoje não se sabe notícias dele.

DELEGADO FALCÃO - Não, seu coronel. O homem ainda está sumido. Quem está muito preocupado com a coisa é o Jerônimo.

Barros abriu os olhos e sorriu glacialmente. Deu um passo á frente, diminuindo a distancia que o separava do delegado. Havia malícia nos gestos e atitudes, quando se dirigiu ao protegido.

PEDRO BARROS - Chegou a nossa vez, Falcão. Não tem dúvida de que foi João quem matou Lourenço. O encontro do corpo... a ausencia do safado... já bastam como prova, não acha?

DELEGADO FALCÃO - Não, ainda não, meu coronel.

PEDRO BARROS - Você está do lado dele, Falcão?

DELEGADO FALCÃO - Não. Mas, eu quero fazer a coisa como se deve. Não quero que digam que estou agindo fora da lei.

PEDRO BARROS - Onde está o corpo?

DELEGADO FALCÃO - Numa sala da delegacia. O doutor Maciel está fazendo a autópsia para saber a causa da morte.

PEDRO BARROS - É verdade que a cara dele foi destruída?

DELEGADO FALCÃO - Completamente. Causa pavor só a gente olhar. Tá tudo esburacado...

PEDRO BARROS - (com voz doce e traiçoeira) Eu quero te ajudar. Tem que mandar alguém chamar a mulher de Lourenço, não tem?

DELEGADO FALCÃO - Tenho e vou fazer isso, imediatamente. É ela quem vai dar a palavra final.

PEDRO BARROS - (confidenciou) Pode deixar... eu faço isso pra você, meu amigo. Em menos de três horas eu chego até Morrinhos, no meu carro. E trago ela pra você.

O coronel abraçou amigavelmente o delegado, levando-o para um trago na sala de visitas.

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - DELEGACIA - INT. - NOITE.

O viciado médico, com o rosto inchado e ligeiras linhas vermelhas traçando desenhos sinuosos sobre o nariz, lavava as mãos, depois do trabalho desagradável da autópsia.

DR. MACIEL - Cada uma que acontece! Eu tenho que fazer tudo nesta cidade. Me dêem um gole, senão quem vai precisar de autópsia, daqui a pouco, sou eu.

DELEGADO FALCÃO - (deu um passo à frente) Quais as suas conclusões?

Antes de responder, Maciel aceitou um trago que Jerônimo, presente á delegacia, lhe oferecia. Bebeu de uma talagada.

DR. MACIEL - Ele foi morto... a cêrca de uma semana atrás.

O delegado fez as contas, nos dedos.

DELEGADO FALCÃO - João saiu pra procurar ele, há uma semana.

JERÔNIMO - O que mais, seu doutô?

DR. MACIEL - Foi baleado... no peito. Duas balas atingiram o coração e o fulminaram.

DELEGADO FALCÃO - João saiu armado, disposto a tudo...

A insistencia do delegado irritou o garimpeiro.

JERÔNIMO - Por que teima em dizer que foi meu irmão?

DELEGADO FALCÃO - Pelas palavras dele, quando saiu daqui...

JERÔNIMO - O que mais achou, doutor?

DR. MACIEL - (limpando as unhas com a ponta de um bisturi) O rosto... foi desfigurado... propositalmente. Não me peçam pra dizer de que maneira... porque eu não saberia responder. O fato é que foi feito de propósito. Quanto a isto, não tenho a menor dúvida. Foi um trabalho de magarefe.

JERÔNIMO - Nas roupas... além dos documentos estragados... num foi encontrado mais nada?

DR. MACIEL - (curioso) Mais nada. Por que?

JERÔNIMO - Porque... ele tinha o diamante do meu irmão.

O médico percebeu a dúvida no olhar e nas palavras do Coragem.

DR. MACIEL - (aborrecido) Pode vir comigo... e revistar você mesmo... se não confia na minha palavra.

Jerônimo olhou significativamente para o delegado.

JERÔNIMO - Posso ir, Falcão?

DELEGADO FALCÃO - Pode.

CORTA PARA:

CENA 3 - MORRINHOS - CASA DE LOURENÇO D'ÁVILA - SALA - INT. - NOITE.

A mulher, atônita e incrédula, ouvia as revelações que lhe faziam. A madrugada ia em meio e um ventinho frio penetrava pelas frestas da porta e das janelas. A hora pedia cama e cobertor, mas Pedro Barros e Juca Cipó não pensavam assim. Enfrentaram léguas e léguas durante as horas da madrugada, para alcançar Morrinhos antes do sol nascer. Agora se encontravam diante da mulher do ex-capataz. Branca D’Ávila chorava.

BRANCA - ... mataram meu marido!

PEDRO BARROS - Um corpo foi encontrado. A gente precisa que a senhora vá ver ele pra dizer se é seu marido.

BRANCA - Mas... quem? Quem matou?

PEDRO BARROS - Não se sabe, ainda. Ou melhor: não podemos acusar sem provas...

JUCA CIPÓ - (histérico) Diz pra ela, diz, patrão. Diz que João Coragem jurou Lourenço de morte.

PEDRO BARROS - Isso é verdade.

A mulher ergueu-se, precipitada, ao ouvir o nome do rapaz.

BRANCA - João Coragem! Este homem esteve aqui, procurando por ele!

PEDRO BARROS - Pois é. Parece que João cumpriu a sua palavra. Não voltou a Coroado desde que saiu de lá... há mais de uma semana... e este é um forte indício.

JUCA CIPÓ - Só pode ter sido ele. Num foi outro, patrão. Ele jurou, jurou mesmo ... e dizia para todo mundo. Pra quem quisesse ouvi... “eu mato Lourenço, mato Lourenço; ele roubô meu diamante!”

Com a cabeça caída contra o peito e as duas mãos ocultando a face, Branca procurava abafar os soluços.

PEDRO BARROS - Eu vim buscá-la. Para fazer o reconhecimento. É possível... que não seja ele. Tudo vai depender da sua palavra...

BRANCA - (descontrolada) Foi João Coragem... foi ele, sim! Me disse, aqui, que eu devia rezar para Lourenço não opor resistência... ao lhe entregar o diamante.

Juca e o coronel entreolharam-se, num movimento instantâneo. Havia ironia nos olhos de ambos.

BRANCA - (insistia) Só pode ter sido ele!

Barros ajeitava as coisas a seu modo.

PEDRO BARROS - Lourenço... não tinha inimigos.

JUCA CIPÓ - (com trejeitos esquisitos) Só João Coragem... que era inimigo dele, de morte.

PEDRO BARROS - Sinto ter que pedir á senhora pra acompanhar a gente. Tenho o carro, aí fora, pra lhe levar até Coroado.

Ela ergueu a cabeça, olhando fixamente para o velho de cabelos compridos e longa barba grisalha. Parecia-lhe sincero e digno de confiança. E era marido da mulher que modificara o comportamento de Lourenço, levando-o, quem sabe, ao crime. Ao roubo e ao assassínio.

BRANCA - (quase suplicante) Há alguma esperança... de que não seja Lourenço?

PEDRO BARROS - Eu não posso saber, minha senhora. Tudo é possível. Tudo é possível.

A mulher levantou-se e entrou no quarto. Voltou minutos após, já pronta e com uma pequena mala na mão.

BRANCA - O senhor disse que João Coragem sumiu?

PEDRO BARROS - É... parece que fugiu, o sem-vergonha.

BRANCA - Então... não há dúvida, foi ele mesmo. Foi ele mesmo... que matou o meu Lourenço!

FIM DO CAPÍTULO 57

Lourenço (Hemílcio Gróes) e João (Tarcísio Meira)

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** BRANCA D'ÁVILA RECONHECE O CORPO E O ANEL DE LOURENÇO.


*** JERÔNIMO DIZ A LARA QUE O MESMO POVO QUE, ANTES APOIAVA E CONSIDERAVA JOÃO UM HERÓI, AGORA O CONSIDERA UM ASSASSINO.

*** JOÃO VOLTA DA VIAGEM E FICA SABENDO QUE AGORA É UM FORAGIDO
PROCURADO PELA JUSTIÇA!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 58 DE




terça-feira, 21 de junho de 2011

LOCOMOTIVAS - CAPÍTULO 8 - FINAL




DE CASSIANO GABUS MENDES
por Antonio Figueira

CAPÍTULO FINAL


O problema de Netinho era razoavelmente grave, ainda que ele não se desse conta disso. Algumas pessoas convivem anos e anos com uma doença e só resolvem tratar dela quando começam a sentir dores insuportáveis, ou quando surge a ameaça de perder a vida. No caso dele, não se tratava de uma doença mental. Era uma espécie de defeito de personalidade. Ele não era um moço covarde, mas lhe faltava a capacidade de tomar iniciativa em qualquer assunto. Fora educado assim, treinado para depender da mãe, ensinado a não agir diante de um problema.

Havia, no entanto, um remédio infalível para esse mal: uma relação de amor que fosse integral. Se ele encontrasse uma mulher com quem pudesse estabelecer laços afetivos maduros e intensos. Alguém capaz de sacudir-lhe inteiro, por dentro de seu universo pequeno e fechado. Se esse alguém aparecesse em sua vida, Netinho se transformaria em outro homem. Tornar-se-ia de uma hora para outra um adulto, um homem capaz de enfrentar a vida e vencer. Mas... quem seria esse alguém? Patrícia? Renata? Celeste? Ou alguém que ele encontraria na rua?

Naquela tarde, Netinho recebera um "bolo" de Renata. Era raro, mas às vezes acontecia. Talvez por causa de algum mal-entendido na hora de marcar o encontro, ele teve de ficar esperando mais de meia hora no local combinado, antes de concluir que a noiva não viria mesmo. Já estava ligando o carro para voltar para casa, quando viu aquela garota. Era um monumento: alta, cheia de curvas, cabelo até a cintura, um andar de gazela e toda cor de caramelo. Ficou uns instantes petrificado, antes de perceber que ela olhava para ele e sorria. Não era possível, mas a moça simpatizara com ele.

Não era ilusão de óptica. Ela sorria para Netinho, olhando firme em seus olhos e até fazendo beicinho, num evidente convite. Parou ali em frente ao carro, como se o esperasse saltar do automóvel e ir falar com ela. Só que ele não se decidia. Permanecia ali sentado, com os olhos fixos na garota, que já começava a se desinteressar. Pela cabeça dele passavam mil pensamentos. Todos negativos. E se a Renata resolvesse aparecer justo na hora em que ele estivesse falando com a moça? E se, pior ainda, a mãe passasse por ali? Não sabia mais se queria ou não conhecer a garota, ou se apenas tinha medo. Medo era, na verdade, a única sensação palpável naquele momento: uma força que o imobilizava no assento do carro, fazendo-o olhar para o objeto de seu interesse como um idiota, desprovido de consciência e capacidade de agir.

Só acordou quando viu outro carro estacionar na frente do seu. Um rapaz saltou do automóvel e, bem-humorado, fez um galanteio qualquer para a moça e começou a conversar com ela. Depois de alguns segundos de conversa, ela foi entrando no carro do recém-chegado. Só que, antes, lançou um olhar de desdém para Netinho, como se dissesse: "Até nunca mais, seu trouxa!"

Esse incidente quase sem importância serviu para despertar alguma coisa dentro de Netinho. Ele voltou para casa arrasado, tendo de encarar sua própria inibição diante do sexo oposto. Sentia vergonha, nojo de si mesmo e, é claro, mais medo ainda. Não teve vontade de ver a mãe e, quando chegou em casa, foi direto até o apartamento de Celeste para desabafar, como sempre fazia nessas ocasiões. Ela não estava e ele ficou ali na sala.

Quando Celeste voltou para casa, viu Netinho adormecido no sofá.

Aproximou-se dele em silêncio e ficou por uns instantes ali, olhando embevecida para o ser amado. Não se conteve e passou de leve a ponta dos dedos nos cabelos dele. Sem querer, foi aproximando seu rosto do dele. Começou a sentir o calor de sua respiração e o cheiro de sua pele. Quando os lábios dela estavam quase tocando os dele, Netinho acordou assustado e deu com o rosto bonito e amigo de Celeste a poucos milímetros do seu. Naquele dia, Sérgio chegou em casa esfuziante de alegria. Trazia presentes para a mulher e a filha. As duas abriram as caixas e ficaram maravilhadas com o que ganharam. Sapatos, bolsas, perfumes e uma garrafa de champanha que ele mandou abrir na hora. Era evidente que se dispunha, a festejar alguma coisa. Chegou até a abraçar e beijar Mirtes, que, atônita, não entendia nada. A alegria era uma coisa tão rara naquela casa que até os criados olhavam apreensivos, julgando que o patrão podia ter enlouquecido.

Quando ele pediu que as duas se arrumassem para jantar fora naquela noite, Patrícia percebeu que algo de muito sério havia acontecido. Os pais não saíam para jantar fora desde que ela se formara no colégio, quatro anos atrás. De qualquer forma, era muito boa aquela sensação de euforia, de vida nova entrando junto com o pai por aquela porta que, para ela, sempre teve o mesmo sentido de uma porteira de campo de concentração.

- Não sei explicar como, mas acho que aconteceu um milagre - disse ele, depois do segundo gole de champanha. - Alguma coisa aconteceu lá no Banco do Brasil... alguma autoridade resolveu rever o processo da minha empresa e eles mudaram de idéia!

- Como assim, papai?

- Vocês não sabiam, mas a falência da fábrica já tinha sido praticamente decretada...

- A fábrica que papai fundou? - assustou-se Mirtes.

- Claro, Mirtes... a gente só tem essa fábrica!

- E o que é que o senhor ia fazer com os funcionários?

- Ia ter de mandá-los embora... vocês já imaginaram? Mais de oitocentos trabalhadores! Mas, graças a Deus, eles mudaram de idéia e vão reconside­rar... vão ampliar o prazo para pagar as dívidas e, ainda por cima, renovar meu crédito. Patrícia resolveu aproveitar a oportunidade e fez uma tentativa:

- Quer dizer então que agora tudo vai mudar e eu posso namorar o Paulo?

- Absolutamente! De jeito nenhum! E não me faça perder o bom humor! Kiki demorou alguns dias, mas acabou por se decidir. Dedicara a vida inteira a seus filhos. Não poderia deixar Paulo sofrer sem interceder a seu favor. Arrumou-se e saiu de casa bem cedo, ainda um pouco sonolenta.

Chegou ao escritório de Sérgio, anunciou-se para a secretária e sentou-se na sala de espera. Nem cinco minutos se passaram antes que Sérgio chegasse. Ele cruzou a porta e viu Kiki, sentada, olhando-o fixamente.

- Dr. Sérgio, esta senhora disse que é Josefina Cabral e que está esperando o senhor...

- Pode deixar, vou atendê-la no escritório.

Kiki e Sérgio entraram, ainda atônitos com o reencontro depois de trinta anos...

- Eu pensei que jamais a veria de novo, Jô. Como vai a vida?

- Sérgio, eu pensei muito antes de vir aqui. E só vim por causa de meu filho Paulo. Ele... ele está apaixonado por sua filha, Sérgio. E eu soube que você a proibiu de vê-lo, quando soube que eu era sua mãe... Sérgio, por favor... não vamos magoar nossos filhos por causa do nosso passado. Você não tem esse direito. Quando você me deixou, eu ainda era muito jovem. E sonhava em ser feliz a seu lado, ter muitos filhos, construir um lar. Mas tudo se acabou naquela tarde... Fiquei chorando na estação de trem, sentada nas duas pequenas malas, onde arrumei tudo o que tinha... Você não foi, Sérgio. E eu soube por quê. Seu pai descobriu que eu era vedete, que trabalhava num palco, que tinha coragem de viver como mulher independente. E proibiu-o de me encontrar. Mas você foi covarde... podia até me abandonar, mas não precisava se casar com Mirtes só pelo dinheiro, Sérgio, por puro interesse. Eu... não peço nada pra mim, porque o passado não vai voltar. Eu peço por meu filho. Por favor, Sérgio, deixe-o namorar Patrícia. Eles não podem pagar por um erro que nós dois cometemos.

Sérgio não disse sequer uma palavra durante todo o discurso de Kiki. Estava de cabeça baixa e, pela primeira vez, sentia-se um covarde, um verme, que durante toda a vida enganara a si e a sua família, exibindo um falso orgulho de ser Sérgio Mello. Na verdade, sentia-se um farrapo e deixou sua emoção fluir, ao menos naquele momento.

- Jô, eu... não sei o que dizer... mas eu também gostaria de lhe pedir uma coisa. Eu preciso que você me perdoe, Jô. Eu também era jovem e imaturo. Amava você com todas as forças, mas me acovardei diante do meu pai. Me perdoe, por favor. Eu vou fazer o possível pra que esse erro não destrua mais ninguém; já basta o que nós dois sofremos com isso.

Kiki se recompôs da emoção do encontro. Perdoou-o, sinceramente. E sentiu que um peso de muitos anos saía de sua cabeça.

- Adeus, Sérgio. Foi bom revê-lo. Desejo-lhe muita sorte. E prosperidade na empresa, que agora também fica incluída no seu perdão.

- Não estou entendendo, Jô. O que tem a empresa a ver com nós dois?

- A falência, Sérgio. Paulo me contou sobre a sua falência. Não foi muito difícil pra mim. Dois ou três telefonemas para dr. Alcântara, do Banco do Brasil, e pronto. Você foi salvo.

- Jô, então... foi você quem... quem... não pode ser! .

- Pode sim, Sérgio. Eu não guardo mágoas. Ajudei-o pra ajudar meu filho. Até um dia.

Já na rua, Kiki Blanche pensou na única coisa que não tivera coragem de revelar. Naquele dia, na estação, não eram só as malas que carregava consigo. Dentro do ventre, levava também um segredo, uma surpresa que revelaria na hora do encontro. Estava grávida dele. Sem imaginar que Milena nasceria e cresceria sem jamais conhecer o verdadeiro pai... Patrícia atendeu ao telefone, pensando ser Netinho:

- Alô? Papai? O quê? O senhor está me dizendo que eu posso namorar com o Paulo? Mas o senhor disse... Está bem, papai. Não vou perguntar por que o senhor mudou de idéia. Está bem. Obrigada, pai, muito obrigada.

E desligou, intrigada com a mudança do pai. Mas aceitou-a e ligou para Paulo. Quando acordou e viu o rosto de Celeste assim tão perto do seu, Netinho sentiu uma espécie de descarga elétrica que lhe fez ferver o sangue: um misto de surpresa e prazer o atravessou por inteiro. Celeste também não recuou o rosto e percebeu que seus olhos estavam colados aos de Netinho. Não havia nada que dizer, apenas se deixar envolver por essa magia que os lançava um ao outro. Seus lábios se tocaram, suas mãos se uniram e seus corpos se colaram num abraço que parecia não ter limite.

Netinho não voltou para sua casa naquela noite. No dia seguinte não foi trabalhar. No apartamento de Celeste, anos de auto-repressão, séculos de medo e inibição estavam sendo derrubados. Em seu lugar, florescia um relacionamento que estava fadado a não mais desaparecer. Entre aquelas quatro paredes, nasciam um novo homem e uma nova mulher. Seres que faziam parte de uma nova raça disposta a tudo para defender sua própria felicidade.

Margarida estava preocupadíssima com o sumiço do filho. Sabia que ele estava com alguma mulher. Não temia pela segurança dele, mas morria de medo de que o filho se envolvesse profundamente com alguém. Foi até o apartamento de Celeste para ver se ela tinha alguma idéia. A porta estava aberta. Ela entrou e acabou deparando com uma cena inesperada.

No começo foi difícil. Foi preciso muita conversa e alguns comprimidos de calmante. Lentamente Margarida foi caindo na realidade e começando a pensar em substituir o papel de supermãe pelo de superavó. Netinho só precisou dizer tudo o que sempre quisera e não conseguira. Agora não sentia mais medo e era capaz de enfrentar qualquer inimigo. O amor salvara sua vida. Quando souberam do casamento de Netinho e Celeste, Patrícia e Renata entraram em violenta depressão. Passaram noites em claro amargando a frustração e o arrependimento por terem se apaixonado por quem não as merecia. Depois foram aos poucos percebendo a cilada em que tinham caído. Apaixonaram-se por um rapaz por causa de sua fragilidade; comoveram-se justamente com a insegurança e a fraqueza dele. O instinto maternal as fizera gostar de Netinho, sem desconfiar de que ele precisava exatamente de uma mulher mais velha, assim como Celeste.

Renata começou a namorar Cássio, que era amigo de Netinho e tinha alguma coisa dele. Era uma forma de fazer menos dolorida a separação definitiva. Ou talvez fosse o início de um caso de amor que tinha tudo para dar certo.

Patrícia ficou noiva de Paulo. Sérgio mudara completamente depois de seu encontro com Kiki e até fizera questão de organizar pessoalmente a festa de noivado. Mas Patrícia mudou muito depois desses dois choques, o amadurecimento de Netinho e a modificação do pai. Na noite em que ia ser celebrado seu compromisso com Paulo, ela resolveu jogar tudo para o alto. Chamou o rapaz a seu quarto e lhe contou toda a verdade. Ia se casar com ele só para poder sair de casa. Agora descobrira que podia fazer isso sem precisar se casar. Não o amava, mas gostava dele o suficiente para não querer arruinar-lhe a vida.

Na noite do noivado que não houve, Paulo saiu da casa de Patrícia sem se despedir de ninguém. Racionalmente entendia tudo e até agradecia ao destino pelo que tinha acontecido. Sabia que seu casamento sem amor com Patrícia poderia resultar em tragédia. Mas estava emocionalmente arrasado. Só pensava em tomar um porre e começar o processo de esquecer tudo. Ligou o motor da moto e definiu o bar em que pretendia se embebedar: o Tia Joana. Milena traiu-se ao pedir a Fábio que parasse com aquela história de descobrir a verdadeira mãe de Fernanda. Isso só serviu para aguçar ainda mais sua curiosidade. Fábio fez todos os contatos possíveis e chegou à verdade. Então, Milena era mãe de Fernanda... Tão logo descobriu, sentiu uma ternura infinita por Milena, e seu amor por ela cresceu ainda mais, somando-se àquele sentimento uma enorme admiração por sua coragem.

Telefonou a Milena e marcou um encontro. Com sua intuição, ela percebeu que ele já sabia de tudo...

Eles se encontraram no mesmo lugar onde se conheceram, em frente à escola de Lia e Regina. Bem em frente havia uma linda praça, cheia de flores e árvores, o lugar perfeito para esse encontro definitivo.

Quando Milena chegou, encontrou, Fábio sentado num banco do jardim, desfolhando uma flor. Milena foi até ele e sentou-se a seu lado.

- Milena, eu descobri duas coisas muito importantes, A primeira é sobre Fernanda. Eu já sei de tudo, Milena. E admiro-a por tudo o que fez. Acho apenas que você foi longe demais. Você quase me perdeu. Por alguns momentos eu cheguei a acreditar que você não me amava mais.

- Você... vai contar tudo a Fernanda, Fábio?

- Não. Mas você vai. E vai contar a ela também que eu vou me casar com você, o mais rápido possível. Nós já perdemos tempo demais...

- Mas... Fábio. Como é que você tem tanta certeza de que eu também quero me casar com você?

- Por causa da segunda coisa que eu descobri. Enquanto você não chegava, fiz algo que nunca tive coragem de fazer. Uma bobagem. Arranquei uma flor do jardim e comecei a arrancar suas pétalas, uma a uma. Bem-me-quer, mal-me-quer, bem-me-quer, mal-me-quer... e a flor me contou que você ainda me quer bem...

- Ela estava certa, Fábio. Eu te amo!

- Então, você quer se casar comigo, Milena?

- É a coisa que eu mais quero na vida...

Com um longo beijo, selaram ali um pacto eterno de felicidade... - Você está triste, Fernanda? - perguntou Machadinho, abraçando-a.

- Não é tristeza, Machadinho. Eu não sei como isso se chama. Durante toda a vida eu percebia que Milena me tratava de uma maneira diferente, especial, e sempre a magoei muito por isso. Achava que ela me perseguia, sempre ali, me tratando como uma criança. Imagino o que ela deve ter sofrido... Todo esse tempo, sem nunca poder me chamar de filha... Mas eu fiquei muito feliz ao saber que Milena é minha mãe, sabe? Antes eu achava que não tinha nenhuma, e agora tenho duas! Kiki e Milena! Dá até pra revezar quando uma ficar chata! - e riram como crianças.

- Mas... e o Fábio, Fernanda? Você ainda sente alguma coisa por ele?

- Claro que sinto! Mas não é nada parecido com amor... Acho que Milena tinha razão. Eu estava mesmo procurando um pai... e acabei encontrando! Quando ele se casar com Milena, vai me adotar também!

- Por falar nisso, Fernanda, eu queria lhe fazer uma proposta. Mas você pode pensar quanto tempo quiser. Eu, bem... eu já montei um apartamento, tenho dinheiro guardado... e, bem, me sinto muito só aqui no Brasil. Além disso, bem, além disso eu te amo, Fernanda. E quero me casar com você. E, se você quiser, vamos ter muitos filhos e adotar uma porção de crianças!

Fernanda parou por um momento. Escolheu bem as palavras antes de falar:

- Eu não preciso de tempo pra pensar. Porque eu não penso com a lógica, só com o coração. E, pela batida aqui no peito, eu só tenho vontade de dizer sim. Eu quero, sim, quero me casar com você, criar um monte de crianças, cozinhar muito bacalhau, sardinha e até conhecer Portugal!

Machadinho abraçou Fernanda, comovido. Afinal, descobrira uma coisa muito importante, para toda a vida: sua terra não era Portugal, ou Brasil, ou outro país qualquer. A pátria de um homem só existe no amor da mulher amada... e era ali, no corpo de Fernanda, que ele construiria seu lar. Adelaide fazia tricô na sala, e Kiki, a seu lado, ouvia uma velha canção de amor na vitrola.

- Sabe, Adelaide, eu estou pensando em escrever um livro, ou uma peça de teatro, qualquer coisa assim... o que você acha'?

- Eu acho ótimo. Ninguém tem mais aventuras do que você... coisa pra contar é que não falta. Só quero saber se seus filhos vão poder ler tudo!

- Não, Adelaide, eu não quero escrever só sobre a maravilha do teatro de revista, do teatro, da vida de artista. Eu gostaria de deixar um legado pra todos os jovens do mundo. Um conselho, um depoimento do fundo do meu coração. Porque, às vezes, Adelaide, Deus nos dá a felicidade, mas nós não temos a humildade e a coragem de aceitá-la. E deixamos o amor escorrer por nossos dedos, como a areia que nos escapa das mãos... Talvez eu estivesse hoje com Sérgio, aqui ao meu lado, afagando meus cabelos brancos, brincando com meus netos, se ao menos eu tivesse lhe contado que ia ter uma filha sua. Mas eu fui covarde, exatamente como ele. E, por causa dessa mesma covardia, Milena quase comete o mesmo erro, fazendo a própria filha infeliz. Graças a Deus, esse ciclo de medos foi interrompido. Fernanda está feliz com Machadinho, Milena descobriu a felicidade com Fábio, Renata está gostando de Cássio e Paulo vai amadurecer na Europa, ao lado de Gracinha. Eu só penso agora em Regininha. Ela ainda é uma criança, mas precisa começar a aprender os segredos da vida e do tempo. Pois, quando menos se espera, no lugar da boneca de pano temos um filho no colo, cabelos embranquecidos, e um coração amargo...

Depois de refletir um pouco, Kiki concluiu:

- Não, Adelaide, eu preciso dizer a ela que todos nós vivemos numa locomotiva, movida pelo tempo... e só temos direito a uma única viagem. E, se formos pelo caminho errado, jamais chegaremos a lugar algum. O grande segredo do mundo está em saber exatamente o momento de embarcar nessa locomotiva louca chamada amor, que só caminha numa direção e só passa uma vez na vida de cada pessoa...

FIM


O AUTOR

Quando ainda era ator e redator de rádio, o paulista CASSIANO GABUS MENDES foi chamado para fazer parte da equipe que montaria a pioneira TV Tupi de São Paulo: "Fui para a Tupi sete meses antes de ela ser inaugurada, justamente por ser um homem familiarizado com o rádio", afirma ele. "Parti para esse veículo novo sem conhecê­lo direito. Meu pai fizera cinema e eu, desde pequeno, vivia vendo filmes. Achei que seria um bom caminho aproveitar um pouco de cinema em meus primeiros programas de TV. Baseei-me então na linguagem cinematográfica."

Em 1950, Cassiano produziu a primeira peça para a televisão: uma adaptação do filme americano A Vida por um Fio. Mas não parou aí: idealizou o TV de Vanguarda, programa que mostrava grandes textos do teatro e da literatura, como Hamlet, de Shakespeare; Crime e Castigo, de Dostoiévski; Casa de Bonecas, de Ibsen etc. Também criou Alô Doçura: histórias bem-humoradas que envolviam um casal, interpretado por John Herbert e Eva Wilma. E as aventuras românticas de Os Galãs Atacam de Madrugada, com Tarcísio Meira, Carlos Zara, Fúlvio Stefanini e Hélio Souto.

Embora em 1972 Cassiano tenha se desligado da Tupi, não deixou, em definitivo, a televisão: enquanto aguardava a aprovação de duas si­nopses que havia mandado para a Globo, fez alguns trabalhos para a TV Record e a Cultura, ambas de São Paulo.

Em 1975, Régis Cardoso deu o "sinal verde" para a sinopse de Anjo Mau e, dessa forma, Cassiano estreava como autor de telenovelas: "Pelo que sei, Anjo Mau bateu o recorde de audiência no último capítulo, e essa é a recompensa que a gente recebe", diz ele. "Mas, confesso, mesmo que a primeira experiência como autor de telenovelas não fosse boa, eu voltaria aos bastidores, contra a vontade, mas voltaria, pois não conseguiria viver fora da TV."

Em 1977, Cassiano repetiu a dose dos altos índices de audiência com Loco Motivas. Outras novelas de destaque: Te Contei? (1978); Marron Glacé (1979); Plumas e Paetês (1980); Elas por Elas (1982); Champagne (1983).

FICHA TÉCNICA

LOCO MOTIVAS
Autor: Cassiano Gabus Mendes

Diretor: Régis Cardoso

ELENCO

Eva Todor - Kiki Blanche

Araci Balabanian – Milena

Lucélia Santos – Femanda

João Carlos Barroso – Paulo

Walmor Chagas – Fábio

Célia Biar – Sílvia

Elisângela - Patricia
Míriam Pires – Margarida

Denis Carvalho – Netinho

Thaís de Andrade - Renata

Gisela Carneiro – Regina

Carmem Silva – Adelaide

Míriam Fisher – Lia

Heloísa Mafalda – Joana

Rogério Fróes - Dr. Sérgio

Suzy Arruda - Mirtes

Tony Correa - Alberto César Machado

Lídia Iório – Marcelina

Oswaldo Louzada - Chico Rico

Ilka Soares - Celeste
Roberto Pirillo – Cássio

Terezinha Sodré – Lurdinha
Isaac Bardavid - Vitor
Maria Cristina Nunes - Gracinha


segunda-feira, 20 de junho de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 56



classificação



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 56

CENA 1 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - QUARTO DE RITINHA - INT. - DIA.

Ritinha e Duda conversavam, deitados na larga cama de casal.

DUDA - Você tá bem certa de que esta é a solução?

RITINHA - Não é solução, Eduardo. É só um adiamento da solução que a gente precisa. Me deixa ficar um pouco mais aqui... pelo menos até nosso filho nascer. Nesse estado, eu tenho certeza de que não vou poder reagir contra as coisas que me esperam lá no Rio.

DUDA - Você me faz sentir um fracassado...

Ritinha debruçou-se sobre seu corpo, abraçando-o pelo peito.

RITINHA - Não tou te acusando, Eduardo. Acho até que não é você quem tem culpa. Sou eu mesma, que não me ambientei... sei lá... eu tinha que ter o gênio diferente... tinha que ser mais... mais avançada. Acho que sou quadrada, antiquada... boboca... não sei bem o que é isso, meu amor. (beijou o queixo do marido, subindo com os lábios colados á pele, até os lábios dele) Só sei que eu sofro demais com as coisas. Não tenho a frieza, aquela indiferença, aquela superioridade que a gente tem que ter pra viver na capital.

DUDA - Como assim?

RITINHA - Eu sou uma sentimental...

Girando sobre o corpo, o rapaz apertou-a amorosamente.

DUDA - Eu gosto de você, assim. Eu também sou um sentimental... Sou tudo isso que você disse, amor. E como é que eu vou viver sem você?

Algumas lágrimas molhavam o rosto aveludado da moça.

RITINHA - É só até nosso filho nascer. Depois, eu vou procurar me adaptar mais ás situações... vou procurar ser mais fria... tentar gostar menos de você, pra não te atormentar tanto. Mando te avisar logo que o nenê nascer. (beliscou de leve o peito do marido) Que nome você quer que ponha?

DUDA - (com tristeza) Se for homem... bota o nome do meu pai.

RITINHA - Sebastião... é tão comprido. Deixa eu pôr Eduardo, mesmo...

DUDA - Não. Ele tem que ter mais sorte do que eu. Se for mulher... bota o seu nome.

RITINHA - (sorriu, sem graça) Não. Ele tem que ser mais feliz do que eu sou...

Depois de sorver um longo trago de fumaça, Duda atirou fora a guimba e contornou com a mão o ventre da esposa. Ali estava a razão de todo o seu futuro. Dele e da mulher a quem dia a dia amava mais.

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - SALA - INT. - DIA.

Domingas já preparara as malas de e escutava os resmungos de Maciel, aborrecido com o andamento da conversa. A mulher tentava forçar o médico a confessar a verdade aos emissários do Flamengo.

DOMINGAS - Já falou pra eles... da bala que ainda tá na perna do Duda?

DR. MACIEL - (com brusquidão) Não vou falar, nem agora, nem nunca! Não quero. Acho que não devo dizer.

DOMINGAS - (preocupada) Como é que vai ser... quando souberem?

DR. MACIEL - Operam ele, pronto! Não tem problema!

DOMINGAS - (insistiu) Pode passar do tempo!

DR. MACIEL - (esbravejando furiosamente) Nada disso! Nada disso! E não me amola!

CORTA PARA:

CENA 3 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - SALA - INT. - DIA.

Duda deixou o quarto, já vestido. Calças vermelhas, justas, camisa-esporte preta, com desenho em branco á altura do peito. Ritinha acompanhava-o, chorosa.

DR. MACIEL - (avisou, sem se voltar para o casal) Estão te chamando, lá no carro. Vocês tem que tomar o avião, na próxima cidade. Está quase em cima da hora.

Duda atravessou a sala, em direção ao sogro.

DUDA - Peço pro senhor olhar bem por ela. Depois ela vai comigo. Depois que o nenê nascer...

DR. MACIEL - Não precisa recomendar. Aqui ela está melhor do que naquela vida que você deu a ela.

Duda segurou as malas, beijou longamente a mulher e saiu em direção ao automóvel que o aguardava do outro lado da rua. Ritinha chorava, abafadamente.

CORTA PARA:

CENA 4 - GARIMPO DOS CORAGEM - EXT. - DIA.

Braz orientava os garimpeiros.

BRAZ - Mais pra cá. Cuidado! Assim, não. Puxa, agora!

O corpo vinha boiando, trazido pela correnteza, emaranhado nos cipós e nos galhos de árvores caídos no rio. A princípio era um ponto vago, deslizando célere pelas águas, meio emborcado. Depois, á medida que se aproximara, começou a despertar as atenções do garimpo. Finalmente, ao se estreitar entre duas rochas luzidias erguido pelas águas, os homens não tiveram dúvidas: era um corpo. Os garimpeiros organizaram uma barragem humana e, com varas de bambus, introduzidas por entre as vestes rôtas, içavam-no para a margem. O cadáver chegara á terra; as leves vagas banhavam-lhe os pés, inchados e arroxeados.

BRAZ - (tapando a boca com as mãos) Deus Nosso Sinhô Jesus Cristo! Tão reconhecendo?

Os homens se reuniram em torno do defunto. Os olhos eram duas pequenas crateras ôcas, e parte dos lábios e do nariz já não existiam, devorados pelos peixes.

ANTONIO - (recompôs-se ante a cena tétrica) Como é que se pode reconhecer? O rosto não é mais rosto...

BRAZ - (debruçou-se sobre o corpo) Credo em cruz! Tá desfigurado!

ANTONIO - (agachando-se e apontando a cara corroída do morto) E num foi só as águas do rio que desfiguraro...

BRAZ - Mas... as roupa... num tão vendo?

Ante a insistencia os demais tentavam identificar as vestes do cadáver.

ANTONIO - (excitado) Tá me parecendo... ou muito me engano... ou é o Lourenço D'Ávila!

Braz recuou assustado, vendo confirmarem-se suas suspeitas. Era o corpo de Lourenço, deformado, mas era. E o achado levantaria toda uma série de hipóteses, com a figura de João Coragem centralizando tudo. Braz pensava rápido.

BRAZ - Gente! Ninguém mexe no corpo! Vão chamá o delegado.

CORTA PARA:

CENA 5 - COROADO - DELEGACIA - EXT. - DIA.

A delegacia fervilhava. Era o assunto do dia em Coroado. Lourenço fôra encontrado morto, boiando no rio! Diogo Falcão dava ordens aos seus homens – “ninguém pode entrar; só Braz Canoeiro e Antonio”. Fechou a porta com grosseria, ameaçando Deus e o mundo... Jerônimo, ao saber da novidade, fôra para a cidade, e conversava com os garimpeiros que presenciaram a retirada do corpo.

JERÔNIMO - Ocês tem certeza? O home morto é, mesmo, Lourenço D'Ávila?

GARIMPEIRO - Certeza a gente num tem. A gente só reconheceu as roupa.E juro como já vi Lourenço com aquelas!

Falcão apareceu na porta, agitado, ajeitando o revólver na cintura. Braz e Antonio acompanhavam-no, parecendo temerosos com o andamento do caso.

JERÕNIMO - Vamos segui pra lá, seu Falcão.

DELEGADO FALCÃO - É o jeito!

BRAZ - Não deixemo ninguém mexê em nada, seu Falcão! Pra esperá pela sua autoridade!

DELEGADO FALCÃO - (ordenou, montando no alazão e saindo em disparada) Vamos embora!

CORTA PARA:

CENA 6 - GARIMPO DOS CORAGEM - EXT. - DIA.

O sol, inclemente, tostava a face arroxeada do cadáver por sobre quem as môscas pousavam, inquietas. Alguns homens cobriram o corpo com palmas de coqueiro, mas o cheiro infecto já se desprendia forte e nauseabundo. O grupo de cavaleiros estacou a alguma distancia da margem do rio, devido á ribanceira que impedia o trote livre das montarias. Saltaram e dirigiram-se para o local. Diogo Falcão, com um lenço sobre o nariz, ajoelhou-se diante do corpo, franzindo a testa, horrorizado.

JERÔNIMO - Desfigurado!

DELEGADO FALCÃO - Está! E não foram só os peixes que roeram. Isto foi feito... de propósito... por maldade...

JERÔNIMO - É Lourenço?

O delegado apontou para um anel de prata, com as letras em relêvo, num dos dedos do cadáver.

DELELGADO FALCÃO - Olha pra isto... o anel de Lourenço...

Jerônimo examinou a peça, mal acabada.

JERÔNIMO - Então, num tem dúvida, é ele mesmo!

DELEGADO FALCÃO - Vamos ver se restou algum documento.

O delegado, com repulsa, abriu o paletó do defunto e rebustou os bolsos internos. Havia papéis, destruídos pela umidade. Ilegíveis.

JERÔNIMO - (ajudando a recompôr as folhas arrancadas) Sempre servem para alguma coisa...

O delegado reuniu os documentos com cuidado e conclamou os garimpeiros:

DELEGADO FALCÃO - Preciso da ajuda de vocês. Vamos levar o corpo pra cidade! Com muito cuidado, gente! Quem é que vai ajudar?

CORTA PARA:

CENA 7 - COROADO - RUA - EXT. DIA.

Envolto num lençol branco, o corpo do capataz, dobrado sobre os costados do cavalo, cruzou as ruas de Coroado, apinhadas de gente.

FIM DO CAPÍTULO 56

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

*** PEDRO BARROS DIZ A FALCÃO QUE NÃO HÁ DÚVIDAS QUE JOÃO MATOU LOURENÇO.


*** BRANCA, MULHER DE LOURENÇO, DIZ A FALCÃO E A PEDRO BARROS QUE JOÃO É O ASSASSINO DO MARIDO!

NÃO PERCA O CAPÍTULO 57 DE