quarta-feira, 27 de abril de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 35




classificação



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 35

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

MARIA DE LARA
DR. RAFAEL
JERÔNIMO
POTIRA



CENA 1 - FLORESTA - EXT. - DIA.

Durante algum tempo, Maria de Lara perambulou pelas imediações da fazenda. Acordara pela madrugada e, após as orações da manhã, se decidira pelo passeio ao campo. O vestido leve e rodado facilitava-lhe os movimentos e a moça, correndo de árvore em árvore, admirava as flores, a algazarra dos pássaros, o lento curso do riacho de águas claras. Afastara-se demais da casa-grande e agora avistava o casebre abandonado, um ponto branco no fundo verde da floresta. Dirigiu-se para lá.

CORTA PARA:

CENA 2 - CASEBRE NA FLORESTA - INT. - DIA.

A desordem no interior da construção rústica dava-lhe a impressão de um bazar desarrumado. Sobre o velho baú, um vestido estampado chamou-lhe a atenção. Colocou-o diante do corpo. As sandálias atiradas no chão; sobre a mesinha de madeira, gasta pelo tempo, uma bolsa de couro cru, de alças longas. Lara sentiu, mais do que ouviu, o ranger da porta que se abriu. Rafael apareceu.


DR. RAFAEL - Bom dia, Lara. Preciso falar com você.

Lara voltou-se, surpresa. Havia certo descontrole em seus gestos. O médico percebeu-lhe o nervosismo e a indecisão.

DR. RAFAEL - Queria conversar mais um pouco com você.

MARIA DE LARA - O senhor quer saber o que eu penso de tudo isto? Acho que estou perdendo o juízo. Que estou ficando louca!

DR. RAFAEL - (comedido) Não, não, tire isso da cabeça.

A expressão da jovem se modificou.

MARIA DE LARA - Eu não lhe disse ontem... eu ouço vozes. Hoje... ela voltou a falar comigo...

DR. RAFAEL - Quem?

MARIA DE LARA - Uma voz somente... que me persegue!

DR. RAFAEL - Há quanto tempo ouve esta voz?

MARIA DE LARA - Já há algum tempo... desde que cheguei aqui, creio.

DR. RAFAEL - E que lhe diz a tal voz?

MARIA DE LARA - Ela... ela me diz certas coisas. Ir contra o meu pai e minha mãe, por exemplo. Manda-me ir sempre... ao encontro de João Coragem!

DR. RAFAEL - (curioso) A senhora ama este homem?

MARIA DE LARA - (transtornada) Eu... eu não sei... eu creio que sim, doutor, mas ele é um homem rústico... muito diferente... e não é isso... eu não quero me casar, não quero gostar de ninguém... luto contra isso! E esta voz me manda justamente fazer aquilo que eu não quero. (voltou-se patética para o especialista) Diga a verdade, isto é loucura?

Rafael balançou a cabeça lentamente. Encarava o semblante da moça, analisando seus menores movimentos.

DR. RAFAEL - De fato, isto é grave. Mas você se amedronta com essa voz porque reconhece nela um sintoma de doença. Se estivesse ficando louca, o que a voz lhe diz poderia amedrontá-la, não a voz em si, compreende?

MARIA DE LARA - O senhor não quer dizer... mas o senhor sabe. Qualquer um sabe que quem ouve vozes que não existem não pode estar em seu juízo perfeito. Não pode!

A coisa aconteceu inesperadamente. Lara colocou as mãos sobre a fronte e premiu-a fortemente.

MARIA DE LARA - Outra vez a dor de cabeça!

O médico sentiu que o momento era oportuno. Com a voz pausada, leu o papel que trouxera consigo.

DR. RAFAEL - Conhece Diana Lemos? (repetiu, mais lentamente) Conhece Diana Lemos?

Lara se ajoelhara no chão duro de barro. Apertava com força as têmporas, os cabelos caindo-lhe em cascata pelo rosto.

MARIA DE LARA - Que dor horrível!

DR. RAFAEL - (insistia, sem pena) Sabe quem é Diana Lemos?

Aos poucos os dedos se afrouxaram e as lágrimas começaram a rolar. O choro fraco se transformou num riso zombeteiro, irônico.

O médico observava espantado a metamorfose da moça, sem entender direito o que lhe acontecia. Compreendia que algo de extraordinário estava para ocorrer. Quem sabe o segredo de tudo? Ajudou a moça se levantar do chão.

DR. RAFAEL - Está se sentindo melhor?

MARIA DE LARA - (com expressão diferente) Muito melhor.

DR. RAFAEL - Que foi que sentiu? Dor de cabeça?

MARIA DE LARA - (orgulhosa) Não tive dor nenhuma. Ela teve, não eu.

DR. RAFAEL - Ela?

MARIA DE LARA - Sim, ela. Sempre tem essas dores de cabeça quando eu quero sair. Ela é uma boba, não acha?

Rafael procurava compreender a estranha observação da cliente.

DR. RAFAEL - De quem está falando?

MARIA DE LARA - De Lara! (e provocante) Sabe que você é simpático? Aposto que dança muito bem...

DR. RAFAEL - Voce não é Lara Barros?

MARIA DE LARA - Que Lara! Sou Diana Lemos e você sabe disso.

A moça falava com desenvoltura e atrevimento, movimentando-se intensamente no interior da pequena sala. O especialista finalmente compreendera tudo. Olhava o papel e Lara, á procura de um elo de ligação. Diana retirava roupas do interior do baú, jogando-as sobre a mesa.

MARIA DE LARA - É aqui que guardo minha roupa. Estou só procurando um vestido de casamento.

DR. RAFAEL - Vai casar?

MARIA DE LARA - Que remédio? No duro, no duro, gosto do cara. Gosto muito. É o tal de quem Lara foge...

DR. RAFAEL - O garimpeiro...

MARIA DE LARA - É. A idiota tem preconceitos... coisas de educação... diferença social... besteira. Não tenho nada disso. Sou livre... (rodopiou com o vestido sobre a cabeça) Será que este aqui está bom para a cerimônia?

O médico fez que sim com a cabeça.

MARIA DE LARA - Olha, não queria me amarrar. Sério. Nunca me preocupei com isso. Mas o caso com o grandalhão ficou muito sério. E vem conseqüências por aí... Sabe como é, as coisas acontecem...

DR. RAFAEL - Você está... grávida? Tem certeza?

MARIA DE LARA - Absoluta! Sabe, faço tudo o que a outra tem medo de fazer. Mas, também, não tenho o direito de desgraçar com a vida dela desse jeito...

Prosseguiu, rindo, com ar de caçoada.

MARIA DE LARA - É uma coitada. Mas não pense que não me cansei de aconselhá-la a não ser assim.

Rafael lembrou-se do que Lara lhe tinha dito.

MARIA DE LARA - Sim, ela me disse que ouvia uma voz. Que espécie de conselhos você lhe dava?

MARIA DE LARA - Que conselhos? Ela é gamadona pelo garimpeiro, pensa que eu não sei? Pois reage e tem medo de se entregar a um sentimento mais forte. Vê coisas na casa dela entre o pai e a mãe.. agüenta firme, não faz nada! Mando que ela reaja contra aquele outro tipo. (referia-se a Lourenço) Ela agüenta tudo quanto é desaforo. Ah, se fosse eu! Já dei na cara dele! Tirei carne das fuças do cretino! Tentei até matar ele.

Diana conversava á vontade. Vez por outra aplicava um tapa de intimidade nas pernas do médico.

MARIA DE LARA - Um dia vou sair e não vou voltar!

DR. RAFAEL - Como “sair”? Você quer dizer... impor a Lara sua personalidade, como agora?

MARIA DE LARA - (sorridente) Isso mesmo!

DR. RAFAEL - E é sempre possível... “sair, como você diz, sempre que quer?

MARIA DE LARA - (suspirou, tristonha e irritada) Quem me dera! Ás vezes posso. Ás vezes, não. Mas lhe garanto uma coisa: está se tornando cada vez mais fácil. Ela está ficando cada vez mais fraca e eu mais forte. Um dia destes, domino-a por completo. E então... adeus, Maria de Lara!

Rafael ouvia atentamente as explicações. Mentalmente organizava um quadro da moléstia. Tudo se lhe abria como num passe de mágica. As duas personalidades conflitantes entravam em choque dentro de um mesmo corpo. Nítido caso de dupla personalidade.

MARIA DE LARA - Acho bom aconselhar a coitada a se casar com o grandalhão, doutor! Olha bem o que eu contei. Pode ser que ela reaja e não me deixe “sair”, como deixou agora. O casamento é no dia 7. O padreco está ajeitando tudo.

DR. RAFAEL - E... se ela não aceitar esse casamento?

MARIA DE LARA - Já disse: por mim, não tem nada. Mas por ela... (riu desenfreadamente) Nem quero pensar no que vai acontecer... quando ela descobrir. Vou morrer de rir só em pensar na cara dela! (Imitou Lara benzendo-se) Meu Deus, que horror! Nem quero pensar!

Os risos aumentaram de intensidade, confundindo-se com os soluços e as lágrimas que denotavam a mudança de personalidade. Diana se afastava e Lara voltava a existir. Rafael observava detidamente as expressões e modificações radicais que se processavam diante de seus olhos.

DR. RAFAEL - Por que está chorando?

A voz de Lara expressava timidez e angústia.

MARIA DE LARA - (quase num sussurro) Desculpe-me, doutor... mas tenho tanto medo... de enlouquecer!

DR. RAFAEL - (falou para si mesmo) Espantoso! Lara!

O mistério de Diana Lemos deixara de existir.

CENA 3 - RANCHO CORAGEM - QUARTO DE JOÃO E JERÔNIMO - INT. - DIA.

O quarto dos irmãos Coragem pela manhã era a imagem inequívoca do desleixo masculino. Colchas, travesseiros, roupas e objetos atirados para todos os lados. Potira tentava pôr uma ordem na bagunça. Imersa em pensamentos, quase não percebeu a presença de Jerônimo.


JERÔNIMO - Potira, vem cá!

O rapaz se sentou na beira da cama, puxando-a para perto de si. Rodou a aliança no dedo moreno da mestiça.

JERÔNIMO - Tá contente, não tá? Vai sê mulhé de doutô!

Potira deitou meigamente a cabeça nos joelhos do amado. As mãos correram-lhe das pernas ao peito, numa carícia animal.

JERÔNIMO - (alisando-lhe os cabelos) É o sonho de muita moça... arranjá bom casamento.

POTIRA - (ergueu os olhos súplices) O sonho... é casá por amor.

JERÔNIMO - Cê gosta dele depois...

POTIRA - Não fala nada. É melhor... Cê não me perdeu. Não tou casada. Mãe disse que entre nós não existe nenhum mal. Padrinho fez um juramento...

JERÔNIMO - Eu sei. Ela me disse.

POTIRA - Basta você querê, Jeromo. Basta uma palavra sua... um sinal seu... e eu me entrego a você de corpo e alma.

As mãos crispadas pelo desejo magoavam o peito do rapaz. A proximidade de Potira, a ânsia refletida em seus olhos, a respiração curta e acelerada esmagavam a resistência de Jerônimo.

JERÔNIMO - (carinhosamente, afastou de si o corpo sensual da mestiça) Cê pensa bem, índia. Pensa na maldade que ia fazê com meu melhor amigo. O home que realizô uma coisa que eu desejava há tanto tempo. Um home que tem sido nosso amigo do peito. Que arrisca a vida por uma causa. Que pensa nos outros sem egoísmo. Que decidiu terminá com as injustiça nessa terra e conseguiu... Um home bão, justo, honesto...

Potira, desesperada, agarrou-se ao rapaz.

POTIRA - Sei de tudo isto, mas ele não é seu irmão. É só um amigo.

JERÔNIMO - Mas gosta de você e pediu você em casamento...

POTIRA - E a gente vai sacrificá uma coisa tão bonita que é tudo o que a gente sente um pelo outro. E vou casá com ele... sem gostá... Vou fazê ele ainda mais desgraçado... Tudo porque ele é bão e você seu melhor amigo?

Jerônimo apertou amorosamente a moça contra seu peito. Seus lábios tocaram de leve a pele morena e acetinada. O calor dos corpos unidos acendia o fogo dos instintos, renovando o desejo incontrolável que o impelia a possuí-la inteiramente para si. A visão de Rodrigo feliz, sorridente se interpôs entre os dois.

JERÔNIMO - Cê me esquece, índia...

POTIRA - Vou fazê força, Jeromo. Só quero um beijo de despedida.

Os lábios se uniram num longo beijo.

FIM DO CAPÍTULO 35













E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

#
PREOCUPADO COM A SITUAÇÃO DE RITINHA EM TER QUE DEIXAR O APARTAMENTO, DUDA FAZ AS MALAS E PREPARA-SE PARA VIAJAR PARA O RIO EM SEGRÊDO, QUANDO O TÉCNICO
FAUSTO PAIVA O SURPREENDE, DE MALA NA MÃO!

#DR. RAFAEL REVELA A PEDRO BARROS, SUA MULHER ESTELA E TIA DALVA QUE MARIA DE LARA É DIANA LEMOS E QUE A FILHA DO CORONEL PRECISA CASAR COM JOÃO CORAGEM.


#
FURIOSO, PEDRO BARROS PARTE PRA CIMA DO PSIQUIATRA!


NÃO PERCA O CAPÍTULO 36 DE...

LOCOMOTIVAS - CHAMADA




VEM AÍ...

UM DOS MAIORES SUCESSOS DE


CASSIANO GABUS MENDES EM 8 EPISÓDIOS


ESTRÉIA, NESTA TERÇA, 03/05

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segunda-feira, 25 de abril de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 34



classificação



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 34

PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

SINHANA
RODRIGO
JOÃO
JERÔNIMO
SEBASTIÃO
POTIRA
DR. RAFAEL
DALVA
ESTELA

CENA 1 - RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - NOITE.

A velha Sinhana admirava a personalidade e a firme decisão do promotor de Coroado. Ele fornecia, diante das atenções da família Coragem, os pormenores de sua vida. Os esforços empreendidos para alcançar a posição privilegiada que o tinham elevado, de garoto pobre e órfão, a promotor de uma cidade pequena mas importante na extração e no comércio de pedras preciosas. Acabara de concluir o relato. Voltou-se para o velho Sebastião.


RODRIGO - Falei muito de mim... e até agora, não me disseram se consentem no meu casamento com Potira.

Jerônimo levantou-se perturbado. Tentou sair. Sinhana, discretamente, segurou-o pelo braço.

SEBASTIÃO - (expressão feliz) Já disse que faço muito gosto!

JOÃO - Da minha parte... eu concedo... só falta Jerônimo e mãe falá.

RODRIGO - (encorou o companheiro) O que me diz, Jerônimo? E a senhora, dona Sinhana?

A velha permanecera atenta, á espera da pergunta. Conhecia a paixão que envolvia o filho e a filha adotiva, e a luta interna que convulsionava naquele instante, os sentimentos de Jerônimo. Procurou adiar a solução.

SINHANA - A gente acha... que é bão esperá mais um pouco.

RODRIGO - Eu espero. Não digo que posso me casar já... mas quero ficar, desde já, comprometido.

JOÃO - (em favor do amigo) Mãe, seu promotô é nosso amigo. A gente não pode recusá um pedido deste... A gente deve muita coisa a ele. A defesa das nossas terra do Matão... se não fosse ele, essa cambada tinha interditado a nossa mina e a Justiça vinha pra cima de nós, pra me tirá o diamante. Mas ele fez tudo pra prová que a nossa escritura era verdadeira. Além disso, Jerônimo conseguiu o que queria... Agora é presidente da Associação dos Garimpeiros. Isso é muito importante pra nós, que até onte era dominado por um home só. Atenta nisso, mãe...como é que a gente pode negá alguma coisa pro seu dotô?

Jerônimo deu um passo á frente, pousando a mão direita no ombro do amigo e protetor. Suas palavras saíram da garganta com dificuldade.

JERÔNIMO - É claro... seu doutô... tem sido muito nosso amigo. A gente tem que sê leal, honesto pra ele. E a Potira ta de acordo...

Sorridente com a decisão, Rodrigo retirou do bolso uma caixinha com duas alianças douradas.

João chamou a mestiça, que a tudo assistia sem dizer palavra, olhos voltados para o chão, dedos entrelaçados, expressão de desgosto.

JOÃO - Vem cá, índia!

Potira se aproximou, tímida, meio assustada.

JOÃO - Bota aí o anel no dedão dela. E tá comprometido!

CENA 2 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - SALA DE JANTAR - INT. - DIA.

Bolo de milho, café forte, queijo fresco, broa e muito leite. A mesa do coronel era farta. A manhã nascera radiante, sol quente, pouco vento. O cheiro do gado penetrava as dependências da casa-grande trazido pela brisa. O mugir rouquenho dos bois contrastava com o pipilar agudo da passarada nos arvoredos.

Pedro Barros cumprimentava o Dr. Rafael que, desacostumado á vida de fazenda, atrasara-se para o café.

PEDRO BARROS - Senta aí e come, home!

Os modos rudes do coronel não chegaram a surpreender o psiquiatra. Conhecia a natureza dos homens do sertão.

PEDRO BARROS - Que é que minha filha tem? É grave?

DR. RAFAEL - Estou ainda estudando o caso, seu Barros. Não tenho uma resposta por enquanto. Parece-me um caso raro, mas não fora do comum. Pelo que pude deduzir, Lara não consegue enfrentar determinada realidade... pelo menos a realidade que ela conhece. E foge dela. Meu trabalho consiste em descobrir quais as razões que a levam a procurar essa fuga.

Dalva retirou do seio um papel amarelado, entregando-o ao médico.

DALVA - Doutor, quero que o senhor leia esse papel. É um documento de... de uma moça que se chama Diana... e que se parece muito com Lara. Eu já lhe falei sobre isso. Ela deu sua filiação nesse documento ao delegado Falcão... e é muito estranho que os nomes dos pais dela... sejam os nomes... dos avós de Lara.

ESTELA - (completou) Nome do nosso pai e de nossa mãe, doutor.

O médico examinou demoradamente o documento.

DR. RAFAEL - Onde está Lara?

DALVA - (entendera a preocupação do especialista e rezava intimamente para que tudo desse certo) Saiu cedo para o campo.

DR. RAFAEL - Com licença!

O médico levantou-se e deixou a sala.

FIM DO CAPÍTULO 34


E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

#DR. RAFAEL DESVENDA O MISTÉRIO DE DIANA LEMOS

#
POTIRA SOFRE PELO AMOR NÃO CORRESPONDIDO POR JERÔNIMO

NÃO PERCA O CAPÍTULO 35 DE ...



ARTIGO: Censura nas novelas: o que você não viu na TV


Durante 20 anos, criações artísticas sofreram com a Censura. Nem as meladas telenovelas escaparam da tesoura dos militares: cenas de sexo, homossexualismo, críticas à Igreja e, é claro, ao governo eram cortadas

por Maria Fernanda Almeida
Era a noite de quarta-feira, 27 de agosto de 1975. Em pleno Jornal Nacional, da Rede Globo, o apresentador Cid Moreira informava que a novela Roque Santeiro, de Dias Gomes, que estrearia após o telejornal, não iria mais ao ar. Fora proibida pela Censura. Em menos de dois minutos, ele leu um texto dizendo que a novela era uma “ofensa à moral, à ordem pública e um achincalhe à Igreja”. E ponto final: estava cancelada. No lugar dela, às oito da noite (naquele tempo a novela das 8 começava às 8h mesmo), os cerca de 40 milhões de pessoas que se acotovelavam diante de seus televisores começaram a assistir a uma reprise resumida da novela Selva de Pedra. A proibição de Roque Santeiro– que seria regravada e exibida 10 anos depois, em 1985 – é só mais um capítulo, talvez o mais radical, da história da censura às telenovelas brasileiras durante a ditadura militar (1964-1985).
O início dessa verdadeira novela foi o Ato Institucional número 5, imposto em 13 de dezembro de 1968, que deu início ao período conhecido como “anos de chumbo”. A partir do AI-5, todas as produções artísticas deviam passar pela avaliação prévia da Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), órgão ligado ao Ministério da Justiça. Peças de teatro, filmes, letras de músicas e programação de rádios e TVs só eram liberados após o exame dos censores. No caso dos programas televisivos, a DCDP não determinava só em que horário as produções iriam ao ar e a classificação etária. “Muitas vezes, mutilavam a obra, cortando diálogos ou vetando trechos inteiros”, diz Renata Pallottini, professora do Núcleo de Pesquisa de Telenovela da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.
As questões políticas não eram o único alvo dos censores. “A maioria das novelas caía no que se chamava de ‘defesa da moral e dos bons costumes’. Menções ao divórcio, adultério e homossexualismo eram vetadas”, afirma Renata. Outras vezes, os censores simplesmente não gostavam da trama ou do rumo que a história estava tomando – e dá-lhe tesoura! “Não tinha lógica nem critério. Fui censurado por coisas que jamais entendi”, diz Lauro César Muniz, autor de novelas como Escalada e Casarão.
Segundo a historiadora Beatriz Kushnir, da Universidade Federal Fluminense, a DCDP recebia cartas de diversos estados, solicitando que cenas ousadas fossem proibidas. Um exemplo eram as Senhoras de Santana, uma associação que reunia mulheres católicas do tradicional bairro paulistano: quando achavam que um programa continha cenas ousadas ou palavrões, enviavam abaixo-assinados pedindo mais rigor nos cortes. De acordo com a historiadora, muitos censores que ela entrevistou para seu livro Cães de Guarda: Jornalistas e Censores, do AI-5 à Constituição de 1988 lembravam que existia um grupo de mulheres, esposas de ministros e generais, que eram as primeiras a assistir filmes e novelas – já fazendo observações sobre o que deveria ser cortado.
O roteiro da censura das novelas era monótono. Inicialmente, a sinopse e o texto dos capítulos eram enviados para a DCDP estadual, onde grupos de no mínimo três censores os analisavam e, munidos de manuais de censura, “corrigiam” os textos. Diálogos, trechos e capítulos inteiros podiam ser vetados. Às vezes, eles chegavam ao cúmulo de sugerir conversas diferentes para os personagens. Só quando os textos eram liberados (se o fossem), a emissora era autorizada a gravar.
Com os capítulos prontos, as redes de TV ainda tinha que submeter as imagens para nova avaliação dos censores, que só aí emitiam a decisão final da liberação ou veto. Todo o processo demorava até duas semanas. E podia custar caro. No caso de Roque Santeiro, 53 capítulos estavam escritos, 36 já tinham sido gravados e dez estavam completamente editados e sonorizados (para se ter uma idéia, um capítulo de novela custa hoje cerca de 100 mil reais para a Globo). Era natural que, com o tempo, as próprias emissoras acabassem se “autocensurando” para evitar prejuízos. “A Censura estava atenta e a Globo sempre pedia a minha atenção”, diz Manoel Carlos, autor de novelas que, nos anos 70, dirigia o Fantástico, programa da emissora (veja o depoimento dele e de outros autores nas páginas seguintes). História teve acesso a alguns documentos inéditos que mostram a censura nas novelas – a papelada está no Arquivo Nacional de Brasília. Leia a seguir algumas das tramas censuradas que você jamais pôde assistir na TV.


Sob a batuta do presidente Emílio Garrastazu Médici – que assumira em 1969 afirmando que redemocratizaria o país – corriam os anos que o jornalista Elio Gaspari chamou de “ditadura escancarada”. A repressão aos opositores do regime chegava ao auge, enquanto o governo tentava criar a imagem de um país unido e orgulhoso. Em 1970, cerca de 28 milhões de brasileiros assistiam todas as noites na TV à luta dos garimpeiros João e Jerônimo Coragem (Tarcísio Meira e Cláudio Cavalcanti, respectivamente) contra abusos de poder de latifundiários corruptos (Duda, o terceiro dos irmãos do título, interpretado por Cláudio Marzo, era jogador de futebol). A trama de Janete Clair tinha forte teor político e, por conta das mãos censoras da DCDP, os telespectadores deixaram de ver bastante coisa: de cenas de violência a palavras consideradas impróprias – como “aporrinha”, que iria ao ar no capítulo 166, e “arrombado”, do capítulo 169. A Censura não gostou do enredo, que, segundo um relatório, tinha “imagens negativas” e “diálogos de baixa cultura”. E implicou com a classificação da novela – na época, liberada para maiores de 12 anos. Num parecer de 29 de novembro de 1970, um censor concluiu que Irmãos Coragem deveria ser, “no mínimo”, imprópria para menores de 16 anos.
Quando, em 1973, a Globo lançou sua primeira novela em cores, O Bem Amado, o Brasil vivia seu “milagre econômico” – desde o fim dos anos 60, o país crescia cerca de 12% ao ano. Mas a história de Dias Gomes estava longe de celebrar o fato: mostrava um político corrupto, Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), que enganava um sofrido povoado nordestino. Após uma análise dos capítulos 110 a 113, a DCDP descobriu o óbvio: “As situações afloradas, pelo seu duplo sentido, a essa altura dos acontecimentos, podem ser claramente interpretadas como alusivas à conjuntura nacional”.
Atrás de “duplos sentidos”, os censores não descansaram: cortaram do roteiro uma cena em que o personagem Zeca Diabo (pistoleiro vivido por Lima Duarte) aparecia acometido de bicho do pé. Na lógica dos militares, a falta de saneamento básico não combinava com um país que se desenvolvia rapidamente. O problema de Zeca Diabo acabou sendo substituído por uma gripe.
Desde o começo, os hábitos dos personagens de O Bem Amado desagradaram aos censores. Num documento que analisa os capítulos de 1 a 8, eles afirmam que Odorico não passava de um “velho conquistador” e “cheio de amantes”. Telma (Sandra Bréa), sua filha, era “moça libertina” e “adepta do amor livre”. A partir daí, a trama foi classificada como “desaconselhável para um público menor de 16 anos” – e passou a ser exibida às 22h.
Ao ambientar sua novela Escalada na Brasília dos anos 1960, Lauro César Muniz acabou ganhando um problema e tanto. A Censura o proibiu de citar o nome do fundador da cidade, o ex-presidente Juscelino Kubitschek, cujos direitos políticos haviam sido cassados pela ditadura. “A única coisa que consegui foi fazer com que o personagem Horácio, vivido por Otávio Augusto, assobiasse ‘Peixe Vivo’, canção que fizera parte das campanhas políticas de JK”, diz Muniz.
No entanto, a maioria das cenas censuradas em Escalada, que foi ao ar em 1975, não tinha nada a ver com política. A DCDP invocou mesmo foi com o triângulo amoroso envolvendo Marina (Renée de Vielmond), uma mulher casada prestes a se divorciar, e o casal Cândida (Suzana Vieira) e Antônio Dias (Tarcísio Meira). O caso de adultério foi visto como uma má influência para as famílias brasileiras e classificado como “discussão estéril que leva à instabilidade conjugal”. Cenas do romance entre Antônio e Marina foram excluídas, por exemplo, dos capítulos 136 e 139.
Na presidência do general Ernesto Geisel, iniciada em 1974, havia no ar a promessa de promover a abertura do regime com uma “distensão lenta, gradual e segura”. Isso significaria o fim da censura, a investigação dos casos de tortura e maior participação da sociedade civil na política. Contrariando essas promessas, a linha dura voltou a agir com violência em 1975 (matando, entre outros, o jornalista Vladimir Herzog). Na TV, o que se viu foi o primeiro caso de censura total a uma novela brasileira. Era A Fabulosa Estória de Roque Santeiro e sua Viúva, a que Era Sem Nunca Ter Sido. Os 36 capítulos gravados, que haviam sido liberados pela Censura após muitos cortes, acabaram proibidos no dia da estréia. “Roque Santeiro é uma história de hipocrisia clerical, na qual uma cidade vive de explorar o misticismo das pessoas. Apesar de a proibição parecer moralista, nesse caso, o cunho político pesou mais”, afirma Renata Pallottini.
Havia uma predisposição para censurar a novela, já que seu autor, Dias Gomes, era egresso do Partido Comunista Brasileiro. Além disso, a trama era uma adaptação de sua peça teatral O Berço do Herói, proibida desde 1965. E o texto de Roque Santeiro, de fato, trazia algumas alfinetadas na ditadura. O personagem Roberto Mathias (interpretado por Denis Carvalho), por exemplo, foi proibido de dizer: “E, quando a gente reclama melhores condições de vida para o ator, dizem que a gente é agitador, subversivo”. Até a censura era criticada, já que Porcina (Betty Faria), a viúva do título, exigia revisar o roteiro de um filme que fazia referências a ela – para desgosto do diretor Gérson do Valle (André Valli).
Dez anos mais tarde, uma nova versão de Roque Santeiro foi liberada pela Censura, num momento histórico da telenovela no Brasil – enquanto isso, na política, os militares deixavam o poder. Ainda assim, o texto recebeu severas tesouradas, principalmente em assuntos relacionados aos “bons costumes”. A grande vítima foi o cavaleiro João Ligeiro (Maurício Mattar): ainda que discretamente, o personagem demonstrava ser homossexual, algo inaceitável para os censores. “Tive que matar o personagem, o que não estava previsto”, diz Aguinaldo Silva, que escreveu boa parte dos capítulos daRoque Santeiro que foi ao ar em 1985.
Depois do compacto de Selva de Pedra, colocado às pressas no ar para substituir a proibida Roque Santeiro, autores, diretores e elenco reuniram-se e comprometeram-se a produzir uma novela em tempo recorde. Nascia um grande sucesso: Pecado Capital, de Janete Clair. “A gente queria mostrar uma obra tão boa quanto Roque Santeiro, para o governo perceber que não era proibindo que derrubaria boas idéias”, afirma a atriz Ilva Niño, que fez o papel de Alzira. Mas a temática, dessa vez, passou longe da política: a novela abordava problemas familiares e conflitos psicológicos.
A Censura, inicialmente, jogou Pecado Capital para o horário das 22h – a novela era criticada por poder causar más influências aos menores de 16 anos. Para que ela pudesse ser veiculada às 20h, diversas cenas foram cortadas. Uma delas retratava uma crise nervosa da personagem Vilma (Débora Duarte): depois de brigar com o cunhado, ela ia para a janela recitar trechos de O Pequeno Príncipe. Para completar, a moça desvairada discutia com seu psiquiatra. Em relatório de 19 de novembro de 1975, os censores chegaram à conclusão de que essa cena produziria “reflexos negativos numa platéia imatura e numa difícil fase de transição que é a puberdade”.
Você se lembra da cena em que Helena (Renata Sorrah), Cecília (Lala Deheinzelin) e Laís (Cristina Prochaska) conversaram sobre a homossexualidade feminina em Vale Tudo? Com certeza não – ela foi totalmente vetada pela Censura. O motivo? Nela a relação amorosa entre Cecília e Laís era tratada “como uma opção natural de vida que deve ser aceita sem nenhum preconceito” – um absurdo, segundo os censores. Rompantes de moralismo como esse, que mutilaram o capítulo de 11 de julho de 1988, foram os últimos suspiros da Censura no Brasil. Em novembro do mesmo ano, foi promulgada a nova Constituição, que baniu a prática no país.
É verdade que a censura já tinha afrouxado quando o assunto era política, desde a saída dos militares do poder, após a posse de José Sarney em 1985. Assim, Vale Tudo pôde fazer uma crítica escancarada à crise econômica e à falta de ética no país. Todos os dias, na abertura da novela, Gal Costa cantava os versos ácidos de “Brasil” – entre eles “o meu cartão de crédito é uma navalha”. Vivendo o ocaso de seu poder, os censores liberaram Vale Tudo para o horário das 20h – limitando-se a cortes pontuais envolvendo palavrões e cenas de sexo.

Manoel Carlos

Conteúdo de entrevistasera vigiado de perto
“Durante a ditadura militar, tive problemas com a Censura por conta de entrevistas em programas que eu então dirigia, como o de Bibi Ferreira e o de Hebe Camargo, nas TVs Excelsior e Record, respectivamente. Ainda na década de 70, como diretor geral do Fantástico, também recebi várias recomendações da direção da Globo para que tivesse cuidado com depoimentos de convidados, números musicais ousados e textos muito fortes. A Censura estava atenta e a Globo pedia a minha atenção.”

Lauro César Muniz

Censura não usavaargumentos lógicos
“A censura era canhestra, mesquinha, burra. Como dialogar com as toupeiras que tinham o poder de impedir nossa livre expressão? Não tinham argumentos objetivos, lógicos, nem de tipo nenhum. Era: ‘isso não pode mesmo’, ‘nosso regime tem uma clareza do que é nocivo para o público’... Tive trabalhos inteiros censurados. E muitas cenas de novelas cortadas: briga entre casais, sugestão de sexo entre personagens não casados e seqüências julgadas politicamente indesejáveis.”

Aguinaldo Silva

Conversa de mulhercom gato? Não pode!
“Conheci a censura de televisão em 1978. A partir daí, vivi momentos de grande frustração – o maior foi em 1980, com a minissérie Bandidos da Falange, proibida por três meses. Consegui burlar a Censura uma vez, num episódio da série Plantão de Polícia sobre um assassino serial que matava homossexuais. Escalamos o Cláudio Marzo para o elenco. E deu certo! A história foi liberada – para a Censura, um galã fazendo um homossexual só podia ser brincadeira. Mas, em geral, não dava para passar a perna nos censores – nós nem entendíamos o que eles queriam. Lembro que cortaram de uma história minha cenas em que a empregada falava com um gato. Fui a Brasília saber a razão. A censora responsável disse: ‘Uma pessoa que conversa com um gato? É claro que vocês estão querendo passar alguma mensagem’. Os cortes foram mantidos. E continuei perplexo.“

Profissão: censor

Eles faziam até cursode aperfeiçoamento
Quem decidia o que os brasileiros podiam ver na TV era um grupo de funcionários públicos ligado à Polícia Federal. Seus instrumentos de trabalho eram tesoura, caneta vermelha e carimbo – com a inscrição “vetado”. Foram realizados seis concursos para censor, entre 1974 e 1985 (antes, o cargo era preenchido por indicação). Para participar deles, o candidato deveria ser brasileiro e ter curso superior em áreas como Ciências Sociais ou Psicologia. As oito horas diárias de trabalho do censor eram divididas entre leitura dos roteiros e cursos de aperfeiçoamento, em que estudavam Direito e técnicas de censura. No manual do censor de novelas, algumas palavras eram proibidas, como as que se referiam às Forças Armadas (“capitão” e “coronel”) e as que podiam ser interpretadas como críticas ao governo (“agitador” e “comunista”). “No governo democrático, a Censura se preocupa mais com a moral e os bons costumes. Já no ditatorial, ela é desvirtuada e se transforma em instrumento de repressão política”, diz Coroliano Fagundes, chefe da Censura Federal no governo Sarney e o primeiro censor a ser nomeado, em 1961. “O fim da Censura foi um retrocesso, que tem levado este país a uma crise moral cada vez maior.”



creditos:  História Abril

sábado, 23 de abril de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 33



Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 33
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:


DALVA
ESTELA
DR. RAFAEL
JOÃO POTIRA
JERÔNIMO
RODRIGO
PEDRO BARROS
MARIA DE LARA
JUCA CIPÓ
GARIMPEIROS
JAGUNÇOS

CENA 1 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - CASA-GRANDE - EXT - DIA.

A limusine estacionou na porta da casa-grande e os criados correram para atender os recém-chegados. Dalva entregou a maleta ao negro sorridente e voltou-se para o homem de meia-idade que a acompanhava.

DALVA - Pode entrar. Por aqui, doutor...

Estela chegou á porta para abraçar a cunhada. Vestia-se com sobriedade e recebeu o visitante com um sorriso simpático, de boa acolhida.

DALVA - (fez as apresentações) Dr. Rafael Marques... fez questão de tomar conhecimento do caso de Lara.

ESTELA - (estendendo a mão para o médico) É um grande prazer. Fique á vontade. Não imagina como lhe sou agradecida por se interessar pelo caso de minha filha.

DALVA - Dr. Rafael será nosso hóspede, Estela.

DR. RAFAEL - Por pouco tempo. Não posso me ausentar da clínica. Tirei licença por alguns dias. Três, no máximo... apenas para ver este caso de perto. (e para Estela) Onde está a moça?

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - ASSOCIAÇÃO DOS GARIMPEIROS - EXT. - DIA.

João apontava para a porta da Associação e conversava com Potira. A índia se mostrava impulsiva, forçando a todo instante entrada na sede, á procura de notícia das eleições. Apesar das manobras desleais do coronel, tudo se processara num ambiente de calma. O episódio da rua fora a derradeira tentativa de Pedro Barros de tentar impedir a realização do pleito. Depois, não se registrara anormalidade.

JOÃO - (animado) Olha só praquilo, índia. Acha que se Jerônimo tivesse perdido, tava naquela alegria?

E, de fato, o garimpeiro mal podia dar um passo, abraçado, apertado, por centenas de companheiros, falando em voz alta e gesticulando excessivamente. A muito custo conseguiu alcançar a rua e se aproximar dos familiares. Abraçaram-se, emocionados.

JERÔNIMO - Quase nem acredito! Será que tou sonhando?

Rodrigo reuniu-se aos dois, radiante, extravasando alegria.

RODRIGO - (sorridente) Temos agora nas mãos uma arma infalível na luta contra as pouca-vergonhas desta cidade.

Jerônimo via os garimpeiros se aproximarem. Com um aceno, pediu-lhes silencio. Pedro Barros se encostou na traseira do carro. Os olhos faiscavam-lhe de ódio. A voz do garimpeiro chegava-lhe possante aos ouvidos.

JERÔNIMO - ...agora, a gente pode botá lei no garimpo... pode fazê muita coisa por todos vocês. Pelo menos, ninguém vai sê mais explorado. Isto eu garanto!

O coronel, sisudo, ouvia as palavras de encorajamento do novo presidente da Associação dos Garimpeiros. Estava rubro, quase roxo, da ira que o consumia. João percebeu a reativação do clima de desordem. Mais alguns minutos e tudo poderia se modificar da calma para a violência e – quem sabe? – até para o crime. Interveio seguro, ponderado, puxando o irmão para longe do grupo.

JOÃO - Larga mão da provocação, mano. Agora, não carece mais.

Braz e seus garimpeiros abandonaram a praça, eufóricos, gritando o nome do novo presidente. Pedro Barros, cabeça baixa, atravessou a praça e, seguido de perto por Juca Cipó e seus jagunços, tomou o rumo da delegacia.

PEDRO BARROS - Preciso conversar com o delegado Falcão.

CORTA PARA:

CENA 3 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - QUARTO DE LARA - INT. - DIA.

Maria de Lara ouviu as leves batidas na porta do quarto. Dalva entrou com um senhor de cabelos ligeiramente grisalhos, rosto jovem e sorriso encantador.

DALVA - Lara, este é o Dr. Rafael, de quem lhe falei.

DR. RAFAEL - Muito prazer, Maria de Lara.

MARIA DE LARA - Prazer, doutor...

O médico apertou confiante a mão da jovem. Notou-lhe as olheiras, o olhar triste e os gestos nervosos. As mãos de Lara tremiam, apoiadas á borda da cama.

DR. RAFAEL - É preciso que tenha confiança em mim. Absoluta. Sua tia me disse que tem sentido dores de cabeça muito fortes... e certas crises. Pode me explicar que tipo de crises?

Lara se mexeu, nervosa, procurando o termo exato para responder ao médico.

MARIA DE LARA - Não sei explicar. Ás vezes penso que seja amnésia... é isso mesmo. Crises de amnésia.

DR. RAFAEL - Amnésia é falta de memória. É isso que lhe acontece?

MARIA DE LARA - Acho que sim. Uma, duas vezes por semana. Primeiro, vem essa dor de cabeça, uma coisa terrível... e, então... as crises.

DR. RAFAEL - Quando diz crises, quer dizer que tem desmaios ou qualquer coisa semelhante?

MARIA DE LARA - Não, não é bem isso... não chega a ser um desmaio. Vem a dor de cabeça e tudo desaparece... Da última vez, acordei numa casa abandonada que existe por aqui.

Durante longo tempo o especialista conversou com a jovem, anotando mentalmente todos os pontos essenciais da entrevista. Formava um quadro clínico, após a delicada anamnese.

CORTA PARA: CENA 4 - FAZENDA DE PEDRO BARROS - SALA - INT. - DIA.

DALVA - E então, doutor?

DR. RAFAEL - (sério) Bem, D. Dalva, á primeira vista, trata-se de um caso extremamente complexo.


FIM DO CAPÍTULO 33
Jerônimo (Claudio Cavalcanti)

E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

#
O PROMOTOR RODRIGO CESAR OFICIALIZA SEU NOIVADO COM A ÍNDIA POTIRA

#
O DR. RAFAEL SAI Á PROCURA DE MARIA DE LARA E DESVENDA O MISTÉRIO DE DIANA LEMOS!



NÃO PERCA O CAPÍTULO 34 DE IRMÃOS CORAGEM!!!



quarta-feira, 20 de abril de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 32




classificação




Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair
CAPÍTULO 32
PARTICIPAM DESTE CAPÍTULO:

RITINHA
DR. MACIEL
PEDRO BARROS
DOMINGAS
RODRIGO CESAR
DELEGADO FALCÃO
JUCA CIPÓ
PAULA
HERNANI
CARMEN
JERÔNIMO
JOÃO
E OS GARIMPEIROS


CENA 1 - RIO DE JANEIRO - APARTAMENTO DE DUDA - SALA - INT. - DIA.

Ritinha entregou o telegrama ao pai.

RITINHA - Acabou de chegar. É de Coroado.

Com as mãos trêmulas, o médico abriu o envelope.

DR. MACIEL - (leu em voz alta) "Por determinação judicial, Dr. Maciel intimado prestar depoimento delegacia Coroado". (trincou os dentes, danado da vida) Era só o que faltava!

RITINHA - Acho que o senhor vai ter que ir... ou pode até ser preso, não é, papai?

CENA 2 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - INT. - DIA.

O médico entrou em casa, depositou a pequena mala empoeirada no chão e dirigiu-se ao bar em busca de uma bebida. Domingas tossiu, propositadamente. Maciel voltou-se e só então percebeu a presença de Pedro Barros que o aguardava sentado no sofá da sala.

DR. MACIEL - Coronel, que surpresa... acabei de chegar...

PEDRO BARROS - Eu sei, doutô. Por isso vim aqui lhe esperá. Precisava lhe falá com urgencia.

DR. MACIEL - Pode falar, meu amigo. Sou todo ouvidos!

PEDRO BARROS - Juca Cipó foi preso. Preso porque o senhor andou falando demais. Falou que ele subiu no telhado da sua casa pra atirá no prefeito Jorginho.

DR. MACIEL - Eles me pressionaram, coronel... eu não sabia o que fazer... Por isso viajei para o Rio de Janeiro. Ia passar um tempo longe daqui... mas eles descobriram onde eu estava e me fizeram voltar...

PEDRO BARROS - (autoritário) Ou o senhor nega tudo ou é um homem liquidado! Só deixei eles prenderem o coitado do Juca porque levei como certa a sua negativa nessa história! O senhor, doutô, vai decidir agora o destino do Juca Cipó!


CENA 3 - COROADO - DELEGACIA - INT. - DIA.

E agora, diante da mesa do delegado, Maciel sentia que as forças lhe faltavam.

DR. MACIEL - Não posso responder nada com a goela seca. Preciso de um gole.

Olhou nervosamente para o promotor Rodrigo Cesar.

RODRIGO CESAR - Não. O senhor tem que estar em plena posse de suas faculdades. Tem que estar lúcido, consciente para confirmar sua confissão.

DELEGADO FALCÃO - É verdade que o senhor afirmou que Juca Cipó subiu no telhado de sua casa para atirar no Prefeito Jorginho?


DR. MACIEL - Pois bem. Não é preciso fazer mais perguntas tolas. Eu estou consciente e sei bem o que responder. (apontou com a bengala para Rodrigo com visível desprezo) Este homem mentiu... mentiu!

Rodrigo estremeceu nos alicerces, enquanto Juca Cipó gargalhava demoníacamente.

JUCA CIPÓ - Meu patrão venceu...

DR. MACIEL - Mentiu deslavada e vergonhosamente! Usou meu nome para dar um golpe sujo!

RODRIGO - (aproximou-se bastante, com ódio na voz) Eu avisei que o senhor pagaria caro se mentisse.

DELEGADO FALCÃO - (com alegria) Neste caso fica o dito por não dito. Juca está livre!

DR. MACIEL - E eu?

RODRIGO - Terá que voltar. Para explicar o mistério que envolve a morte de sua mulher, Dona Alzira Maciel.

DR. MACIEL - (trêmulo, de do em riste) Isso... isso é uma covardia!

RODRIGO - (voltou-se para o delegado) Sr. Falcão, a pedido do Ministério Público, o senhor vai abrir um inquérito em torno disso. Quero apurar as causas da morte de Dona Alzira. Mesmo ocorrido há 18 ou 20 anos, um crime é sempre um crime. Não importa o tempo que passou.

Deixou a delegacia sem sequer cumprimentar os dois interlocutores. Maciel abandonou-se á frustração. De seus olhos grossas lágrimas desciam. Debruçou-se sobre a mesa a soluçar. Falcão pôs o chapéu na cabeça, moveu o palito entre os dentes e cerrou a porta da delegacia, deixando o velho entregue ao seu desespero.

CENA 4 - RIO DE JANEIRO - APARTAMENTO DE DUDA - SALA - INT. - DIA.

Rita de Cássia descansava após o banho, quando a porta do apartamento se abriu e Paula e Hernani entraram, sem se anunciar.

PAULA - (atirando no sofá a bolsa de veludo verde) Desculpe-nos se invadimos sua casa...

RITINHA - (sem meios termos) Não peça desculpas. Já estou acostumada.

HERNANI - Olhe, Ritinha, eu não tenho culpa... nem queria vir... Minha irmã aí é que inventou umas coisas...

RITINHA - (cortou, com energia) Se não me engano, meu marido proibiu o senhor de voltar a esta casa...

A campainha soou, sonora. Rita foi até a porta. Era Carmem. As moças se abraçaram sob o olhar aborrecido dos irmãos.

PAULA - (voltou ao ataque) Maninho, veja os papéis aí, pra eu mostrar a ela.

RITINHA - Papéis de que?

PAULA - (ar vitorioso) Da compra deste apartamento!


CARMEN - (revoltada) Essa não! Vocês estão brincando! Este apartamento é do Duda!


PAULA - Alugado, mocinha, e eu o comprei ontem. (virando-se para o irmão) Mostre aí os papéis do compromisso de compra. Ainda não passaram a escritura, mas, desde já, vim avisar que preciso deste apartamento para morar. Portanto, Ritinha, você tem que desocupá-lo no menor espaço de tempo.

Ritinha compreendeu a trama organizada pelos dois, certamente uma chantagem para obrigar Duda a pagar pelo erro cometido.

RITINHA - Quanto exigiu do meu marido pra deixar a vida dele em paz?

PAULA - Oh... não tanto quanto merecia. Um carro e... mais algum dinheiro. O suficiente para dar entrada neste apartamento. Sabe como é? Tenho apego a ele. Aqui, tenho muitas recordações de um amor que me foi roubado. É justo que queira viver neste ambiente.

Paula gozava o nervosismo da rival.

PAULA - Amanhã, irei á justiça exigir o despejo.


CENA 5 - COROADO - ASSOCIAÇÃO DOS GARIMPEIROS - EXT. - DIA.

O movimento intenso na praça de Coroado assinalava a novidade do dia. Os garimpeiros mal vestidos, dirigiam-se em grupo para a sede da Associação. Pedro Barros se postara á entrada do prédio, arrogante.


PEDRO BARROS - (ameaçou) Vai tê desforra contra qualquer um que se mêta a besta e vote nesse safado do Jerônimo Coragem!

Juca Cipó, o delegado Falcão e dois jagunços mal encarados, armas á vista, guardavam o coronel do garimpo.

DELEGADO FALCÃO - Á esta hora, a decisão já foi tomada, meu coronel...

PEDRO BARROS - Sei disso. E alguma coisa tem de ser feita pra impedir o resultado das urnas!

O breve silencio, interrompido apenas pela respiração aflita dos presentes, chamou a atenção de Pedro Barros. Os irmãos Coragem chegavam, acompanhados de um número impressionante de garimpeiros. Juca Cipó deu um passo á frente, fitando atrevido o candidato á presidência. Jerônimo seguia a passo lento, ladeado pelo irmão e pelo promotor Rodrigo. Juca barrou a passagem dos três. O clima se tornara tenso.

JERÔNIMO - (levando cautelosamente a mão aos quadris) Vou contá até três pra deixá a gente passá!

JUCA CIPÓ - (com deboche) E você sabe contá, sabe?


JERÔNIMO - Um...

JOÃO - (conciliador) Estamos aqui pra uma escolha justa... viemo pra ganhá ou pra perdê . A gente é civilizado!


PEDRO BARROS - (ameaçador) Não foi justo o golpe sujo que vocês quiseram usar contra o meu candidato!

RODRIGO - (entre dentes) Seu candidato é um assassino e todos precisavam saber disso.


JERÔNIMO - (continuou, friamente) Dois...

RODRIGO - E de golpe sujo esta cidade está cheia.

JERÔNIMO - Três...

Jerônimo avançou ferozmente contra Juca Cipó. Um décimo de segundo antes, João Coragem se colocara entre os dois. Deteve o gesto de Jerônimo, que tentava sacar da cintura a arma, de grosso calibre. Empurrou Juca para trás.

JOÃO - Irmão, espera... eles vão sair por bem.

Olhou para a retaguarda. Os garimpeiros se agitavam e, grupos formados, preparavam a investida contra a facção adversária. O coronel percebeu num relance a atitude decidida dos amigos de Jerônimo. Estava em clara desvantagem e não havia possibilidade de subjugar a massa descontrolada. Fez um sinal com a cabeça para o assecla, ordenando a desobstrução da porta. A Associação voltou a respirar. A eleição decidiria em poucas horas, quem passaria a dar as ordens em Coroado – os Coragem ou Pedro Barros.


FIM DO CAPÍTULO 32
João ( Tarcísio Meira)



E NO PRÓXIMO CAPÍTULO...

# JERÔNIMO FEZ UM BELO DISCURSO PARA OS GARIMPEIROS ENTUSIASMADOS, DEIXANDO PEDRO BARROS CADA VEZ MAIS VERMELHO PELA IRA QUE O CONSUMIA!


NÃO PERCA O CAPÍTULO 33 DE IRMÃOS CORAGEM!!!




REALIZAÇÃO
TELE-NOVELAS PRODUÇÕES


2011