sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 13

Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair


CAPÍTULO 13


CENA 1 - COROADO - ASSOCIAÇÃO DOS GARIMPEIROS - INT. - DIA.

Em Coroado, o promotor Rodrigo comentava o fim da gestão do Presidente da Associação dos Garimpeiros.

RODRIGO - Quem vai ser o novo presidente?

GARIMPEIRO - Quem escolhe são os garimpeiros. Mas os coitados são obrigados a escolher aquele que Pedro Barros quiser. Sabe como é. Pra essa pouca-vergonha de exploração continuar...

Rodrigo ouvia atento.

GARIMPEIRO - Olha, eu lhe digo. Um dos Coragens é que devia ir pro lugar do Maneco. Só assim a gente derrubava o Pedro Barros...

RODRIGO - (pensativo) Talvez fosse mesmo a saída para o impasse!

Rodrigo pôs o paletó e saiu apressado.

CORTA PARA:

CENA 2 - GARIMPO DE JOÃO CORAGEM - EXT. - DIA.

RODRIGO - Alô, João. Quero te dar duas palavrinhas. Pode vir até aqui?

João se impacientou. Não gostava de ser interrompido quando estava no garimpo.

JOÃO - Diabo de gente que agora vem atrapalhar o trabalho!

Rodrigo, sorrindo, sentou-se numa pedra enquanto João depositava a peneira em cima do mato rasteiro.

RODRIGO - Sabe o que é, companheiro. Eu me preocupo com a próxima escolha do presidente da Associação dos Garimpeiros. Acho que é uma oportunidade de vocês elegerem um homem que defenda os interesses de vocês e não os de Pedro Barros. Você ou seu irmão podem ser esse homem.

Estava lançada a isca. João balançou a cabeça, negativamente.

RODRIGO - (insistiu) Você pode fazer muito por sua gente, pelos seus garimpeiros. Pode realizar seus velhos sonhos... melhorar a condição de vida deles... pode fazer um trabalho de esclarecimento junto a esses homens, mostrando a eles os seus direitos e o valor daquilo que acham. Vocês podem terminar com o jugo do seu maior inimigo, o Pedro Barros.

O jovem Coragem levantou-se, abriu os braços num ângulo de 180 graus e, mostrando o garimpo, disse ao promotor.

JOÃO - Minha esperança toda tá ali. Se eu bamburro... se acho pedra boa... um diamante pra valer... faço tudo isso que o senhor me disse. Preciso só de dinheiro. Dou emprego pra muita gente e boto máquina no garimpo. Largando isso... eu não faço nada por ninguém. Não, seu doutor, o cargo não me atrai.

RODRIGO - (sem se dar por vencido) E o seu irmão? Ele também tem boa fama.

JOÃO - Meu irmão é dono da vida dele.

RODRIGO - Vou falar com ele. Onde está?

JOÃO - Em casa, eu acho.

CORTA PARA:

CENA 3 - RANCHO CORAGEM - COZINHA - INT. - DIA.

Jerônimo estava chegando do garimpo, ainda sujo de barro, com os cabelos desgrenhados e as botas cobertas de lama. Foi direto ao pote de água, na cozinha. A sêde era muita depois de horas e horas ao sol do rio. Não se deu conta de Potira, que o esperava, fumando, perna estendida sobre uma cadeira. O rapaz assustou-se ao deparar com a cena, a ponto de se engasgar com a água fresca.


POTIRA - (rindo) Que é isso, Jerome?

Aproximou-se do rapaz, imitando os trejeitos mundanos de Diana.

POTIRA - Tudo legal?

JERÔNIMO - (escandalizado) Tá doente, índia?

POTIRA - Nada disso. Tou morando na minha filosofia.

JERÔNIMO - Sua quê?

POTIRA - As filosofia da vida. Sabe qual é a minha? Rir, correr, ser livre... amar, quando quero.

Enlaçou o pescoço do rapaz.

POTIRA - Me livrar de tudo que angustia... fazer o que der na telha... pôr a alma pra fora... dizer o que sinto. Beijar quando tenho vontade...

As últimas palavras da índia misturaram-se ao beijo desesperado que uniu os seus lábios aos de Jerônimo. Espantado, surpreso com a atitude da irmã-de-criação, Jerônimo se entregou aos apelos da jovem. Ao fundo da sala, dois olhos assistiam a toda a cena: Sinhana. A velha mãe dos garimpeiros se afastou, procurando o sossego do fundo do quintal. Jerônimo reagiu após os primeiros instantes de excitação e com gestos grosseiros, bateu violentamente no rosto de Potira.

POTIRA - Jerome, chega! Chega!

JERÔNIMO - Sua... sua... doida!

Potira soluçava, cabeça caída ao peito.

JERÔNIMO - Desavergonhada! Precisa tomá vergonha nessa cara!

CORTA PARA:

CENA 4 - RIO DE JANEIRO - SEDE DO FLAMENGO - EXT. - DIA.

O táxi estacionou diante da sede do Flamengo. Homens de short, sandálias ao pé, toalhas enroladas no pescoço, transitavam no interior do edifício. Vez por outra, um jornalista era visto tomando apontamentos, enquanto outros batiam fotografias. Paula virou-se para Ritinha.


PAULA - Pode descer. É aqui.

RITINHA - Não vem comigo?

PAULA - Não. Não devo. Vá você. Boa sorte.

A jovem, pegando da pequena mala, desceu do táxi.

RITINHA - Obrigada, Carmen. Ah...

PAULA - Que foi?

RITINHA - Acho que me esqueci da camisola de dormir.

PAULA - Teu marido te empresta um pijama.

O táxi largou rápido, enquanto Ritinha entrava na sede do clube.

CORTA PARA:

CENA 5 - SEDE DO FLAMENGO - PORTARIA - INT. - DIA.

Fausto Paiva, o técnico, apareceu na portaria. Homem rude, desprovido de maneiras humanas, foi logo “atacando”:


FAUSTO PAIVA - Que é que há? Que é que está havendo aí?

PORTEIRO - Essa dona aí, seu Fausto. Tá querendo falar com o Duda. Disse que veio pra ficar com ele.

FAUSTO PAIVA - Ficar ou falar com ele?

RITINHA - É, com o Eduardo.

PORTEIRO - (visivelmente nervoso) Eu disse a ela que não pode entrar. Ela está insistindo. Não quer entender.

FAUSTO PAIVA - Moça, o Duda está em concentração.

RITINHA - Mas... eu sou mulher dele. Será que não posso ver meu marido?

FAUSTO PAIVA - Marido? Que historia é esta? Escute, minha filha, que golpe é esse que você está querendo dar?

Ritinha quase chorava. A voz se embargava na garganta.

RITINHA - Não quero dar golpe nenhum. Estou dizendo a verdade. Eu me casei com ele. Sou mulher dele.

FAUSTO PAIVA - Ora, menina, vê se toma vergonha, vai andando, vai. (E virando-se para o porteiro) Jarbas! Bota essa vigarista daqui pra fora!

O porteiro, pegando a jovem pelo braço, forçava sua retirada do clube.

RITINHA - (esbravejando) O que o senhor está pensando? Eu não sou quem o senhor está imaginando... Vim aqui... porque me disseram que eu podia ficar com ele.

FAUSTO PAIVA - Então você não sabe que jogador concentrado não pode receber mulher? Mulher da sua laia, então...!

O técnico estava lívido de raiva. Punhos fechados em atitude ameaçadora.

FAUSTO PAIVA - Vamos, desguia. Dê o fora. Ande, ande! Essas vigaristas...

Ritinha, chorando, deixou a sede do Flamengo. Fausto Paiva calou um palavrão e retornou ao interior das dependências.

CORTA PARA:

CENA 6 - SEDE DO FLAMENGO - SALA DE RECREAÇÃO - INT. - DIA.

Alguns jogadores relaxavam em frente á TV, enquanto outros jogavam cartas ou simplesmente cochilavam no enorme e confortável sofá branco.

FAUSTO PAIVA - (entrando no recinto) Olha aí, Duda. Uma sujeitinha chegou agora, na portaria, querendo falar com você. Dizia que era sua mulher. E veja só, a imbecil trouxe uma malinha, tipo da roça, e disse que ia ficar com você. Tem cada uma...

DUDA - Minha mulher?

Os jogadores riram.

JOGADOR 1 - Ficar com ele? Essa e boa!

JOGADOR 2 - Está pensando que isto aqui é hotel...

DUDA - (empalidecendo) Minha Nossa Senhora! Deve ter sido a Ritinha.

FAUSTO PAIVA - Disse que é sua mulher.

DUDA - (confirmou, raivoso) Mas é minha mulher!

Todos os olhos se voltaram para ele, espantados. Fausto Paiva acercou-se do jogador e fez a pergunta:

FAUSTO PAIVA - Você casou, Duda?

DUDA - Casei. Esqueci de avisar o senhor, seu Fausto! Me deixe ir falar com ela. Ver se encontro ela por aí.

FAUSTO PAIVA - Absolutamente. Daqui você não sai. ( e, irritado) - Isto é concentração ou parque de diversão? Mais respeito, minha gente! Mais respeito!

CORTA PARA:

CENA 7 - GÁVEA - RUA - EXT. - DIA.

Ritinha perambulava pelas imediações do clube. Não conhecia ninguém. Estava ás vésperas do desespero. Procurou um táxi.

TAXISTA - Pra onde, moça?

RITINHA - Eu... eu não sei! Eu não sei!

O carro rolava, maciamente. Pela janela estreita, Rita de Cássia via afastar-se a sede imensa. O mundo parecia ruir. Ritinha sentia o mundo esmagar seu frágil corpo. Para onde ir? O táxi se perdia em retas e curvas furando o bloqueio do tráfego a caminho do nada. Ritinha estava perdida na cidade grande.

FIM DO CAPÍTULO 13

Ritinha (Regina Duarte) e Duda (Claudio Marzo)

NÃO PERCA O CAPÍTULO 14 DE IRMÃOS CORAGEM!!!

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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 12

Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 12


CENA 1 - RANCHO DOS CORAGEM - EXT. - DIA.

Diana livrou-se dos sapatos e examinava os pés, observada com hostilidade por Jerônimo.

DIANA - ô garotão, me arruma um pouco de água quente, vai. Preciso lavar os pés.

Jerônimo virou-se e entrou na casa, voltando alguns minutos depois com uma panela de água fervente. Aproximou-se da jovem, colocou a água ao seu lado e esbarrou, propositadamente.

DIANA - (soltou um grito de dor) Aiiiiiiiiiii!!! Viu o que voce fez? Queimou minha perna! Quer saber? Não fico mais aqui. Pra mim chega!

JERôNIMO - (murmurou, entrando na casa) Já vai tarde!

A moça deixou o rancho, capengando, e se dirigiu, lentamente para o centro de Coroado.

CORTA PARA:

CENA 2 - RANCHO CORAGEM - INT. - DIA.

O tropel do cavalo acordou Sinhana do longo cochilo. Jerônimo levantou-se da esteira.


JERÕNIMO - Continua dormindo, mãe. João vem aí.

SINHANA - Jão? Ele vai perguntar, Jerome.

JERÔNIMO - Eu respondo prele. Vai.

Sinhana entrou no quarto, receosa do resultado da conversa dos irmãos. João entrou.

JOÃO - Cadê mãe? E a moça? Como é que ela chama, mesmo? Ah, Diana. Êta nome bonito. Nunca pensei que fosse casar com mulher de nome Diana.

JERÔNIMO - E cê pensa em casar com uma mulher que mal sabe o nome? Uma mulher que nem sabe quem é?

JOÃO - Ela é o que é. Eu gosto porque gosto. Quem ela é não tem importância. Nem um nome. Pode ser Lara ou Diana. O pai dela pode ser Pedro Barros ou Antonio. Ela não tem culpa de ser filha de quem é. Cada um de nós é dono de si mesmo. Tu me entende, mano? Demorei porque fui acordar o Padre Bento. Ele tá disposto a fazer o casamento e dá sua bênção.

JERÔNIMO - Mas, o que carece ocê saber, irmão, é que ela podia ser Lara ou Diana... de acôrdo, que não tem a menor importância. Quando a mulher é boa, honesta. Quando a gente gosta porque ela merece... tudo dá certo. Mas, quando a mulher é doida... só pensa na sua liberdade... quando a mulher diz as coisas que a Lara ou Diana disse aqui... o caso muda de figura.

JOÃO - O que foi que ela disse?

JERÔNIMO - Honra... moral... ela não conhece. Só conhece uma coisa: a liberdade. Ela não se amarra a ninguém. Se isso acontece, ela bota na tua cabeça um chapéu furado...

JOÃO - (irritado com os modos do irmão) Te pedi pra respeitar ela!

JERÔNIMO - Mas, respeito ela não merece!

JOÃO - Jerônimo, acho que, pela primeira vez na vida, vamos ter que brigar, irmão.

Sinhana surgiu na porta do quarto, enrolada num xale.

SINHANA - Ainda não disse prêle?

JOÃO - O quê?

JERÔNIMO - A tua noiva foi... embora.

João ficou estático. Dirigiu-se a Sinhana.

JOÃO - Já vi tudo. Cê mandou ela ir?

SINHANA - Ela foi de gosto, filho.

Furioso, João encarava a mãe e o irmão.

JOÃO - De gosto não pode ser! Não pode ser!

A porta escancarou-se com a violência do rapaz. No fundo da noite, apenas o canto dos grilos e o mugir dolente do gado. A escuridão tomava conta de tudo. Até mesmo de João Coragem.

CORTA PARA:

CENA 3 - RIO DE JANEIRO - APARTAMENTO DE DUDA - INT. - DIA.

O dia nascera belo. Claro e quente como são os dias de verão no Rio. O apartamento de Eduardo Coragem, num edifício moderno, abria ampla visão para o mar, para as belezas das praias cariocas, coloridas de biquínis, formigando de gente. Ritinha perdeu minutos na admiração de tudo aquilo. Tão diverso da simplicidade interiorana de Coroado. Assim mesmo iniciou seus afazeres de dona de casa.

Aqui, restos de bebidas. Ali, uma camisa de Duda, amarrotada, jogada a um canto do sofá. Ritinha beijou e apertou contra o seio a camisa amarfanhada. Era um pedaço dele. De repente a porta se abriu e Paula entrou. Ainda na pele de Carmen Valéria, esposa de Neca, amigo e companheiro de Duda, no Flamengo.

RITINHA - Bom dia, Dona Carmen. Tudo aqui estava muito sujo. Também, homem não sabe fazer limpeza, não é?

Paula sentou-se, displicentemente. Tirou um cigarro do maço, quase cheio, e o acendeu.

RITINHA - Quer tomar um café? Fiz agora mesmo.

PAULA - Não. Pode deixar.

RITINHA - Zangada, Dona Carmen?

PAULA - (grosseira) Não enche!

RITINHA - Eu... estava aqui sozinha... e estava pensando... que eu bem podia ir ver meu marido na tal de concentração.

Paula sorriu, soltando uma baforada de fumaça.

PAULA - Ah, você quer ir, é?

RITINHA - Eu posso?

PAULA - Mas, claro que pode! Você chega lá e diz: sou mulher do Duda. Recém-casada. Acho que tenho o direito de ficar com o meu marido. Você vai ver como tudo é fácil.

Ritinha animou-se, em sua inocência.

RITINHA - Eles deixam?

PAULA - Lógico! Vá, vá se arrumar. Eu te deixo, num carro, no prédio da concentração. Você salta e manda chamar o técnico, Fausto Paiva. Guarde bem o nome. Fausto Paiva. Ele é um anjo...

Ritinha dirigiu-se ao quarto para mudar de roupa. A campainha da porta soou. Paula atendeu. Era Carmen Valéria.

PAULA -Carmen! (E em voz baixa, para que Ritinha não ouvisse) Que é que está fazendo aqui?

CARMEN - Me deixa entrar. Quero explicar a confusão que você fez com a mulher do Duda.

PAULA - Calma! Calma!

CARMEN - Vou dizer a ela quem você é.

PAULA - Você vai é complicar as coisas. Dê o fora que eu vou me encontrar contigo longe daqui e te dou todas as explicações.

CARMEN - (insistiu) Cadê a guria? Telefonei hoje cedinho e a coitada falou comigo como se me conhecesse. Na hora não entendi. Depois, fiquei queimando as pestanas e dei com a coisa. Você disse que era eu, não disse?

Paula confirmou, balançando a cabeça.

CARMEN - Isso é sujeira da grossa! Eu ia pegar a menina no hotel, ontem á noite. Você foi na minha frente. Cheguei lá, ela já tinha saído. Tentei telefonar para cá, ninguém atendia. Mas hoje eu boto esse troço em pratos limpos. Não quero confusão com o Duda. Pra cima da mamãe aqui, não!

Paula percebia a dificuldade da situação. Mais um minuto e tudo estaria perdido. Quem sabe? – até mesmo o Duda – para sempre. Não viu outra saída.

PAULA - É pena você botar as coisas em pratos limpos. Eu estava pensando em te dar uma mãozinha na carreira, em troca desse favor.

Carmen ouvia sem dizer nada.

PAULA - Pois é, eu ia te apresentar ao Nelson Mota, que pode te arranjar um contrato na Phillips...

CARMEN - Você está me gozando...

PAULA - Falo sério. Ele é meu chapa. E conheço, também, a turma da pesada da Globo. Sou assim com a mulher do Chacrinha! Sou liga do Borjalo, amiga do Pacote. Andei pelos corredores da Globo e recebi dois imensos sorrisos do Boni! Sabe que eu tenho cara de chegar lá e exigir: olhe aí, quero que vocês dêem uma oportunidade pra minha amiga, a grande sambista Carmen Valéria!

CARMEN - (voz baixa) Não sabia que você tinha tantos conhecimentos...

PAULA - Aguenta mão aí com o nosso segredo e você vai ver só uma coisa...

Ritinha acabara de aprontar-se e assomara á porta.

RITINHA - Estou pronta...

Paula fez a apresentação.

PAULA - Esta é a mulher do Duda... E esta é a esposa de um jogador da reserva.

Ritinha e Carmen Valéria deram-se as mãos.

PAULA - Vamos até a concentração do Flamengo.


FIM DO CAPÍTULO 12

João (Tarcísio Meira) e Diana (Glória Menezes)

NÃO PERCA O CAPÍTULO 13 DE IRMÃOS CORAGEM!!!

ARTIGO: Globo explica em carta por que não mostra beijos gays

Carta da Globo sobre o beijo gay. Foto: Reprodução/Terra 


Pela primeira vez, a direção artística da Globo explicou por que não exibe beijos homossexuais nas novelas, em carta enviada pelo diretor da emissora, Luis Erlanger ao presidente da ABLGT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), Toni Reis.

"A teledramaturgia, diferentemente das questões éticas e sociais, não é o ambiente adequado para levantar bandeiras de comportamento moral no campo da sexualidade, baseada na individualidade", afirma Erlanger.
O diretor na carta, assinada no dia 3 de fevereiro, também cita a classificação indicativa determinada pelo Ministério da Justiça para conteúdos chamados de "sensíveis" pelo diretor.
"É algo, inclusive, que substitui o poder parental, uma vez que não há a possibilidade, como no cinema, por exemplo, de os pais autorizarem a entrada de seus filhos em sessões de filmes classificados para crianças ou adolescentes mais velhos."
Para o diretor da ABLGT, a carta de Erlanger foi importante para começar a discussão sobre o afeto entre os homossexuais na sociedade.
"Achei a resposta de bom tom, é uma forma de podermos dialogar com a emissora", afirmou em entrevista ao Terra.
Reis, no entanto, lembra que não há classificação indicativa que censure o beijo gay. "Um beijo é uma demonstração de afeto", ele diz. "As novelas retratam a sociedade e as pessoas têm que se acostumar com esta questão da afetividade homossexual", completa.
Em agosto do ano passado, o então secretário nacional de Justiça, Pedro Abramovay, afirmou que o Ministério da Justiça não tem nenhuma restrição a cenas com beijo gay em obras de dramaturgia na televisão, independente do horário de exibição.
Reis argumenta que antigamente as novelas também não mostravam negros, se não interpretassem empregadas domésticas ou motoristas. "Houve um avanço em relação a isso, agora tem até o Lázaro Ramos como galã na novela das oito. Também queremos ser representados sem estereótipos."
Ele mesmo conta ser casado com um companheiro há 21 anos. "Beijo meu marido toda noite e não me vejo retratado em novela nenhuma, mas o Lázaro Ramos e a Deborah Secco que estão na novela Insensato Coraçãodão uns beijos bem gostosos", diz.
Reis explica que o beijo ser mostrado na novela pode diminuir a violência contra homossexuais. "É fundamental que a sociedade entenda que o afeto é normal."

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

AS PIORES VILÃS DA TV

O ano era 1986, e no dia 10 de março entrava no ar as 7 da noite a novela CAMBALACHO de Silvio de Abreu. Nessa nossa coluna vamos listar as 10 piores vilãs da tv e a novela CAMBALACHO é a primeira a nos fornecer a pior vilã da tv, antes mesmo de Odete Roitman. Andreia Sousa e Silva, uma mulher inescrupulosa capaz de explodir a lancha com o marido velhinho dentro, ter um caso com o cunhado e passar a propria irmã pra trás. 

Natalia do Valle não só deu vida a personagem e suas maldades como também foi capaz de imortalizar a música tema da personagem "Perigosa" que é lembrada até hoje.
Silvio escreveu ainda outros papéis de vilãs como Isabela de "A Proxima Vitima" mas nenhuma outra como Andreia.


Você concorda conosco? Andreia foi a pior vilã da TV? Opine nos comentários

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 11

Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair



CAPÍTULO 11

CENA 1 - CASA DO RANCHO CORAGEM - EXT. - DIA.
Sinhana, encostada á porta, descansava da labuta incessante no rancho. Os rapazes davam trabalho. Ela e Potira tinham de se desdobrar para atender aos deveres da casa e do rancho. Potira abriu a porta dos fundos e anunciou:

POTIRA - Jão vem aí com uma moça bonita.

SINHANA - Fecha a porta dos fundos, índia do inferno.

João apeou do cavalo e retirou a moça da garupa.

JOÃO - Mãe, Jerônimo. Abram a porta.

SINHANA - Vai simbora, Jão. Vai simbora.

JOÃO - Abre, mãe.

Jerônimo interveio, abrindo a porta ao irmão.

DIANA - Alô, garotão. Era você que não queria abrir a porta?

Jerônimo não respondeu. Dirigiu-se ao irmão.

JERÔNIMO - Pra que você trouxe ela aqui?

Inquieta, a moça olhava detidamente a casa.

JOÃO - Olha, estou precisando de duas coisas: comida e água pra ela lavar os pés. Estão todos sujos de areia...

SINHANA - (voltou-se, irritada) E ocê acha que tua mãe vai lavar pé da filha de Pedro Barros?

DIANA - (deu uma gargalhada) Taí, grandalhão. Taí a chave do mistério. Tua velha está de cara feia porque está pensando que eu sou aquela cretina. Manjei tudo.
.
SINHANA - (zangada) Que língua é essa que ela tá falando, filho?

JOÃO - É jeito dela, mãe.

JERÔNIMO - (olhou severo para a moça) Quem é essa sujeita?

DIANA - (raivosa) Não engrossa, rapaz. Não engrossa e não me confunde. Não sou filha de Pedro, nem de Paulo. Não tenho pai, nem mãe. Não sou daqui.

JERÔNIMO - (dirigindo-se a João) Explica, irmão. Essa... não é aquela moça que eu vi na casa do safado do Barros?

DIANA - (bateu palmas, sorrindo) Gostei! Isso mesmo! O safado do Barros.

JOÃO - Esta... é outra, irmão. Acha que se fosse filha dele... dizia essas coisas? Do próprio pai?

O jovem se aproximou da moça, num exame meticuloso. Pegou no rosto de Diana, suspendendo-o com ira.

JERÔNIMO - Ela não é outra. É a filha de Pedro Barros, Jão!

DIANA - (insolente) Conheço a filha dele. É uma cretina, metida a besta. Olha aí, tenho até pena dela.

JERÔNIMO - Ela tá te enganando, Jão. Isso é coisa do pai dela. Um truque... ou qualquer coisa parecida, para dar um golpe na gente.

SINHANA - (possessa) É isso mesmo. Não acredita nessa mulher, meu filho.

DIANA - Diz pra eles, grandalhão. Diz o que foi que você decidiu a meu respeito.

João não sabia por onde começar. Titubeava.

JOÃO - Eu... eu e ela... a gente vai se unir... eu quero dizer... vou amanhã bem cedinho falar com Padre Bento... a gente vai se casar.

JERÔNIMO - A gente não vai deixar cê fazer essa besteira, mano. De jeito nenhum.

JOÃO - Quem decide minha vida sou eu...

JERÔNIMO - Além de ser filha de um bandido, é uma...

João Coragem moveu-se em direção do irmão. Havia desvario no seu gesto. Seus olhos faiscavam como as pedras que descobria no garimpo.

JOÃO - Veja como fala, irmão.

SINHANA - (dirigiu-se á moça) Cê não é mulher pro meu filho.

João saíra por alguns minutos e Jerônimo não se deixava vencer.

JERÔNIMO - Seja mulher de Pedro Barros ou de um santo, mulher como você se encontra ás dúzias.

Diana sorriu.

SINHANA - Só quero te fazer uma pergunta. Cê gosta do meu filho?

DIANA - Ele me distrai. É um bom sujeito.

SINHANA - E vai fazer ele se casar com você... porque é um bom sujeito? Cê é uma aventureira e quer desgraçar com a vida de um homem bão.

DIANA - Quero desgraçar com ninguém, dona! Me deixa! Um canto pra dormir... um prato de comida... poder rir quando quero... amar... correr... brincar, sem medo... é a minha filosofia.

Sinhana sentiu a possibilidade de se desfazer da jovem. Ela não tinha dinheiro. Retirou algumas notas de um pote guardado na prateleira.

SINHANA - Gosta muito de dinheiro, também, não?

DIANA - Não desprezo. Ás vezes preciso... até roubar... sabe como é? Quem tem uma vida livre, como eu...

SINHANA - (entregou-lhe o dinheiro) Pois toma. Leva. São as economias da família. É tudo quanto a gente tem. Pega isto e some. Some da vida do meu filho.

Diana sorriu, pegou das notas e guardou-as, em grupo, no seio.

CORTA PARA:

CENA 2 - RIO DE JANEIRO - APARTAMENTO DE DUDA - INT. - DIA.

Ritinha, deitada, voltou o pensamento á sua cidade. Sua gente. Ali, no Glória, tudo era tão contrário da simplicidade de Coroado. O telefone tocou.

RECEPCIONISTA - Madame. Tem uma moça na portaria que quer subir para falar com a senhora.

RITINHA - Quem é?

RECEPCIONISTA - Dona Carmen Valéria.

RITINHA - Carmen? Ah, sei! A cantora. Estou esperando por ela. Faça o favor de mandar subir. Ah, e pode ver também a minha conta. Em nome de Eduardo Coragem.

Ritinha levantou-se célere. Ajeitou alguns pertences na mala. Rapidamente contou o dinheiro na bolsa. A campainha soou. Paula entrou.

PAULA - Boa noite! É a mulher do Duda?

RITINHA - Sou. É Dona Carmen?

PAULA - Sou Carmen Valéria. A mulher do Neca.

RITINHA - Que bom que a senhora veio. Estava me sentindo sozinha... parecia que habitava outro planeta... ou que estava perdida, rodando em órbita, no espaço...

Paula examinava-a de todos os ângulos.

PAULA - Você, então, é a jovenzinha que agarrou o Duda, do interior, hein?

RITINHA - Agarrei? Como?

PAULA - Ele me contou, rapidamente, por telefone, em que circunstância teve que casar com você. Foi... obrigado, não foi?

RITINHA - Não. Não foi bem assim...

PAULA - Vocês, meninas do interior, são mais espertas que as da cidade. Vou te contar! Que golpe deram no rapaz!

Ritinha se sentiu chocada com a grosseria da outra.

RITINHA - Eu... eu não forcei ele a nada. Não queria o casamento... Não queria obrigar Eduardo, nem havia motivo pra ele se casar comigo... A senhora me entende?

PAULA - Pois é. Mas o fato é que ele está casado. E você vai ser uma pedra na vida dele.

RITINHA - Pedra?

PAULA - Pedra, rochedo, ou coisa parecida.

RITINHA - Por quê?

PAULA - Por quê? Porque Duda não tem tempo para se dedicar a esposa, nem a filhos. Tem uma vida louca. Nunca lhe disseram o que é a vida de um jogador de futebol, menina?

Ritinha se sentia aborrecida com a conversa da estranha amiga do marido.

RITINHA - Ele me disse por alto.

PAULA - Bem. Então você vai ter a experiência. Vamos embora. (Chama o boy) Rapaz, leve estas malas. Ela vai deixar o apartamento.

PAULA - Já jantou?

RITINHA - Não. Fiquei com vergonha de ir no restaurante, sozinha.

PAULA - Pois eu te levo num lugar pra comer.

RITINHA - Que não seja longe da minha casa, Dona Carmen.

PAULA - (sem se conter) Sua casa, hein? Golpe de sorte! Sim, senhor! Duda aluga apartamento para se casar com outra... a outra ajeita as coisas, compra tudo a seu gosto. De repente, você aparece casada com ele... e rouba tudo da outra.

RITINHA - (chocada) Que outra?

PAULA - Duda não te disse? Safado. Devia ter contado que estava de casamento marcado com outra mulher.

RITINHA - Casamento marcado?

PAULA - (fingiu mudar de assunto) Vamos embora. Tenho de te proteger. Sabe como é. Se a outra te encontra é capaz de te esganar...

Ritinha se assustou. Pegou a bolsa e saiu. Paula seguiu atrás, tendo refletida nos olhos toda a revolta que a dominava.



FIM DO CAPÍTULO 11


NÃO PERCA O CAPÍTULO 12 DE IRMÃOS CORAGEM!!!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 10

Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair


CAPÍTULO 10


CENA 1 - COROADO - IGREJA - INT. - DIA.

O casamento acabara. A igreja voltava a agitar-se. Gente á procura da saída; gente á procura do altar.

DUDA - (movimentava-se nervosamente) Acho que a gente pode ir andando, não?

SINHANA - Tudo vai dar certo, filho. Te alegra também!

PADRE BENTO - Faltam os cumprimentos...

DUDA - Nós temos pressa.

DR. MACIEL - (dirigindo-se para o altar) Mas eu tenho que abraçar minha filha.

RITINHA - (escondendo o rosto entre as mãos) Que Deus me perdoe, mas eu desconheço esse homem.

E tomando as mãos do marido entre as suas, afastou-se célere do local. Maciel sentou-se no banco da primeira fila. Feições abatidas, inteiramente tomado pelo desconforto.

CORTA PARA:

CENA 2 - RANCHO CORAGEM - INT. - NOITE.


Eduardo discutia com os irmãos durante o jantar.

DUDA - ... veio tudo em cima de mim. Todas as responsabilidades. A honra, a moral da família. Tudo! Até a segurança de vocês. Rodrigo me chamou e me pôs todas essas coisas sobre os ombros. Eu não tinha saída.

Rita não suportou. Levantou-se transtornada pela raiva.

RITINHA - Pois eu te desobrigo, ta ouvindo? Eu te desobrigo! Pode anular a porcaria desse casamento. Ainda está em tempo.

O desespero assumia proporções a cada palavra.

RITINHA - Se você estava com medo dos tiros dos jagunços de Pedro Barros, agora não há o que temer. Você fingiu que estava casado. Pode anular o casamento. Pode ir embora de Coroado em paz!

Duda sentiu a revolta interior.

DUDA - Não me casei com você com medo dos tiros dos jagunços.

RITINHA - Casou, sim. Casou por medo. Você é covarde! É covarde!

Saiu correndo para o quarto, ante os olhares espantados da família reunida. A forte pancada da porta que se fechava, abalou o silencio que tomara conta do ambiente.

CORTA PARA:

CENA 3 - RANCHO CORAGEM - QUARTO DE DUDA - INT. - NOITE.

Eduardo entrou no quarto com expressão feroz.

DUDA - Isto aqui é seu. Domingas está aí. Trouxe isto. É toda a roupa que você vai levar.

RITINHA - (voltou-se sobressaltada) Levar pra onde?

DUDA - Pra cidade, ora! Você não vai comigo?

RITINHA - Eduardo... o que é que você pretende de mim? Seja franco. O que é que você vai fazer comigo?

Duda sentou-se na cama, nervoso, atordoado com os acontecimentos das últimas horas.

DUDA - Sei lá, Rita. Sei lá.

RITINHA - Acha... que nunca... nunca vai poder gostar de mim?

DUDA - Não gosto, nem deixo de gostar... Oh, Ritinha, se você soubesse. São tantos os problemas... Se você soubesse...

Rita abraçou-o repentinamente, impelida pelos sentimentos que não podia controlar.

RITINHA - Eduardo... Eduardo, me de uma leve esperança! Diga que você vai fazer tudo pra gostar de mim. Olhe, eu vou ser boazinha pra você, vou ser paciente, vou ser tudo, tudo o que você quiser. Mas, diga que vai se esforçar. Diga, por favor, Eduardo!

O rapaz sentiu o remorso invadir-lhe a alma, a consciência a recriminar-lhe as atitudes grosseiras contra a jovem, pura e boa, que como ele fôra envolvida no torvelinho dos acontecimentos.

DUDA - Está bem, eu vou me esforçar, Ritinha...

CORTA PARA:

CENA 4 - COROADO - ESTAÇÃO - EXT. - DIA.


Duda e Ritinha despedem-se de João, Jerônimo, Sinhana e Domingas, e são observados á distância por Maciel. Entram no trem, que parte, deixando a família com lágrimas nos olhos. A vida da cidadezinha voltava ao corriqueiro: desavenças pessoais, as lutas nos garimpos, o disse-me-disse das solteironas e o caso dos Coragens contra o banditismo de Pedro Barros.

CORTA PARA:

CENA 5 - RANCHO CORAGEM - INT. - DIA.

Rodrigo visitava o rancho (gostava de admirar a beleza de Potira) e reservara algumas surpresas para João Coragem.

JERÔNIMO - Vamo, entra logo no assunto, Dr. Rodrigo.

RODRIGO - Fizemos uma descoberta sensacional.

JOÃO - Descobriro uma grupiara?

RODRIGO - Grupiara?

JOÃO - Lugar onde a gente acha diamante sem fuçá muito.

RODRIGO - Não, João. Não se trata de diamante. Eu estou falando da filha de Pedro Barros. Sabemos quem ela é.

O jovem Coragem estremeceu nos alicerces.

RODRIGO - (referia-se a Potira) Posso dizer na presença da mocinha?

JERÔNIMO - (ordenou) Sai, Potira.

RODRIGO - A filha de Pedro Barros é uma aventureira. Chegamos á conclusão de que ela gosta de se divertir á maneira de louca.

JERÔNIMO - Vi hoje a sem-vergonha, na casa dele. Reconheci ela. É a mesma que furtou a igreja, a mesma que você tirou da cadeia... a mesma que você levou pra casa do Braz pra Cema cuidar.

JOÃO - E o que tem isso? Que ela seja a mesma... ou outra?

RODRIGO - João, nós podemos usar isso como arma contra o pai dela. Não foi ele que obrigou o seu irmão a casar com Rita... para limpar a honra da cidade?

JOÃO - E ocêis acham que vou me aproveitar disso... pra lutar contra esse home?

JERÔNIMO - É a nossa oportunidade pra derrubar ele.

RODRIGO - Não é a arma que ele usa, João? A desmoralização? Ele está fazendo tudo contra nós. Isso é direito, João?

JOÃO - Acho melhor deixá a moça em paz. Eu... eu não tenho certeza de nada... se as duas... são uma só. Me entendem? É capaz de não ser... eu não sei, não entendo. E se não for? Com que cara a gente vai ficar?

CORTA PARA:

CENA 6 - IMAGENS DO RIO DE JANEIRO - EXT. - NOITE.


O mar, as montanhas, as duas capitais frente a frente, o mundo de edifícios subindo céu afora, os luminosos coloridos, o asfalto negro – tudo era motivo de admiração para a moça ingênua do interior. Ritinha estava deslumbrada com a beleza do Rio. O táxi parou diante do Hotel Glória. Ritinha se beliscava para admitir que existia
.

CORTA PARA

CENA 7 - RIO DE JANEIRO - HOTEL GLORIA - APARTAMENTO - INT. - NOITE.

DUDA - Está contente?

RITINHA - Radiante, Eduardo. Que coisa de louco! Nunca pensei que fosse assim...

DUDA - (abrindo a janela do apartamento) Veja, Rita.

RITINHA - Bacana, Eduardo! Tudo lindo! A cidade do Rio de Janeiro é uma beleza... Quantas luzes. Eduardo, vem ver!

DUDA - Ritinha, eu quero lhe dizer uma coisa. Escute: eu tenho um apartamento... quero dizer... eu e uns amigos. Você sabe... tem muitos solteiros no time... a gente alugou um apartamento, mas quem dá a maior parte sou eu. E agora eu vou tirar aquela cambada de lá.

RITINHA - Quando a gente vai?

DUDA - Eu vou agora. Você fica aqui e me espera.

RITINHA - Eduardo... nem bem a gente chegou. Eu pensei que... você...

DUDA - Eu sei o que você pensou.

Beijaram-se longamente.

DUDA - Espere, Ritinha. É por pouco tempo.

Há horas que Duda tinha deixado o apartamento do Hotel Glória. Ritinha continuava só, imersa em pensamentos que envolviam desde sua cidadezinha natal, longínqua, no interior, até a sua atual situação, casada, á espera do marido em um luxuoso hotel. Duda não retornava. Rita tomou uma decisão. Na portaria do hotel – pensou ela – deveriam ter o número do telefone particular do Duda. “Afinal, ele é um homem importante”. Acertara em cheio. Conheciam o telefone do “Duda do Flamengo”. Rita fez a ligação.

RITINHA - Alô, Eduardo! Sou eu, Ritinha.

Duda deu as explicações necessárias.

DUDA - Eu sei que hoje é a nossa noite de núpcias, mas eu tenho que me concentrar. Descobriram minha volta... É. Azar. O que é que a gente pode fazer. Eu não te avisei que era duro? Olha, toma nota do endereço do meu apartamento. Você pega um carro e vem direto pra cá.

RITINHA - Mas, Eduardo, eu não conheço nada do Rio. Nem sei como tomar um carro. Posso me perder. Você não pode vir me buscar?

DUDA - Não tenho tempo, Ritinha. Olha, mando a mulher do Neca te pegar aí. Você espera ela. É uma moça muito simpática, alegre. É a Carmen, cantora. Legal ás pampas.

RITINHA - Tá bem, Eduardo, se não tem outro jeito... E quando é que eu te vejo? Só domingo á noite? Tá. Hoje ainda é quinta.

CORTA PARA:

CENA 8 - COROADO - CASA DE BRAZ CANOEIRO - INT. - DIA.


Cema cumpriu a palavra empenhada a Diana. Mandou chamar João no garimpo. Há algumas horas a bela mulher aparecera no casebre do Braz, trazida de algum lugar por um garimpeiro das redondezas. E agora, dava um autêntico show, dançando ao som de uma radiola que trouxera.


CENA 9 - CASA DE BRAZ CANOEIRO - SEQUENCIA - EXT. - DIA.

João estava chegando, quando Cema correu até o portão.

CEMA - Achei melhor a gente conversar aqui.

JOÃO - (impaciente) Cadê ela, Cema? Cê não disse que aquela doida estava aqui?

CEMA - Está, Jão. Agora foi no rio. Tá tomano banho. Jão, eu acho que ela não regula da bola, não. Botou isso aí...

Cema mostrou a vitrola de Diana.

CEMA - Tocou alto que não era vida. Umas musgas maluca. Ela se rebolava e dançava de um jeito... Jão, essa mulher não é procê, não.

JOÃO - Por que, Cema?

CEMA - Porque vai te trazer muito sofrimento.

JOÃO - E que é que eu posso fazer, Cema... se já tou meio maluco prela.

CORTA PARA:

CENA 10 - RIACHO - EXT. - DIA

João correu para o riacho. A moça estava acabando de se vestir. Os cabelos molhados, a pele ainda úmida. Avistou o garimpeiro.

DIANA - Ei, grandalhão! Vem cá!

João se aproximou, receoso. Ela deixou a margem do riacho e, puxando-o pelo braço, levou-o até perto das águas.

DIANA - Te esperei um tempão.

JOÃO - Tava no garimpo...

DIANA - Quase que eu fui lá.

JOÃO - Então, ocê resolveu voltar?

DIANA - Voltei pra você. Sou sua, não sou? Não quer aproveitar?

JOÃO - Aproveitar?

DIANA - Homem não gosta de mulher? Se estou dizendo que sou sua... você pode fazer de mim o que quiser. A não ser que não me queira mais. Aí é outro caso. Eu pego meus trapinhos e vou assentar praça noutro lugar.

João não resistiu á tentação da mulher diabólica. As águas corriam molemente, os pássaros cantavam e o mundo sempre a girar, a girar.

FIM DO CAPÍTULO 10

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sábado, 12 de fevereiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 9

Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair

CAPÍTULO 9

CENA 1 - RANCHO CORAGEM - SALA - INT. - DIA.

Duda e o pai, Sebastião, ouviam atentamente as ponderações do promotor, Dr. Rodrigo Cesar.

RODRIGO - Bem, Duda, sua recusa em casar com Ritinha poderá trazer sérias implicações para todos voces. Há luta aberta entre a família Coragem e o grupo do coronel Pedro Barros. Luta de morte. E com a atitude que voce tomou, não aceitando limpar o nome da moça, quem sofrerá as consequencias? Claro que a família. Voce estará longe, no Rio, cheio de glórias. (fez uma pausa e continuou) Pedro Barros está usando você para desmoralizar seus irmãos. Se você não se casar com essa moça, a cidade inteira vai ficar revoltada. Não só contra você, mas também contra sua família. Isso vai enfraquecer nossa luta, entende?

DUDA - Acho que estou começando a entender. Mas, que diabo, eu não fiz nada. Dou minha palavra. Isso tudo é injusto. Se o senhor está aqui pra fazer justiça, deve começar por me defender dessa calúnia.

RODRIGO - Entenda, Duda. Numa cidade pequena, como esta, seu procedimento é indefensável. Para o povo daqui, cheio de preconceitos, o simples fato dessa moça ter passado uma noite fora de casa é o suficiente para desonrá-la.

Duda fixou os olhos do pai. De Sinhana, que acabava de entrar. De Rodrigo, o jovem promotor. Lutava intimamente á procura de uma solução para tudo aquilo. Pediu licença e saiu da sala. Lá fora um carro o esperava para levá-lo até Coroado.

CORTA PARA:

CENA 2 - CASA DE BRAZ CANOEIRO - INT. - DIA.

A clarinada do galo no terreiro e o cocoricar de dezenas de outros, pelas redondezas, acordaram João, deitado na esteira esfiapada da casa de Braz Canoeiro. Abriu os olhos, como que admirado, não reconhecendo o lugar. De repente a lembrança chegou-lhe vívida. E ela? De relance procurou Diana na rêde. A rêde balançava, vazia.

JOÃO - Diana!

Correu até a porta. Apenas o bucolismo das árvores, das montanhas distantes. Voltou ao interior da casa. Diana não se achava em nenhum lugar.

CORTA PARA:

CENA 3 - CASA DE BRAZ CANOEIRO - SEQUENCIA. - EXT. - DIA.

JOÃO - (murmurou) Tentação do diabos...

Desorientado, João procurou o cavalo que havia amarrado, á noite, num tronco de árvore, no terreiro. O animal pastava tranqüilamente nos fundos da cabana. João desamarrou-o, selou-o e partiu em disparada. Diana não lhe saía do pensamento.

CORTA PARA:

CENA 4 - COROADO - CENTRO. - EXT. - DIA.

No centro de Coroado e nas estradas de acesso á cidadezinha, os capangas de Pedro Barros, armados de garruchas e rifles, esperavam o carro de Duda. A ordem era inflexível: se o rapaz conseguisse deixar a cidade, não ultrapassaria os limites de Coroado. O próprio Pedro Barros, acompanhado do Dr. Maciel, comandava as operações, das proximidades da Pensão do Gentil Palhares. Barros comentava com o médico:

PEDRO BARROS - Eu hoje decidi e vou ser padrinho de um casamento. O Padre está avisado. Desde ontem. A cerimônia é ás dez. Falei com o juiz, preparei tudo. Um casamento de urgência, o juiz ajeitou logo a papelada.

Maciel observava o carro parado diante da pensão.

DR. MACIEL - Eu sei que ele marcou viagem para as 8. O safado está pensando em fugir. E minha filha vai ficar... difamada.

CORTA PARA:

CENA 5 - PENSÃO DE GENTIL PALHARES - QUARTO - INT. - DIA.

No interior do quarto, Duda ouve baterem na porta. Era Domingas. A mãe-de-criação de Ritinha. Parecia assustada.

DOMINGAS - Eduardo, eu não quero que nada te aconteça. É por isto que tou aqui. Falo, porquê sei como é que a Ritinha vai ficar se você... quero dizer... se os home de Pedro Barros te agarrá. Tá tudo de tocaia pelas estrada de Coroado. Por qualquer lado que você for... eles vão te agarrá!

CORTA PARA:

CENA 6 - COROADO - RUA - EXT. - DIA.

Gentil Palhares colocava várias malas dentro do veículo, ante o olhar observador de Paula.

PEDRO BARROS - (apontando para a frente da pensão) Estão colocando as malas! Já vai sair o carro...

DR. MACIEL - Está fugindo!

PEDRO BARROS - Não vai longe, Doutor! Não vai longe!

CORTA PARA:

CENA 7 - ESTRADA - EXT. - DIA.

Na estrada, os capangas, de tocaia, aguardavam a ordem do capataz.

LOURENÇO - Lá vem o carro.

JUCA CIPÓ - (vibrando) É esse mesmo. Se prepare!

Os dois sacaram do revólver, ao mesmo tempo e esperaram a aproximação do carro. Sob a mira das armas o chofer parou. Juca e Lourenço não queriam acreditar... Paula estava sozinha no interior do veículo.

LOURENÇO - Desculpe, moça. A gente pensava... que o jogador de futebol estivesse aí.

JUCA CIPÓ - E agora?

LOURENÇO - Bem... se a moça vai sozinha, a gente não tem nada com isso. Podemos deixar ela seguir viagem.

CORTA PARA:

CENA 8 - COROADO - RUA - EXT. - DIA.

Lourenço saiu á procura de Pedro Barros em Coroado.

PEDRO BARROS - E então?

LOURENÇO - Nada do homem. Nem sombra.

DR. MACIEL - (gritando) Mas o carro... ele saiu daqui de carro...

LOURENÇO - No carro a gente só achou a moça...

CORTA PARA:

CENA 9 - COROADO - CASA DO DR. MACIEL - QUARTO DE RITINHA - INT - DIA.

Domingas olhava preocupada para o velho relógio de parede. As horas se aproximavam. O casamento estava marcado para as 10. João Coragem trouxera Ritinha e agora voltara ao rancho para buscar a família.

DR. MACIEL - (impaciente) Que diabo tem essa menina que não qué falar comigo?

RITINHA - Quem fez o que o senhor fez com minha mãe... que era uma santa mulher... tem mesmo coragem pra tudo.

DR. MACIEL - (espumando) O que eu fiz?

RITINHA - O senhor... tem a alma de um demônio. E eu não quero nunca mais olhar a sua cara!

Rita ameaçou sair do quarto. Maciel segurou-a, fora de si.

DR. MACIEL - Vem cá... me explica essa coisa direito. Quem foi que lhe disse... isso... do que eu fiz contra sua mãe? Eu não matei ela, está me ouvindo? Eu não matei...

RITINHA - Eu não disse isso. Mas se o senhor mesmo afirma é porque matou!

DR. MACIEL - Já sei. Foi aquela velha feiticeira. Sinhana. Foi ela que andou enchendo a sua cabeça.

RITINHA - Me deixe! Estamos em cima da hora. Temos um encontro marcado... pra passar por mais uma vergonha... na Igreja do Padre Bento.

CORTA PARA:

CENA 10 - COROADO - IGREJA - EXT. - DIA.

A Igreja estava repleta. Dezenas de curiosos atravessavam a praça em demanda do templo. O carro de Pedro Barros estacionara diante da casa de Deus.


CORTA PARA: INTERIOR DA IGREJA.

João, ajoelhado, rezava contrito. Á entrada de Lara, conduzida pela mãe, e Dalva, sua tia, Gentil Palhares sentiu um choque.

GENTIL PALHARES - (cutucando a esposa) Conhece essa aí? É a mesma moça que vem perturbando o sossego da cidade.

Maria de Lara, Estela, Dalva e Pedro Barros colocaram-se atrás do banco onde se encontrava, rezando, João Coragem. Gentil não se deu por satisfeito. Esgueirou-se por entre os presentes e alcançou o jovem garimpeiro.

GENTIL PALHARES - Lembra-se dessa zinha aí atrás?

0 jovem voltou os olhos para o banco de trás e viu a moça.

JOÃO - (perguntou á meia-voz) Diana... que é que você ta fazendo aqui?

Lara olhou para a tia, indignada.

MARIA DE LARA - O que é que ele está dizendo?

DALVA - Você o conhece?

MARIA DE LARA - É um dos inimigos de papai...

JOÃO - (sem se conter) Onde conseguiu esse vestido... pra vim nesse chique todo?

MARIA DE LARA - Eu não entendo o que o senhor está dizendo.

JOÃO - Você roubou? De quem?

Maria de Lara estava perto do desespero. As lágrimas lhe vinham aos olhos. Dalva tomou a frente da sobrinha.

DALVA - O senhor sabe com quem está falando?

JOÃO - Claro que eu sei!

DALVA - Esta moça é Lara, minha sobrinha. Filha de Pedro Barros.

JOÃO - Filha... dele!

João Coragem emudeceu de espanto. Já fazia alguns minutos que Ritinha, levada ao altar pelas mãos de Pedro Barros, aguardava o noivo.
Os cochichos começavam a tomar conta da Igreja quando, de braço com Sinhana, Eduardo entrou – expressão feroz, testa franzida. Ao lado do Promotor Rodrigo César. Dirigiram-se ao altar sob os olhares interessados dos presentes. O Padre Bento brincou:


PADRE BENTO - Aproxime-se, filho. É a primeira vez que faço um casamento em que a noiva é que espera pelo noivo...

PADRE BENTO - Ajoelhem-se, filhos.

CORTA PARA:

CENA 11 - COROADO - ADRO DA IGREJA - EXT. - DIA.

Lara deixara o banco da Igreja, forçada pelos olhares insistentes de João Coragem. Agora, discutiam no adro da igrejinha.

JOÃO - Como é que você tem coragem de fingir desse jeito, depois da gente passar uma noite...

MARIA DE LARA - O quê?

JOÃO - Você sabe bem o que tou querendo lhe fazer entender. Tá certo, diante dos outros você pode fingir. Mas, agora que a gente tá sozinho, os dois, me diga... pra que o orgulho? Quer me endoidecer?

MARIA DE LARA - (sem acreditar no que ouvia) Olha aqui, Senhor João Coragem. Eu estou sendo muito paciente. Quero chegar a um acordo com o senhor. Sou compreensiva, humana. E lhe digo que estou muito agradecida por ter me socorrido naquele dia. E lhe digo mais: estou muito arrependida por ter fugido no seu cavalo. Espero que o tenha recuperado...

JOÃO - Agora tá se lembrando de tudo. Não se lembra também de que eu comprei você?

MARIA DE LARA - (horrorizada) Me... me comprou?

JOÃO - Você mesma disse, não se lembra? O dinheiro da Igreja... eu paguei... a caixa da santa que você roubou.

MARIA DE LARA - Mas... isto é uma loucura!

CORTA PARA:

CENA 12 - IGREJA - SEQUENCIA - INT. - DIA.

O Padre benzeu as alianças. Fez as perguntas de praxe.

PADRE BENTO - Que Deus os abençoe. Estão casados, meus filhos, com a graça de Deus. Deste momento em diante, são marido e mulher.

Duda deu um beijo na testa da esposa.

CORTA PARA:

CENA 13 - ADRO DA IGREJA - EXT. - DIA.

João agarrou Maria de Lara pelo braço, quase feroz.

JOÃO - Vem cá. Se você quer que eu esconda que a filha de Pedro Barros é minha propriedade... que se vendeu por muito pouco... tem de ao menos reconhecer o que fez.

MARIA DE LARA - (quase sem voz) Me deixe ir embora...

João apertava-a mais fortemente.

JOÃO - Anda, moça... tem de reconhecer. Tem de reconhecer ou eu... eu perco a cabeça, Diana!

Lara estremeceu, como que tocada por um fio de alta tensão.

MARIA DE LARA - Diana!

JOÃO - É. Diana. O nome que você me deu. Mas não é Diana coisa nenhuma. É Maria de Lara. Maria de Lara, não é?

FIM DO CAPÍTULO 9
















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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

IRMÃOS CORAGEM - CAPÍTULO 8

Roteirizado por Antonio Figueira
do original de Janete Clair


CAPÍTULO 8

CENA 1 - COROADO - IGREJA - INT. - DIA.

Na igreja do Padre Bento reuniam-se João, Duda, Jerônimo e o vigário.

DUDA - Mas... o que está havendo?

JOÃO - A gente quer que ocê, meu irmão, tome uma atitude de homem no caso da Ritinha.

DUDA - Se eu não tivesse respeitado ela. Mas não houve nada, João. Coisa de louco.

JERÔNIMO - O nome dela caiu na boca do povo. Isso não é nada, Duda?

JOÃO - A gente não quer forçá, mas ocê não vai perder nada se casando com ela. É uma boa moça e gosta de você.

A voz viera da porta de entrada da igreja. Ninguém notara a presença estranha. Todos voltaram-se ao mesmo tempo.

PAULA - Mas ele não pode casar com ninguém. Diga a eles, Duda, que você não pode se casar com essa moça.

DUDA - (grosseiro) Cale a boca, Paula. Eu me defendo e não é preciso que você diga nada.

JOÃO - (sério) Mas agora eu quero sabê.

PAULA - Eu e Duda somos... somos noivos. Estamos de casamento marcado.

JOÃO - (sem se dar por vencido) Tão de casamento marcado, mas não tão de papel passado. Sinto muito, dona, mas a senhora acaba de perder um noivo.

PAULA - Está de acordo com isso, Duda?

DUDA - Ei! Esperem aí! De acordo coisa nenhuma. Quem decide a minha vida sou eu.

Mudo até aquele instante, Padre Bento sentiu a ameaça da explosão, diante dos rumos tomados pela conversa.

PADRE BENTO - Meus filhos...respeitem a casa de Deus.

Duda, acompanhado de Paula, deixou o recinto do templo. João e Jerônimo permaneceram ao lado do Padre.

JOÃO - Esse idiota vai dar pano pra manga... pros nosso inimigo zombar de nós. Eu, João Coragem, você, Jerônimo... O pai e a mãe... nossa família que tem fama de justiceira, de gente boa, sem mancha... a gente que só pensa em acabar com a maldade desta terra... que temos a nosso favor a confiança de todo o povo, vamos ser arrasado por causa de um erro do nosso irmão.

PADRE BENTO - Ele tem razão, Jerônimo. Nesta terra, quem lutar contra o Coronel Pedro Barros tem que ter a honra inatacável.

CORTA PARA:

CENA 2 - COROADO - DELEGACIA - INT. - DIA.

A estranha ladra de Coroado dormia serenamente na cela da cadeia local. Fôra apanhada roubando dinheiro da caixa da Igreja. Esperava a visita de João Coragem, a quem dissera conhecer e mandara chamar, logo que fôra levada á delegacia. João entrou, abruptamente, na sala do delegado. Falcão virou-se, atento.

DELEGADO FALCÃO - Olá, João. Aí está ela. Conhece?

DIANA - Olá, meu amigão. Me tira daqui que eu juro que não se arrepende.

DELEGADO FALCÃO - Seu irmão trouxe ela. Viu roubar todo o dinheiro da caixa da igreja. Conhece ela?

O espanto do rapaz se traduzia na expressão do rosto. Boquiaberto. Pasmo.

JOÃO - Claro que eu conheço. Tira ela daqui. Eu me responsabilizo por ela.

DELEGADO FALCÃO - (atônito) Juro que não entendo mais nada. Pensei que fosse a filha do seu Pedro Barros.

João olhou espantado para a autoridade policial. E para a moça que saía calmamente do interior da cela.

JOÃO - Filha dele?

DELEGADO FALCÃO - Graças a Deus que não é. Ficou provado que não é. Telefonei e a moça estava lá. Por Deus, nunca vi duas pessoas se parecerem tanto.

DIANA - (aproximando-se do rapaz) Então. Bonitão. Muito obrigada. Você é bacana pra burro.

JOÃO - (agarrando-a pelo braço) Onde pensa que vai?

DIANA - Cuidar da minha vida!

JOÃO - Tá enganada. Agora sou responsável por você. Você vem comigo.

Ela tentou desvencilhar-se das mãos fortes do mancebo.

DIANA - Você não é meu dono! Não me comprou!

A moça subiu a garupa do cavalo de João Coragem e o rapaz fez o animal galopar. Riam alegres. Durante alguns minutos atravessaram as ruas da pequena cidade, sob os olhos curiosos da população. Pouco depois ganharam o campo, num galope firme, decidido. Homem e mulher se confundindo com a natureza.

CORTA PARA:

CENA 3 - CASA DO RANCHO CORAGEM - INT. - DIA.

Duda procurava as malas e algumas roupas trazidas do Rio, para a estada no rancho da família. Entrou no quarto dos irmãos. Deparou com Ritinha, sentada ao fundo, dobrando algumas peças do seu vestuário.

DUDA - Oi... você está aí?

RITINHA - Tava te esperando, Duda.

DUDA - Pra que tava me esperando?

RITINHA - Pra te dizer o quanto lamento tudo o que está acontecendo com a gente. E pra lhe dizer também... que não quero te forçar a nada. Não quero que se case comigo obrigado. Mesmo porque não tem graça, não é? Você se casar sem gostar.

Eduardo se sentou na cama e forçou a moça a fazer o mesmo.

DUDA - Não. Não é esse o problema, Ritinha. O caso... é que não tenho condições de me casar nem com você... nem com ninguém. A minha vida é dura... é dura, viu? Uma vida sem parada. Hoje eu estou aqui, amanhã posso estar em São Paulo, Recife. Não é vida que a gente possa se dedicar a uma mulher. Não é a vida que mulher nenhuma deseje ter.

RITINHA - (abraçou-o com ternura) Duda. Se fosse só isso... eu te digo: estou disposta a enfrentar qualquer coisa. Disposta a me sacrificar por você, a passar a vida esperando por você... mas eu quero ser sua mulher. Mas o caso, Duda, eu sei... é que você não gosta de mim.

DUDA - Gostar, eu gosto, mas não é como você merece, Rita.

Rita de Cássia sentia que o sonho de sua vida poderia transformar-se em realidade. Bastava um pouco mais de estímulo para que tudo pudesse dar certo.

RITINHA - Se gosta um pouquinho, Duda, case comigo. Me leve com você... Eu não quero forçar, é claro. Mas gostaria tanto de partir com você. Desejo tanto ser sua mulher.

As feições de Eduardo traduziam o conflito que lhe ia n'alma.

DUDA - Eu sinto... mas não dá pé, Ritinha. Não tem jeito não.

Saiu apressadamente, com a mala segura pela mão. A velha Sinhana interveio, surgindo do fundo da casa.

SINHANA - Onde vai?

DUDA - Embora pro Rio, mãe. Aluguei um táxi que vai me levar de volta amanhã cedo.

SINHANA - Teu pai quer te dizer duas palavras.

DUDA - O que é, mãe?

SINHANA - Isso que você vai fazer, filho, não é próprio de gente de bem.

DUDA - Eu não quero ouvir mais nada.

SINHANA - Vem. O pai te espera.

CORTA PARA:

CENA 4 - ESTRADA Á MARGEM DO RIACHO - EXT. - FIM DE TARDE.

Já próximo á choupana de Braz Canoeiro, João e a desconhecida beijaram-se ardentemente sobre a cela do cavalo. A moça saltou, lépida e, correndo pela margem do riacho, arrancou uma planta, atirando-a ao rosto do rapaz. Ele, perseguindo-a, conseguiu alcançá-la e, derrubando-a. a abraçou.

JOÃO - Sabe, moça, nunca vi ninguém como você.

DIANA - Nunca viu mulher?

JOÃO - Mulher, já. Não do seu jeito.

DIANA - E o que é que tem meu jeito?

JOÃO - Ocê tem cara de santa, mas... parece um demônio. Um demônio de tentação... de fogo...

O apelo era forte demais. Os braços de João Coragem envolviam o delicado corpo da moça. Seus lábios se uniram num desejo mútuo.

CORTA PARA:

CENA 5 - CHOUPANA DE BRAZ CANOEIRO - EXT. - NOITE.

Cema surgiu á porta da choupana, deparando com a cena amorosa. João percebeu a presença da mulher de Braz Canoeiro.

JOÃO - Vem cá, Cema. Eu trouxe essa moça pra ocê olhar pra ela. Olha bem pra cara dela. Veja se não é a mesma que roubou meu cavalo?

CEMA - Parecer, se parece muito. Só que a outra... não vi sorrir nenhuma só vez, Jão.

João pediu a Cema para hospedar a desconhecida por algum tempo no pobre casebre do garimpeiro.

CEMA - Pode, Jão. Tenho confiança em ocê.

JOÃO - O caso é que eu não tenho nela...

CEMA - Ocê fica á vontade. Amanhã... de manhãzinha eu tou de volta com meu Braz.

Cema saiu, trouxa á cabeça, deixando o rapaz no meio do terreiro, imerso em pensamentos. A voz da moça acordou-o das reflexões.

DIANA - Ei, João Coragem, vem ou não vem?

Amarrou o cavalo no tronco de uma árvore e, desajeitado, entrou apressadamente na choupana de Braz.

CORTA PARA:

CENA 6 - CHOUPANA DE BRAZ CANOEIRO - INT. - NOITE.

O diálogo foi breve.

DIANA - Eu quero ser sua. Você não me comprou? Sim... a fiança... não foi meu preço?

JOÃO - Não vê que isso não pode ser. Cê tem que ter alguém que cuide de sua vida. Não pode ter vindo de qualquer lugar.

DIANA - E vim.

JOÃO - De onde?

DIANA - De uma cidade que você não conhece. Longe daqui. Mas eu acho que isso agora não tem grande importância.

JOÃO - Não tem?

DIANA - Porquê eu agora sou sua.

João observou a moça, espantado com a ousadia de suas palavras.

DIANA - Ou... você não me quer?

JOÃO - Escute aqui... você é doida? Fugiu de algum manicômio?

Encarando o olhar do rapaz, a moça principiou um sorriso até alcançar a intensidade de uma gargalhada.

JOÃO - Eu nem sei o seu nome!

DIANA - Diana. Diana Lemos.

A noite avançava. O silencio quebrado apenas pelo tritinar dos grilos na beira do riacho. Diana e João dormiam.


FIM DO CAPÍTULO 8


NÃO PERCA O CAPÍTULO 9 DE IRMÃOS CORAGEM